UMA MATEMÁTICA PARA O PROJETO DE REFORÇO ESCOLAR NO SEGUNDO CICLO DE ENSINO Cristiane Custodio de Souza Andrade UERJ/FFP custodioandrade@uol.com.br Resumo: Este trabalho apresenta parte das investigações que tenho tecido junto ao Mestrado Acadêmico em Educação na Faculdade de Formação de Professores da Uerj. Trata-se de uma experiência educativa, cujos resultados parciais são decorrentes das observações vivenciadas e desenvolvidas junto ao Projeto de Reforço Escolar para o segundo ciclo de ensino na Rede Municipal de Educação de Niterói, a partir do ano de 2015. Parte, inicialmente, do reconhecimento dos pressupostos e objetivos do Projeto, que serviram para orientar o funcionamento das ações educativas realizadas pelos professores dos anos iniciais, os quais desenvolveram estratégias de ensino para alunos considerados com lacunas em sua aprendizagem e, por isso, incluídos no Projeto de Reforço Escolar. Embora no Projeto tenham sido abordados conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática para alunos dos quartos e quintos anos de escolaridade, esta pesquisa focaliza, prioritariamente, o diagnóstico e as estratégias docentes desenvolvidas para ensinar matemática aos alunos incluídos no Projeto. Ao tomar como pressuposto que as situações matemáticas vivenciadas pelos sujeitos no interior das escolas encontram-se atravessadas pelas múltiplas questões que contextualizam o cotidiano escolar, propõe pensar que a análise da relação aprendizagemensino da matemática desenvolvida na esteira do Projeto de Reforço Escolar para o segundo ciclo de ensino, não pode estar dissociada das questões individuais e coletivas que problematizam este espaço educativo. Para tanto, se apropria da interpretação de dados estatísticos, documentos oficiais e relatos dos professores atuantes no Projeto de Reforço Escolar, buscando contribuir com as discussões acerca da matemática nos anos iniciais e favorecer a (re)descoberta de caminhos múltiplos investigativos, associados a percepção de conexões possíveis entre o campo de pesquisa em Educação e em Educação Matemática. Palavras-chave: Matemática nos anos iniciais, Avaliação, Reforço Escolar 10026
Introdução A investigação que apresento parte de uma inquietação que foi sendo tecida ao longo dos anos nos quais atuei como professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental na Rede Municipal de Niterói. Trago impressas na minha memória e entretecidas na minha trajetória profissional, as vozes ecoadas e os múltiplos olhares dos sujeitos que caminham no/pelo cotidiano da escola pública. Sujeitos que ainda trazem consigo percepções e concepções por vezes equivocadas - porém arraigadas - sobre a matemática vivenciada na escola. Entender os contextos educativos, nos quais a matemática nos anos iniciais é percebida como conhecimento importante/relevante, mas ao mesmo tempo, também excludente, foi o desafio a que me propus nesta investigação. Para isso, desenvolvo neste trabalho, uma abordagem narrativa que, simultaneamente se apropria dos acontecimentos do lócus e investiga a matemática dos anos iniciais praticada pelos professores polivalentes no contexto do Projeto de Reforço Escolar para o segundo ciclo de ensino. Considero que o Projeto de Reforço Escolar, enquanto ação política-pedagógica desenvolvida pela Rede Municipal de Educação de Niterói, no ano de 2015, abrigava em seus pressupostos a concepção de que havia lacunas no processo educativo dos alunos do 4º e 5º ano de escolaridade que precisavam ser corrigidos. Esta concepção foi considerada como fio condutor na avaliação diagnóstica dos alunos com relação a apreensão dos conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática, desejados para o 2º ciclo de ensino. Neste sentido, o aluno - que após avaliação diagnóstica - fosse considerado com lacunas em sua aprendizagem, seria indicado para as aulas de reforço escolar oferecidas através do Projeto. As aulas tinham duas horas de duração e foram oferecidas em dois dias alternados na semana. Os professores participantes do Projeto de Reforço Escolar ofereciam atendimento para até quatro grupos de alunos, que eram compostos por no mínimo cinco e no máximo oito participantes. Desenvolviam atividades relacionadas aos conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática adequadas as características e ao ritmo individual de cada aluno ou grupo. 10027
