O BARROCO COMO MODELO DE ARQUITETURA E DIFUSOR DO CATOLICISMO NO BRASIL COLÔNIA

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Transcrição:

O BARROCO COMO MODELO DE ARQUITETURA E DIFUSOR DO CATOLICISMO NO BRASIL COLÔNIA Thiago Caetano Custódio RESUMO: Neste trabalho, analisarei como o modelo de arquitetura barroca se desenvolveu nos primeiros centros urbanos brasileiros unificando a construção das primeiras igrejas católicas, fator que contribuiu para transformações dos espaços culturais que, por meio desse movimento artístico proveniente da Europa, possibilita compreender o quadro do aspecto histórico e cultural brasileiro. Dessa forma é necessário entender as narrativas produzidas no período colonial, assim como a evolução do catolicismo no Brasil por meio de estilos de uma arquitetura barroca. O foco geral foi perceber as transformações ocasionadas quando o barroco chega ao Brasil colônia, houve uma mudança no cotidiano dos espaços culturais entre a arquitetura e a doutrina religiosa, que aos poucos integralizou uma sociedade católica. Para entender as relações estabelecidas nestes novos centros, utilizarei as contribuições da História cultural, especificamente da terceira geração da Escola dos Annales. Foi fundamental entender de que forma se produziu esse modelo arquitetônico no Brasil e quais foram as suas transformações culturais, por isso os historiadores Lourival Gomes e Eduardo Etzel foram essenciais nesse trabalho. Assim como os arquitetos Affonso Ávila, João Gontijo e Suzy Mello, que dialogam sobre as táticas de ornamentações nas primeiras edificações brasileiras. A ideia é perceber a importância deste estilo arquitetônico no período colonial, observando a difusão do catolicismo nos primeiros centros urbanos. Palavras-chave: Arquitetura; Barroco; Catolicismo.

INTRODUÇÃO O barroco brasileiro tem suas relações artísticas e humanas originadas na Europa, quando ele chega na América adquire certas particularidades. Esse movimento artístico-literário se origina na Itália no século XVII e percorre toda a Europa se conduzindo pelo culto a fé católica. Na América Latina o barroco chega a meados do século XVII trazido pelos colonizadores que vieram da Europa. A arte barroca expressa todo o contraste entre duas mentalidades distintas de um período assentado na espiritualidade e o teocentrismo da Idade Média com as transformações diversas do mundo moderno após o renascimento cultural e a conquista da América (WÖLFFLIN, 1989). O barroco possibilitou uma sociedade católica brasileira, houve uma integração ente o barroco e religião católica. Acompanhando seu desenvolvimento histórico, este se origina na Itália e percorre toda a Europa, conduzido pelo ativismo da fé católica. Finalmente essa arte, em suas expressões mais sutis, aporta-se na América e tem sua maior expressão nas terras brasileiras pelas mãos de nosso escultor maior Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho). A arquitetura colonial foi realizada no Brasil desde 1500 até meados da independência em 1822, chegando em terras brasileiras o barroco teve sua grande presença em Minas Gerais onde recebeu inúmeras características (DE OLIVEIRA, 2003). Neste período, os colonizadores importaram correntes estilísticas da Europa para colônia se preocupando em adaptar as condições socioeconômicas locais brasileiras. No Barroco, diante de dilemas entre a vida e morte, céu e inferno, sagrado e profano, entre outros, o homem vê-se frente aos antagonismos da própria vida, e sua alma ficou assim, uma alma antagônica, polarizada, entre outros opostos dilemática, paradoxal, essa alma se reflete na literatura, escultura e arquitetura no Brasil e assume esse espírito dual que nas Américas ainda possuí esse o conflito colônia e metrópole (COUTINHO, 1994 p. 205). Outro fator importante sobre o barroco é que ele não rompeu necessariamente com o renascimento, ele expressou a religiosidade católica sem abandonar a exploração dos sentimentos e o emprego de curvas que

