Informação Eletrônica nº 1.764/2014. Destinatário: MUNICÍPIO ELDORADO DO SUL PODER LEGISLATIVO. Consulente: Rosângela Claudete Dietrich Braga, Contadora. Registro da consulta: 31.337/2014. Texto da consulta: Existem alguns servidores do Poder Legislativo que recebem insalubridade visto o exercício de atividades que, conforme o laudo, são consideradas insalubres. Não possuímos RPPS. Como ficará a aposentadoria destes servidores? Como fica a contribuição patronal do Poder Legislativo? [sic] Ementa: Servidores vinculados ao Regime Geral de Previdência Social RGPS. Di-reito à aposentadoria especial aos quinze, vinte ou vinte e cinco anos de serviço. Contribuição adicional de doze, nove ou seis pontos percentuais. Considerações. 1. O Município tem a possibilidade (art. 149, 1 da CR) de constituir um Regime Próprio de Previdência Social para dar cobertura aos seus servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo, afastando-se, com relação a estes, do Regime Geral gerido pelo Instituto Nacional de Seguridade Social INSS. 2. Em optando o Município, no entanto (como é o caso do Município consulente) por vincular-se ao Regime Geral de Previdência Social no lugar de constituir um Regime Próprio, todos os servidores, inclusive os ocupantes de cargos de provimento efetivo, serão contribuintes compulsórios do INSS, ao lado dos ocupantes de emprego, dos ocupantes exclusivamente de cargos em comissão e dos contratados por prazo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público. Nota-se, nessa hipótese, que independentemente do regime de trabalho dos servidores estatutário ou celetista o regime previdenciário será o Geral, gerido hoje pelo INSS (no tocante aos benefícios) e pela Receita Federal do Brasil (no tocante as contribuições), e na relação previdenciária daí decorrente o Município e os seus servidores são equiparados, para esse efeito, às empresas e aos trabalhadores privados. Tanto as contribuições como os benefícios previdenciários seguirão as normas ditadas pelo art. 201 da CR e pelas Leis 8.212 e 8.213, de 24-07-91. É claro que o Município e os seus servidores, quando ocupantes de cargos de provimento efetivo, também estão sujeitos às regras de direito público pertinentes. 3. Um dos direitos dos trabalhadores em geral que também é assegurado aos servidores públicos, inclusive os estatutários, quando vinculados ao Regime Geral de Previdência Social, é o da aposentadoria especial, pois suas regras vem disciplinadas nos artigos 57 e 58 da Lei Federal n.º 8.213, de 24-07-91, Lei de Benefícios da Previdência Social, à qual, nesse caso, estão sujeitos. A 1
aposentadoria especial é, na verdade, uma modalidade de aposentadoria por tempo de contribuição, onde apenas o tempo mínimo exigido é diminuído, para quinze, vinte ou vinte e cinco anos, em razão de o trabalhador exercer atividade nociva a sua saúde ou a sua integridade física. Presume-se que esse trabalhador não poderá trabalhar sujeito a essas condições durante o mesmo período que o trabalhador comum, sob pena de desgaste desproporcional de sua saúde. O benefício, assim, deve ser concedido a todos (e apenas) àqueles efetivamente sujeitos a determinadas condições especiais de trabalho. Os agentes químicos, físicos e biológicos nocivos à saúde ou à integridade física, ensejadores da aposentadoria especial, nos termos do art. 58, caput, da Lei 8.213-91, devem ser definidos pelo Regulamento e, hoje, constam do Anexo IV do Decreto Federal n.º 3.048, de 06-05-99, entendendo a jurisprudência atual que o enquadramento deve ser feito de acordo com a legislação vigente à época do exercício da atividade. É de notar que o enquadramento em atividade especial não coincide exatamente com os requisitos para a concessão de adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade, na órbita trabalhista ou estatutária. A Lei previdenciária tem requisitos próprios, assim como a lei trabalhista ou estatutária. O reconhecimento do adicional trabalhista ou estatutário é indiciário, mas não assecuratório do direito à aposentadoria especial, e vice-versa. 4. Nos termos do art. 57, 6.º e 7.º, da Lei Federal n.º 8.213-91, na redação determinada pelo art. 6.º da Lei Federal n.º 9.732, de 11-12-98, fazendo o servidor jus ao benefício, o Município terá, em contrapartida, acrescida à contribuição de que trata o art. 22, II, da Lei Federal n.