IDENTIDADES, HISTÓRIAS E MEMÓRIA



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Transcrição:

1 Julinete Vieira Castelo Branco (UFPI) GT 11 História, Memória e Educação IDENTIDADES, HISTÓRIAS E MEMÓRIA Este estudo pretende despertar algumas reflexões, acerca da discussão atual sobre as formas de construção das identidades e memórias. O estudo é parte de um trabalho de pesquisa de mestrado, que está se realizando e tem como objeto o estudo das identidades, histórias e memórias do Colégio Agrícola de Teresina.Visando o aprofundamento teórico desta pesquisa, este trabalho tem como ponto de partida os seguintes questionamentos:como se estabelecem os parâmetros identitários numa instituição escolar? Como os elementos constituintes dessas identidades interferem ns práticas cotidianas dos sujeitos? E se que forma estes sujeitos se reconhecem como membros de uma instituição determinada comunidade? O espaço escolar, enquanto espaço coletivo e institucional, é dinamicamente constituído por práticas e estratégias que constituem representações sociais, as quais caracterizam e configuram a realidade e os lugares que são definidos pelas ações dos sujeitos históricos.as vivências e práticas destes sujeitos numa instituição escolar são permeadas de subjetividades, para entendê las, buscamos trazer à luz as discussões teóricas em torno do conceito de identidade. Atualmente, é intensa a discussão dos teóricos acerca das noções e concepções existentes sobre as identidades, e a desta pesquisa é entender como estas se configuram no campo escolar e institucional. Esta preocupação perpassa a concepção do termo cultura e como esta se reflete na realidade atual com a influência do processo de globalização, as formas de interpretação histórica, sobretudo a influências dos estudos culturais.neste sentido, como afirma Hall (2003, p 70) O que é importante para o nosso argumento, quanto ao impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. Entretanto, é inegável, a influência do processo de globalização na representação dos fatores culturais e a expansão dos elementos que dinamizam este processo, em conseqüência há uma homogeneização das culturas; permitindo o reflexo de uma crise da noção de identidade, como referência única, singular, fragmentando também o conceito de cultura. Os estudos que norteiam vários campos da pesquisa histórica, remetem interesses para a compreensão das identidades construídas em determinados espaços sociais, que também se configuram como espaços de memórias, é o caso das instituições e lugares das cidades como bairros, ruas, prédios; que representam práticas cotidianas. O objeto desta pesquisa é o Colégio Agrícola de Teresina, este enquanto lugar de memórias, se constitui um lugar de dimensão histórica, através dos espaços, práticas e representações. Pois a escola é um lugar de memória, a escola é um lugar de memória; não, pela memória histórica da instituição, mas pela memória da formação dos que por ela passaram e ali configuraram identidades, vivências e subjetividades de um espaço escolar. Cortez (2000, p:08).nos fala como a escola se constitui lugar de memórias: O primeiro dia de aula tinha seu papel capital: o dia do uniforme novo, do caderno em branco, dos lindos lápis, como agulhas, da glória de andar pela

2 rua com uma mala e identidade social. A alegria desaparecia diante de qualquer coisa grave e terrível que se criava, porém, assim que se cruzava o portão da escola,o desamparo se instalava no fundo da alma de cada um, diante da suspeita de algo terrível que ainda não se sabia, mas que se iria logo a saber: a transformação da criança em aluno. As experiências escolares, através da lembrança, buscam evidenciar a importância da escola no processo de construção de memórias e na constituição das várias identidades.a cultura tem um significado crucial nesse processo; importa na perspectiva destes sujeitos, perceber como cada um se deixou capturar pelas vivências e experiências cotidianas do muno escolar. E desta forma: O que importa é o que cada um dos alunos e professores, tirou dos conhecimentos articulados em torno da escola: paixões, paisagens, aprendizagens, recusas, reflexões, idéias que contribuíram desse nomos de sentido, graças ao quais incontáveis experiências da realidade são colocadas em ordem, e com a realidade, a própria identidade.(2000, p:10) A questão norteadora desse trabalho remete às identidades, histórias e memórias do Colégio Agrícola de Teresina, na tentativa de compreender esse processo definido por práticas, estratégias, conflitos, representações que configuram as memórias de uma escola. COLÉGIO AGRÍCOLA DE TERESINA: MUITAS HISTÓRIAS, OUTRAS MEMÓRIAS Para a compreensão das constituições das identidades no CAT, tornou se necessário a analise de três momentos importantes de sua trajetória histórica. O primeiro, se refere à origem, com a implantação da Escola Agrotécnica em Teresina em 1954; a instalação desta escola foi responsável pela migração de vários jovens de varias cidades do Piauí, Maranhão e Ceará; funcionando para o ensino e a aplicação de técnicas e práticas agrícolas, tornando se uma escola para aprendizes. No segundo momento e após a primeira década, a escola agrotécnica passa a se chamar Colégio Agrícola de Teresina, em 1964, funcionando com sistema de internato, e com o intuito de preparação de técnicas agrícolas, através da aplicação do ensino ginasial. Na década de 70, e terceiro momento, o colégio agrícola, passa a tornar se uma escola de nível médio, através da formação de técnicos em agropecuária, neste momento é incorporado à Universidade Federal do Piauí. Neste recorte temporal, a pesquisa pretende analisar as várias histórias de vida dos sujeitos históricos, através das diversas realidades vividas e das representações estabelecidas no Colégio Agrícola de Teresina e sobre este, as perspectivas em relação a cidade de Teresina. A construção dos agentes de um espaço escolar ocorre independente dos processos do controle institucional, a partir destes agentes podemos visualizar e compreender o amplo processo educativo; o estudo das práticas dos sujeitos históricos trazem à margem, as subjetividades inseridas neste espaço de vivências, experiências e estratégias. Dessa forma, como assinala Cortez:

