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Transcrição:

MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO A SAÚDE DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA COORDENAÇÃO-GERAL DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO A INICIATIVA DE INCENTIVO AO CONSUMO DE LEGUMES, VERDURAS E FRUTAS (L,V&F) NO BRASIL : documento base Anelise Rizzolo de Oliveira Pinheiro 1 Patrícia Chaves Gentil 2 As ações de Promoção da Alimentação Saudável no âmbito da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) compõe a Política Nacional de Saúde inserindo-se na luta pela garantia da segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada. Tem como propósitos garantir a qualidade dos alimentos colocados para consumo no país, promover práticas alimentares saudáveis, prevenir e controlar os distúrbios nutricionais, e estimular as ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos. Inerente a todas as ações da política está o objetivo da promoção da alimentação saudável como estratégia central. A PNAN se estrutura em diretrizes e no enfoque da promoção da saúde apresenta nominalmente duas diretrizes: a promoção de práticas alimentares e modos de vida saudáveis e a prevenção e o 1 Consultora Técnica da Coordenação Geral da Poliítica Nacional de Alimentação e Nutrição (CGPAN) Departamento de Atenção Básica Secretaria de Atenção à Saúde - Ministerio da Saúde Brasil. 2 Coordenadora da Equipe da Promoção da Alimentação Saudável CGPAN / Departamento de Atenção Básica Secretaria de Atenção à Saúde - Ministerio da Saúde Brasil

controle dos distúrbios nutricionais e doenças relacionadas a alimentação e nutrição como a obesidade e o sobrepeso, diabetes, hipertensão, dislipidemias, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Adicionalmente, a intersetorialidade é reconhecida como um pilar fundamental para toda e qualquer diretriz. Estabelece-se como eixo de todas as praticas de promoção da alimentação saudável o resgate e/ou valorização de hábitos e práticas alimentares regionais inerentes ao consumo de alimentos locais de alto valor nutritivo, o baixo custo e a importância concedida às relações sabor, custo e acesso aos alimentos culturalmente aceitos e saudáveis. É enfatizado a importância de ampliar o debate acerca dos preconceitos que norteiam a alimentação saudável, incentivando práticas alimentares saudáveis e, em especial, promovendo o consumo de alimentos de menor densidade calórica (como açúcares simples e gorduras) e de alto valor nutritivo (como carboidratos complexos e alimentos fontes de minerais, vitaminas e fibras). Neste enfoque é ainda é dado especial atenção para a necessidade de resgatar a alimentação como manifestação cultural e afetiva de cidadania, valorizando a diversidade étnico-cultural brasileira. A promoção de práticas alimentares saudáveis se inicia com o incentivo ao aleitamento materno, está inserida no contexto da adoção de estilos de vida saudáveis e é um componente importante da promoção da saúde. Nesse sentido, a socialização do conhecimento sobre os alimentos e o processo de alimentação, bem como acerca da prevenção dos problemas nutricionais, desde a desnutrição incluindo as carências específicas até a obesidade vem sendo enfatizado. A adoção de medidas voltadas ao disciplinamento da publicidade de produtos alimentícios infantis, sobretudo em parceria com as entidades representativas da área de propaganda, com as empresas de comunicação, com entidades da sociedade civil e do setor produtivo são importantes aspectos integrantes da PNAN a serem trabalhados intersetorialmente. Ao lado disso, iniciativas que possibilitem o acompanhamento e o monitoramento de práticas de marketing sob os critérios e interesses de uma vida efetivamente saudável devem ser destacadas em relação as questões relacionadas ao sobrepeso/obesidade e as suas implicações. O disciplinamento da publicidade de alimentos industrializados, em especial para crianças deve ser priorizado.

Em um país como o Brasil onde as desigualdades sociais e regionais são imensas é importante destacar que garantia da segurança alimentar e nutricional pressupõe a necessidade de estratégias de saúde pública capazes de dar conta de um modelo de atenção à saúde tanto para a desnutrição e outras doenças associadas à exclusão social, quanto ao sobrepeso/ obesidade e demais doenças crônicas não transmissíveis uma vez que estes distúrbios nutricionais revelam-se como faces de um mesmo problema: a insegurança alimentar e nutricional da população brasileira. Dados evidenciam uma mudança no perfil epidemiológico nutricional da população brasileira; contudo não refletem melhoria nesse perfil. Pelo contrário, tais evidências deixam claro que a natureza da problemática alimentar e nutricional requer ações para tratar a má-nutrição, manifestada pela carência como pelo excesso de consumo energético e inadequação alimentar. Na perspectiva de prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis e frente aos alarmantes dados epdemiológicos de ascenção do sobrepeso/ obesidade também a nível mundial a OPAS/OMS elaborou uma proposta de Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saúdavel, Atividade Física e Saúde que se mostra como uma oportunidade singular para a formulação e implementação de uma linha de ação efetiva para reduzir substancialmente as mortes e doenças em todo o mundo. A meta geral da Estratégia é promover e proteger a saúde mediante atividades sustentáveis em nível comunitário, nacional e mundial que em conjunto contribuam para a redução da mortalidade e morbidade associadas a uma alimentação pouco saudável e a falta de atividade física da população. Estas atividades estão em consonância com a Declaração do Milênio da ONU que propõe oito metas para o desenvolvimento mundial num processo de globalização mais equânime entre os diferentes países. Estas metas apresentam um grande potencial para a promoção da saúde no mundo. A proposta da Estratégia Global pressupõe que para modificar os padrões de alimentação e de atividade física da população são necessárias estratégias sólidas e eficazes acompanhadas de um processo de permanente vigilância e de avaliação de