Entendo que a abordagem da matemática para os anos iniciais deve comportar a dimensão humana dos sujeitos envolvidos no processo do aprender e ensinar. Uma matemática que tem por finalidade oportunizar uma vida melhor - dentro ou fora da escola sobretudo para os alunos. Neste sentido, optei pelo diálogo teórico-filosófico com D Ambrósio (1996); Nacarato (2015); Carraher (1982) dentre outros. As reflexões que tenho produzido através desta experiência educativa tem modificado os olhares que me habitavam sobre o processo aprendizagemensino da matemática e suas relações com os sujeitos praticantes do cotidiano escolar. Busquei no pensamento de D Ambrosio (1996; 2007) tentar compreender que não há uma única maneira de praticar a matemática escolar, sendo desejável uma articulação entre este conhecimento e o contexto sociocultural no qual está sendo desenvolvido. Neste sentido, percebo que a matemática possível de ser desenvolvida no Projeto de Reforço Escolar, na verdade se trata de uma matemática, entre tantas outras possíveis em outros contextos. Objetivos A partir do reconhecimento das propostas, dos objetivos e do funcionamento do Projeto de Reforço Escolar, investigar que aprendizagemensino da matemática pode ser praticada pelos professores polivalentes e os alunos considerados com baixo rendimento escolar. Ao final da pesquisa, trazer outras reflexões possíveis, a fim de ampliar as discussões em torno das conexões entre Educação, Educação Matemática e Avaliação. Metodologia Trata-se de pesquisa qualitativa composta por levantamento bibliográfico, análise de dados estatísticos, documentos oficiais, além da coleta de dados através de entrevistas e relatos com os professores do Reforço escolar. Resultados (parciais) Até o momento, com os resultados obtidos através dos dados e dos relatos dos profissionais que trabalham com os alunos do Reforço escolar, há evidências de que o 10028
baixo desempenho considerado em matemática para os alunos do segundo ciclo, decorre parcialmente, de dificuldades inerentes ao processo incompleto de alfabetização e letramento desses alunos. Torna-se relevante considerar que as múltiplas situações que perpassam o cotidiano escolar advindas do contexto vivido - social e individualmente pelos alunos das classes populares nas escolas públicas, também podem contribuir para que as situações matemáticas sejam abordadas superficialmente, ou com poucas possibilidades de aprofundamento. Conclusões (parciais) Esta investigação se estruturou a partir da busca pela compreensão das situações matemáticas vivenciadas na esteira do Projeto de Reforço Escolar na Rede Municipal de Niterói. Através dos depoimentos obtidos com os professores que atuaram no projeto, com relação ao desempenho dos alunos indicados para o Reforço, percebe-se a necessidade de promover formas de letramento e alfabetização matemática associadas ao processo de aquisição da leitura e da escrita. Um processo de letramento incompleto pode comprometer o desenvolvimento de situações matemáticas consideradas desejáveis para o segundo ciclo de ensino. Sendo assim, propõe pensar que a avaliação do desempenho da aprendizagem dos alunos em matemática não pode estar dissociada da compreensão e das considerações sobre as múltiplas situações - individuais e coletivas - que habitam e atravessam o cotidiano das escolas públicas. Situações que se encontram refletidas no processo aprendizagemensino vivenciado pelos alunos e relatado pelos professores. Referências ALVES, N. A. compreensão de políticas nas pesquisas com os cotidianos para além dos processos de regulação, Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, dez. 2010. CARRAHER, T.; CARRAHER, D.; SCHLIEMAN, A. L. Na vida dez, na escola zero. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1989. D AMBROSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996. 10029
FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE NITEROI. Documento com orientações básicas para a condução do trabalho junto ao Programa de Aceleração da Aprendizagem e o Projeto de Reforço Escolar 2015, Niterói, 2015 ESTEBAN, M. T. O que sabe quem erra? Reflexões sobre a avaliação e fracasso escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. NACARATTO, A. M; MENGALI, B. L. S.; PASSOS, C. L. B. A matemática dos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1990. Notas 1- aprendizagemensino - Conforme Nilda Alves, a escrita conjunta destes termos tem a ver com a busca de superação das marcas que em nós estão devido à formação que tivemos dentro do modo hegemônico de pensar, representado pela ciência moderna, na qual um dos movimentos principais é a dicotomização desses termos, vistos como pares opondo-se entre si. FOTOS DO PROJETO DE REFORÇO ESCOLAR 2015 10030
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