3 A produção dos sujeitos não deriva harmoniosamente do funcionamento das instituições. Os indivíduos não se formam na escola como atores de papéis sucessivos a ele propostos e por isso são sujeitos históricos e não apenas atores sociais. (2000, p.51). As diversas lógicas são articuladas, através do cotidiano intenso de experiências escolares, num dinamismo de práticas realizadas pelos atores, subjetividades e representações que estão diretamente associadas ao processo de conhecimento e das culturas construídas no âmbito deste espaço. Para, portanto, entender os estudos das representações do Colégio Agrícola de Teresina, lembramos Chartier (1990, p.27) quando se refere: a necessidade de análise das categorias que aparentemente invariáveis devem ser construídas na descontinuidade das trajetórias históricas. E ainda segundo este, dirige se às práticas que pluralmente, contraditoriamente dão significado ao mundo.daí o reconhecimento das práticas de apropriação cultural como formas diferenciadas de interpretação. Dessa forma, o nosso objeto de pesquisa se constitui lugar de muitas histórias e de diversas memórias. No momento atual, o estudo baseia se em fontes documentais, e a metodologia utilizada se realiza por meio da coleta de dados documentais sobre o período em estudo (1954/ 1976) como: fichas de matriculas, documentos referentes à conclusão de turmas, boletins escolares, jornais, diários oficiais e etc. Esta coleta é realizada no Colégio Agrícola de Teresina, nas instituições relacionadas com a origem e implantação da escola na Capital como Secretária de Agricultura, Biblioteca Estadual do Piauí, Secretaria da Fazenda e Arquivo Público do Piauí. Para a compreensão dos estudos sobre os aspectos que constituem os parâmetros identitários do CAT, trabalhamos com as histórias de vida, através do análise de entrevistas com ex alunos,ex professores, ex servidores do colégio, buscando a compreensão dos elementos que os fazem tornar se sujeitos históricos e estes reconhecerem se como membros de uma comunidade. O SUJEITO DESDE SEMPRE AÍ: UMA QUESTÃO DE IDENTIDADES Para compreendermos o processo de constituição de identidades no CAT, procuramos nessa pesquisa retomar o ponto de partida da discussão teórica estabelecida sobre esse campo de estudo. Buscamos entender como foram se configurando múltiplas identidades no espaço escolar, a partir da análise da ação do sujeito, criado ao longo do tempo histórico e como este constitui os parâmetros do pensamento estabelecido, dado.é necessário lembrar o pensamento foucaultiano, quando nos recorda que a noção de sujeito implícito é algo sempre dado, como uma entidade que pré existe ao mundo social, e como este mesmo afirma: o sujeito desde sempre aí. Para enfatizar esta concepção torna se relevante pensar a noção de sujeito em relação à posição de sujeito estabelecida na sociedade, estabelecida para a explicação da sociedade, e