impacto das ações planejadas. A OMS e os governos não podem atuar isoladamente para a prevenção e controle das DCNT. Para assegurar progressos sustentáveis é fundamental conjugar esforços, recursos e atribuições de outros atores envolvidos no processo como outros organismos internacionais, sociedades científicas, grupos de defesa do consumidor, movimentos populares, pesquisadores e o setor privado. As ações da estratégia global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade física e Saúde pode subsidiar uma das maiores e mais potentes propostas mundiais de promoção da saúde. Seus quatro objetivos principais são: (1) Reduzir os fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis advindas de alimentação inadequada e falta de atividade física através da ação em saúde pública e promoção da saúde e medidas preventivas;(2)aumentar a atenção e conhecimento sobre alimentação e atividade física na determinação da saúde pública e de intervenções preventivas;(3)encorajar o desenvolvimento, fortalecimento e implementação de políticas e planos de ação em nível global, regional, nacional e comunitário que sejam sustentáveis, compreensíveis, que engajem outros setores, incluindo a sociedade civil, o setor privado e a mídia;(4)monitorar dados científicos e influências chave na alimentação e atividade física; com apoio para pesquisa de larga escala em áreas relevantes; e fortalecer os recursos humanos necessários para qualificar e manter a saúde nesse domínio. As recomendações sobre alimentação elencadas no documento final da estratégia são: limitar a ingestão energética procedente das gorduras e substituir as gorduras saturadas e trans- saturadas por gorduras insaturadas; aumentar o consumo de legumes,verduras e frutas (LV&F), assim como cereais integrais e nozes e similares; limitar a ingestão de açúcar simples; limitar a ingestão de sal (sódio) de todas procedência (promovendo o consumo de sal iodado) e buscar o equilíbrio energético para o controle de peso saudável O Ministério da Saúde brasileiro acompanhou este processo de formulação da Estratégia além do Brasil ainda estar representado no grupo de especialistas consultores do OMS para a elaboração desta. Neste contexto é importante destacar que a CGPAN/MS já reúne uma série de ações desenvolvidas na perspectiva da

Promoção da Alimentação Saudável que vem de encontro com os objetivos e proposições da OMS. Em síntese, destaca-se que a PNAN, desde 1999, vem consolidando suas diretrizes, muitas das quais referendadas no documento final da Estratégia Global, desenvolvendo propostas e articulações intersetoriais necessárias para a promoção de modos de vida saudável. O MS tem clareza que assumir a promoção da alimentação saudável exige uma integração intersetorial e transetorial que articule diretrizes entre setores estratégicos para consecução desse objetivo. Inserida na proposta da Estratégia Global a OPAS/OMS em parceria com a FAO foi lançada no III o Fórum Global para prevenção e controle de Doenças Crônicas não Transmissíveis, realizado na cidade do Rio de Janeiro-RJ/ Brasil em novembro de 2003,uma campanha mundial para incentivar o aumento do consumo de legumes,verduras e frutas (LV&F). Inserida na estratégia global, a proposta é estimular o consumo desses alimentos para evitar doenças e melhorar a qualidade de vida da população Neste enfoque, priorizando a formulação da Iniciativa de aumento de consumo de legumes, verduras e frutas (LV&F) com destaque para a âmbito das escolas, a CGPAN/MS está elaborando em parceria com colaboradores e outros setores uma agenda de trabalho na perspectiva de contemplar as principais interfaces e subsidiar a estruturação da estratégia de ação, diretrizes, objetivos, metas e referenciais brasileiros para a construção desta proposta. Entendemos claramente que questões relativas aos aspectos sócio-culturais e alimentares das pessoas precisam ter uma cuidadosa abordagem. Por isso, a campanha de Incentivo ao consumo de legumes, verduras e frutas(lv&f) envolve necessariamente diferentes parcerias. Estabelecer a proposta da iniciativa de promoção do consumo de legumes, verduras e frutas requer algumas importantes considerações acerca dos atores que envolvem este processo. A identificação de parceiros bem como sua sensibilização e responsabilização são aspectos fundamentais a serem abordados. O incentivo para o consumo de LV&F pressupõe uma articulação, vigilância e monitoramento, na

