A PRETAGOGIA COMO METODOLOGIA DE COMBATE AO RACISMO NO COTIDIANO ESCOLAR¹. Jezabel Mitsa do Nascimento Gertrudes (1);

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Transcrição:

A PRETAGOGIA COMO METODOLOGIA DE COMBATE AO RACISMO NO COTIDIANO ESCOLAR¹ Jezabel Mitsa do Nascimento Gertrudes (1); Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira- UNILAB. Bolsista do Programa de Educação Tutorial do Instituto de Humanidades e Letras. Acarape CE. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira- UNILAB. Correio Eletrônico: jezabel.do.nascimento@hotmail.com Mario Magno de Oliveira Silva (1); Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB. Bolsista do Programa de Educação Tutorial do Instituto de Humanidades e Letras. Acarape CE. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira- UNILAB. Correio Eletrônico: mariomagno1@hotmail.com Resumo: Este trabalho tem como objetivo conscientizar sobre a importância de debater o racismo no cotidiano escolar, assim como, refletir sobre como a Pretagogia como referencial teórico-metodológico pode contribuir para o combate ao racismo na escola. A Pretagogia está associada aos valores da cosmovisão africana, tais como: a ancestralidade, a tradição oral, o corpo enquanto fonte espiritual, a religiosidade e a circularidade. Dialogamos essencialmente com a autora do livro Pretagogia, Sandra Petit, Geranilde Silva e Munanga. A metodologia empregada foi à abordagem qualitativa e o método bibliográfico. Os resultados obtidos demonstraram que existe preconceito racial nas instituições de ensino e que, muitas vezes, os agentes que estão nesses espaços escolares ignoram esse problema que tanto afeta quem sofre. A Pretagogia pode ser um aliado da escola, já que existe uma défice na formação dos professores quanto ao ensino de história e cultura afro-brasileira, que os impossibilita de aplicar a Lei 10.639/03. Palavras-Chave: Pretagogia. Escola. Preconceito Racial. Introdução O presente trabalho, desenvolvido na disciplina Pretagogia do curso de Pedagogia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), no transcorrer do trimestre 2015.3, tem como objetivo discorrer a importância de combater o racismo no ambiente escolar e de como a Pretagogia, como proposta metodológica, pode ser um mecanismo de combate ao racismo. A Pretagogia está associada aos valores da cosmovisão africana, como: a ancestralidade, a tradição oral, o corpo enquanto fonte espiritual e produtor de saberes, a valorização da natureza, a religiosidade, a noção de território e o princípio da circularidade. E ela surge como um referencial teórico-metodológico elaborado coletivamente, pela Dra. Sandra H. Petit e Dra. Geranilde Silva em função do I curso de Especialização Pós-graduação Lato Sensu em História e Cultura Africana e dos Afrodescendentes, voltado à formação de Professores/as de Quilombos no Ceará

Paulo Freire entende que a escola deve ser um ambiente favorável à aprendizagem significativa, onde a relação professor-aluno acontece sempre com diálogo, valorizando o respeito mútuo. O espaço escolar deve sempre contribuir para a curiosidade, a criatividade, o raciocínio lógico, o estímulo à descoberta. Paulo Freire acredita que a Educação é um processo humanizante, social, político, ético, histórico, cultural e afirma que: A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. No entanto, sabemos que a escola muitas vezes, tem sido lugar de opressão para aqueles que estão historicamente marcados como inferiores e vivem à margem da sociedade. O racismo costuma ser um tabu que se foge a todo custo, pois essa história apesar de remontar aos nossos ancestrais, está cada vez mais presente no nosso cotidiano. O Movimento Negro clama por reivindicações tais como: a inclusão da Cultura Negra, da História do Negro no Brasil e da África nos currículos escolares, por uma educação multirracial que leve em conta a pluralidade étnica, cultural e religiosa brasileira. Uma das conquistas do Movimento Negro foi sem dúvida a Lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. No entanto, para que a lei seja uma realidade na escola os professores precisam estar preparados para aplica-la. A sala de aula deve ser um espaço onde a cultura afro-brasileira deve ser valorizada como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os negros são considerados como sujeitos históricos, valorizando-se, portanto, o pensamento e as ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura (música, culinária, dança) e as religiões de matrizes africanas. É necessário que a criança tenha orgulho dos seus ancestrais e que possa assumir sua negritude sem medo de sofrer racismo. Metodologia Para realização deste trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica e análise documental sobre a temática. O conhecimento sobre questão racial e o seu enfrentamento através de políticas afirmativas, faz-se através da leitura de realidade na qual elas estão inseridas, e o processo desencadeador de tal situação, por meio de processos de abstração e aproximação às suas determinações e relações históricas para a compreensão da totalidade da questão. O conhecimento sobre o quanto o racismo está inserido no ambiente escolar e a necessidade do enfrentamento através de metodologias descolonizadoras de leitura do mundo em que vivemos e da realidade que o ambiente escolar onde o aluno negro (a) está torna-se crucial para o combate ao racismo. Isso se dá,