4 como este tornou se centro da interpretação histórica. Em relação à compreensão dos estudos foucaultianos acerca do sujeito, Veiga afirma que: As concepções de sujeito como eu pensante, se remetem ao pensamento de Descartes, a mônada de heibniz e o o sujeito do conhecimento de Kant, para a afirmação da idéia de sujeito como uma Propriedade da condição humana, sendo sempre presente no mundo. (2003, p.132) A noção moderna de sujeito destaca o como matéria prima a ser trabalhada pela educação, outros pensadores como Rousseau Kant, Hegel e Marx se preocupavam com a noção de sujeito,embora, pensando o de uma outra forma, mudando o de lugar, ou centralizando o. Neste sentido, Veiga Neto (2003. p.131) enfatiza e analisa o estudo da concepção deste, como entidade natural e assim, existindo anteriormente ao mundo social, político, cultural e econômico. O pensamento pós moderno estabelecido em torno da concepção do sujeito, remete a análise do mundo, envolvido em várias estruturas que vinculadas formam umas as outras numa seqüência dinâmica. Em Foucault, percebemos a importância para a percepção da constituição da noção de sujeito; e como cada ser se torna uma entidade a que chamamos de sujeito moderno. Em suas palavras, percebe se a ênfase dada a esse estudo: Eu gostaria de dizer antes de mais nada, qual foi o objetivo do meu trabalho nos últimos vinte anos. Não foi analisando o fenômeno do poder nem elaborando os fundamentos de tal analise. Meu objetivo, ao contrário foi criticar uma história dos diferentes modos pelos quais em nossa cultura, os seres humanos tornaram se sujeitos.(2003, p: 132) Além de Foucault, pensadores como Nietzche, Heidegger e Norbert Elias abandonam essa concepção moderna e iluminista do sujeito; Inserindo nestes estudos, novas formas de se pensar a constituição de sujeito. A CONSTRUÇÃO DAS MEMÓRIAS Segundo Pollack (1992, p:204), não é possível pensar identidades sem nos referirmos ao estudo das memórias; e para pensar estas duas categorias, é necessário perceber esta relação como conseqüência de um movimento contínuo do tempo histórico. A existência de duas espécies de memórias: uma individual e outra coletiva que se relacionam na organização da lembrança e no ato de lembrar, segundo o pensamento de Halbwachs: Se essas duas memórias se penetram freqüentemente; em particular se a memória individual pode, para confirmar algumas de suas lembranças, para precisá las,e mesmo para cobrir algumas de suas lacunas, apoiar se sobre a memora coletiva, deslocar se nelas, confundir se momentaneamente com ela, nem por isso deixa de seguir seu próprio caminho.(1990,p:53)

5 Dessa forma, os sujeitos da nossa pesquisa participam de um espaço escolar e são parte de um grupo, que formam os quadros da memória, onde são realizadas ações individuais e coletivas, que constituem as lembranças, as quais só podem ser reconstruídas a partir das reunião das várias memórias dos indivíduos que vivenciaram as experiências escolares do grupo. O tempo e o espaço são dois importantes fatores na configuração da memória coletiva, pois estes interferem na vida em sociedade, determinando uma disciplina social, e como assinala Halbwachs (1990,p:53) É no tempo, tempo este que é aquele de um determinado grupo, que ele procura encontrar ou ainda reconstituir a lembrança e é no tempo que ele se apóia. Assim como o tempo, na construção das memórias, o espaço permite uma relação com o indivíduo, através das imagens que percebemos e dos objetos que nos cercam. Sendo assim: Quando um grupo está inserido numa parte do espaço, ele a transforma à sua imagem, ao mesmo tempo em que se sujeita e se adapta às coisas materiais que a ele resistem. Ele se fecha no quadro que a construiu. A imagem do meio exterior e das relações estáveis que mantém consigo passa ao primeiro plano d idéia que faz de si mesma (1992.p:13). A construção das memórias de um espaço coletivo está, nesse sentido, associada às transformações ocorridas neste lugar, definindo as identidades de cada indivíduo no amplo quadro da memória.dessa forma, esta pesquisa pretende compreender como as noções de tempo e espaço interferem na constituição dos parâmetros identitários do Colégio Agrícola de Teresina. AS SUBJETIVIDADES Halbwachs (1990, p:66), afirma que para o entendimento da memória coletiva como constituição histórica, traz à luz, a percepção de que não há num sujeito soberano sempre, sendo este, constituído através das influências do cenário externo e sendo objeto das questões sociais, culturais e políticas, econômicas, educacionais; nesse dinamismo se transforma de acordo com o tempo e o espaço. Sendo assim: Tanto é verdade que os quadros coletivos da memória não se resume em datas, nomes, formulas, que eles representam correntes de pensamento e de experiências onde reencontramos nos passado, por que este foi atravessado por isso tudo (1990, p:53). Nessa discussão teórica sobre o sujeito observamos que as noções e ocupações como este, estabelecem um cenário de crise, afetando diretamente às questões ligadas ao processos de identidades culturais. Deleuze sugeriu que estamos vivendo uma crise social, sendo sua principal característica, a substituição da lógica disciplinar, pela lógica de controle. Esta crise se manifesta, em conseqüência, pela questão da noções de subjetividade. Atualmente, são constantes, os debates sobre as inquietações que permeiam os desdobramentos sobre os novos processos da subjetivação levando a freqüentes discussões

