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EXMA. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO Proc. nº 0509503.57.2016.4.02.5101 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos da ação penal em epígrafe, em que é réu SÉRGIO CABRAL e outros, inconformado com a r. decisão proferida em audiência no dia 17/03/2017, que determinou a revogação da prisão preventiva da ré ADRIANA ANCELMO e decretou sua prisão domiciliar na forma do CPP art. 318, V apresenta seu recurso em sentido estrito nos termos do art.581, V do Código de Processo Penal (CPP). Requer, desde logo, a juntada das razões em anexo, bem como a remessa dos autos ao egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região após o cumprimento das formalidades legais. Rio de Janeiro, 20 de março de 2017. LEONARDO CARDOSO DE FREITAS Procurador Regional da República JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOS Procurador Regional da República EDUARDO RIBEIRO GOMES EL-HAGE RODRIGO TIMÓTEO DA COSTA E SILVA RAFAEL A. BARRETTO DOS SANTOS SERGIO LUIZ PINEL DIAS MARISA VAROTTO FERRARI Procuradora da República JESSÉ AMBRÓSIO DOS SANTOS JÚNIOR

Razões do recorrente MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Egrégia Turma, Na dia 17/03/2017, em decisão proferida em audiência de instrução e julgamento dos autos da ação penal em epígrafe (mídia em anexo 8 min e 40 segs.), o MM. Juízo da 7ª Vara Federal Criminal determinou a revogação da prisão preventiva da ré ADRIANA ANCELMO e decretou sua prisão domiciliar para prisão domiciliar, com fundamento no disposto no Código de Processo Penal art. 318, V.

Fundamentou-se a r. decisão ora guerreada no fato de pai e mãe dos filhos de Adriana de onze anos e quatorze anos no mencionado art. 318, V do CPP, no art. 19 da Convenção Americana de Direitos Humanos, referente aos direitos das crianças. Essa decisão estabeleceu ainda condições para ADRIANA ser transferida para prisão domiciliar, sendo digno de nota, a proibição de qualquer dispositivo de acesso à internet ou linha telefônica no local de sua custódia domiciliar. Iniciemos por transcrever o CPP art. 318, V, vazado nestes termos: Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (...) V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; A custódia cautelar da ré ADRIANA ANCELMO foi determinada pelo MM. Juízo da 7ª Vara Criminal Federal às fls. 41/60 dos autos da Ação Penal nº 5102033320164025101 (doc. anexo) para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal. Conforme exposto, na data de ontem 17/03/2017 em decisão proferida em audiência de instrução e julgamento dos autos da ação penal em epígrafe (mídia em anexo 8 min e 40 segs.), o MM. Juízo da 7ª Vara Federal Criminal determinou a

mudança do regime de custódia preventiva da ré ADRIANA ANCELMO para prisão domiciliar, com fundamento no disposto no Código de Processo Penal art. 318, V, vazado nestes termos: Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: (...) V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; A custódia cautelar da ré ADRIANA ANCELMO foi determinada pelo MM. Juízo da 7ª Vara Criminal Federal às fls. 41/60 dos autos da Ação Penal nº 5102033320164025101 (doc. anexo) para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal. Na ocasião, ao passo que foi reconhecida a necessidade da medida extrema da custódia cautelar, foi expressamente afastada a incidência da norma do art. 318, V do CPP ao caso. Senão vejamos: Estes registros mostram que a Organização Criminosa descrita, na qual há fortes evidências da participação de Adriana Ancelmo e seu marido Sérgio Cabral, até pelo longo período de sua atuação no Estado do Rio de Janeiro, conta com o apoio de várias outras pessoas, inclusive parentes, com possibilidade de serem acionadas para atrapalhar o curso das várias investigações em curso. Não custa lembrar que, dada a importância das funções públicas ocupadas até há pouco pelos investigados, é muito provável que contem com outros agentes público, cúmplices ou simpatizantes, dispostos

