ORIENTAÇÕES SOBRE INFECÇÕES UROLÓGICAS



Documentos relacionados
DIRETRIZES PARA INFECÇÕES UROLÓGICAS

PROTOCOLO MÉDICO. Assunto: Infecção do Trato Urinário. Especialidade: Infectologia. Autor: Cláudio C Cotrim Neto-Médico Residente e Equipe Gipea

INFECCAO URINARIA. DR Fernando Vaz

mulher Prof. Ricardo Muniz Ribeiro Professor Livre-Docente da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP

PROTOCOLO DE ATENDIMENTO

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Sessão Televoter Urologia

Infecções do Trato Urinário

INFECÇÃO URINÁRIA NO ADULTO

I CURSO DE CONDUTAS MÉDICAS NAS INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES INTERNADOS

Infecção do trato urinário Resumo de diretriz NHG M05 (terceira revisão, junho 2013)

SCIH PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO - ITU

Monuríl fosfomicina trometamol. Granulado

Urocultura. Introdução

Curso Anual Universitario de Medicina Familiar y Atención Primaria Infecções urinárias

Infecção Urinária e Gestação

PROFILAXIA CIRÚRGICA. Valquíria Alves

Diretrizes Assistenciais PREVENÇÃO DA DOENÇA ESTREPTOCÓCICA NEONATAL

Doente do sexo feminino, obesa, com 60 anos apresenta insuficiência venosa crónica, febre, sinais inflamatórios numa perna e não é diabética.

Infecção urinária recorrente

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO. Prof. Fernando Ramos Gonçalves - Msc

Uso correcto dos antibióticos

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO (ITU) 19/03/14 POR CONVENÇÃO: ITU INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO BAIXO (CISTITES) TRATO URINÁRIO ALTO (PIELONEFRITES)

DA IH À IACS: A NOMENCLATURA MUDOU ALGUMA COISA? Elaine Pina

Incidência de bactérias causadoras de Infecções do Trato Urinário em um hospital de Ilha Solteira no ano de 2010

Corrimento vaginal Resumo de diretriz NHG M38 (primeira revisão, agosto 2005)

Infecções ginecológicas. - Vulvovaginites e DIP -

PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA ÀSONDA VESICAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA

AVALIAÇÃO DA FREQÜÊNCIA E PERFIL DE SENSIBILIDADE DE MICRORGANISMOS ISOLADOS DE UROCULTURAS REALIZADAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

TEMA: URO-VAXON no tratamento da infecção recorrente do trato urinário em paciente portador de DM SUMÁRIO 1. RESUMO EXECUTIVO... 3

Protocolos Não Gerenciados

Hospital Universitário Pedro Ernesto Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Guia de Antibioticoterapia 2014

CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALEIAS (IHS 2004)

FUNDAÇÃO SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ. N 0 Recomendação REC - 003

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

Perfil das infecções do trato urinário nos Campos Gerais: Uma revisão da literatura.

Nota Técnica: Prevenção da infecção neonatal pelo Streptococcus agalactiae (Estreptococo Grupo B ou GBS)

Critérios rios Diagnósticos e Indicadores Infecção do Trato Urinário ITU Infecção Gastrointestinal IGI. Hospitais de Longa Permanência.

Anexo I. Conclusões científicas e fundamentos para a alteração dos termos das Autorizações de Introdução no Mercado

Avaliação Semanal Correcção

CAPÍTULO 10 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO. Augusto César Oliveira de Araújo Eduardo de Paula Miranda Francisco das Chagas Medeiros

INFECÇÃO URINÁRIA. Denise Marques Mota FAMED 2011

INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO. Profa. Marinez Amabile Antoniolli Unochapecó Outubro, 2013

Aula Prática administrada aos alunos do 4º e 5º períodos do curso de graduação em medicina no Ambulatório de Ginecologia do UH-UMI.

Texto de revisão. Dda. Sheilla Sette Cerqueira Dr. Luiz André Vieira Fernandes

ANTIBIÓTICOS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS INFECÇÕES NO RN

PLANO DE AÇÃO Prevenção da Disseminação de Enterobactérias Resistentes a Carbapenens (ERC) no HIAE. Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

Anexo II. Conclusões científicas e fundamentos para a alteração dos termos das Autorizações de Introdução no Mercado

Prevenção de Infecção do Trato Urinário (ITU) relacionada á assistência á saúde.

