Discussion papers. A Política Tributária e o Comportamento das Receitas em Moçambique desde a Independência. No.12P Novembro de 2005

Documentos relacionados
Comissão avalia o impacto do financiamento para as regiões e lança um debate sobre a próxima ronda da política de coesão

Mobilidade: implicações económicas. Prof. João Confraria ( UCP )

O IRC como Instrumento de Competitividade Reforma num contexto de crise

2.2 Ambiente Macroeconômico

CONTRIBUTO E PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO À LEI DO CINEMA PELA ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE CINEMA

INSTITUTO SUPERIOR MONITOR PAUTA DE FREQUENCIA DOS EXAMES DE 08 A 16 DE FEVEREIRO 2016 PROVISÓRIA

Mercados emergentes precisam fazer mais para continuar a ser os motores do crescimento global

A sustentabilidade Financeira do Serviço Nacional de Saúde. Motivação

A REFORMA TRIBUTÁRIA EM ANGOLA

3.2 Companhias de seguros

PROJETO ACESSO AQUAVIÁRIO AOS PORTOS

ARTIGOS GPEARI-MFAP. Economia dos EUA e Comparação com os períodos de e Clara Synek * Resumo

Mini MBA Gestão Avançada

GRUPO 4 MOBILIDADE E TRANSPORTES

O Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) : Benefícios para os doentes, para a ciência e para o crescimento económico

Carlos Nascimento Lisboa 16 de Fevereiro de 2012

Estados Fracos no Sistema Internacional: O caso de África. David Sogge Seminário 23 de Novembro de 2012 Projecto Contraponto CIDAC Lisboa

Política de Responsabilidade Socioambiental Sulcredi São Miguel

Impactos da redução dos investimentos do setor de óleo e gás no PIB

Dois Cenários Antagônicos para 2015

Características do professor brasileiro do ensino fundamental: diferenças entre o setor público e o privado

TENDÊNCIAS DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INDÚSTRIA

!"# $% A pressão para o Estado mínimo e direitos mínimos estão a marcar, na Europa e em Portugal, os caminhos sobre o futuro do modelo social.

A Agenda de Desenvolvimento pós-2015 e os desafios para os Governos Locais. Belo Horizonte 26 de Agosto de 2015

REALIZAR MAIS Sustentabilidade

PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º 95/VIII COMBATE À INSEGURANÇA E VIOLÊNCIA EM MEIO ESCOLAR

TECNOLOGIAS APLICADAS

ANÁLISE ECONÓMICA DA ESTRUTURA FINANCEIRA e BANCOS

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DO TRABALHO, EMPREGO E SEGURANÇA SOCIAL

Respostas a questões das IC s sobre a Linha de Crédito PME Investe II / QREN

Tabela 1 Taxa de Crescimento do Produto Interno Bruto no Brasil e em Goiás: (%)

SUPERVISÃO Supervisão Comportamental

Panorama da Inovação no Brasil. Hugo Ferreira Braga Tadeu 2014

Mudanças Climáticas e Desertificação: Implicações para o Nordeste. Antonio R. Magalhães Agosto 2007

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ALJEZUR

Módulo 3 O Sistema RENAVAM

BOAS PRÁTICAS NA PREPARAÇÃO, DEBATE E ADOPÇÃO DO ORÇAMENTO DA SAÚDE

ORIENTAÇÕES (2014/647/UE)

Matriz estratégica do PEE

A Pegada de Carbono do Vinho Alentejano:

ACORDO DE PARCERIA PORTUGAL 2020

André Urani

GUIA DO CRÉDITO CONSCIENTE

APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA

O PL 8035/ 2010 (PNE): trajetória histórica e situação atual.

O comportamento recente da taxa real de juros no Brasil: existe espaço para uma queda maior da taxa de juros?

ROTEIRO DE EXPOSIÇÃO Índices inflacionários, evolução salarial da categoria e despesa de pessoal no Estado de São Paulo

Financiamento e Empreendedorismo Cultural

A aposta em investimento em energias renovaveis em STP

SUPERVISÃO Supervisão Comportamental

São Paulo, 17 de Agosto de 2012

Revisão da LFL: áreas críticas e tipos de solução. Rui Nuno Baleiras Vogal Executivo Conselho das Finanças Públicas

PROJECTO DE DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL. Apoio Financeiro à Aquisição de Habitação Própria. Programa Casa Própria. Senhoras e Senhores Deputados

O Desafio da Recuperação Económica e Financeira. Prova de Texto. Erebu Escola Secundária Engenheiro Acácio Calazans Duarte

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DO BANCO DA AMAZÔNIA

CAPITULO 6. Rendimentos e repartição dos rendimentos

TÍTULO DO CAPÍTULO CORRESPONDENTE. Segurança Social MANUAL PRÁTICO ª Edição. Apelles J. B. Conceição. Atualização nº 2

CENÁRIO ECONÔMICO PLANO UNIFICADO 2º TRI/2015

Encontro Regional da Medicus Mundi Maputo, 13 de Outubro de 2010 Rogério P. Ossemane (IESE)

SONDAGEM INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

A empresa quantifica aspectos socioambientais nas projeções financeiras de:

Junta de Freguesia do Carregado

PROJECTO DE LEI N.º 1/VIII AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL

GUIA PRÁTICO MEDIDAS ESPECÍFICAS E TRANSITÓRIAS DE APOIO E ESTÍMULO AO EMPREGO

Como foi possível chegar a este ponto?