por meio de uma aproximação das compreensões históricas de luta pelo combate ao racismo e a necessidade de um olhar reflexivo sobre a educação. Revisão de Literatura O racismo no Brasil é o principal fator condicionante das relações sociais, econômicas, políticas, culturais, ambientais e institucionais de desigualdade no país, formulando um conjunto de estereótipos sobre a ótica de inferiorizar a população negra, para fortalecer os paradigmas eurocêntricos de dominação. Como afirma Nilma Lino Gomes que o "racismo também resulta da vontade de se impor uma verdade ou uma crença particular como única e verdadeira" (GOMES, 2005, p. 52). E para que possamos entender melhor o impacto desse fenômeno no ambiente escolar, se faz necessário conhecer mais profundamente os fatos históricos da constituição da sociedade brasileira, como dizia Ki-Zerbo a História é uma fonte na qual poderemos não apenas ver e reconhecer nossa própria imagem, mas também beber e recuperar nossas forças, para prosseguir adiante na caravela do progresso humano (KIZERBO, 2010, p. XLII). A história do Brasil é marcada por violência de um sistema social racista e que enraizou o preconceito racial para manutenção de hierarquias, sendo legitimadas pelo processo de escravização da população negra africana. No qual foi um crime contra a humanidade e que há muito tempo vêm sendo denunciado pelo movimento negro e por intelectuais que trabalham as questões étnicas-raciais. Já que o país foi o último a "abolir" a escravização no ocidente, ainda é muito latente os impactos do "pós abolição", pois não foi dado o direito da plena cidadania para a população negra, que foi conduzida a estar nos piores papeis e lugares na sociedade brasileira. E a partir de Gilberto Freyre, presenciamos a tentativa de legitimação da falácia da democracia racial, tentando negar os conflitos no processo de miscigenação e negação da desvalorização da negritude. De acordo com Geranilde Silva, não devemos falar sobre mito da democracia racial, pois mito é uma ponderação sobre a compreensão do mundo muito utilizada pela cosmovisão africana e pelos povos ameríndios, como qualquer teoria cientifica: A crítica sócio-antropológica do Kabengele Munanga pondo em questão a falácia da democracia racial que, segundo ele, é uma (...) ideologia de mestiçagem, minimizando os impactos das desigualdades raciais e étnicas, o que complica bastante o debate público, o andamento das políticas e a definição de leis (MUNANGA, 2010, p. 8). Ressalto que eu e minha orientadora avaliamos que não devíamos mais usar a expressão mito da democracia racial, pois nela a palavra Mito tem uma conotação pejorativa, sinônima de mentira, que a nosso ver é um significado construído no ocidente moderno, que vai contra a cosmovisão africana, para a qual o mito é uma explicação do mundo com ensinamentos filosóficos não menos verdadeiros dos que a da ciência moderna. Daí preferirmos utilizar o termo falácia; (SILVA, G., 2013, p. 64).