destruir e falsear registos e documentos e vazar informações, como aliás ficou demonstrado nas transcrições acima. Noto, por fim, que há ainda indícios de situações nas quais pessoas próximas a Adriana Ancelmo estão atuando para esconder ou destruir documentos que podem ser úteis à instrução criminal. Se tal ocorre, também por isso é muito provável que esteja em curso movimentação para ocultar bens ilicitamente adquiridos. (...) Diante de tudo até aqui se viu, e reiterando a decisão cautelar anterior, reconheço que há fortes evidências de que Adriana Ancelmo, em comunhão de desígnios com seu marido Sérgio Cabral e outros investigados, tenha protagonizado um milionário sistema contábil paralelo de aquisição de joias em dinheiro sem a emissão de notas fiscais, agindo como uma das principais responsáveis pelos atos de ocultação patrimonial da propina recebida pelo exgovernador Sérgio Cabral, mediante contato direto ao menos com os operadores financeiros do esquema Carlos Miranda e Carlos Bezerra. São fartos os elementos que apontam para a prática dos crimes de participação em organização criminosa e de lavagem de dinheiro pela requerida, notadamente como a responsável pelo escritório ANCELMO ADVOGADOS,aparentemente utilizado para recebimento de propinas e para o branqueamento de milhões de reais de origem espúria, bem como pelo esquema de compra de joias que ajudou a implantar, joias essas ainda não apreendidas nem entregues à Polícia Federal, frise-se. Entendo que tais circunstâncias relevam evidente risco à efetividade da instrução processual penal e também à investigação policial em curso pela Força Tarefa da Operação Lava Jato em atuação no Estado do Rio de Janeiro, que é muito mais ampla do que os fatos que são objeto de denúncia ofertada nesta mesma data, e demonstram a necessidade do acautelamento da requerida do meio social em que se encontra inserida para preservação da higidez da instrução criminal. Além disso, a permanência de Adriana Ancelmo em liberdade representa evidente risco à ordem pública, sendo grande a probabilidade de que a mesma continuará na prática de ilícitos e persevere na ocultação do produto dos crimes perpetrados contra a Administração Pública. Com efeito, a prisão preventiva de Adriana Alcemo permitirá pôr termo a o ciclo delitivo da organização criminosa e da lavagem e ocultação de ativos ora apontados, empreendida de forma disseminada e ostensiva pelos envolvidos, especificamente pela requerida, sendo ineficaz qualquer outra medida cautelar prevista no artigo 319 do Código de Processo Penal. Registro, finalmente, a inaplicabilidade do disposto no art. 318, V do CPP a este

caso. Além do que já se disse sobre a necessidade da prisão cautelar de Adriana Ancelmo, e do efetivo risco que sua liberdade representa para a apuração dos fatos criminosos relatados, deve-se ter em mente que a referida norma não é um comando objetivo ao juiz. O próprio dispositivo legal deixa claro que poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: ( ) mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos (grifei). Parece óbvio que o texto permite ao juiz natural do caso a avaliação de suas peculiaridades. E, além de tudo que acima já deixei registrado, acresço que na execução da medida cautelar de prisão preventiva assume este Juízo a responsabilidade (art. 316 do CPP) de avaliar criteriosamente a relação entre o tempo de duração da medida e sua imprescindibilidade, além de eventuais dificuldades que se apresentarem em relação à guarda de filhos menores da representada. Assim, a expectativa é de que a medida cautelar extrema dure pelo menor tempo possível, equiparável talvez a uma confortável viagem à Europa que Adriana Ancelmo viesse a fazer, sem seus filhos, na companhia de amigos e colaboradores. Em complemento ao que acima foi dito, percebo ainda que a referida norma processual penal (318, V, CPP, na redação dada pela Lei 13.257 de 2016), tem como razão de existência uma situação social bem diversa do presente caso, como na imensa maioria dos processos criminais que tramitam pelos Tribunais nacionais, em que mulheres presas não têm condições financeiras de cuidar dos filhos menores de 12 anos e igualmente não dispõem de parentes próximos que as possam acudir nessa situação adversa. Não é este o caso de Adriana Ancelmo. Por conseguinte, ante a demonstração da prática de ilícitos gravíssimos ( fumus comissi delicti), alguns em aparente estado de flagrância à vista de sua natureza permanente (lavagem e ocultação de ativos), e de que a liberdade da requerida importa em perigo concreto (periculum libertatis) à ordem pública e à aplicação da lei penal, o decreto prisional é medida adequada e necessária aos fins pretendidos pelo órgão ministerial, razão pela qual o defiro integralmente. Por fim, defiro a medida de busca e apreensão requerida pelo órgão ministerial, diante da evidente possibilidade de a requerida estar ainda ocultando bens eventualmente adquiridos com o dinheiro proveniente da prática dos crimes sob investigação, na forma da fundamentação retro. Diante de todo o exposto, presentes os pressupostos e as circunstâncias autorizadoras: i.) DECRETO a PRISÃO PREVENTIVA de ADRIANA DE LOURDES ANCELMO e assim o faço para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, com fundamento nos artigos 312, caput e 313, I, ambos

do Código de Processo Penal. Temos então que a extensa e bem fundamentada que decretou a prisão preventiva de ADRIANA ANCELMO abordou e repeliu os fundamentos da r. decisão atacada em 17/03/2017, que colocou a ré em prisão domiciliar. E mais: os fundamentos da r. decisão de fls. 41/60 permanecem hígidos até a presente data, não tendo havido qualquer fato novo que tenha alterado o estado das coisas em relação à custódia cautelar de ADRIANA. Não bastasse isso, esse egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região, ao apreciar writ interposto por ADRIANA ANCELMO, já se manifestou especificamente sobre o disposto no CPP, art. 318, V, fundamento da r. decisão ora atacada, como se depreende da leitura de fls. 258/260 do HC Nº CNJ 0012776-78.2016.4.02.0000, da relatoria do i. Desembargador Federal Abel Gomes: V - Muito embora a paciente se enquadre na norma inserta no art. 318, inciso V do PP, além de ter viajado diversas vezes sem os seus filhos, outro argumento que se coloca contra a conversão da medida é a própria gravidade da conduta da paciente, aferida nas investigações e nos elementos pré-processuais existentes nos autos do processo de origem, e na linha daqueles precedentes acima colacionados, embora aplicados a outros tipos de crimes igualmente tão graves como os que estão imputados à paciente. (cf. fls. 259)

