CONTROLE DE DOENÇAS EM MILHO SAFRINHA Hercules Diniz Campos (1), Gustavo A. Simon (2) ; Alessandro Guerra da Silva (3) Monitoramentos de doenças na cultura do milho realizados, nas últimas safras, pela Universidade de Rio Verde e Universidade Estadual de Maringá, entre outras instituições de pesquisas têm evidenciado que a mancha de Phaeosphaeria, a mancha de Cercospora, as ferrugens com destaque para a ferrugem polissora, as helmintosporioses, a mancha foliar e podridão de espigas por Stenocarpella (sin. Diplodia) e as podridões de raízes, colmo e espigas causadas por Fusarium spp. estão entre as de maior ocorrência em cultivos de safrinha na região do Cerrado. Embora ainda sejam escassos os trabalhos elucidando danos e perdas causados em lavouras de milho nas regiões do cerrado, outras doenças, como as causadas por fitonematoides, tem chamado a atenção pelos danos diretos e forte associação com a podridão de Fusarium, além do aumento significativo das populações do patógeno nas áreas, causando perdas elevadas em outras culturas como soja, algodão e feijão em cultivos subsequentes. O nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus spp.), com destaque para a espécie P. brachyurus e o nematóide espiralado (Helicotylenchus dihystera) têm se destacados como os mais importantes, principalmente porque a maioria dos híbridos utilizados são bons multiplicadores destas espécies (Campos et al., 2013). Apesar do complexo de doenças estar se tornando cada vez mais significativo a cada cultivo de safrinha, a pressão e os danos causados por cada uma dessas doenças tem sido variável de ano para ano e até de região para região, fato que está intimamente relacionado às inconstâncias climáticas neste período de cultivo, assim como a própria instabilidade dos níveis de resistência / tolerância dos híbridos em questão. Outro fato que merece destaque é o monocultivo praticado em condições de safrinha. Portanto, mesmo 1 Engenheiro-Agrônomo, Dr., Professor da Universidade de Rio Verde, Campus I, 75.901-970, Rio Verde, GO. e-mail: campos@unirv.edu.br; 1 Engenheiro-Agrônomo, Dr., Professor da Universidade de Rio Verde, Campus I, 75.901-970, Rio Verde, GO. e-mail: simon@unirv.edu.br; 1 Engenheiro-Agrônomo, Dr., Professor da Universidade de Rio Verde, Campus I, 75.901-970, Rio Verde, GO. e-mail:guerra.silva@unirv.edu.br; [1]
atuando em um complexo, cada doença pode ser mais ou menos problemática em função desses fatores, o que torna necessário a coleta de informações pertinentes ao histórico da área, a identificação correta de cada doença e, consequentemente, a implementação de um manejo integrado efetivo. Entre as principais estratégias possíveis e viáveis de serem utilizadas pelos produtores do Centro-Oeste, destacam-se a resistência genética, o tratamento de sementes, adubação equilibrada, a densidade adequada de plantas, a rotação de culturas e o uso de fungicidas na parte aérea. Resistência genética: a utilização de híbridos geneticamente resistentes é a estratégia mais atrativa para o manejo de doenças em milho (tabela), uma vez que o seu uso não exige, a princípio, nenhum custo adicional ao produtor. No entanto, é sabido que o uso de estratégias isoladas não proporciona estabilidade no controle, mesmo porque, na maioria das vezes, as doenças ocorrem na lavoura em forma de complexo e nem sempre isoladamente. Neste contexto, também é inexistente um híbrido com resistência satisfatória a todas as doenças da cultura. Assim, a resistência genética deve ser empregada em associação às demais estratégias. A resistência genética traz um benefício imediato ao produtor por reduzir também o potencial de inóculo em sua lavoura. Entretanto, é extremamente importante que o produtor não utilize um único híbrido por safra na sua propriedade ou área cultivada. Recomenda-se não utilizar o mesmo material em mais de 30% da área. Também não se deve utilizar o mesmo híbrido sucessivamente na mesma área, mas sim buscar a diversificação dos materiais. Esse propósito contribui, principalmente, para uma maior durabilidade da resistência genética presentes nos híbridos comerciais em anos seguintes. Atualmente existe mais de 470 híbridos e variedades comercias com reações variadas às principais doenças (Cruz et al., 2013). Entretanto para a escolha correta do material, deve se observar se o mesmo é recomendado para a região e se possui resistência à doença mais limitante em sua área. Tratamento de sementes: o mercado de sementes de milho, no Brasil, em geral, tem oferecido sementes fiscalizadas que atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), em complemento, a maioria das sementes de milho também tem sido comercializadas já com o tratamento [2]