Atenção primária à saúde em Portugal experiências e desafios

SECRETARIAL Healthcare & Life Sciences & MANAGEMENT SUPPORT

Natália de Oliveira Fontoura. Diretoria de Estudos e Políticas Sociais Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, março de 2014

Investimentos em Infraestrutura e Crescimento Econômico Brasileiro

1. Introdução. Gestão Orçamental. Júlia Fonseca 2010/2011. Gestão Orçamental

Bem-estar, desigualdade e pobreza

Métodos de Estudo & Investigação Científica. Elaborando um projeto de pesquisa

BARÓMETRO DE OPINIÃO PÚBLICA: Atitudes dos portugueses perante Leitura e o Plano Nacional de Leitura

[RESOLUÇÃO] Economia I; 2012/2013 (2º semestre) Prova da Época Recurso 3 de Julho de 2013

PEQUENAS EMPRESAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS TENDÊNCIAS E PRÁTICAS ADOTADAS PELAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto USP Departamento de Economia

POLÍTICA DE PREVENÇÃO E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE DO BANCO ESPIRITO SANTO NO ÂMBITO DAS ACTIVIDADES DE INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

Portaria n.º 1098/2008

Mecken Golden Corporation 1439 S Ocean Blvd, FL Phone:

20. OPERAÇÕES DE CRÉDITO (OUTROS CLIENTES) - FOLHETO DE TAXAS DE JURO Linhas de Crédito e Contas Correntes

Programa de Desenvolvimento Rural para a Região Autónoma dos Açores

ASSOL Outubro 2013 Caderno de Encargos Ajuste Directo

Administração Pública Central Inquérito à Utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação Resultados 2000

PRINCIPAIS FATORES DE ANÁLISES. INVESTIMENTOS e RISCOS

VALE RIO DOCE S/A. No resultado de 2013 a receita líquida da companhia tinha a seguinte divisão:

Contas Económicas da Silvicultura

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 18/XII. Exposição de Motivos

Na União Europeia e países europeus (I):

GESTÃO E SEGURANÇA DE OBRAS E ESTALEIROS

Propostas na área da Cultura

Febre periódica, estomatite aftosa, faringite e adenite (PFAPA)

Portaria n.º 1458/2009. de 31 de Dezembro

VIII Oficinas de Formação A Escola na Sociedade da Informação e do Conhecimento praticar ao Sábado. E-learning. 3 de Março de 2007

Regulação e Contratualização

Adotada Total / Parcial. Fundamento da não adoção. Recomendação. Não adotada. 1. Princípios Gerais

Mercados. informação regulamentar. Hong Kong Condições Legais de Acesso ao Mercado

Novas vestes da União Europeia? O papel do IVA. Clotilde Celorico Palma

PROPOSTA DE FORNECIMENTO DE SERVIÇOS APOIO REMOTO À EXECUÇÃO DA CONTABILIDADE POC-EDUCAÇÃO

Custos no Setor Público: Ferramenta da Melhoria da Qualidade do Gasto Público. Florianópolis 17 de Abril 2015

Transcrição:

A Política Tributária e o Comportamento das Receitas em Moçambique desde a Independência Bruce Byiers Discussion papers No.12P Novembro de 2005 Direcção Nacional de Estudos e Análise de Políticas Ministério de Planificação e Desenvolvimento República de Moçambique

O objectivo das publicações é estimular a discussão e troca de ideias sobre questões pertinentes para o desenvolvimento económico e social de Moçambique. Existem diferentes opiniões acerca da melhor maneira de fomentar o desenvolvimento económico e social. As publicações têm como objectivo abordar essa diversidade. É de realçar que as ideias apresentadas no documento são de inteira responsabilidade do respectivo autor e não reflectem necessariamente o posicionamento do Ministério da Planificação e Desenvolvimento ou qualquer instituição do Governo de Moçambique. O logo foi gentilmente providenciado pelo artista moçambicano Ndlozy.

