Trabalho Urbano e Precarização: Novos Desafios para Formação Profissional. Autores: Thaís Castro Madeira, 1 Valéria Cristina Gomes de Castro 2

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Transcrição:

Trabalho Urbano e Precarização: Novos Desafios para Formação Profissional Autores: Thaís Castro Madeira, 1 Valéria Cristina Gomes de Castro 2

Trabalho Urbano e Precarização: Novos Desafios para Formação Profissional Thaís Castro Madeira 1 - Graduanda em Serviço Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense / Estagiária de Serviço Social na empresa Serviço Social do Comércio Sesc RJ. Brasil. E-mail: thaiiscastro_@hotmail.com Valéria Cristina Gomes de Castro 2 - Doutoranda em Política Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, Tecnologista em Saúde Pública na Coordenadoria de Cooperação Social - Presidência/Fiocruz. Brasil. Email: valeriacristina@id.uff.br

Os autores: 1V Thaís Castro 1V Valéria Castro

Resumo Resumo Este estudo discute as formas, agravamento da miséria e o consequentemente crescimento do desemprego e a deterioração da qualidade de vida e condições de trabalho do proletariado urbano. Faz uma crítica ao capitalismo que visa aumentar sua produção e diminuir seus gastos, investindo em capital constante (através de novas tecnologias, máquinas), buscando formas de acelerar a produção de mais-valia, onde se desenvolvem as forças produtivas e aumentando capacidade produtiva do trabalho, concentrando uma quantidade menor de capital variável. Gerando desempregos, aumento da jornada de trabalho e um grande quadro de precarização do trabalho. Essas mudanças trazem novos desafios para educação com a classe trabalhadora, em que a nova forma de organização das forças produtivas deveriam estar inseridas em conteúdos e metodologias, no entanto, o acirramento das contradições inerentes a sociedade capitalista, buscam inviabilizar e excluir o pensamento crítico dificultando o conhecimento e formas compartilhadas de saber. Palavras-chave: Neoliberalismo, Trabalho, Precarização do Trabalho.

Abstract This work discusses the aggravation of the misery, the rise in unemployment and the deterioration of the life`s quality and the urban proletariat work`s conditions. It makes a review to the capitalism that intend to increase its production and decrease its spends, investing in constant capital (through new technologies and machines), looking for ways to accelerate the production of more-value, where the productive forces develop and increase the productive capacity of the work, concentrating a small quantity of variable capital. Generating unemployment, increase of the work`s journey and a big scenario of work`s precariousness. These changes bring new challenges for the education with the working class, in which the new form of organization of the productive forces should be inserted in contents and methodologies, however, the intensification of the inherent contradictions of capitalist society, try to prevent and exclude critical, making it difficult the knowledge and shared forms of knowing. Keywords: Neoliberalism, Work, Work Precarization.

Introdução O presente trabalho refere-se a um exploratório de cunho bibliográfico com o objetivo de discutir alguns aspectos conceituais da precarização do trabalho e o aumento do desemprego estrutural, diante das novas formas de acumulação capitalista e as conseqüências a vida do trabalhador e seus modos de produção. A construção do material ocorreu de forma por meio de estudos e pesquisas relacionados ao tema, buscando traçar algumas considerações sobre o tema em questão.

Objetivos Objetivo geral: Discutir alguns aspectos conceituais das mudanças na organização do trabalho e as novas formas de acumulação capitalista e seus modos de produção e precarização do trabalho na sociedade contemporânea, buscando correlacionar o tema ao debate conceitual crítico. Objetivos específicos: 1) Contribuir para compreensão da história e da luta pela garantia de direito dos trabalhadores no Brasil; 2) Analisar as conseqüências e enfrentamentos da classe trabalhadora em um modelo capitalista contemporâneo 3) Discutir os processos e modos de produção na sociedade capitalista na atualidadeicos:

Desenvolvimento do Estudo Modos de produção e precarização do trabalho Devido á socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho, resulta-se um agravamento da miséria e consequentemente o crescimento do desemprego e a deterioração da qualidade de vida e condições de trabalho dos proletariados. Os capitalistas visam aumentar sua produção e diminuir seus gastos, investindo em capital constante (através de novas tecnologias, e máquinas), ou seja, buscam formas de acelerar a produção de mais-valia, onde se desenvolvem as forças produtivas e a capacidade produtiva do trabalho aumenta se concentrando uma quantidade menor de capital variável.