remetem a arte renascentista, ele necessariamente adquiriu formas arquitetônicas do renascimento manifestadas nas primeiras edificações brasileiras (BAZIN, 1983). O barroco esteve presente no surgimento das primeiras civilizações brasileiras, as igrejas construídas remetiam ao grandioso e a dramatização das formas presentes neste movimento artístico. Os colonizadores se utilizavam de dezenas de esboços baseados em antigos modelos das construções realizadas no reino, os indígenas e negros também ajudavam nas primeiras construções de igrejas e edifícios públicos. Entretanto, havia particularidades que a terra brasileira dispunha tais como as variações do panorama regional o relevo e também a pedra e madeira a matéria prima utilizada nas construções, assim percebemos uma estruturação de um modelo de construção, com suas medidas e receitas que eram executados no Brasil Colônia. DESENVOLVIMENTO Os Annales se esforçaram para aproximar a história das outras ciências humanas e assim surgiu uma nova concepção da história: a nouvelle histoire. O historiador Peter Burke nos alerta que a nouvelle histoire é definida em termos daquilo que se opõe aos estudiosos tradicionais. "Os historiadores tradicionais pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a análise das estruturas" (BURKE, 1992). A proposta é construir uma abordagem frente a arquitetura barroca nos primeiros centros urbanos brasileiros, observando a contribuição desse estilo arquitetônico nas primeiras construções brasileiras. Quando se construía uma igreja católica no Brasil se envolvia com o barroco, sem ao menos saber que se tratava de padrão de arte, e como se instaurou uma prática cotidiana e se fez essa fábrica na construção da estética barroca na arquitetura colonial brasileira. Barbara Borngässer (2004) em sua obra Barroco estabelece uma enriquecedora construção sobre a relação de um homem em conflito, destaca como a arte barroca é a expressão maior desse homem ficando na modernidade, mas com os pés no medievo. Borngässer destaca além da

literatura a teatralidade das esculturas e a riqueza de detalhes na arquitetura barroca, nos impressiona pela exuberância das edificações consideradas barrocas, tudo é feito nos mínimos detalhes. Eduardo Etzel (1974) em sua obra O Barroco no Brasil relata que a Igreja Matriz do Bom Jesus, na cidade de Cuiabá, ainda é uma igreja inacabada, há detalhes á serem projetados. Dessa forma, faz-se necessário compreender a forma como o barroco evolui no Brasil, contribuindo significativamente na formação da cultura do povo brasileiro, percebe-se o conjunto de detalhes que o barroco nos proporciona impulsionado pelo apego a fé católica. Lúcio Costa (2010), em A arquitetura dos jesuítas no Brasil destaca os modelos que encontramos nas construções feitas pelos jesuítas, lembrando que nem toda construção jesuíta é necessariamente barroca, e que, o barroco não se limita as práticas jesuítas, mas é inegável sua correlação estética e estilística. Num diálogo com a Obra de Afrânio Coutinho (1994), ficam nítidos como os conceitos do barroco europeu chegaram até as terras brasileiras, mas houve uma assimilação e apropriação desses valores nas primeiras edificações, houve uma preocupação em se conservar as particularidades do barroco. Com a chegada do barroco no Brasil Colônia se constitui um estilo arquitetônico com traços próprios, sobretudo nos primeiros centros urbanos. Juntamente com esse movimento artístico, destaca-se a propagação da fé católica que está intrinsecamente nesse estilo arquitetônico que passou a fazer parte das edificações realizadas entre os séculos XVII e XVIII. Por isso é importante entender o campo cultural da instalação do barroco no Brasil evidenciando os fenômenos presentes no período colonial, relacionando essa transposição cultural de um modelo arquitetônico trazidos diretamente de Portugal e apropriado pelos colonos. O barroco adquiriu uma forma no Brasil Colônia baseado em uma concepção própria se repetindo por toda região mineradora, as construções seguiam padrões que foram desenvolvidos no Brasil, iniciado pelos jesuítas e propagado pela igreja católica tudo se desenvolvia com a movimentação da economia do ouro em Minas Gerais. Assim existe uma correlação desse