perspectiva da segurança alimentar e nutricional, que aborde desde o cultivo/produção adequado e seguro até uma comercialização de menor custo. Sob este enfoque, o diálogo com os setores de agricultura e desenvolvimento agrário, comércio e indústria são estratégicos, pois também podem contribuir para a geração de emprego e renda em comunidades com tradição agrícola e pequenos agricultores. O conceito de Alimentação Saudável: alguns princípios, características e considerações: A alimentação não se delineia enquanto uma receita pré-concebida e universal para todos pois deve respeitar alguns atributos coletivos e individuais impossíveis de serem quantificados de maneira prescritiva. Contudo, identifica-se alguns princípios básicos que devem reger esta relação entre as praticas alimentares e a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas alimentares assumindo a significação social e cultural dos alimentos como fundamento básico conceitual. A alimentação se dá em função do consumo de alimentos (e não de nutrientes). Os alimentos tem gosto, cor, forma, aroma e textura e todos estes componentes precisam ser considerados na abordagem nutricional. Os nutrientes são importantes contudo, os alimentos não podem ser resumidos a veículos destes. Os alimentos trazem significações culturais, comportamentais e afetivas singulares que jamais podem ser desprezadas. O alimento enquanto fonte de prazer também é uma abordagem necessária para promoção da saúde. Neste sentido é fundamental resgatar as praticas e valores alimentares culturalmente referenciados bem como estimular a produção e o consumo de alimentos saudáveis regionais (como legumes, verduras e frutas), sempre levando em consideração os aspectos comportamentais e afetivos relacionados as práticas alimentares. O setor público precisa assumir a responsabilidade de fomentar mudanças sócio ambientais, em nível coletivo, para favorecer as escolhas saudáveis no nível individual. A responsabilidade compartilhada entre sociedade, setor produtivo e setor público é o caminho para a construção de modos de vida que tenham como objetivo

central a promoção da saúde e a prevenção das doenças. Assim, é pressuposto da promoção da alimentação saudável ampliar e fomentar a autonomia decisória através do acesso a informação para a escolha e adoção de praticas (de vida) alimentares saudáveis. O estado Nutricional e o consumo alimentar interagem em conjunto de maneira multifatorial e sinérgica como os outros fatores de risco para doenças crônicas não - transmissíveis. Os diferentes fatores de risco como inatividade física, uso de tabaco etc. precisam ser abordados de maneira integrada a fim de favorecer a redução de danos e não a proibição de escolhas. O conjunto das ações adotadas pelos estilos de vida é que produzem um perfil de saúde mais ou menos adequado e neste enfoque não é possivel particularizar os fatores de risco sem enxergá-los sinergica e simultameamente associados no âmbito do desenvolvimento da vida. Uma alimentação saudável, de um modo geral, deve favorecer o deslocamento do consumo de alimentos pouco saudáveis para alimentos mais saudáveis, respeitando a identidade cultural- alimentar das populações ou comunidades. Uma alimentação saudável deve ser entendida enquanto um direito humano que compreende um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos de acordo com as fases do curso da vida. Além disso, deve ser baseada em práticas alimentares assumindo os significados sócio-culturais dos alimentos como fundamento básico conceitual. Nesta perspectiva,a CGPAN/MS recomenda os 10 passos para uma alimentação saudável, e não por acaso, o incentivo ao aumento do consumo de L,V & F como passo nº1. Outro subsidio importante, é proveniente do Guia Alimentar da População Brasileira, que assume como meta a aumento de F,L&V no Brasil, no contexto da promoção de uma alimentação saudável. O Incentivo ao Consumo de L,V & F tem como referencial este conceito ampliado de alimentação saudável, o qual tem abaixo suas principais características citadas: As principais características de uma alimentação saudável devem ser: 1. A garantia de acesso, sabor e custo acessível. Ao contrário do que tem sido construído socialmente ( principalmente pela mídia) uma alimentação saudável

não é cara pois se baseia em alimentos in natura e produzidos regionalmente. O apoio e o fomento à agricultores familiares e cooperativas para a produção e a comercialização de produtos saudáveis como legumes, verduras e frutas é uma importante alternativa para que além da melhoria da qualidade da alimentação, estimule geração de renda para comunidades. A ausência de sabor é outro tabu a ser desmistificado pois uma alimentação saudável é, e precisa pragmaticamente ser, saborosa. O resgate do sabor como um atributo fundamental é um investimento necessário à promoção da alimentação saudável. As práticas de marketing muitas vezes vinculam a alimentação saudável ao consumo de alimentos industrializados especiais e não privilegiam os alimentos não processados e menos refinados como por exemplo a mandioca que é um (tubérculo) alimento saboroso, muito nutritivo, típico e de fácil produção em várias regiões brasileiras e tradicionalmente saudável. 2. Variada : fomentar o consumo de vários tipos de alimentos que forneçam os diferentes nutrientes necessários para o organismo, evitando a monotonia alimentar que limita o acesso de todos os nutrientes necessários a uma alimentação adequada; 3. Colorida :como forma de garantir a variedade principalmente em termos de vitaminas e minerais, e também a apresentação atrativa das refeições, destacando o fomento ao aumento do consumo de alimentos saudáveis como legumes, verduras e frutas e tubérculos em geral; 4. Harmoniosa: em termos de quantidade e qualidade dos alimentos consumidos para o alcance de uma nutrição adequada considerando os aspectos culturais e afetivo - comportamentais; 5. Segura : do ponto de vista de contaminação físico-química e biológica e dos possíveis riscos á saúde. Destacado a necessidade de garantia do alimento seguro para consumo populacional.

Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e o Direito Humano à Alimentação (DHAA): eixos transversais às ações de promoção da alimentação saudável. De acordo com os aspectos abordados, a saúde das pessoas é resultado de fatores diversos, como sociais, culturais, ecológicos, psicológicos, econômicos e religiosos que atuam como determinantes ou condicionantes da saúde. Assim, além de se apresentar com um conceito positivo, a saúde assume um conceito abrangente que se apóia nos recursos sociais e coletivos, e não somente na capacidade física ou condição biológica dos sujeitos, individualmente. Fatores determinantes da saúde também vão determinar a condição de segurança alimentar e nutricional. Na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar em 1994 foi adotado o seguinte conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é a garantia, a todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas como saúde, educação, moradia, trabalho, lazer..., com base em práticas alimentares que contribuem assim, para uma existência digna em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana. As ações voltadas a garantir essa segurança dão, assim, conseqüência prática ao direito humano à alimentação e nutrição adequadas, extrapolando, portanto, o setor saúde e alcançando também um caráter intersetorial. Entende-se que os Direitos Humanos são aqueles que os seres humanos possuem, única e exclusivamente, por terem nascido e serem parte da espécie humana. O DHAA é um direito humano indivisível, universal e não discriminatório que assegura qualquer ser humano a se alimentar dignamente,de forma saudável e condizente com seus hábitos culturais. Para a garantia do DHAA é dever do estado estabelecer políticas que melhorem o acesso das pessoas aos recursos para produção ou aquisição, seleção e consumo de alimentos. Essa obrigação se concretiza através da elaboração e implementação de políticas, programas e ações, que promovam a progressiva realização do direito humano à alimentação para todos, definindo claramente metas, prazos, indicadores, e recursos alocados para este fim.

A adoção do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, em âmbito mundial, e particularmente como tema central do atual Governo Brasileiro, impulsionam a compreensão do papel do setor Saúde no tocante à alimentação e nutrição, reconhecidas como elementos essenciais para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Uma política de SAN é ampla e complexa, devendo envolver setores governamentais diversos, além de organizações da sociedade civil. Portanto, implica necessariamente na construção de projetos que sejam inter e trans-setoriais, que articulem de forma coordenada as ações que já vêm sendo desenvolvidas por diferentes setores. Na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ocorrida em Olinda-PE, em março de 2004, são assumidas, efetivamente, a obesidade e a desnutrição como manifestações da Insegurança Alimentar e Nutricional. Esse importante evento, que contou com a participação de cerca de 1300 delegados de todas as regiões do país, representando a sociedade civil organizada, governo e sociedades científicas e acad6emicas, assume, entre outras ações estratégicas para a formulação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a promoção da alimentação saudável, e da atividade física com vistas à promoção da saúde. Define, então, a posição de que o Brasil apóie, referende e implemente a Estratégia Global de Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como estabeleça ações para a regulamentação de práticas de publicidade e marketing para alimentos destinados ao público infantil e a comercialização de alimentos em cantinas escolares e a criação de um Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável que congregue ações pertinentes em âmbito nacional. A inclusão da obesidade no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) agrega valor à dimensão qualitativa explicitada em seu próprio conceito. Desta forma, além das dimensões de dignidade humana, quantidade e regularidade da alimentação e sustentabilidade, a qualidade da alimentação torna-se também referência objetiva para a SAN, alcance este permitido através da Alimentação Saudável.

Em síntese, a partir da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a alimentação saudável incorpora-se definitivamente à busca pela garantia da SAN.

Dados de consumo de F,L &V no Brasil Mundialmente podemos observar modificações no padrão alimentar das populações, tanto em países desenvolvidos quanto em paises em desenvolvimento. De uma maneira geral, observa-se um aumento do consumo de gorduras saturadas e hidrogenadas; a substituição do consumo de alimentos ricos em nutrientes, como legumes, verduras e frutas, por alimentos energeticamente densos (ricos em açucares simples e gorduras) e pobres em micronutrientes; o aumento do consumo de alimentos salgados e gordurosos e a redução dos níveis de atividade física (OMS, 2002- WHR; Monteiro, 2001). Informações do Brasil sobre consumo alimentar são escassas. A disponibilidade de informações existentes é proveniente de alguns inquéritos nacionais. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) (1962;1988;1996 e 2003) e o Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF) (1974-75) foram realizados pelo IBGE e em 1997 o extinto INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição) do Ministério da Saúde realizou o Estudo Multicêntrico de Consumo Alimentar (1996) em cinco capitais brasileiras totalizando assim os dados atualmente disponíveis. De acordo com o estudo Multicêntrico (INAN, 1997) realizado em regiões metropolitanas, os principais alimentos consumidos foram arroz, açúcar e óleo, geralmente nesta ordem, mas em Ouro Preto e Curitiba o açúcar apareceu me primeiro lugar. Legumes, frutas e verduras não foram citados entre estes grupos. (NEPA, 1997). A tabela 1. apresenta dados de consumo por nutrientes provenientes das POFs de 1962 e 1988 e do ENDEF de 1975.