Considerando o processo como um todo, quanto mais investimento em tecnologia e ciência mais se tem o aumento da produtividade do trabalho e meios da extração dessa mais valia, que desdobra na diminuição da força de trabalho e na produção (capital variável), onde consequentemente aumenta o número do exército industrial de reserva, que se faz necessária para manutenção do capital, correspondendo às mudanças periódicas do ciclo industrial e acarretando para os trabalhadores ainda ativos o aumento da sua exploração, aumento da jornada de trabalho e produção, redução do salário, perda do seu poder de consumo, aumento da pobreza e miséria diretamente ligada ao crescimento da riqueza que é socialmente produzida, a diminuição do poder aquisitivo e também da autonomia da classe trabalhadora.

Desemprego Estrutural e Acumulação do Capital O aumento do desemprego estrutural e as condições precárias do trabalho geram automaticamente uma subjetividade do medo, vergonha e insegurança de ficar sem o trabalho e sem formas de sustentar a família etc., fazendo que os processos e inovações tecnológicas impliquem diretamente em retrocessos sociais. Para Neto e Braz, o trabalho é sempre uma atividade coletiva que não requer o gregarismo, é inserida num conjunto com outros sujeitos, implicando diretamente em atividades que requerem troca de conhecimentos e articulações, sendo denominado por trabalho social, o trabalho é um processo constitutivo do ser social.

Como tendência no capitalismo contemporâneo, o atual processo de terceirização do trabalho como estratégia do capital em redução de custos do trabalho, fragmenta a luta e avança ao projeto neoliberal, fragilizando todas as conquistas e direitos garantidos pelos trabalhadores. Esse processo é a afirmação da precarização do trabalho e também da precariedade da vida desses trabalhadores, gerando inúmeras conseqüências aos proletariados. O aumento da jornada de trabalho, acidentes no meio, péssimas condições de trabalho, a retirada do vínculo formal, demissões e aumento do contrato temporário, são umas das principais pautas dessas medidas que geram a subjetividade do medo, fazendo com que o trabalhador produza mais para manter seu emprego sem ganhar a mais por isso, perdendo também sua autonomia e suas possibilidades de organização e de luta.

Padrões de Produção e Relações de Trabalho A reestruturação produtiva e a forma de enfrentamento á crise do capitalismo, ocorre por alteração dos padrões de produção e das relações de trabalho, passando a usar o modo de gestão de trabalho Toyotista, em um modelo de acumulação flexível, onde se reorganizou a indústria e a relação trabalho x capital. Segundo Harvey (2009), esse modelo de acumulação flexível, implica diretamente a grandes níveis de desempregos estruturais, retrocessos sindicais e um maior número de mão-de obra excedente a fim de regimes mais flexíveis, ele ainda afirma que há uma generosa redução nos números de trabalho regular e vínculo formal.

Para Mota (2000), toda essa forma de reordenamento capitalista contemporâneo é uma estratégia usada para enfrentamento à crise pela reorganização dos processos de produção e aumento das taxas de lucros. Motta também afirma que, essas mudanças nos processos de trabalho geram aumento do desemprego, terceirização, uma maior jornada de trabalho e a retirada do vínculo formal. Toda essa precarização do trabalho determina formas de controle do capital pelo trabalho, inseridos num contexto neoliberal, desvalorizando todas às conquistas por eles já garantidas historicamente, sendo essa classe a mais prejudicada e atingida. (...) a marca da reestruturação produtiva no Brasil é a redução de postos de trabalho, o desemprego dos trabalhadores do núcleo organizado da economia e a sua transformação em trabalhadores por contra própria, trabalhadores sem carteira assinada, desempregados abertos, desempregados ocultos por trabalho precário, desalento, etc. (2000, p. 35)

O Trabalho como Princípio Educativo Como tendência no capitalismo contemporâneo, o atual processo de terceirização do trabalho como estratégia do capital em redução de custos do trabalho fragmenta a luta e avança o projeto neoliberal, fragilizando todas as conquistas e direitos garantidos pelos trabalhadores.. Esse processo é a afirmação da precarização do trabalho e também da precariedade da vida desses trabalhadores, gerando possíveis conseqüências diretas na saúde do trabalhador e em seus meios de sobrevivência.