modelo fabril de construção de igrejas com o ideal de catequização definido pela Contra Reforma (GOMES JR, 1998). Tais atos propagaram uma fé católica com caráter e vivência nas diversas igrejas construídas na metade do século XVII, época em que o barroco atinge o Brasil estimulado pela grande riqueza gerada pela descoberta do ouro e de outras pedras preciosas em Minas Gerias. A consolidação do catolicismo bem como a efetivação dessas construções no território brasileiro formalizou uma nova sociedade, baseada principalmente na doutrina cristã (MACHADO, 1991). Foi nas primeiras edificações construídas no período colonial brasileiro, que o barroco evolui e representou um marco no início da urbanização e também da civilização brasileira no século XVII, e como fica evidente na concepção arquitetônica um modelo estabelecido, que se trata aqui como uma ação fabril colonial na execução de tantas, e tão próximas igrejas barrocas executadas por artistas que não possuíam uma educação formal. O então ciclo do ouro em Minas Gerais proporcionou que a colônia portuguesa constituísse uma elite política e religiosa no Brasil carregada contigo por influências deste movimento artístico que estava em vigor na Europa. Na arquitetura barroca destaca-se a simbologia que esse movimento representou no Brasil, o catolicismo era manifestado nas edificações religiosas dessa época. O contexto do Brasil Colônia e as transformações ocorridas com as construções desses centros urbanos, as igrejas tinham linhas arquitetônicas com curvas e arabescos o interior era decorado em ritos e costumes da Igreja Católica (TIRAPELI, 2001). Durante esse período ocorreram diversas transformações nos espaços urbanos brasileiros, o Barroco possibilitou uma codificação da fé católica em sua arquitetura permeada por estilos europeus trouxe o catolicismo em um país que se desenvolvia politicamente e também culturalmente. Este movimento artístico possibilitou a criação de uma nova cultural, baseada em formas do catolicismo. Faz se necessário entender o movimento cultural que o barroco consignou no Brasil em um estilo particular do que era visto em Portugal, por isso é preciso identificar as diferenças entre a arquitetura barroca portuguesa e a brasileira. Os estilos arquitetônicos representados nas formações das igrejas

no período de auge do barroco e as semelhanças na constituição dessas igrejas através de um sistema de reprodução com técnicas constituídas num verdadeiro sistema fabril representam um novo estilo de arquitetura no Brasil (BUENO, 2012 p. 374). A arquitetura do Brasil desenvolveu grande parte de sua história sob frutos da então inspiração europeia, o território mantido pelos povos indígenas que não tinham praticamente um modelo de arquitetura a não ser a da suas casas a habitacional, quando recebeu os conquistadores portugueses passou a integrar uma cultura nova. Essa mesma cultura se fez de ritos do catolicismo que estiveram presentes nas primeiras igrejas da época, toda a ornamentação do interior e do exterior das edificações, se baseava em um padrão de arte que tivesse como ser desenvolvido no Brasil. Diante essas reproduções fotográficas podemos destacar o estilo arquitetônico constituído no Brasil, a transformação dos espaços com as construções, a propagação da fé católica, as modificações culturais. Tudo isso nos remete ao desenvolvimento ocasionado por esse movimento artístico vindo da Europa que ao chegar ao Brasil adquiriu particularidades como novas formas, cores, estilos e ornamentações que se diferenciavam do que era praticado em Portugal. Nossos caminhos metodológicos relacionaram as contribuições historiográficas da História Cultural captando diretamente a importância da Escola dos Annales principalmente sob as manifestações culturais mantidas nestes novos centros urbanos. É preciso entender de que forma se acentuou esse modelo arquitetônico, por isso a obra Barroco Mineiro do historiador Lourival Gomes Machado (1991), juntamente com a obra O Barroco no Brasil de Eduardo Etzel (1974) é muito importante para compreender as transformações culturais, como o desencadeamento deste movimento artístico na arquitetura colonial brasileira com esse aspecto fabril que pretendemos destacar, como pondera Bueno: A documentação permite entrever facetas desse sistema peculiar de concepção e gestão das fábricas coloniais. Direta ou indiretamente, revela a teia de personagens e a divisão técnica e social do trabalho que pautava o cotidiano das obras. Mostra também que as construções se estendiam ao longo de décadas e cada etapa era

