MICROPARTÍCULAS DE POLI(3-HIDROXIBUTIRATO) E EUDRAGIT E COMO SISTEMA DE LIBERAÇÃO PARA MELHORAR A SOLUBILIDADE AQUOSA DO FELODIPINO E DA SINVASTATINA

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Transcrição:

MICROPARTÍCULAS DE POLI(3-HIDROXIBUTIRATO) E EUDRAGIT E COMO SISTEMA DE LIBERAÇÃO PARA MELHORAR A SOLUBILIDADE AQUOSA DO FELODIPINO E DA SINVASTATINA Giovana C. Bazzo*, Bianca R. Pezzini, Melissa Zétola, Theodoro M. Wagner, Daniela B. Caetano, Maura Boch, Iara C. Schmücker, Sacha K. Schucko Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), Departamento de Farmácia - Joinville SC gbazzo@uol.com.br Fármacos pouco solúveis em água apresentam-se como um problema para o desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas orais, uma vez que possuem grande potencial para baixa biodisponibilidade. Sendo assim, sistemas de liberação que visem promover o aumento da solubilidade aquosa destes fármacos são vantajosos. Este trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade da incorporação do felodipino e da sinvastatina em micropartículas poliméricas, visando melhorar a solubilidade aquosa destes fármacos. Micropartículas de poli(3-hidroxibutirato) [PHB] e Eudragit E foram preparadas através da técnica de emulsão - evaporação do solvente e caracterizadas quanto à morfologia e eficiência de encapsulação do fármaco. Partículas com formas esféricas e altos teores de fármaco encapsulado foram obtidas. Observou-se um aumento significativo da solubilidade aquosa do felodipino e da sinvastatina após a sua incorporação às micropartículas. Através de ensaios de difração de raios-x evidenciou-se a conversão de ambos os fármacos da forma cristalina para a forma amorfa, o que pode ter contribuído para o aumento da sua solubilidade. Palavras-chave: PHB, Eudragit E, fármaco, solubilidade, micropartículas Poly(3-hydroxybutyrate) and Eudragit E microparticles: a release system to enhance the aqueous solubility of felodipine and simvastatin Poor water-soluble drugs are a problem for the development of oral solid dosage forms, since it has great potential for low bioavailability. Thus, release systems that promote the increase of aqueous solubility of these drugs are advantageous. This study aimed to evaluate the feasibility of incorporation of felodipine and simvastatin in polymeric microparticles, to improve the aqueous solubility of the drugs. Microparticles of poly(3-hydroxybutyrate) [PHB] and Eudragit E was prepared by emulsion solvent evaporation technique and characterized as to morphology and encapsulation efficiency of the drugs. Particles with spherical shapes and high levels of drug encapsulated were obtained. There was a significant increase in aqueous solubility of felodipine and simvastatin after its incorporation into the polymeric microparticles. X-ray diffraction analysis showed the conversion of both drugs to amorphous form, which may have contributed to increased the solubility. Keywords: PHB, Eudragit E, drug, solubility, microparticles Introdução A administração de medicamentos através da via oral requer que o fármaco esteja dissolvido no lúmen gastrintestinal para que ocorra a absorção e, consequentemente, o efeito terapêutico desejado 1. Dessa forma, o desenvolvimento de formas farmacêuticas sólidas orais contendo um fármaco com baixa solubilidade em meio aquoso torna-se um grande desafio, devido aos problemas de biodisponibilidade que o composto pode apresentar. Assim, a busca por técnicas capazes de corrigir essa deficiência e o aperfeiçoamento daquelas já existentes são de grande relevância 2-4. Diversas estratégias vêm sendo empregadas para melhorar a solubilidade de fármacos poucos solúveis e aumentar a sua velocidade de dissolução em meio aquoso,