A Política Tributária e o Comportamento das Receitas em Moçambique desde a Independência 1 Bruce Byiers O presente documento tem o objectivo de sumarizar as reformas da política tributária em Moçambique desde a sua independência, e de providenciar uma análise descritiva dos impactos fiscais daí resultantes. Apesar da implementação duma série de reformas tributárias consideráveis desde a independência, e da recente introdução dum leque de impostos novos em Moçambique,, tem havido poucas análises na área. Este documento pretende responder a esta escassez de modo a aumentar o nível de compreensão do sistema tributário no geral e de servir como ponto de partida para outras análises mais aprofundadas dos impostos e o impacto da política tributária em Moçambique, além de fornecer uma base para discussões de futuras reformas tributárias. A necessidade de melhor compreender e conhecer o sistema tributário, e em particular o impacto nas receitas é clara num país como Moçambique onde o Governo é muito dependente de financiamento externo para cumprir com os seus programas de despesas públicas nas áreas sociais, que são chave nos esforços para reduzir a probreza absoluta. Em particular, o PARPA II (ainda em discussão) indica uma meta para as receitas de impostos de 15,1% do PIB em 2009. Porém, o problema da insuficiência de receitas poderá vir a ser agravado no clima actual de liberalização do comércio ao nível regional e multilateral, o que tornará imprescindível que haja mais atenção na administração da tributação doméstica e poderá vir a exigir reformas do sistema tributário doméstico. Paralelamente aos esforços do Governo para aumentar a arrecadação de recursos, o Programa Quinquenal do Governo (2005-2009) realça a importância da criação dum ambiente favorável para o investimento e o desenvolvimento do sector privado. Para encontrar um equilíbrio satisfatório entre a necessidade de recursos e a eficiência do sistema tributário na promoção de crescimento económico, exigir-se-á uma compreensão e capacidade de análise do impacto de reformas tributarias e do sistema tributário no geral. O presente documento dá o primeiro passo em proporcionar uma base para futuras análises. A teoria da estrutura de impostos prevê que as principais fontes de receitas dum governo mudem com o crescimento económico, com uma redução da dependência em impostos indirectos e um aumento nas receitas provenientes dos impostos directos. Além disso, prevê uma redução de receitas dos impostos sobre o comércio internacional e um aumento das receitas domésticas. 1 Este documento é uma versão actualizada dum documento que foi originalmente escrito em 2004 como parte do Projecto Incidência e Análise Fiscal na Direcção Nacional do Plano e Orçamento do Ministério de Plano e Finanças.

A análise deste documento demonstra que a experiência de Moçambique desde a independência tem sido diferente. Como vem ilustrado na Figura 1., as receitas tributárias têm tido um alto nível de variabilidade, durante o período entre 1975 e 2004, com algumas altas. Começando o período a um nível de apenas 7,4% do PIB em 1975, as receitas totais atingiram um cume de 14,1% do PIB em 1983, 13.6% em 1993, e 12.9% em 2000. Estes ponto altos foram entremeados de declínios da receita, com quedas de apenas 8,0% do PIB em 1985, 10,5% em 1996 e 11.7% em 2002. Apesar desta volatilidade, pode-se dizer que no longo prazo, a tendência geral tem sido de aumento das receitas como percentagem do PIB, atingindo 12,8% do PIB em 2004. Figura 1 Receitas Tributárias Nominais 1975-2004 (% of PIB) 16.0% 14.0% 12.0% 10.0% 8.0% 6.0% 4.0% 2.0% 0.0% 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 Income Taxes Taxes on Expenditures Other Tax & Non-tax Revenues Source: MPD (2005), MPF (2004) & Sulemane (2001). As flutuações observadas na Figura 1 reflectem as influênicas dum leque de factores, incluindo as reformas tributárias de 1978, 1987 e 1999, e também variações nos níveis de administração, controle de cumprimento e alterações nas taxas cobradas e nas isencões. Porém, como a Figura 1 demonstra, receitas de impostos indirectos têm dominado as receitas totais e devem ter tido um papel muito importante na volatilidade das receitas tributárias. Nota-se em particular, a queda dramática das receitas de impostos sobre a despesa depois de 1983 quando a economia começou a entrar em crise, o que demonstra o impacto na base tributária das mudanças nas circunstâncias económicas e o resultado em termos de receitas. Também demonstra a importância contínua das receitas de impostos indirectos durante o período em análise, com apenas breves períodos de crescimento nas receitas de impostos directos. Além disso, como ilustrado na Figura 2, as receitas de impostos sobre o comércio internacional tem tido uma tendência ascendente durante o período, em vez de cair, como previsto pela teoria. A partir de 1993, vê-se o começo dum declínio de receitas de direitos aduaneiros. Porém, a introdução do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) em 1999 teve um impacto no aumento drastico das receitas oriundas da fronteira.

Figura 2 Receitas Domésticas e de Comércio Internacional (% do PIB) 16.0% 14.0% 12.0% 10.0% 8.0% 6.0% 4.0% 2.0% 0.0% 1975 1977 1979 1981 1983 Customs Duties Import Consumption Tax 1985 1987 1989 1991 1993 Source: MPD (2005), MPF (2004) & Sulemane (2001) VAT/Turnover Tax Imports Domestic Revenues 1995 1997 1999 2001 2003 Além de contrariar o previsto, as tendências das receitas sugerem que Moçambique esteja a aumentar a sua vulnerabilidade a mudanças na política comercial, o que então exigirá um enfoque na política doméstica para permitir a manutenção dos níveis das receitas actuais, bem como o aumento das receitas para poder continuar com as despesas sociais para a reduçao da pobreza e também reduzir a dependência de financiamentos externos. Através da revisão de todas as reformas ocorridas desde a independência, este documento tenciona servir como base para futuras análises destes assuntos.