Sintomas do trato urinário inferior em homens Resumo de diretriz NHG M42 (Março 2013)

CIBELE LEFEVRE CORREA FONSECA GE-CIH // MI // HSPE 2013

INFECÇÃO URINÁRIA. Dr. Auro Antonio Simões de Souza Casa de Saúde Santa Marcelina

Prolapso dos Órgãos Pélvicos

ORIENTAÇÕES SOBRE HIPERPLASIA BENIGNA DA PROSTATA

Professor: Luiz Antônio Ranzeiro Bragança Monitor: Fernando Pessuti. Niterói, 25 de novembro de 2015

INFECÇÕES DO TRACTO URINÁRIO. João Borda Clínica Universitária de Urologia Dir. Dr. Tomé Lopes

Litíase urinária- Identificação dos grupos de risco e tratamento. Humberto Lopes UFJF II Encontro de Urologia do Sudeste - BH

Como controlar a mastite por Prototheca spp.?

Rascunhos de Um Acadêmico de Medicina Rafael Lessa

PROGRAMA NACIONAL DE PREVENÇÃO DAS RESISTÊNCIAS AOS ANTIMICROBIANOS

Enfª Ms. Rosangela de Oliveira Serviço Estadual de Controle de Infecção/COVSAN/SVS/SES-MT

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

VAMOS FALAR SOBRE. AIDS + DSTs

Controle da bexiga e do intestino após dano na medula espinhal.

A pneumonia é uma doença inflamatória do pulmão que afecta os alvéolos pulmonares (sacos de ar) que são preenchidos por líquido resultante da

Diretrizes Assistenciais

Norma - Algaliação. Terapêutica Permitir a permeabilidade das vias urinárias. Diagnóstica Determinar por exemplo o volume residual

VIVER BEM OS RINS DO SEU FABRÍCIO AGENOR DOENÇAS RENAIS

Possivelmente espécies captnofílicas, incluindo Corynebacterium e Lactobacillius.

Capítulo 18 (ex-capítulo 2) CÓDIGO V

Mal formações do trato urinário. Luciana Cabral Matulevic

Definição Diversas condições clínicas que variam desde presença assintomática de bactérias na urina até infecção renal grave, resultando em sepsis.

TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA em ODONTOPEDIATRIA SANDRA ECHEVERRIA

tract in children: lessons from the last 15 years Michael Riccabona Pediatr Radiol (2010) 40:

Diagnóstico das doenças da próstata

Resistência aos Antimicrobianos em Infecção do Trato Urinário Comunitária. Rubens Dias Instituto Biomédico, UNIRIO

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

CAPÍTULO 10 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO. Augusto César Oliveira de Araújo Eduardo de Paula Miranda Francisco das Chagas Medeiros

RESPOSTA RÁPIDA 435/2014

Doenças sexualmente transmissíveis Resumo de diretriz NHG M82 (primeira revisão, setembro 2013)

ROTINA DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA A CATETERISMO VESICAL

DROGA DIALISÁVEL OBSERVAÇÕES 1. ANTIBIÓTICOS AMICACINA AMOXICILINA AMPICILINA AMPICILINA+ SULBACTAM AZTREONAM

Corrimentos uretrais Gonorréia /UNG

Corrente Sanguínea. Critérios Nacionais de Infecções. Relacionadas à Assistência à Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária

EXAMES MICROBIOLÓGICOS. Profa Dra Sandra Zeitoun

Jorge Alberto S. Ferreira e Ane Elise B. Silva

PREVENÇÃO DE INFECÇÃO EM SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)

Síndrome DST Agente Tipo Transmissã o Sexual Vaginose bacteriana Candidíase

CONSULTA EM UROLOGIA - GERAL CÓDIGO SIA/SUS: Motivos para encaminhamento:

AFECTAM 48% DAS MULHERES PORTUGUESAS

CANCER DE COLO DE UTERO FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

Transcrição:

ORIENTAÇÕES SOBRE INFECÇÕES UROLÓGICAS (Texto actualizado em Março de 2009) M. Grabe (Presidente), M.C. Bishop, T.E. Bjerklund-Johansen, H. Botto, M. Çek, B. Lobel, K.G. Naber, J. Palou, P. Zenke, F. Wagenlehner Introdução As infecções do tracto urinário representam um problema de saúde grave, em parte devido à sua ocorrência frequente. As evidências clínicas e experimentais sustentam que a subida de microrganismos pela uretra é a via mais comum que conduz a infecções do tracto urinário, principalmente organismos de origem entérica (i.e. Escherichia coli e outras Enterobacteriáceas). Este facto fornece também uma explicação lógica para a maior frequência de ITUs em mulheres do que em homens e para o risco acrescido de infecção na sequência de cateterização ou instrumentação da bexiga. Classificação e Definições Por razões de prática clínica, as infecções do tracto urinário (ITUs) e as infecções do tracto genital masculino são classificadas em entidades definidas pelos sintomas clínicos predominantes (Tabela 1). As definições de bacteriúria e piúria são descritas na Tabela 2. Bacteriúria assintomática A bacteriúria assintomática define-se como duas uroculturas positivas colhidas num intervalo superior a 24 horas contendo 152 Infecções Urinárias

Tabela 1: Classificação das infecções do tracto urinário e genital masculino ITU inferior não complicada (cistite) Pielonefrite não complicada ITU complicada com ou sem pielonefrite Urosépsis. Uretrite Prostatite, epididimite, orquite Tabela 2: Bacteriúria significativa em adultos 1. 103 agentes uropatogénicos/ml de urina do jacto médio em cistite aguda não complicada na mulher 2. 104 agentes uropatogénicos/ml de urina do jacto médio em pielonefrite aguda não complicada na mulher 3. 105 agentes uropatogénicos/ml de urina do jacto médio na mulher ou 104 agentes uropatogénicos/ml de urina do jacto médio em homens (ou urina obtida por cateterização directa na mulher) com ITU complicada 4. Em amostra por punção supra-púbica da bexiga, qualquer contagem de bacterias é relevante. 105 agentes uropatogénicos/ml da mesma estirpe bacteriana (normalmente só se podem detectar as espécies). Piúria O requisito para o diagnóstico de piúria são 10 glóbulos brancos por campo de grande ampliação (HPF) (x400) no sedimento re-suspendido obtido após centrifugação urinária ou por mm3 de urina não tratada. Nos exames de rotina, o método Infecções Urinárias 153

de fita (dipstick) pode também ser utilizado incluindo o teste da leucocito-esterase, e avaliação de hemoglobina e de nitritos. Uretrite A uretrite sintomática é caracterizada por algúria e corrimento purulento. Classificação de prostatite/síndrome de dor pélvica crónica (CPPS) Recomenda-se o uso da classificação segundo NIDDK/NIH (Tabela 3). Tabela 3: Classificação de prostatite segundo NIDK/NIH I Prostatite bacteriana aguda (ABP) II Prostatite bacteriana crónica (CBP) III Síndrome de dor pélvica crónica (CPPS) A. CPPS inflamatória: WBC em EPS/ urina evacuada bexiga -3 (VB3)/sémen B. CPPS não inflamatória: sem WBC/EPS/VB3/sémen IV Prostatite inflamatória assintomática (prostatite histológica) Epididimite, orquite A maioria dos casos de epididimite, com ou sem orquite, é causada por agentes patogénicos urinários comuns. A barragem infravesical e as malformações urogenitais são factores de risco para este tipo de infecção. Diagnóstico ITU (geral) Para um diagnóstico de rotina, recomenda-se a realização da história da doença, exame físico e urinálise por dipstick, in- 154 Infecções Urinárias

cluindo glóbulos brancos e vermelhos e reacção aos nitratos. Excepto em episódios isolados de ITU não complicada inferior (cistite) em mulheres saudáveis, pré-menopáusicas, recomenda-se a urocultura em todos os outros tipos de ITU antes do tratamento, de modo a permitir o ajuste da terapêutica antimicrobiana, se necessário. Pielonefrite Em casos de suspeita de pielonefrite, poderá ser necessário avaliar o tracto urinário superior para excluir obstrução do tracto urinário superior ou doença litiásica. Uretrite A uretrite piogénica é indicada por uma estirpe Gram na secrecção ou cultura uretral, com mais do que cinco leucócitos por HPF (x1,000) e em caso de gonorreia gonocócica estarem localizados a nível intracelular como diplococos Gram negativos. Um teste esterase positivo para leucócitos ou mais do que 10 leucócitos por HPF (x400) na primeira amostra de urina representa um diagnóstico. Prostatite/CPPS Em doentes com sintomas de tipo prostatite, deve tentar diferenciar-se entre prostatite bacteriana e CPPS. A melhor forma de o fazer é através do teste de quatro copos de acordo com Mearse & Stamey, se a ITU aguda e DST puderem ser excluídas. Tratamento e Profilaxia O tratamento da ITU depende de uma variedade de factores. A Tabela 4 fornece uma visão geral dos patogéneos mais comuns, agentes antimicrobianos e duração do tratamento para as diferentes patologias. O tratamento profilático pode ser reco- Infecções Urinárias 155