Temos então que ausentes novos elementos fáticos a alterar a realidade que determinou a edição do decreto de prisão preventiva e sua confirmação em sede de habeas corpus, não é o caso de se revogar a medida cautelar anteriormente deferida. Digno de nota ainda, que ainda essa questão foi submetida ao crivo do e. Superior Tribunal de Justiça, que ainda não apreciou a medida. Ou seja, a prisão preventiva de ADRIANA ANCELMO já foi submetida ao conhecimento de duas instâncias superiores, estando forte e em vigor, o que indica a fortaleza de seus fundamentos. Na verdade, as causas que embasaram a prisão preventiva de ADRIANA não só permanecem íntegras, como ganharam robustez com toda a prova produzida com a oitiva das testemunhas arroladas na denúncia. De fato, não há menos fumus boni juris, mas maior fundamento quanto à autoria criminosa, eis que ouvidas as testemunhas da denúncia, a organização descortinada na denúncia foi corroborada. Não há menos periculum in mora, mas mais elementos nesse sentido, pois os atos de lavagem praticados pela organização criminosa, especificamente através da aquisição de joias sem registro ou emissão de nota fiscal por ADRIANA ANCELMO

e SÉRGIO CABRAL, entre outros, foram confirmados em depoimentos prestados sob o crivo do contraditório. Por fim, a revogação da prisão preventiva de ADRIANA ANCELMO e decretação de sua prisão domiciliar representa uma enorme quebra de isonomia com as milhares de mães presas no sistema penitenciário brasileiro que não são beneficiadas por essa medida. Por outro lado, há periculum in mora na transferência de ADRIANA ANCELMO para a prisão domiciliar. As razões que determinaram sua prisão preventiva às fls. 41/60 dos autos da Ação Penal nº 5102033320164025101 foram intensificadas com toda a prova produzida na instrução do feito, evidenciando risco real que ADRIANA ANCELMO siga praticando os atos de lavagem próprios de sua organização criminosa. Some-se a isso a evidente situação ensejadora da prisão preventiva ocorrida quando em duas buscas e apreensões sucessivas feitas na casa de ADRIANA foram encontradas em ambas joias e ainda quantia substancial de dinheiro em espécie na segunda diligência ocorrida. Esse fato, por si só, evidencia que ADRIANA e sua organização estão, no momento, ocultando e movimentando valores de forma a impedir sua apreensão, o que demonstra, extreme de dúvidas, a necessidade da custódia cautelar para garantia da ordem pública.

A medida, na verdade, é essencial para se encerrar a prática de lavagem, um crime que, como é de sabença geral, é usualmente cometido com um telefone e um link de internet. Assim é que, em que pese as louváveis medidas de precaução tomadas na r. decisão atacada, vedando o acesso da ré a qualquer link de internet, a difícil fiscalização de tal medida torna evidente o risco dela utilizar de sua frouxa condição em prisão domiciliar para acessar e movimentar o patrimônio oculto por SÉRGIO CABRAL. Saliente-se que as investigações indicam que o ex-governador SÉRGIO CABRAL reiteradamente cobrava propina no valor de 5% de todos os contratos celebrados com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, de modo que, apesar de já terem sido recuperados mais de 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais), é de se supor que essa quantia seja apenas uma parte do que a organização criminosa amealhou ao longo de vários anos. Vale dizer, há, ainda, grande quantidade de recursos escondidos pela organização criminosa que ficarão à disposição de ADRIANA ANCELMO caso esta não permaneça presa preventivamente. Também presente o fumus boni juris, eis que, como foi dito, a instrução do feito vem confirmando os atos descritos na denúncia, robustecendo sobremaneira as imputações da denúncia.

DO PEDIDO Pelo exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer seja provido o presente recurso em sentido estrito para que, reformada a r. decisão atacada, seja mantida a prisão preventiva de ADRIANA ANCELMO, anteriormente decretada. Consigne-se, por relevante, a interposição de mandado de segurança junto a essa egrégia corte, para dar efeito suspensivo ao presente recurso. Rio de Janeiro, 20 de março de 2017. LEONARDO CARDOSO DE FREITAS Procurador Regional da República JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOS Procurador Regional da República EDUARDO RIBEIRO GOMES EL-HAGE RODRIGO TIMÓTEO DA COSTA E SILVA RAFAEL A. BARRETTO DOS SANTOS SERGIO LUIZ PINEL DIAS MARISA VAROTTO FERRARI Procuradora da República JESSÉ AMBRÓSIO DOS SANTOS JÚNIOR