Compreender como foi construída a nossa história, através da vivência e de estudos de artigos, dissertações, teses e dentre outros meios, pode-se entender melhor o impacto dessas relações no ambiente escolar, que é marcado pela presença da discriminação, preconceito racial e intolerância com a diversidade. De acordo com Rodriguês Ruth, o racismo educacional compreende toda forma de preconceito e discriminação presentes no âmbito escolar motivado por racismo e existe uma institucionalização do racimo na escola, na qual ela conceitua como racismo educacional : Trata-se de um processo excludente que define o percurso escolar dos/as estudantes negros/as. O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Nacionais da Educação Básica para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana (2009) destaca que as desigualdades percebidas nas trajetórias educacionais das crianças e dos jovens negros nos diferentes níveis de ensino, bem como as práticas institucionais discriminatórias e preconceituosas determinam percursos educativos muito distintos entre negros e brancos (p.47). Construir uma perspectiva de educação antirracista é de fundamental importância para que possamos combater o racismo no ambiente escolar, por isso a cosmovisão africana nos currículos escolas é urgente, mesmo com a Lei 10.639/2003 ainda precisamos fortalecer práticas pedagógicas e curriculares com tais conteúdos, como afirmou Rebeca Alcântara e Silva: O desejo de saber fazer não era só meu. Era chegado o tempo de construção de novas práticas pedagógicas. A Dadá era toda possibilidades. Sentia-me capaz de, junto a meus outros eus, procurar meios para dar movimentos de cosmovisão africana às escolas. Correndo a estrada da minha vida escolar, posso dizer com tranquilidade que o currículo então praticado não dava lugar nem à história ou à cultura de povos indígenas ou povos africanos. A grande tendência privilegiou as culturas europeias em geral. Apesar da Lei 10.639/2003 instituir o referido conteúdo para as escolas de educação básica, ainda estamos distantes de ver acontecer práticas pedagógicas e curriculares de valorização e reconhecimento de culturas não-brancas. (MEIJER, 2012, p. 63) E para que possamos reviver a cosmovisão africana no ambiente escolar é muito relevante as construções das narrativas e contos da oralidade africana e vivenciar os saberes do ser negra (SILVA, 2007). Pois se faz necessário reconhecer sua negritude e aplica-la de formas mais atraentes ao mundo escolar, como fez a Erê Macu, que é uma criança espiritual que fez com que a menina Zica reencontrasse e resinificasse com os saberes ancestrais na qual anteriormente não teve como encontrar nos rumos da escola. (MEIJER, 2012, p. 26). E uma das ferramentas metodológicas de compreensão e inclusão para o cotidiano escolar do combate ao racismo, é a Pretagogia, como Petit (2015) a apresenta enquanto um referencial teórico-metodológico em construção que traz uma abordagem afrocentrada para formação de professores e educadores de um modo geral. Parte do lado de lá, pra cá, ou seja, da cosmovisão africana de mundo. Propondo uma Pedagogia que trabalhe