protagonizada por novos atores, havendo descaminhos no decorrer de sua efetiva realização (BUENO, 2012 p. 376). Uma de nossas bases para esse trabalho é: Barroco mineiro: glossário de arquitetura e ornamentação dos arquitetos Affonso Ávila e João Gontijo (1996), essa obra é uma importante ferramenta para identificação e apontamento para os possíveis aspectos e principalmente as pequenas núncias de ornamentação que são recheados de funções e de significados. Cada elemento presente nas edificações brasileiras tinha um significado, que nos faz entender a relação do barroco com a religiosidade. Suzy Melo (1983), em seu trabalho intitulado como Barroco Mineiro trabalha aspectos universais do barroco indo além das questões formais e revelando o cenário político e religioso do chamado Concílio de Trento (1545) na qual o barroco se institucionaliza como iniciativa de reafirmação como uso da imagem e do ambiente com aspectos didáticos aos fieis. Já Karin Hellwig (2004) estabelece uma análise do barroco de ação e do discurso, faz uma análise distinta sobre uma práxis e poesis barroca e como essas duas iniciativas moldaram de maneiras distintas, a literatura, a pintura, a escultura e a arquitetura. No entendimento técnico da constituição desse espaço barroco, era possível uma ideia de uma ação coordenado pelo modelo fabril na execução dessas igrejas destacamos a obra: Barroco: do quadrado à elipse de Afonso Romano de Sant anna (2002) com uma análise preciosa sobre as formas e execução da arquitetura barroca, seu significados e significâncias. Associando a essa destacamos também Arte sacra colonial: Barroco memória viva de Percival Tirapel (2001) que através de uma análise do espaço das igrejas mineiras, principalmente os sacrários, faz toda uma construção das iniciativas de um catolicismo colonial e seus reflexos numa arquitetura tão rebuscada e desejosa de riqueza espiritual e material. Destaco também a necessidade de entender a trajetória do homem moderno com Heinrich Wölfflin (1989), que destaca claramente as origens desse homem moderno que está no epicentro das transformações culturais que trouxe da renascença, e vive também um mundo muito maior, com a descoberta do novo mundo. E por sua vez vive uma crise político-religiosa intensa que é o grande combustível do barroco na Europa e a motivação para

essa expansão ao novo mundo, que segundo ele, é uma retomada de caráter cruzadista da igreja católica. Conclusão Direciono-me pelo caminho metodológico presente na História Cultural onde tive como analisar a influência exercida pelo barroco no estilo arquitetônico brasileiro, neste caso as primeiras igrejas católicas se distinguiam das igrejas europeias. Todo o estilo arquitetônico do barroco praticado na Europa não foi o mesmo fabricado no Brasil. Pode-se perceber que no Brasil, os artistas adotavam estilos baseados aos materiais disponíveis na região tropical, sobretudo em Minas Gerais tevese uma grande movimentação comercial possibilitando uma construção de uma estética própria e passível de reprodução na colônia neste movimento artístico, com uma forte influência do catolicismo. É muito importante ressaltar que essa relação que o barroco estabeleceu nas primeiras construções católicas, possibilitou o desencadeamento de uma nova concepção cultural presente na sociedade brasileira. Conclui-se que o barroco foi um importante movimento artístico e arquitetônico formalizado no território brasileiro, possibilitando com os jesuítas o surgimento das primeiras edificações católicas no Brasil. Portanto é possível perceber o cotidiano desses espaços culturais ligados a arte e também as formas de vida geridas no Brasil Colônia, com esse estilo arquitetônico que adquiriu novas formas nas terras brasileiras com a evolução do catolicismo no Brasil.

Referências ÁVILA, Affonso (org). Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva, 1997. 556p. & GONTIJO, João. Barroco mineiro: glossário de arquitetura e ornamentação. 3ª ed. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1996. 332p. BAZIN, Germain; BARATA, Mário. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Editora Record, 1983. BORNGÄSSER, Bárbara. O Barroco. Königswinter: Konemann, 2004. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Sistema de produção da arquitetura na cidade colonial brasileira: mestres de ofício," riscos" e" traças". Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 20, n. 1, p. 321-361, 2012. BURKE, Perter (org.). A Escrita da História - Novas Prespectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992. COUTINHO, Afrânio. Do barroco. UFRJ, Univ. Federal do Rio de Janeiro, 1994. COSTA, Lúcio. A arquitetura dos jesuítas no Brasil. In: ARS (São Paulo), v. 8, n. 16, p. 127-195, 2010. DE OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro. Rococó religioso no Brasil e seus antecedentes europeus. Editora Cosac Naify, 2003. ETZEL, Eduardo. O Barroco no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1974. GOMES JR, Guilherme Simões. Palavra Peregrina: o Barroco e o pensamento sobre Artes e Letras no Brasil. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1998 HELLWIG, Karin. O Barroco. Königswinter: Konemann, 2004. MELLO, Suzy. Barroco. São Paulo: Brasiliense, 1983. TIRAPELI, Percival. Arte sacra colonial: Barroco memória viva. São Paulo: Unesp. 2001. WÖLFFLIN, Heinrich. Renascença e barroco: estudo sobre a essência do estilo barroco e sua origem na Itália. Trad. Mary Amazonas Leite de Barros et ali. São Paulo, Perspectiva, 1989.