(industrial) contendo fungicida, visando a proteção contra patógenos presentes na própria semente e no solo. Embora, um menor percentual dessas sementes, são tratadas apenas com inseticidas. Muitos fungos infestam ou infectam as sementes de milho, destacando-se no Brasil: Fusarium verticillioides (sin. Fusarium moniliforme), F. subglutinans, F. graminearum (Gibberella zeae), Acremonium strictum (sin. Cephalosporium acremonium), Stenocarpella macrospora (sin. Diplodia macrospora) e Stenocarpella maydis (sin. D. maydis), Exserohilum turcicum (sin. Helminthosporium turcicum), Bipolaris maydis (sin. Helminthosporium maydis), Phoma spp., além de fungos de armazenamento como Aspergillus spp. e Penicillium spp., etc (Pinto et al., 2007). Os fungos veiculados pelas sementes podem prejudicar a germinação e causar morte das plântulas ou até mesmo ser transmitidos para a parte aérea das plantas, causando doenças. As espécies dos gêneros Fusarium, Pythium e Rhizoctonia, habitantes do solo, são os principais fungos que podem causar danos as sementes e em plântulas de milho. No solo, os fungos encontram condições ideais para infectar e colonizar as sementes de milho, principalmente quando a semeadura é realizada em solo sob condições de alta umidade, compactado e com baixo nível de oxigênio; impedindo ou retardando a germinação ou reduzindo a velocidade de emergência. As sementes, quando tratadas com fungicida de comprovada eficiência, ficam protegidas contra os patógenos que estão associados a elas e contra os patógenos habitantes do solo. Isso propicia maior índice de emergência das plântulas, garantindo estande adequado e sanidade da lavoura. O correto tratamento de sementes também depende do histórico da lavoura, pois mediante ao conhecimento dos principais patógenos ocorridos em safras anteriores, o produtor poderá posicionar ou solicitar da empresa que comercializará a semente, um fungicida adequado às suas necessidades. Pois, em certas situações, o tratamento com fungicida realizado na indústria de sementes pode não ser eficiente no controle do fungo predominante na área de plantio, tornando necessário um novo tratamento no momento da semeadura. É importante que o produtor se atente apenas para utilizar os fungicidas registrados junto ao MAPA com finalidade de tratamento de sementes. Adubação equilibrada: é sabido que a correção do solo aliada a uma adubação equilibrada com base em análises de fertilidade do solo, seguindo as recomendações para o [3]
plantio do milho em cada região e aplicados na época certa (em função do estádio fenológico da planta), contribui significativamente para as plantas manterem boas características sanitárias. Portanto, plantas com deficiências nutricionais ou com efeitos fitotóxicos ou injúrias devido ao excesso de nutrientes, estão sempre propícias às infecções e maiores danos pelos patógenos. Densidade de plantas e espaçamento adequado: a densidade populacional recomendada para cada híbrido é muito importante para garantir o desenvolvimento adequado das plantas, manterem boa sanidade e proporcionar alta produtividade. Ao contrário, altas densidades populacionais podem proporcionar melhores condições ambientais para o desenvolvimento dos patógenos e resultar no aumento da severidade de doenças foliares, podridões de colmo, doenças de espiga e grãos. Nos cultivos de safrinha de milho no Sudoeste de Goiás, tem se observado maiores severidades de cercosporiose, mancha de Bipolaris maydis e mancha foliar de diplodia em áreas com densidade populacional acima do recomendado para o híbrido, mesmo este sendo considerado moderadamente resistente a algumas dessas doenças. Atualmente a redução do espaçamento de plantio do milho safrinha no Centro- Oeste, seguindo os mesmos espaçamentos utilizados para o plantio da soja, ou seja, 0,45 a 0,50 m entre linhas tem contribuído para uma melhor logística de máquinas no período de plantio da safrinha. Contudo, mesmo seguindo as densidades populacionais recomendadas para o híbrido, essa redução no espaçamento também contribuirá para aumentos significativos de doenças e propagação do inóculo dos patógenos. Fato que já é comum em muitas áreas do Centro-Oeste. Assim, outras estratégias de controle como já citados anteriormente, associadas com a rotação de culturas, o uso de fungicidas na parte aérea e a integração lavoura-pecuária deverão ser implementadas, otimizando o manejo integrado racional, minimizando os riscos de perdas causadas pelos patógenos. Rotação de culturas: a escassez de culturas economicamente viáveis para o plantio de safrinha no Centro-Oeste, fez com que o cultivo do milho se caracterize como monocultura nesta época. Como os restos culturais do milho não se decompõem totalmente de um ano para o outro, ou seja, permanecendo por mais de dois anos sobre o solo nas condições do Cerrado, a manutenção e o aumento da concentração de inóculo dos patógenos causadores de doenças foliares, podridões de colmo e raízes, além das podridões [4]