Tabela 1. Percentual (%) de participação de nutrientes no consumo calórico total de acordo com o ENDEF e as POFs de 62 e 88 comparativamente às recomendações nutricionais da OMS Nutriente Lipídios AGS AGP Colesterol CHO Complexo Açúcar simples 1962 26,0 7,3 6,0 195,7 62,1 46,4 15,8 11,9 1975 26,0 6,6 7,7 158,5 61,2 46,9 14,3 12,8 1988 29,8 7,0 8,8 160,8 57,4 42,9 14,5 12,8 Recomendações OMS 15-30% 0-10% 3-7% 0-300mg/dia 55-75% 50-70% 0-10% 10-15% Associado à analise da tabela 1, quando observamos os dados de consumo de foram regionalizada verificamos algumas tendências de mudanças no padrão alimentar brasileiro nas décadas de 80 e 90.Os principais traços negativos sobre o hábito alimentar dos brasileiros, principalmente nas últimas duas décadas observadas foram: Tendência ascendente da participação relativa de gorduras na alimentação no N e NE, e a estabilidade de valores muito elevados no Centro-sul; Aumento do teor de ácidos graxos saturados em todas as áreas metropolitanas do país Tendência de consumo de colesterol acima do limite, com incremento no N- NE Redução ou estagnação do consumo de raízes/tubérculos, leguminosas, legumes, verduras e frutas Aumento e manutenção de consumo excessivo de açúcar Em relação ao consumo de legumes, verduras e frutas provenientes da POF de 2002-2003, dados preliminares podem ser visualizados no Gráfico 1.

Gráfico 1 Distribuição percentual da despesa monetária e não-monetária média mensal familiar com alimentação no domicílio, por grupo de produtos, segundo situação no domicílio Brasil 2002-2003. 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 cereais, leguminosas e oleaginosas farinhas, féculas e massas açúcares e derivados legumes e verduras frutas carnes, vísceras e pescados aves e ovos leites e derivados panificados óleos e gorduras bebidas e infusões alimentos preparados outros alimentos Total Geral Urbana Rural Fonte: Pesquisa de Orçamento Familiar POF 2003 Considerando a POF 2002-2003 identifica-se que em relação ao consumo de legumes, verduras e frutas tanto na zona urbana quanto na rural o percentual da despesa monetária e não-monetária média mensal familiar com alimentação no domicílio é inferior a 5%,ressaltando que o consumo de legumes e verduras é ligeiramente inferior ao de frutas. Neste estudo entre os anos de 1987 e 2003 observa-se uma clara diminuição do consumo de frutas em todas as regiões do Brasil. De acordo com a tabela abaixo em regiões metropolitanas é possível visualizar a proporção do grupo frutas no total da despesa com alimentação no domicílio. Tabela 1- Proporção do grupo frutas no total da despesa com alimentação no domicílio segundo regiões metropolitanas selecionadas para análise no período de 1987 a 2003. Período/Regiões Belém Recife Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre 1987 4,99% 5,64% 7,03% 8,29% 4,47%

1996 5,25% 6,18% 6,10% 6,73% 5,83% 2003 3,81% 4,39% 5,30% 5,11% 4,69% Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisa, Coordenação de Índices de Preços, Pesquisas de Orçamento Familiar. Pelo exposto acima, constata-se claramente a que legumes, verduras e frutas não são alimentos historicamente consumidos em quantidade adequada no Brasil. Podemos supor alguns fatores que contribuem nesta análise são eles: a elevação do consumo de alimentos industrializados ricos em gordura, sal e açúcar e pobres em micronutrientes,incentivados principalmente pela mídia e condicionados ao estilo de vida urbano atual (redução do tempo para as atividades cotidianas como fazer refeições e a necessidade crescente de alta produtividade laboral); limitação de tempo para o preparo e consumo (os L,V&F requerem aspectos importantes para seu consumo adequado como higienização e conservação) ; custo (os L,V&F tem alto valor comercial principalmente quando comparamos com produtos industrializados e processados); pouca ou nenhuma valorização dos L,V&F frutas produzidas em nível regional ou até mesmo no quintal de casa e, em algumas regiões(como por exemplo nas mais frias do Brasil), o hábito alimentar e cultural de consumo de L,V&F é historicamente reduzido. Analisando os dados de consumo estimados pelas POFs de 1962 e 1988 e verificados no ENDEF 1975, observa-se que a participação relativa percentual (%) de frutas no consumo calórico total em áreas metropolitanas brasileiras demonstrou um declínio imporante no consumo deste grupo de alimentos. Em 1962 era de 3,8%, passando para 2,1 em 1975 e chegando a 2,5% em 1988 (Monteiro, 2001). Se considerarmos a recomendação do RT 916 da OMS de consumo de pelo menos 400 gramas/dia de L,V e/ou F constamos que estamos muito distante da recomendação da OMS que é de que 7% do nosso consumo energético diário deve ser proveniente da ingestão de L,V &F. A OMS recomenda consumo mínimo diário de 400g de frutas e vegetais, com aumento do consumo de alimentos ricos em fibras e de nozes e assemelhados. Em