Tabela 4: Recomendações para terapêutica antimicrobiana em urologia Diagnóstico Cistite aguda, não complicada Patogéneos/espécies mais frequentes E. coli Klebsiella Proteus Estafilococos Pielonefrite aguda, não complicada ITU com factores de complicação ITU nosocomial Pielonefrite aguda, complicada E. coli Proteus Klebsiella Outras enterobactérias Estafilococos E. coli Enterococci Pseudomonas Estafilococos Klebsiella Proteus Enterobacter Outras enterobactérias (Candida) 156 Infecções Urinárias

Terapêutica antimicrobiana inicial, empírica TMP-SMX Fluoroquinolona* Fosfomicina trometamol Pivmecillinam Nitrofurantoína Fluoroquinolona* Cefalosporina (grupo 3a) Alternativas: Aminopenicillina/BLI Aminoglicosido Fluoroquinolona* Aminopenicillina/BLI Cefalosporina (grupo 2) Cefalosporina (grupo 3a) Aminoglicosido Em caso de insucesso da terapêutica inicial no espaço de 1-3 dias ou em casos clinicamente graves: Anti-Pseudomonas activas: Fluoroquinolona, se não usada inicialmente Acilaminopenicillina/BLI Cefalosporina (grupo 3b) Carbapenem ± Aminoglicosido Em caso de Candida: Fluconazol Anfotericina B Duração da terapêutica 3 dias (1-)3 dias 1 dia (3-)7 dias (5-)7 dias 7-10 dias 3-5 dias após defeverscência ou controlo/eliminação do factor causal de complicação Infecções Urinárias 157

Prostatite aguda, crónica E. coli Outras enterobactérias Pseudomonas Epididimite Enterococci aguda Estafilococos Clamídia Ureaplasma Urosépsis E. coli Outras enterobactérias Após intervenções urológica - patogéneos multirresistentes: Pseudomonas Proteus Serratia Enterobacter BLI = inibidor da beta-lactamase; ITU = infecção do tracto urinário. *Fluoroquinolona principalmente com excreção mendados para os doentes com ITU recorrente. Os regimes apresentados na Tabela 5 têm um efeito documentado na prevenção da ITU recorrente em mulheres. Situações especiais ITU na gravidez. A bacteriúria assintomática é tratada com um ciclo de 7 dias baseado em testes de sensibilidade. Para infecção recorrente (sintomática ou assintomática), tanto a cefalexina, 125-250 mg/dia, como a nitrofurantoína, 50 mg/dia, podem ser usadas na profilaxia. 158 Infecções Urinárias

Fluoroquinolona* Aguda: Alternativa em prostatite bacteriana aguda: 2-4 semanas Cefalosporina (grupo 3a/b) Em caso de Clamídia ou Ureaplasma: Crónica: Doxiciclina 4-6 semanas ou mais Macrólido Cefalosporina (grupo 3a/b) 3-5 dias após Fluoroquinolona* defeverscência ou Anti-Pseudomonas activas controlo/eliminação Acilaminopenicillina/BLI do factor causal Carbapenem de complicação ± Aminoglicosido renal (ver texto). apenas em áreas com taxa de resistência < 20% (para E. coli). ITU em mulheres pós-menopáusicas. Em mulheres com infecção recorrente, recomenda-se estriol intravaginal. Se não for eficaz, deve adicionar-se profilaxia com antibióticos. ITU em crianças. Os períodos de tratamento devem prolongar-se por 7-10 dias. Não se devem usar tetraciclinas e fluoroquinolonas devido aos efeitos adversos nos dentes e cartilagens. ITU não complicada aguda em homens jovens. O tratamento deve durar pelo menos 7 dias. Infecções Urinárias 159

Tabela 5: Recomendações para profilaxia antimicrobiana de ITU não complicada recorrente 1 Agente Regime padrão Nitrofurantoína Macrocristais de nitrofurantoína TMP-SMX TMP Fosfomicina trometamol Dose 50 mg/dia 100 mg/dia 40/200 mg/dia ou três vezes por semana 100 mg/dia 3 g/10 dia Infecções imprevisíveis Ciprofloxacina Norfloxacina Pefloxacina Durante a gravidez Cefalexina Cefaclor TMP = Trimetroprim-sulfametoxazol. 1 Administrado ao deitar. 125 mg/dia 200-400 mg/dia 800 mg/semana 125 mg/dia 250 mg/dia ITU complicada devida a perturbações urológicas. A perturbação subjacente deve ser tratada para obtenção de uma cura permanente. Sempre que possível, o tratamento deve ser guiado por urocultura para evitar a indução de estirpes resistentes. 160 Infecções Urinárias