º 8.212-91, que estabelece alíquotas de um, dois ou três pontos percentuais para financiar os benefícios concedidos em razão do grau de incidência da incapacidade laborativa do trabalho, as alíquotas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo servidor permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de serviço, respectivamente, devendo esse acréscimo incidir exclusivamente sobre a remuneração de contribuição do servidor sujeito às condições especiais ensejadoras da aposentadoria especial. Na prática, para assegurar o direito ao benefício especial, deverá o servidor provar, junto ao Instituto, o implemento das condições fixadas na lei previdenciária para a concessão do benefício. O ônus dessa prova, indiscutivelmente, cabe ao próprio servidor, devendo ele cuidar para que o Município lhe forneça todos os documentos necessários. Trata-se de direito do servidor e obrigação do Município. Pela Autarquia, era exigido que o segurado apresentasse, como meio de prova, a Carteira de Trabalho e Previdência Social CTPS, formulário descrevendo suas atividades (SB-40, DISES BE - 5235, DSS 8030, DIRBEN 8030) e laudo técnico assinado por Médico do Trabalho ou Engenheiro de Segurança (até 28-04-95, exceto para o ruído, não era exigida a apresentação de laudo técnico). O art. 58, 1.º, 2.º, 3.º e 4.º, da Lei Federal 8.213-91, os dois primeiros com nova redação e os dois últimos acrescidos pela Lei Federal n.º 9.528, de 10-12-97, determinaram que a comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos fosse feita por perfil profissiográfico com base em laudo técnico das condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Não havia, porém, maiores especificações quanto à sua forma e conteúdo, e o INSS continuava a aceitar os formulários antes referidos. Com a alteração no art. 68, 2º e 6º a 8º, do Decreto Federal n.º 3.048-99, feita pelo Decreto Federal n.º 4.032, de 26-11-01, o regulamento previdenciário passou a ser mais claro e preciso, 2
exigindo que a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos seja feita mediante formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário PPP, na forma estabelecida pelo Instituto, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho LTCAT expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. É oportuno esclarecer, porém, que salvo no caso dos servidores celetistas, por tratar-se de exigências feitas pela Consolidação das Leis do Trabalho, está o Município desobrigado de elaborar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PPRA, o Programa de Gerenciamento de Riscos PGR, o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção PCMAT e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PCMSO, bastando, para preencher o Perfil Profissiográfico Previdenciário, o Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho LTCAT, conforme deixa claro o art. 291, 2.º da Instrução Normativa RFB n.º 971-2009, verbis: Art. 291. As informações prestadas em GFIP sobre a existência ou não de riscos ambientais em níveis ou concentrações que prejudiquem a saúde ou a integridade física do trabalhador deverão ser comprovadas perante a fis-calização da RFB mediante a apresentação dos seguintes documentos: I PPRA, que visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalha-dores, por meio da antecipação, do reconhecimento, da avaliação e do consequente controle da ocorrência de riscos ambientais, sendo sua abrangência e profundidade dependentes das características dos riscos e das necessidades de controle, devendo ser elaborado e implementado pela empresa, por estabelecimento, nos termos da NR-9, do MTE; II Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que é obrigatório para as atividades relacionadas à mineração e substitui o PPRA para essas ativi-dades, devendo ser elaborado e implementado pela empresa ou pelo per-missionário de lavra garimpeira, nos termos da NR-22, do MTE; III PCMAT, que é obrigatório para estabelecimentos que desenvolvam ati-vidades relacionadas à indústria da construção, identificados no grupo 45 da tabela de CNAE, com 20 (vinte) trabalhadores ou mais por estabelecimento ou obra, e visa a implementar medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho, nos termos da NR-18, substituindo o PPRA quando contemplar todas as exigências contidas na NR-9, ambas do MTE; IV PCMSO, que deverá ser elaborado e implementado pela empresa ou pelo estabelecimento, a partir do PPRA, PGR e PCMAT, com o caráter de promover a prevenção, o rastreamento e o diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive aqueles de natureza subclínica, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou de danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores, nos termos da NR-7 do MTE; V LTCAT, que é a declaração pericial emitida para evidenciação técnica das condições ambientais do trabalho, podendo ser substituído por um dos documentos dentre os previstos nos incisos I e II, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece critérios a serem adotados pelo INSS; VI PPP, que é o documento histórico-laboral individual do trabalhador, conforme disposto neste ato e na Instrução Normativa que estabelece crité-rios a serem adotados pelo INSS; VII CAT, que é o documento que registra o acidente do trabalho, a ocor-rência ou o agravamento de doença ocupacional, mesmo que não tenha si-do determinado o afastamento do trabalho, conforme disposto nos arts. 19 a 22 da Lei nº 8.213, de 1991, e nas NR-7 e NR-15 do MTE, sendo seu regis-tro fundamental para a geração de análises estatísticas que determinam a morbidade e mortalidade nas empresas e para a adoção das medidas pre-ventivas e repressivas cabíveis, sendo considerados, também, os casos de reconhecimento de nexo técnico epidemiológico na forma do art. 21-A da citada Lei, acrescentado pela Lei nº 11.430, de 26 de dezembro de 2006. 1º Os documentos previstos nos incisos II e III do caput deverão ter ART, registrada no Crea. 2º As entidades e órgãos da Administração Pública Direta, as autarquias e as fundações de direito público, inclusive os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que não possuam trabalhadores regidos pela CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1943, estão desobrigados da apresentação dos documentos previstos nos incisos I a IV do caput, nos termos do subitem 1.1 da NR-1 do MTE. 3
[...] (grifamos) A Norma Regulamentadora nº 01 do Ministério do Trabalho (NR-01 do MTE), referida ao final do 2º do art. 291 da IN RFB nº 971/-2009, diz expressamente em seu subitem 1.1 que a observância das Normas Regulamentadoras relativas à segurança e medicina do trabalho somente são de observância obrigatória pela Administração pública que possua servidores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT: 1.1. As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. (grifamos) 5. Considera-se PPP, para o efeito da lei e do regulamento previdenciário, o documento históricolaboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo INSS. Dentre outras informações, o formulário deverá conter campos para serem preenchidos com todas as informações relativas ao segurado, como por exemplo: a atividade que exerce, o agente nocivo no qual é exposto, a intensidade e a concentração do agente, exames médicos clínicos, além de dados referentes à empresa. As informações prestadas pela empresa, seja no PPP ou nos antigos formulários, presumem-se verdadeiras até prova em contrário, e o art. 58, 3.º e 133, da Lei Federal n.º 8.213-91, sujeita a penalidades a empresa que emitir estes documentos em desacordo com o laudo ou com a realidade. A partir de 1º de janeiro 2004, data em que o INSS começou efetivamente a exigir o PPP, o segurado não necessitará mais apresentar o laudo técnico, em que pese aquele ter de ser preenchido com base neste, já que o perfil profissiográfico substitui o formulário e o laudo. O laudo deve, entretanto, permanecer na empresa à disposição da previdência social. 6. Frente a essas considerações, concluímos objetivamente: 6.1 Tratando-se de servidores vinculados ao Regime Geral de Previdência Social RGPS, onde estão incluídos os celetistas, os cargos em comissão exclusivos, os contratados temporariamente com base no art. 37, IX, da CR, e os estatutários sem regime próprio de previdência, estes e o Município (no caso a Câmara) equiparam-se, em direitos e obrigações previdenciárias, às empresas e aos trabalhadores da iniciativa privada, aproveitando as regras de aposentadoria do art. 201 da Constituição da República e da Lei 8.213, de 24-07-91. Esses servidores, em razão de eventual e comprovada exposição a agentes químicos, físicos e biológicos definidos no Anexo IV do Decreto 3.048-99, cumpridos os demais requisitos legais, farão jus à aposentadoria especial junto ao RGPS. 6.2 Em decorrência disso, estará também a Câmara obrigada a recolher a contribuição adicional de doze, nove ou seis pontos percentuais, incidente sobre a remuneração do segurado beneficiado (conforme o art. 57, 6.º e 7.º, da Lei Federal n.º 8.213-91, na redação determinada pelo art. 6.º da Lei Federal n.º 9.732, de 11-12-98). Permanecemos à disposição. 4
Júlio César Fucilini Pause OAB/RS nº 47.013 5