princípio, não há limite superior para o grupo. A base principal para recomendar o aumento do consumo de frutas, verduras (folhosos como alface, couve, espinafre), legumes (tomate, abóbora, etc), está na possibilidade desses alimentos poderem substituir outros de alto valor energético e baixo valor nutritivo, como alimentos processados e açúcar refinado, básicos na preparação de alimentos industrializados e fast foods. Além de sua possível contribuição no balanço energético, eles são veículos de micronutirentes, com efeitos significativos e importantes na saúde geral dos indivíduos e, mais especificamente, na prevenção de doenças crônicodegenerativas como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Dados de produção de L,V &F no Brasil As informações e comentários apresentados a seguir se referem a estimativas para a disponibilidade de alimentos para consumo humano no Brasil no período 1965-1997. Essas estimativas são produzidas pelo sistema FAOSTAT a partir de dados sobre a produção, exportação e importação de alimentos e já descontam estimativas de desperdício e as frações dos alimentos utilizadas na alimentação animal, na indústria ou como semente 1. Nota-se, inicialmente, que a disponibilidade total de alimentos no Brasil tem aumentado continuamente nas últimas décadas, sendo de 2.330 kcal por pessoa/dia em 1965 e 2.960 kcal por pessoa/dia em 1997. Nota-se, também, que o aumento observado no período ultrapassou o aumento correspondente nos requerimentos médios diários de energia estimados para a população brasileira: 2.096 kcal em 1965, 2.328 kcal em 1997. As principais modificações na composição da disponibilidade alimentar foram o aumento na participação relativa de gorduras (de 15,7% para 24,9% das calorias totais) e a diminuição na participação relativa de carboidratos (de 73,7% para 64,5% das calorias totais). A participação de proteínas na oferta alimentar manteve-se constante no período (em torno de 10% das calorias totais) ainda que venha crescendo continuamente a proporção de proteína de origem animal no total de proteínas (32% em 1965 e 51% em 1997).

Em 2001 os dados da FAOSTAT revelaram uma disponibiliade total de alimento no Brasil de 3002 Kcal, confirmando assim a tendência de aumento já apresentada. Deste total frutas e vegetais contribuem com131 Kcal/dia e 27 Kcal/dia, respectivamente. Observando os dados de abastecimento anual per capta/ ano em 2001os valores foram de 123Kg/ano para frutas e 37,2 Kg/ano para verduras. A partir destes dados de produção seria possível estimar (de forma bruta) o consumo per capta dos brasileiros, os quais virtualmente teriam capacidade de consumir 336 gramas/dia de frutas e 102 gramas/dia de vegetais. Estes valores somados garantem as 400 gramas diárias mínimas preconizadas pela OMS. Vê-se, desde logo, que não parece haver problemas com a quantidade média de alimentos disponível para consumo humano no país. Já em 1965 a quantidade média de alimentos disponível para cada brasileiro excedia em mais de 10% os requerimentos médios em energia. Em 1997, a margem de segurança passou a 25%. Note-se que embora estejamos lidando com valores médios, que ignoram a distribuição individual real dos alimentos, há limites biológicos estreitos para o consumo de calorias. Assim, o excesso médio de 25% no total de calorias disponíveis para consumo indica que o país ocupa uma situação relativamente confortável no que diz respeito à disponibilidade quantitativa de alimentos. Da mesma forma, não parece haver problemas com a proporção de proteínas na alimentação, uma vez que a mesma tem-se mostrado dentro da faixa recomendada (10-15%) e que a proporção de proteínas de origem animal (as de maior valor biológico) tem crescido substancialmente, já representando 50% do total das proteínas disponíveis. A notável substituição de carboidratos por gorduras na disponibilidade alimentar brasileira não deve representar problema para as modalidades de subnutrição (ao contrário, pode ser vantajosa sobretudo no caso da deficiência energética) mas certamente é desvantajosa para a maioria das DCNT, sobretudo se a diminuição de carboidratos estiver ocorrendo por conta de carboidratos complexos. Note-se que a proporção de 24,9% de gorduras na disponibilidade de alimentos ainda está dentro da faixa recomendada para a ingestão desse nutriente (15-30%), mas a tendência é inequivocamente de aumento. Infelizmente, a FAO não fornece informações sobre a proporção de gorduras saturadas na disponibilidade total de alimentos.