Sépsis em urologia (urosépsis). Os doentes com ITU podem desenvolver sépsis. Devem ser reconhecidos os sinais prematuros de resposta inflamatória sistémica (febre ou hipotermia, taquicardia, taquipneia, hipotensão, oligúria, leucopenia) como sinais de possível falência multiorgânica. Poderá ser necessária terapêutica de suporte de vida em colaboração com um especialista de cuidados intensivos, bem como terapêutica antibiótica adequada. Deve ser drenada qualquer obstrução do tracto urinário. Seguimento de doentes com ITU No seguimento de rotina após ITU não complicada e pielonefrite em mulheres, a urinálise por dipstick é suficiente. Em mulheres com recorrência de ITU no espaço de 2 semanas, recomenda-se a repetição de urocultura com antibiograma e avaliação do tracto urinário. Em idosos, ITU recém desenvolvida recorrente pode justificar uma avaliação completa do tracto urinário. Em homens com ITU, deve efectuar-se uma avaliação urológica em doentes adolescentes, casos de infecção recorrente e todos os casos de pielonefrite. Esta recomendação deve também ser seguida em doentes com prostatite, epididimite e orquite. Em crianças, aconselha-se a realização de exames após dois episódios de ITU em raparigas e um episódio em rapazes. Os exames recomendados são ecografia do tracto urinário complementada por cistouretrografia miccional. Uretrite As seguintes orientações para terapêutica cumprem as recomendações do Center for Disease Control and Prevention (2002). Infecções Urinárias 161

Para o tratamento de gonorreia, recomendam-se os seguintes antimicrobianos: Primeira opção Segunda opção Cefixima 400 mg Ciprofloxacina 500 mg por via oral por via oral ou em dose única Ofloxacin 400 mg Ceftriaxona 125 mg im por via oral ou em dose única Levofloxacina 250 mg (im com anestesia local) por via oral em dose única Uma vez que a gonorreia é muitas vezes acompanhada de infecção por clamídia, deve juntar-se uma terapêutica activa anticlamídia. O tratamento que se segue foi aplicado com sucesso em infecções Chlamydia trachomatis: Primeira opção Segunda opção Azitromicina Eritromicina 1 g (= 4 caps @ 250 mg) 4 vezes por dia 500 mg por via oral por via oral em dose única durante 7 dias Doxiciclina Ofloxacina 2 vezes por dia 100 mg 2 vezes por dia por via oral durante 7 dias 300 mg por via oral ou Levofloxacina uma vez por dia 500 mg por via oral durante 7 dias Se a terapêutica falhar, devem ser consideradas infecções com Trichomonas vaginalis e/ou Mycoplasma spp. Estas podem ser 162 Infecções Urinárias

tratadas com uma combinação de metronidazol (2 g por via oral em dose única) e eritromicina (500 mg por via oral, 4 vezes ao dia, durante 7 dias). Prostatite A prostatite bacteriana aguda pode ser uma infecção grave. É necessária a administração parentérica de doses elevadas de antibióticos bactericidas, tais como o aminoglicosido e um derivado de penicilina ou cefalosporina de terceira, até à ocorrência de defervescência e os parâmetros de infecção voltarem ao normal. Em casos menos graves, pode ser administrada fluoroquinolona por via oral, pelo menos durante 10 dias. Em prostatite bacteriana crónica e CPPS inflamatória, deve ser administrada fluoroquinolona ou trimetoprim por via oral durante 2 semanas após o diagnóstico inicial. O doente deverá então ser reavaliado e só se devem continuar os antibióticos se as culturas de pré-tratamento forem positivas ou se o doente reportar efeitos positivos do tratamento. Recomenda-se um período total de tratamento de 4-6 semanas. Terapêutica combinada com antibióticos e -bloqueantes: Estudos urodinâmicos demonstraram uma crescente pressão do encerramento uretral em doentes com prostatite crónica. Foi reportado que o tratamento combinado com -bloquean- tes e antibióticos tem uma taxa de cura maior do que antibióticos de forma isolada em CPPS inflamatória. Esta opção de tratamento é a eleita de muitos urologistas. Cirurgia: Em geral, deve evitar-se a cirurgia no tratamento da prostatite, excepto se for para a drenagem de abcessos prostáticos. Infecções Urinárias 163