de espigas e grãos tornam-se uma realidade, aumentando consideravelmente a pressão dessas doenças nas áreas a cada ano de cultivo. Conforme já mencionado, as modificações no sistema de cultivo como a utilização de espaçamentos reduzidos entre linhas, propiciando condições de microclima favorável ao desenvolvimento de muitas doenças, aumentam a necessidade da implementação de rotação de culturas, o que é altamente viável no manejo da maioria das doenças do milho (tabela). A rotação de culturas é uma estratégia que traz benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo em sua lavoura. Além de contribuir, principalmente, para maior durabilidade e estabilidade da resistência genética dos híbridos comerciais, através dessa redução da população de agentes patogênicos, isto é, proporcionando menor pressão de patógenos na área cultivada e região. Uso de fungicidas na parte aérea: muitas doenças foliares podem ser controladas eficientemente pela aplicação de fungicidas (tabela). Entretanto, o produtor deve atentar-se para aqueles registrados no MAPA. Tabela. Eficiência de algumas estratégias no controle de doenças na cultura do milho sob condições de safrinha. Doenças mancha de Cercospora mancha de Phaeosphaeria helmintosporioses Ferrugens mancha foliar de diplodia enfezamento vermelho Resistência genética Tratamento de sementes Adubação equilibrada Rotação de culturas Fungicidas na parte aérea podridões de colmo e espigas Danping-off e/ou podridões radiculares Obs: controle altamente eficiente; controle medianamente eficiente; controle pouco eficiente; controle ineficiente. [5]
A eficiência desse controle é também dependente da eficiência de aplicação do produto, que pode ser parcialmente limitada pela arquitetura da planta e tecnologia de aplicação adotada. Normalmente, as doenças foliares manifestam-se com maior severidade após o florescimento. A partir deste momento, entende-se que as folhas acima da espiga são importantes para o enchimento dos grãos e, por isso, devem ser protegidas. Portanto, o controle químico deve impedir que a doença possa atingir essas folhas, reduzindo área fotossintética. Apenas a escolha do fungicida não garante sua eficácia. Tecnologia de aplicação e momento da aplicação são determinantes no processo. Infelizmente ainda não existe um momento ou estádio fenológico mágico para a aplicação de fungicidas no milho. Embora, maior sucesso tem sido obtido com aplicações realizadas na fase de pré-pendoamento. O ideal seria realizar o monitoramento periódico da lavoura, verificando-se aspectos como: histórico da área; resistência do material (híbrido) a doença alvo; pressão de inóculo, que é em função dos restos de cultura da safra anterior ou de lavouras próximas; condições climáticas no período de desenvolvimento da planta; incidência da doença na planta (local da planta em que os sintomas estão sendo observados); potencial produtivo da lavoura; valor de comercialização do milho no mercado; custo da aplicação, incluindo despesas com maquinário, funcionários e fungicida. Desta forma, a orientação de um engenheiro agrônomo é fundamental para a tomada de decisão quanto a necessidade e momento de aplicação. REFERÊNCIAS Campos, H. D.; Silva, L.H.C.P.; Coppetti, E.S.; Silva, J.R.C.; Ribeiro, G. C. Doenças na cultura do milho safrinha na região do cerrado e estratégias para o controle. Pesquisa, Tecnologia e Produtividade: safra 2012-2013, v.o, p. 182-197, 2013. Cruz, J.C.C.; Queiroz, L.R.; Pereira Filho, I.A. Milho - Cultivares para 2012/2013: Mais de 210 cultivares transgênicas são disponibilizadas no mercado de sementes do Brasil para a safra 2012/13. Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas. http://www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares/index.php, acessado em: 07/01/2013. Pinto, N.F.J.A; Oliveira, E.; Fernandes, F.T. Maneja das principais doenças do milho. Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagos, 2007. 16p. (Circular Técnica 92). [6]