Evidências científicas sobre o consumo de F,L &V F,l &V têm sido apontados como fatores protetores em vários outros tipos de câncer como, bexiga, pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago e estômago e mama. Em geral, esses estudos apontam menor risco de câncer, mas os dados são conflitantes quanto ao tipo de câncer e ao tipo de planta (fruta ou vegetal).um menor risco de câncer de mama está associado com o consumo maior de verduras e legumes Sendo o câncer uma doença de desenvolvimento prolongado e estando intimamente relacionado a uma alimentação inadequada, estabelecer hábitos alimentares saudáveis na infância é de suma importância para o desenvolvimento de uma vida adulta livre de doença. Do ponto de vista biológico, relatórios científicos como o Relatório Técnico 916 verificaram associações estatísticas significativas (evidencias cientificas) em termos de redução de risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como alguns tipos de câncer, mediante o consumo regular de pelo menos 400 gramas de frutas, legumes e /ou verduras (f, l&v) por dia. Pesquisas demonstram que frutas, verduras e legumes desempenham papel protetor no surgimento destas mesmas doenças. De acordo com o Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer (WCRF), uma dieta com uma grande quantidade e variedade de frutas, legumes e verduras podem prevenir 20% ou mais dos casos de câncer. O Relatório Mundial sobre Saúde 2002 da OMS estima que o baixo consumo desses alimentos está associado à cerca de 31% das doenças isquêmicas do coração e 11% dos casos de derrame no mundo. Acredita-se que a redução no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares se dá pela combinação de micronutrientes, antioxidantes, substâncias fitoquímicas e fibras presentes nestes alimentos

A iniciativa de Incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras (F,L&V) no Brasil Objetivos geral: Aumentar o consumo,a produção e a comercialização de alimentos saudáveis como frutas,legumes e verduras na perspectiva de promoção da saúde, do respeito e valorização aos hábitos alimentares culturalmente referenciados, à agricultura familiar, desenvolvimento sustentável e garantia da SAN. Objetivos específicos: Estimular a alimentação saudável com base na sua dimensão biológica e cultural, enfatizando os alimentos produzidos em nível local como frutas, legumes e verduras para a promoção da saúde e prevenção de doenças; Promover ações de educação alimentar e nutricional. Estimular a produção e o consumo sustentável com ênfase no combate ao desperdício de alimentos e seu aproveitamento integral; Fomentar sistemas de distribuição e comercialização de alimentos próprios da região para a garantia da comercialização e do consumo local (ex: Programas Institucionais: Alimentação Escolar (PNAE), PAT, PRONAF). Fortalecer o papel da agricultura familiar no abastecimento de alimentos saudáveis; Estimular estudos e pesquisas relacionados ao consumo saudável Princípios norteadores: Estar em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Alimentação e Nutrição Admitir a alimentação saudável enquanto direito humano na perspectiva da segurança alimentar e nutricional Informar as pessoas sobre os benefícios das LV&F Assegurar a disponibilidade e o acesso de todos a estes alimentos

Estabelecer parcerias : garantia das ações inter e multisetoriais, destacando o setor público, o setor privado, os meios de comunicação e a sociedade civil. Visar tanto a oferta quanto a demanda de LV&F para garantia do consumo; Basear-se em evidências levando em conta os diferentes estágio de transição nutricional das regiões do Brasil; Priorizar segmentos de menor renda onde há maior tendência de aumento das doenças crônicas; Ser bastante propositiva e menos prescritiva para garantir a autonomia das pessoas as escolhas saudáveis Incluir um planejamento de vigilância e monitoramento e avaliação: produção e consumo.destes alimentos no Brasil. Outros pontos a considerar: Pontos positivos (+) da demanda e consumo: LV&F são em geral apreciados pelas pessoas ainda que, em algumas situações, caiba promover/resgatar a valorização culinária desses alimentos, sobretudo de legumes e verduras. LV&F são freqüentemente vistos pelas pessoas como alimentos saudáveis ainda que seja importante reforçar as propriedades desses alimentos na proteção contra doenças crônicas. LV&F constituem um terreno fértil para promoção Pontos negativos(-) da demanda e consumo LV&F são relativamente caros (o custo por caloria pode ser muito mais alto do que para outros alimentos)

A redução marginal do preço que pode ser obtida com um aumento na demanda pode não ser suficiente para promover o consumo em famílias de baixa renda. Apoio técnico e institucional à produção e à distribuição de LV&F para diminuição dos custos. Pontos positivos(+) da oferta : O Brasil está situados em área tropical com uma variedade enorme de LV&F e pode ser produzida durante o ano todo. FVL são produzidos freqüentemente por muitos pequenos produtores (melhorar a qualidade de consumo e geração de renda e desenvolvimento sustentável ). Pontos negativos (-) no lado da oferta: LV&F requerem usualmente grande quantidade de água (regiões secas e contaminação?) LV&F são produtos perecíveis : sistemas de distribuição e comercialização que reduzam o desperdício (incentivo à produção de alimentos nutritivos próprios da região e o planejamento local para a garantia da comercialização e consumo local ex: alimentação escolar) Algumas variedades de LV&F podem requerer uso intensivo de pesticidas (fiscalização e incentivo a agroecologia sustentável)