como a formação de complexos com ciclodextrinas 5, preparo de dispersões sólidas com carreadores hidrofílicos 6,7 e redução do tamanho das partículas do fármaco 8. Entre os fármacos que apresentam baixa solubilidade aquosa destacam-se o antihipertensivo felodipino e também a sinvastatina, amplamente utilizada no tratamento da hipercolesterolemia. Por este motivo, alguns sistemas vêm sendo estudados com o objetivo de aumentar a solubilidade e a velocidade de dissolução destes fármacos, bem como a sua biodisponibilidade oral, como o preparo de dispersões sólidas utilizando polietilenoglicol e polivinilpirrolidona como carreadores hidrofílicos 9. Embora a incorporação de fármacos em micropartículas poliméricas seja uma área de intensa pesquisa nos últimos anos, a sua utilização com a finalidade de melhorar a solubilidade aquosa de fármacos pouco solúveis é praticamente inexistente. A utilização de formas farmacêuticas multiparticuladas pode proporcionar o aumento da superfície de contato do fármaco com o meio, comparada à área superficial que possui quando presente em um comprimido e, desta forma, facilitar a solubilização do fármaco, pois as subunidades da formulação podem distribuir-se em uma grande área superficial no trato gastrintestinal 8. Além disso, a passagem do fármaco da forma cristalina para o estado amorfo durante o processo de microencapsulação pode melhorar a sua solubilidade, pois geralmente as formas amorfas são mais solúveis do que as formas cristalinas, possuindo maior velocidade de dissolução. O objetivo do presente estudo foi avaliar se a incorporação do felodipino e da sinvastatina em micropartículas poliméricas é capaz de promover uma melhora da solubilidade aquosa desses fármacos. Os polímeros selecionados para elaboração das micropartículas foram o Eudragit E, um polimetacrilato utilizado na área farmacêutica para o revestimento de comprimidos e o poli(3-hidroxibutirato) [PHB], um polímero natural que vem sendo amplamente estudado como material polimérico para uso na área médica. Experimental Preparo das micropartículas As micropartículas foram obtidas através do método de emulsão e evaporação do solvente óleo em água (O/A), que consistiu em dissolver 0,40 g de felodipino ou sinvastatina, 0,75 g de Eudragit E e 0,25 g de PHB em 10 ml de diclorometano e posteriormente adicionar a 200 ml de uma solução aquosa contendo 0,15% de poli(álcool vinílico) como estabilizante, sob agitação de 700 rpm, à temperatura ambiente, utilizando

um agitador magnético micro-processado Quimis. Após a evaporação do diclorometano, as micropartículas foram lavadas com água destilada, secas à temperatura ambiente e armazenadas em dessecador. Determinação do teor de fármaco e da eficiência de encapsulação O teor de fármaco nas micropartículas foi determinado por meio de espectrofotometria de absorção na região do ultravioleta. Foram preparadas soluções a partir das micropartículas na concentração equivalente a 10 mg L -1 de fármaco, utilizando etanol para solubilizar o felodipino e diclorometano para a sinvastatina, procedendo à leitura das absorvâncias (λ máx felodipino = 364 nm; λ máx sinvastatina = 240 nm), em um espectrofotômetro UV/Vis da marca Shimadzu (modelo 1601 PC). O teor de fármaco foi calculado através da construção de uma curva de calibração. A eficiência de encapsulação (EE%) do felodipino e da sinvastatina foi determinada através da Equação: quantidade de fármaco encapsulada EE % = 100 quantidade total de fármaco adicionada Avaliação da morfologia A morfologia da superfície externa das micropartículas foi avaliada por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV) em um equipamento da marca Zeiss (DSM 940A). Amostras foram fixadas em um suporte metálico, recobertas com uma fina camada de ouro e observadas em microscópio eletrônico. Ensaio de liberação in vitro Os perfis de dissolução do felodipino e da sinvastatina foram determinados em um aparelho de dissolução Nova Ética (modelo 299/6), utilizando-se as seguintes condições experimentais: aparato I (cesto), HCl 0,1 N como meio de dissolução, mantido à temperatura de 37± 0,5 ºC e sob agitação de 100 rpm, durante o período de 1 h. Amostras foram coletadas em 5, 10, 20, 40 e 60 min para quantificação do fármaco dissolvido. O teor de felodipino dissolvido foi determinado através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), em um equipamento Merck Hitachi, modelo D7000 IF, com amostrador automático. Utilizou-se uma coluna LiChrospher RP-18 (5 µm), ácido acético:acetonitrila (95:5) como fase móvel e detecção na região do ultravioleta em 364 nm. A quantidade de sinvastatina dissolvida no meio de dissolução foi determinada por meio de