com saberes e fazeres de matriz africana, um rosto diferente que a África está oferecendo ao mundo, um rosto cultural segundo Munanga (2007). A autora propõe uma ruptura com o comum, com aquilo que nos foi imposto durante anos e anos sem se quer questionar o porquê de estarmos constantemente nos negando para que o outro possa aparecer. A autora vai defender que a cosmovisão africana pode sim, ser uma forma de leitura de mundo e que podemos partir dali para debater problemas que afetam a população negra no Brasil, nomeadamente o racismo. Elementos como ancestralidade, religiosidade, o corpo como fonte de produção de saberes, a circularidade, o território, etc. são alguns dos elementos que fazem parte desta cosmovisão africana e devem estar presente no cotidiano escolar para que se possa debater identidade partindo do lugar de origem dos negros. Para que esses elementos sejam introduzidos no cotidiano escolar, é necessário que a tradição oral seja reconhecida como fonte legitima de conhecimento. A autora chama atenção de que a tradição oral só é desvalorizada porque vem das sociedades africanas e a tradição ocidental não dá importância nenhuma ao que é transmitido de geração em geração pelos povos africanos e não só. (Petit, 2015, p.109). Conclusão As manifestações de discriminação racial na escola formam um quadro de agressões materiais ou simbólicas, de caráter não apenas físico e/ou moral, mas também psíquico, em termos de sofrimento mental, com consequências ainda não satisfatoriamente diagnosticadas, visto que incidem cotidianamente sobre o aluna (o) negra (o). (JUNIOR, Hédio Silva, 2002). Quanto à existência o racismo na sociedade brasileira, nosso referencial é a própria realidade (senso comum) e a militância dos movimentos sociais que tanto debatem esse tema ignorado por muitos. É sem dúvida, um desafio muito grande desenvolver, na escola, novos espaços pedagógicos que propiciem a valorização das múltiplas identidades que integram a identidade do povo brasileiro, que leve o aluno a reconhecer-se como negro e a respeitar o outro nas suas singularidades. A importância de uma nova pedagogia, ou seja, de uma Pretagogia vem no sentido de mudar a realidade de tantos negros brasileiros que negam sua identidade, inclusive porque a escola não lhes permite conhecer sua história e saber quem são, ou de onde vieram. É necessário que a escola seja um espaço onde se pratica o direito à diferença, cada criança deve aprender desde cedo que respeitar o outro passa por saber que estamos em pé de igualdade quanto a direitos e que todos devem ter liberdade para expor sua identidade, tanto cultural como religiosa. Para tanto, a escola precisa se aproximar da realidade sociocultural de seus alunos,

levando em conta os valores de cada povo. Também é necessário que os educadores estimulem nos seus alunos a cultura de abertura ao novo para serem capazes de absorver mudanças e reconhecer a importância da afirmação da identidade. Estimular vivências afrocentradas e leituras de contos e histórias de autores afro brasileiros e africanos. Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. GOMES, Nilma Lino. Alguns Termos e CONCEITOS PRESENTES NO DEBATE SOBRE RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL: UMA BREVE DISCUSSÃO. História. Coleção para todos. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - Brasília: Ministério da Educação - 2005. KI-ZERBO, Joseph. História geral da África. Metodologia e pré-história da África. Introdução Geral. 2ª ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010. MEIJER, REBECA DE ALCÂNTARA E SILVA. VALORIZAÇÃO DA COSMOVISÃO AFRICANA NA ESCOLA: NARRATIVA DE UMA PESQUISA-FORMAÇÃO COM PROFESSORAS PIAUIENSES. Tese (doutorado) Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza, 2012. MUNANGA, Kabengele (org.). Superando o Racismo na Escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008.. Lutas contínuas concretizam mudanças sociais e raciais. Fonte: <Http://www2.fpa.org.br/sites/default/files/Kabengele_Munanga.pdf>. Acesso: 27 julho. 2016. PETIT, S. H. Pretagogia: Pertencimento, Corpo-Dança Afroancestral e Tradição Oral Africana na Formação de Professoras e Professores. 1. ed. Fortaleza: EdUECE, 2015. v. 1. 261p. RODRIGUES, Ruth Meyre M. EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E GESTÃO ESCOLAR. Cadernos ANPAE, v. 1, p. 1-13, 2011. SILVA Jr. Hédio. Discriminação Racial nas Escolas: entre a lei e as práticas sociais. Brasília: UNESCO, 2002. SILVA, Geranilde. PRETAGOGIA: CONSTRUINDO UM REFERENCIAL TEÓRICO- METODOLÓGICO, DE BASE AFRICANA, PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS. Tese (Doutorado em Educação Brasileira) - Faculdade de Educação Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013. SILVA, Rebeca de Alcântara e. A Menina e o Erê nas Viagens ao Ser Negro: uma pesquisa sociopoética com educadores em formação. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade

Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza-CE, 2007.