Reflexões sobre os apelos relativos ao consumo de L,V&F: Substitua: os doces, sorvetes e chocolates por frutas secas; as sobremesas por frutas; os refrigerantes e bebidas doces por sucos de frutas natural; os lanches noturnos por sopas de legumes e verduras e saladas cruas Inclua: pelo menos 1 porção de LV e F nas suas refeições (café da manhã 1 fruta, lanche da manhã 1 fruta, almoço legumes e/ou verduras + 1 fruta, lanche da tarde 1 fruta, jantar legumes e/ou verduras e 1 fruta) Valorize as frutas da sua região de acordo com as estações e safras; o cultivo de hortas comunitárias domiciliares, escolares, etc. Qualquer espaço em que elas sejam possíveis de serem cultivadas; preparações tradicionais de sua região que se utilizem de L,V e F. Nos climas mais frios as sopas de legumes e os caldos e chás de frutas são excelentes opções. Vantagens dos L, V e F prevenção de doenças; aumento do consumo de fibras e micronutrientes; controle de peso saudável; menor densidade energética e alto valor nutritivo; disposição para atividade física Prepare (sugestões de preparações - receitas) Utilizar cores e associar benefícios para a prevenção de doenças

Materiais e outras sugestões: spots de rádio folders cartazes cartilha para o setor produtivo boas práticas de produção e comercialização (ANVISA) material de apoio (folders e cartazes) Considerações finais: No atual governo brasileiro a temática do combate a fome e a garantia da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil impulsionam as tarefas aqui descritas. Para alcançar nossos objetivos precisamos transcender para dimensões multi e intersetorias que tenham coletivamente um objeto em construção. Nosso desafio é construir coletivamente este processo de maneira integrada e participativa. Pensar em alimentação e nutrição é considerar a vida em sua maneira real e complexa. Em nível institucional saúde, desenvolvimento agrário e agricultura precisam internalizar o objeto coletivo que precisamos para potencializar e assim servir de modelo para política publicas que tenham a segurança alimentar e nutricional como grande eixo articulador. Brasília, 25/05/2004

Referências Bibliográficas consultadas: 1. ACC/SCN. Administrative Coordinating Comittee, Sub-Comittee on Nutrition of the United Nations. Ending malnutrition by 2000: an agenda for change in the millennium. Report by the Comission on the Nutrition Challenges of the 21 st century. Food and Nutr Bull, United Nations, v.21, n.3, p. 1-88, 2000. 2. ACC/SCN; IFPRI. Administrative Co-ordinating Committee, Sub-Committee on Nutrition of the United Nations, and International Food Policy Research Institute. Fourth report on the world nutrition situation: nutrition throughout the life-cycle. Geneva, 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Alimentação Saudável: princípios e considerações. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. www.saude.gov.br/alimentacao (acessado em 01 de setembro de2005). 4. BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de alimentação e nutrição. Brasília, 1999 5. BRASIL. Ministério da Saúde.Considerações do Ministério da Saúde sobre a Pesquisa de Orçamento Familiar 2002-2003. www.saude.gov.br/alimentacao (acessado em 23 de janeiro de 2005) 6. FAOSTAT. (1999). FAO web page. Statistics database. Rome: Food Agriculture Organization FAO. 7. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. Pesquisa de Orçamentos Familiares 1988: analise da disponibilidade domiciliar de alimentos e de estado nutricional no Brasil, Rio de Janeiro: IBGE, 1988. Relatório Final. 8. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. Pesquisa de Orçamentos Familiares 1963: analise da disponibilidade domiciliar de alimentos e de estado nutricional no Brasil, Rio de Janeiro: IBGE, 1993. Relatório Final. 9. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. Pesquisa de Orçamentos Familiares 1996: analise da disponibilidade domiciliar de alimentos e de estado nutricional no Brasil, Rio de Janeiro: IBGE, 1996. Relatório Final.

10. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003: analise da disponibilidade domiciliar de alimentos e de estado nutricional no Brasil, Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Relatório Final. 11. Monteiro CA, Conde WL. (2000). Evolução da obesidade nos anos 90: a trajetória da enfermidade segundo estratos sociais no Nordeste e Sudeste do Brasil. In: Monteiro CA. (org.). Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e de suas doenças. 2ª ed. aumentada. São Paulo: Hucitec/NUPENS-USP. p. 421-31. 12. VALENTE, F.L.S. Direitos humanos e a promoção da alimentação e modos de vida saudáveis: realizando o direito humano à alimentação e nutrição adequadas. Brasília, 2002. Mimeo. 13. Wang Y, Monteiro CA, Popkin BM. (2002). Trends of obesity and underweight in older children and adolescents in the United States, Brazil, China and Russia. Am J Clin Nutr 75: 971-7. 14. WORLD CANCER RESEARCH FUND; AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH. Food, nutrition and the prevention of cancer: a global perspective. Washington DC, 1997. 15. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases.Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Technical Report Series No. 916. Geneva, 2003. Disponível em www.who.int.hpr 16. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Integrated prevention of noncommunicable diseases. Global Strategy on diet, physical activity and health. April, 2004. Disponível em www.who.int.hpr