Tabela 6: Recomendações para profilaxia antibacteriana peri-operatória em urologia Procedimento Patogéneos Profilaxia (esperados) Procedimentos diagnósticos Biopsia transrectal Enterobacteriáceas Todos da próstata Anaeróbios? os doentes Cistoscopia Enterobacteriáceas Exame urodinâmico Enterococci Estafilococos Ureteroscopia Enterobacteriáceas Enterococci Estafilococos Cirurgia endourológica e ESWL ESWL Enterobacteriáceas Enterococci Não Não Não Ureteroscopia para cálculos distais não complicados Enterobacteriáceas Enterococci Estafilococos Não Ureteroscopia de cálculo proximal ou impactado e extracção percutânea de cálculo 164 Infecções Urinárias Enterobacteriáceas Enterococci Estafilococos Todos os doentes

Antibióticos Comentários Fluoroquinolonas Metronidazol? ou 3a Aminopenicillina/BLIa ou 3a Aminopenicillina/BLI Fluoroquinolonas ou 3a Aminopenicillina/BLI Fluoroquinolonas Ciclo curto ( 72h) Considerar em doentes de risco Em doentes com stent ou tubo de nefrostomia Considerar em doentes de risco Em doentes com stent ou tubo de nefrostomia Considerar em doentes de risco Ciclo curto, Duração a determinar Sugere-se via intravenosa Infecções Urinárias 165

RTU da próstata Enterobacteriáceas Enterococci Todos os doentes RTUde tumour vesical Enterobacteriáceas Não Enterococci Cirurgia urológica aberta Operação limpa Patogéneos da pele, Não ex. estafilococos agentes uropatogénicos associados a cateterização Limpa-contaminada (abertura do tracto Enterobacteriáceas Enterococci Recomendado urinário) Estafilococos Limpa-contaminada (uso de segmentos intestinais) Implante de dispositivos prostéticos Enterobacteriáceas Enterococci Anaeróbios Bactérias da pele Bactérias da pele, ex. estafilococos Todos os doentes Todos os doentes Procedimentos laparoscópicos BLI = inibidor da beta-lactamase; = trimetoprim com ou sem sulfametoxal (co-trimoxazol); RTU = ressecção transuretral. 166 Infecções Urinárias

ou 3a Aminopenicillina/BLI ou 3a Aminopenicillina/BLI Doentes de baixo risco e próstatas de pequena dimensão não requerem profilaxia Considerar em doentes de risco e tumores necróticos grandes Considerar em doentes de alto risco. Curto tratamento cateterização pós-operatório ou 3a Aminopenicillina/BLI ou 3a Metronidazole ou 3a Penicillina (penicillinase estável) Ciclo peri-operatório único Tal como para cirurgia do cólon Tal como para cirurgia aberta Infecções Urinárias 167

Epididimite, orquite Antes da terapêutica antimicrobiana, deve obter-se um esfregaço uretral e uma amostra de urina do jacto médio para exames microbiológicos. A primeira opção de terapêutica farmacológica deve ser fluoroquinolonas, preferencialmente os agentes que reagem bem contra C. trachomatis (ex. ofloxacina, levofloxacina), devido ao seu largo espectro antibacteriano e penetração favorável nos tecidos do tracto urogenital. Em casos de infecção por C. trachomatis, o tratamento também pode ser continuado com doxiciclina, 200 mg/dia, por um período total de tratamento de pelo menos 2 semanas. Os macrólidos são agentes alternativos. Neste casos, o parceiro sexual também deve ser tratado. Profilaxia Antibacteriana Perioperatória em Cirurgia Urológica O principal objectivo da profilaxia antimicrobiana em urologia é prevenir infecções genitourinárias sintomáticas ou febris tais como pielonefrite aguda, prostatite, epididimite e urosépsis, bem como infecções graves de feridas. As recomendações para profilaxia antibacteriana peri-operatória de curta duração em intervenções urológicas padrão estão descritas na tabela 6. O texto deste folheto é baseado nas orientações mais abrangentes da EAU (ISBN 90- -70244-37-3), disponíveis a todos os membros da Associação Europeia de Urologia no sítio http://www.uroweb.org. 168 Infecções Urinárias