APELANTE: APELADA: GILMAR MASCHIO GALVANI INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA. Número do Protocolo: 22482/2011 Data de Julgamento: 11-01-2012 EMENTA RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO MONITÓRIA CITAÇÃO DO RÉU POR HORA CERTA CARTA DE CITAÇÃO DISCIPLINADA NO ART. 229 DO CPC OBRIGATORIEDADE DO ENVIO AO CITANDO DENTRO DO PRAZO DE RESPOSTA, SOB PENA DE NULIDADE DO ATO CITATÓRIO PRECEDENTE DO STJ ERROR IN PROCEDENDO VERIFICADO NA INSTÂNCIA SINGELA RECURSO PROVIDO SENTENÇA ANULADA. 1. Em se tratando de citação por hora certa, a carta de citação deve ser enviada ao citando no prazo para sua resposta, sendo nula a citação quando a comunicação a que alude o art. 229 do CPC é remetida quando já esgotado o prazo de defesa do réu. 2. Verificado a ocorrência de error in procedendo, deve o processo retornar a instância de piso para o seu regular processamento, nos termos das regras processuais aplicáveis à espécie. 3. Apelo provido para declarar a nulidade da sentença objurgada. Fl. 1 de 6
APELANTE: APELADA: GILMAR MASCHIO GALVANI INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA. RELATÓRIO EXMO. SR. DES. JOSÉ FERREIRA LEITE Egrégia Câmara: Cuida-se de recurso de apelação cível interposto por Gilmar Maschio, dizendo-se inconformado com a r. sentença de fls. 146/151 prolatada pelo Juízo da Terceira Vara da Comarca de Primavera do Leste que, nos autos da Ação Monitória n. 327/2007 movida contra si por Galvani Indústria, Comércio e Serviços, julgou procedente a pretensão da apelada, constituindo em título executivo um cheque emitido pelo apelante, condenando-o ao pagamento da importância de R$75.444,09 (setenta e cinco mil, quatrocentos e quarenta e quatro reais e nove centavos), atualizados, monetariamente pelo INPC, a partir do vencimento do título e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação, além de impor ao recorrente o ônus pelo pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor atualizado do débito. Em suas razões recursais, sustenta o apelante que a sentença objurgada, ao declarar a intempestividade de seus embargos monitórios e considerá-lo revel, incorreu em manifesta nulidade, uma vez que a citação por hora certa determinada pela magistrada sentenciante não observou as regras inscritas no art. 229 do Código de Processo Civil. Requer, portanto, a anulação da sentença por error in procedendo (fls. 152/158). Regularmente intimada, a empresa recorrida apresentou contrarrazões, requerendo o desprovimento do apelo (fls. 168/172). É o relatório. Fl. 2 de 6
VOTO EXMO. SR. DES. JOSÉ FERREIRA LEITE (RELATOR) Egrégia Câmara: Conforme relatado, o cerne da controvérsia a ser dirimida por este Sodalício cinge-se a examinar se agiu com acerto a julgadora a quo quando considerou intempestivo os embargos monitórios apresentados pelo apelante, decretando-o revel e julgando procedente a ação monitória promovida pela apelada. Com efeito, proposta a demanda monitória, a primeira tentativa de citação do embargante, ocorrida em 19-9-2007, restou infrutífera, sendo que a oficiala de justiça foi informada pela esposa do apelante que o mesmo encontrava-se na Fazenda Primavera, situada na zona rural do município de Primavera do Leste e que retornaria à sua residência apenas no período noturno (certidão fls. 68-verso). No dia 20-12-2007, a oficiala de justiça dirigiu-se à fazenda Primavera, sendo informada pelo Sr. Ricardo Araújo Pires, proprietário da Fazenda Mãe Augusta e vizinho da fazenda do apelante que este encontrava-se viajando para o sul do país, sem data de retorno aquela cidade (certidão de fls. 69-verso). Determinada pelo juízo de primeiro grau a citação por hora certa do devedor apelante, mais uma a oficiala do juízo, em 25-4-2008, dirigiu-se à residência apelante não encontrando ninguém naquele endereço. Retornando no dia 05-5-2008, foi