O conceito de trabalho conforme discutido por Marx destaca a importância do trabalho para organização societária em diferentes épocas, sendo o mesmo a forma como o homem transforma o mundo, a fim de suprir suas necessidades, pelo trabalho, o ser humano modifica a natureza que lhe é externa e, ao mesmo tempo, modifica a sua própria natureza. Este processo o diferencia das ações de outros animais por meio da capacidade de planejamento e modificação de suas ações. No entanto, o trabalho na sociedade capitalista faz uma separação entre os detentores do meio de produção e aqueles que o executam, favorecendo sua alienação. O trabalho constitui elemento fundamental da estruturação da sociedade, e que em diferentes momentos históricos assume formas próprias daquele modo de produção, ocorrendo uma reorganização dos processos de trabalho existentes

Mesmo no setor de serviços, como saúde e educação, o trabalho apesar de suas especificidades, configura-se como um setor em que questões fundamentais do trabalho na sociedade capitalista também estão presentes. Conforme discute Claus Offe sobre as diferenças do trabalho no setor serviços. Para alguns autores, a categoria trabalho teria perdido nos últimos a centralidade como conceito sociológico. Discute-se que as esferas do trabalho e da produção teriam perdido sua centralidade na organização social, gerando novos campos de ação e novas formas de racionalidade. Por outro lado, algumas abordagens teóricas, como a da politecnia, busca resgatar o sentido ontológico do trabalho analisando as contradições inerentes a essa mesma sociedade diante das desigualdades sociais impostas pelo capital.

No Brasil, convivemos em uma sociedade em que o país foi o último no continente a abolir a escravidão, foram séculos de trabalho escravo, cujas marcas dessa violência são ainda profundamente visíveis e se reproduzem fortemente nas relações de trabalho. Para a imensa classe trabalhadora do país, o trabalho assume dimensões sociais de suma relevância, não apenas pela necessidade de sobrevivência, mas pelo tempo que consome nas atividades diárias e ao longo da vida. A classe trabalhadora no país assume dimensões sociais de suma relevância. Relevâncias de não apenas pela necessidade de sobrevivência, mas pelo tempo que consome nas atividades diárias e ao longo da vida. Assim, não podemos desconhecer essas questões, no que se refere ao trabalho como princípio educativo, sendo este de ordem ontológica e conseqüentemente ético-política (trabalho como direito e como dever), e que estão presentes na origem e no cotidiano da sua formação escolar.

Na formação de jovens e adultos para o trabalho, é fundamental considerar diferentes questões relativas ao aprendizado técnico, mas também as correlações políticas dessa formação, buscando problematizar questões teóricas e de organização do sistema de saúde a realidade dos alunos. Alunos esses que vivem contradições entre um sistema formativo adaptativo e a imperativa necessidade de se inserir no mercado de trabalho por méritos individuais e competitivos e os problemas cada vez mais acentuados presentes em seu cotidiano.

Desta forma, resgatar a categoria trabalho e as discussões pertinentes a essas abordagens em currículos e materiais educativos voltados a trabalhadores que vivem situações de vulnerabilidade, pobreza e discriminação, pode trazer elementos importantes para organização de cursos e currículos em instituições educativas regulares e de formação profissional voltados principalmente a jovens e adultos.

Conclusão O aumento da jornada de trabalho, acidentes, péssimas condições de trabalho, demissões e aumento do contrato temporário, são umas das principais pautas dessas medidas que geram a subjetividade do medo, fazendo com que o trabalhador produza mais para manter seu emprego sem ganhar a mais por isso, perdendo também sua autonomia e suas possibilidades de organização e de luta. Gerando assim, uma grande precarização do trabalho nos meios e modos produção em um contexto neoliberal. Consideramos assim, que um projeto educativo voltado à educação crítica, em que o trabalho o qual o indivíduo ou grupos realizem diretamente, ou aquele exercido por seus pais e grupos societários, pode contribuir para mudança da sociedade e para o seu modo de compreender o mundo.

Quero trabalhar em paz Não é muito o que lhe peço Eu quero um trabalho honesto Em vez de escravidão Deve haver algum lugar Onde o mais forte Não consegue escravizar Quem não tem chance De onde vem a indiferença Temperada a ferro e fogo? Quem guarda os portões Da fábrica? Fonte: Fábrica Legião Urbana

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