espectrofotometria de absorção no UV (espectrofotômetro Shimadzu, 1601 PC). Os cálculos dos porcentuais de fármaco dissolvido em cada tempo foram realizados mediante a utilização da equação da reta, obtida após a construção de uma curva de calibração. Difração de raios-x (DRX) Os difratogramas dos fármacos e das micropartículas foram obtidos em um difratômetro de raios-x Shimadzu XRD-6000, com radiação CuKα (l =1.54056 Å), na faixa de 5 a 50, com passo de 0,05 e tempo de 1s. Resultados e Discussão As micrografias da superfície externa das micropartículas são apresentadas na Figura 1. A utilização de uma blenda de Eudragit E/PHB resultou na obtenção de micropartículas esféricas e com superfície externa rugosa e porosa. Segundo Martin e colaboradores 10, esse tipo de matriz polimérica é característica do PHB e ocorre em função do seu elevado grau de cristalinidade e da sua rápida velocidade de cristalização. Provavelmente não há presença de cristais de sinvastatina na superfície e no interior das microesferas, conforme visualizado na Figura 1 B, sugerindo o estado amorfo do fármaco. No entanto, alguns cristais de felodipino podem ser observados nas micrografias (Fig. 1 A), os quais não foram removidos durante a etapa de lavagem das micropartículas. A A B 20 µm 20 µm Figura 1 Microscopia eletrônica de varredura das micropartículas de Eudragit E/PHB contendo felodipino (A) e sinvastatina (B). A eficiência de encapsulação do felodipino nas micropartículas foi de 103,9 % e da sinvastatina de 101,4 %, indicando que altos teores de fármaco encapsulado foram obtidos para ambos os fármacos empregados como modelo, utilizando as condições descritas.

Os perfis de dissolução dos fármacos não encapsulados e incorporados às micropartículas estão representados na Figura 2. Após 10 minutos, aproximadamente 75 % do felodipino e da sinvastatina incorporados às micropartículas solubilizaram no meio de dissolução. Após esse período de tempo os perfis de dissolução atingiram um platô, indicando que a totalidade do fármaco presente foi liberada nos primeiros minutos após o contato das micropartículas com o meio de dissolução. Por outro lado, nesse mesmo período de tempo, apenas 2,5 % do felodipino e 15 % da sinvastatina dissolveram. Esses resultados mostram que houve um aumento significativo na dissolução dos fármacos após a sua incorporação às micropartículas de Eudragit E/PHB. 100 80 fármaco dissolvido (%) 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 Tempo (min) Figura 2 Perfis de dissolução do felodipino ( ), da sinvastatina ( ), das micropartículas de felodipino ( ) e das micropartículas de sinvastatina ( ). O aumento da solubilidade aquosa de um composto pode estar associado a diversos fatores, como a redução do tamanho e da agregação entre as partículas, o aumento da molhabilidade e a amorfização 8,11,12. Com o objetivo de avaliar a ocorrência de alterações da forma cristalina dos fármacos após a sua incorporação às micropartículas, ensaios de DRX foram executados e os resultados encontram-se na Figura 3.

