Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal Isenção com relação ao Imposto Territorial Rural (ITR) Ab initio deve-se salientar quais áreas estão abrangidas pelo conceito de Áreas de Conservação e/ou Preservação Permanente e Reserva Legal. Áreas de Preservação Permanente São aquelas áreas descritas nos art. 2º e 3º da lei nº. 4.771/65, denominada de Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. A expressão Área de Preservação Permanente há bastante tempo vem sido usada e sua utilização tem uma razão de ser, qual seja se dá pelo fato de que a floresta ou a vegetação devem estar presentes no espaço territorial compreendido pela já citada Área de Preservação Permanente. Em conformidade com a definição legal de florestas de preservação, insta salientar que não estão abrangidas somente as florestas, mas também as demais formas de vegetação nativa, primitiva ou vegetação existente sem a intervenção do homem. Áreas de Reserva Legal As Áreas de Reserva Legal são aquelas localizadas no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de Preservação Permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas.
Para a caracterização do regime jurídico florestal a legislação resolveu utilizar a expressão Reserva Legal. No entanto, a expressão anteriormente citada soa como insuficiente, devendo a ela ser agregado o termo florestal, ficando, com isso, Reserva Legal Florestal. As Áreas de Reserva Legal Florestal somente incidem sobre o domínio privado e decorrem de normas legais que limitam o direito de propriedade, da mesma forma que as florestas e demais formas de vegetação permanente, previstas também no Código Florestal. De acordo com o art. 225, 1º, III, da Constituição Federal as Áreas de Reserva Legal Florestal encontram-se protegidas, sendo sua alteração e supressão permitidas somente através de lei, adquirindo, com a promulgação da Constituição supracitada, um caráter de inalterabilidade. Podem ser instituídas em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, no entanto, devendo respeitar o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos. Em conformidade com o art. 16, 3º da lei nº. 4.771/65 (Código Florestal), para a manutenção da Área de Reserva Legal em pequena propriedade ou posse rural familiar podem ser computados os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. Cabe ao órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, a aprovação da localização da Reserva Legal, devendo ser considerados no processo de aprovação a função social da propriedade e os critérios e instrumentos, quando houver, em conformidade com o art. 16, 4º, do Código Florestal.
No que diz respeito à gratuidade da constituição das Áreas de Reserva Legal Florestal surgem dois princípios constitucionais: a propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII) e a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...) II utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (art. 186). Ao proprietário não cabe indenização por parte do Poder Público com relação à obrigação de instituir a Reserva Legal Florestal, mas, no entanto, no nosso entendimento e da jurisprudência, cabe isenção do Imposto Territorial Rural da área instituída para a Reserva supracitada. A legislação federal defende a Averbação da Reserva Legal Florestal no Registro de Imóveis, podendo ser provocada por qualquer pessoa, segundo permite a lei nº. 6.015/73, em seu art. 217 (Lei de Registros Públicos). Isenção do Imposto Territorial Rural A lei nº. 8.171/91, em seu art. 104 declara que são isentas de tributação e do pagamento do Imposto Territorial Rural as áreas dos imóveis rurais consideradas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, previstas na lei n 4.771, de 1965, com a nova redação dada pela lei n 7.803, de 1989. E mais; a lei nº. 9.393/96, em seu art. 10, 1º exclui da área a ser tributada as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. O Decreto nº. 4.382/02 determinou que a exclusão dessas áreas do valor de área tributável pelo ITR só seria reconhecida se o contribuinte informasse a sua existência ao IBAMA. No entanto, entendeu o Conselho dos Contribuintes, segunda instância administrativa de julgamento de questões tributárias, competente para julgar sobre ITR que esse decreto, um ato administrativo, não teria força para se sobrepor à lei.
O Conselho supra tem decidido que o Ato Declaratório Ambiental (ADA) não é necessário para o reconhecimento da exoneração, ficando o declarante com a responsabilidade pelo pagamento do imposto correspondente, com juros e multa previstos em lei, caso fique comprovado que a sua declaração (com relação à Área de Preservação Permanente) não é verdadeira, sem prejuízo de outras sanções. Ainda com relação ao Conselho supracitado o mesmo entendeu que as pessoas físicas e jurídicas estão dispensadas de apresentarem Ato Declaratório Ambiental (ADA), obtido perante o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), para obter isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) sobre as áreas dos imóveis rurais consideradas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Insta salientar que em uma decisão do Conselho de Contribuintes, em relação ao processo administrativo das Furnas Centrais Elétricas S.A., o Conselho reafirmou que não incide ITR sobre terras que se encontram banhadas por águas de lagos, reservatórios artificiais ou seu entorno. Além disso, esta decisão define o que é Área de Preservação Permanente de reservatório artificial e ressalta que a não apresentação de ADA não descaracteriza a área em questão para efeitos tributários. O Superior Tribunal de Justiça, no REsp 668001 / RN, tendo como Relator o Ministro Luiz Fux, julgado aos 06 (seis) dias do mês de dezembro do ano de 2005, manifestou-se com relação à desnecessidade do Ato Declaratório Ambiental, in verbis: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ITR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EXCLUSÃO. DESNECESSIDADE DE ATO DECLARATÓRIO DO IBAMA. MP 2.166-67/2001. APLICAÇÃO DO ART. 166 DO CTN. RETROOPERÂNCIA DA LEX MITIOR. O ITR é utilizado para promover e incentivar a utilização racional dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, bem como utilizado para desestimular os latifúndios improdutivos, sendo considerado um tributo com nítido caráter extrafiscal.
Conclusão Eventuais exigências burocráticas estabelecidas pelo Poder Executivo por meio de atos infralegais que venham a condicionar o exercício desse benefício, devem ser flexibilizadas para admitir meios alternativos de comprovação da realidade das áreas declaradas isentas pela legislação fiscal e ambiental, de forma a permitir a fruição do benefício fiscal, levando-se em conta que a finalidade norteadora das isenções do Imposto Territorial Rural (ITR) é a proteção do meio ambiente. Dados dos Autores: EGÍDIO FREITAS MORAIS JÚNIOR. Advogado. Pós-graduado em Direito Privado. Sócio-fundador do escritório Bianchini & Morais Advogados Associados. Analista Ambiental (Concursado) da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Administrador Judicial. Professor de Legislação Ambiental. Palestrante. LEONARDO BIANCHINI MORAIS. Advogado. Pós-graduado em Direito Público. Sócio-fundador do escritório Bianchini & Morais Advogados Associados. Publicações: Este artigo também foi publicado na L & C Revista de Administração Pública e Política, da Editora Consulex (Brasília / DF, ano XI, nº. 122 agosto de 2008); Revista (eletrônica) Jus Vigilantibus nº. 0441, ano III (19 de janeiro de 2009).