recepcionada pela secretária do lar, Sra. Terezinha Borges, que informou a oficiala de justiça que o recorrente ali não se encontrava, mas que o mesmo estava na cidade (certidão de fl. 84-verso). Desse modo, a oficiala Rita de Cássia Corrêa dos Santos, identificou-se como tal, cientificando a Sra. Terezinha Borges dos termos do mandado de citação, deixandolhe uma cópia e, ainda, a comunicando que retornaria no dia seguinte 06-5-2008 -, precisamente às 11 horas, para fazer a citação do devedor apelante. Certificou, contudo, a servidora do Poder Judiciário que no dia 06-5-2008, às 11 horas, retornou ao endereço do réu, não sendo, todavia, atendida, razão pela qual deixou cópia do mandado e da petição inicial na caixa postal daquele imóvel, efetuando, Fl. 3 de 6
assim, a citação por hora certa do apelante Gilmar Maschio (certidão fls. 84-verso). Ressalte-se que o mandado de citação foi juntado aos autos em 15-5-2008 (fl. 83-v), sendo que a carta de citação disciplinada no art. 229 do CPC, somente foi enviada ao devedor apelante em 02-6-2008 e devolvida com a informação recusado, sendo acostada ao feito em 12-6-2008, conforme se vê à fl. 87. Depreende-se que a jurisprudência do STJ, nas hipóteses de citação por hora certa, tem se orientado no sentido de fixar verbis - como termo inicial do prazo para a contestação, a data da juntada do mandado de citação cumprido, e não a data da juntada do Aviso de Recebimento da correspondência a que alude o art. 229 do CPC. (REsp 746.524/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/3/2009, DJe 16/3/2009) Sendo assim, o prazo para oferecimento de embargos à demanda monitória se findou em 30-5-2008. Contudo, a Egrégia Corte Especial erigiu entendimento de que, tratando-se de citação por hora certa, a carta a que alude o art. 229 do CPC deve ser enviada ao citando no prazo para sua resposta, sendo nula a citação aquela comunicação (art. 229 do CPC) é remetida quando já esgotado o prazo de defesa do réu. A título ilustrativo, trago à colação elucidativo acórdão do STJ, verbis: PROCESSUAL CIVIL DESPEJO. CITAÇÃO POR HORA CERTA. ART. 229, CPC. A REMESSA DE COMUNICAÇÃO, PELO ESCRIVÃO AO CITANDO, DANDO-LHE CIÊNCIA DA AÇÃO, É OBRIGATÓRIA E DEVE SER EFETIVADA NO PRAZO PARA RESPOSTA. SE NÃO FEITA A COMUNICAÇÃO OU FEITA QUANDO JÁ ESGOTADO O PRAZO PARA CONTESTAÇÃO, É NULA A CITAÇÃO. Recurso não conhecido. (REsp 280215/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/5/2001, DJ 13/8/2001, p. 221) Constata-se, pois, que a carta de citação enviada ao devedor recorrente em 02-6-2008, o foi em momento em que já ultrapassado para o devedor o prazo para o oferecimento de embargos monitórios a que se refere o art. 1.102-C do Código de Processo Fl. 4 de 6
Civil. Inapelável, por conseguinte, que ato citatório do apelante, conforme demonstrado, está acoimado de vício insanável, ou seja, é nulo de pleno direito. Diante do exposto, dou provimento ao presente recurso de apelação interposto pelo demandado Gilmar Maschio, declarando a nulidade do ato de citação de fl. 84- verso, sendo nulos, por conseqüência, todos os atos processuais subsequentes, assim como sentença de fls. 146/15. Determinando, outrossim, o retorno dos autos à instância de piso para o seu regular processamento, nos termos das regras processuais aplicáveis à espécie. Custas ex lege. É como voto. Fl. 5 de 6
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JOSÉ FERREIRA LEITE, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. JOSÉ FERREIRA LEITE (Relator), DES. JURACY PERSIANI (Revisor) e DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO PROVIDO, À UNANIMIDADE, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Cuiabá, 11 de janeiro de 2012. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADOR JOSÉ FERREIRA LEITE - PRESIDENTE DA SEXTA CÂMARA CÍVEL E RELATOR GEACOR Fl. 6 de 6