6 sobres as mudanças na ocupação das noções e lugares do sujeito e em conseqüência, da constituição dos processos de identidade e as formas singulares das suas subjetividades. (Chartier, 1990, p.67) sugere que: Pensar a individualidade nas suas variações históricas equivale não só a romper com o conceito de sujeito universal, mas também a inscrever num processo a longo prazo as mutações das estruturas da personalidade As mudanças estruturais que afetam as sociedades modernas, nas ultimas décadas, envolvem os processos culturais de classe, gênero e sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que por muito tempo tinham como definidos os lugares e papeis dos indivíduos sociais. As transformações ocorridas deslocam as nossas identidades pessoais. O que Hall (2003.p 9) chama de descentramento do sujeito ou deslocamento que seria o deslocamento tanto de seu lugar no mundo social e cultural, quanto de si mesmo estabelecendo uma crise de identidade para o individuo e afirma ainda que: A noção do sujeito como uma identidade fixa e unificada e estável se torna fragmentado. O qual é composto de várias identidades, algumas vezes contraditórias outras são resolvidas ( 2003, P 12). A noção de identidade perpassa a compreensão do efeito global sobre estas e se apóiam em duas coordenadas básicas o tempo e o espaço, que estão intrinsecamente ligadas aos sistemas de representação. Chartier ao trabalhar os conceitos culturais afirma: É preciso pensá la como análise de um trabalho de representação, isto é das classificações e das exclusões que a constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceptuais próprias de um tempo e de um espaço. (1990, p.66). A partir da discussão teórica em torno da constituição dos sujeitos e sua concepções ao longo do tempo, percebemos como se direcionam as formas de constituições das identidades, sejam elas, nacionais, locais, individuais. Precisamos compreender a tensão entre o global e o local na transformação e construção dos parâmetros identitários. Dessa forma, portanto, as práticas e os lugares vivenciados pelos sujeitos históricos configuram a construção de novas e relativas memórias, que são definidas por diversas singularidades e subjetividades constituídas no espaço e tempo histórico.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O nosso trabalho tem como objetivo iluminar algumas reflexões sobre as noções de identidades, e como estas são constituídas num amplo leque de uma instituição escolar. A discussão teórica, aqui repensada, é fruto dos vários questionamentos acerca da posição do sujeito histórico, o que possibilitou a compreensão de como os vários alunos, servidores, professores do CAT se constituíram sujeitos de uma realidade escolar, e como estes são reconhecidos e assim se reconhecem. Buscamos entender as formas de constituição do sujeito histórico, para o entendimento da concepção do sujeito moderno e seus vários deslocamentos no tempo para a compreensão das construções relativas a identidade e a memória inseridas numa determinada realidade escolar. Compreender os sujeitos sociais, suas identidades, singularidades no espaço do Colégio Agrícola de Teresina, assim como, a construção das subjetividades da realidade cotidiana dos sujeitos históricos é o interesse da pesquisa que ora se realiza, neste contexto, é necessário à luz das análises teóricas, a clara compreensão das noções do sujeito e suas construções no tempo histórico. Esperamos contribuir para o esclarecimento do estudo das construções das identidades e memórias e as possíveis formas de compreensão das suas configurações no espaço escolar, com o desenvolvimento do nosso trabalho.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHARTIER, Roger. A História Cultural entre Práticas e Representações. Lisboa: Difel, 1990. FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo, Ed. Loiola, 10ª ed. 2004. HALBWACHS, Maurice. Memória Coletiva e Memória Histórica. IN: Memória Coletiva.São Paulo: Vértice, 1994. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós modernidade. Rio de Janeiro. Ed. DP&A. Trad. Tomaz Tadeu da Silva/ Guacira Lopes Louro. SOUZA. M. C. Cortez de. A Escola e a Memória. Bragança Paulista Editora da Universidade São Francisco. EDUSF. VEIGA NETO, Alfredo. Foucault & a Educação. Ed. Autêntica. Belo Horizonte. 2003. POLLACK, Michel. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: Vol. 5 n. 10. 1992.