Intensidade (u.a.) PHB micropartículas sinvastatina micropartículas felodipino sinvastatina felodipino 5 10 15 20 25 30 35 40 2θ (graus) Figura 3 Difratogramas do felodipino, da sinvastatina, do PHB e das micropartículas. Tanto o felodipino quanto a sinvastatina apresentou um padrão de raios-x característico de um composto cristalino, com picos evidentes em 2θ igual a 10.3º e 23.3º para o felodipino e 9.3º, 17.2º, 18.8º e 22.6º para a sinvastatina, estando de acordo com os dados apresentados na literatura para esses fármacos 1,13. Os picos em 2θ igual a 13,5º e 16,9º presentes nos difratogramas das micropartículas correspondem ao PHB, um polímero semi-cristalino 14. Nos difratogramas das micropartículas de felodipino é possível observar os picos característicos do fármaco, conforme indicado na Figura 3. No entanto, os picos apresentaram uma intensidade menor do que o fármaco puro e sugerem a presença de uma pequena fração do fármaco na forma cristalina, conforme se pôde observar nas micrografias (Figura 1 A). As micropartículas de sinvastatina apresentaram um padrão de difração que confirmou que o fármaco encontrava-se na forma amorfa, uma vez que não se observaram os picos característicos do composto quando no estado cristalino. Conclusões Este estudo permitiu verificar o aumento da solubilidade aquosa do felodipino e da sinvastatina a partir da sua incorporação em micropartículas poliméricas preparadas com

Eudragit E e PHB. Os resultados de DRX indicaram que houve redução da cristalinidade do felodipino e amorfização da sinvastatina após a sua incorporação às micropartículas, possibilitando um aumento significativo da sua solubilidade aquosa de ambos os fármacos. Estudos relacionados à estabilidade das preparações e ensaios in vivo serão conduzidos com o objetivo de complementar os resultados obtidos. Agradecimentos FAP/UNIVILLE e CNPq. Referências Bibliográficas 1. E. Karavas; E. Georgarakis; D. Bikiaris Int. J. Pharm. 2006, 313, 189. 2. F. N. Bushrab; R. H. Müller New Drugs 2003, 5, 20. 3. A. Akkar; P. Namsolleck; M. Blaut; R. H. Müller AAPS Pharm. Sci.Tech. 2004, 5, 24. 4. A. C. Williams; P. Timmins; M. Lu; R. T. Forbes Eur. J. Pharm. Sci. 2005, 26, 288. 5. S. M. Wong; I. W. Kellaway; S. Murdan Int. J. Pharm. 2006, 317, 61. 6. E. M. Kim; J. Chun; I. Jang; K. Lee; H. Choi Eur. J. Pharm. Biopharm. 2006, 64, 200. 7. P. Zahedi; P. I. Lee Eur. J. Pharm. Biopharm. 2007, 65, 320. 8. J. Hecq; M. Deleers; D. Fanara; H. Vranckx; K. Amighi; P. Boulanger; S. LeLamer Eur. J. Pharm. Biopharm. 2006, 64, 360. 9. I. T. Vasilios; M. P. Sigalas J. Mol. Structure: THEOCHEM 2006, 803, 29. 10. M. A. Martin; F.C. Miguens; J. Rieumont; R. Sanchez Colloids and Surfaces B. 2007, 17, 111. 11. M. Ricci; P. Blasi; S. Giovagnoli; C. Rossi; G. Macchiarulo; G. Luca; G. Basta; R. Calafiore J. Controlled Release 2005, 107, 395. 12. A. Modi; P. Tayade AAPS Pharm. Sci. Tech. 2006, 7, 68. 13. S. W. Jun; M. Kim; J. Kim; H. J. Park; S. Lee; J. Woo; S. Hwang Eur. J. Pharm. Biopharm. 2007, 66, 413. 14. K. Sudesh; H. Abe; Y. Doi Prog. Polym. Sci. 2000, 25, 1503.