Infraestrutura e Meio Ambiente no Brasil Ronaldo Seroa da Motta (Professor da UERJ) Isaque Regis Ouverney (Mestrando da UERJ) Seminário: Gargalos e Soluções na Infraestrutura Brasileira FGV/IBRE, Rio de Janeiro, 02 de setembro de 2013
Roteiro Objetivo: síntese do marco regulatório ambiental (instrumentos e governança) dos projetos de infraestrutura no Brasil 1 - Licenciamento: fatos, evidências de desempenho e comparação internacional 2- Especificidade dos custos ambientais na infraestrutura 3 - Governança regulatória 4 - Governança corporativa 5- Recomendações
Base Regulatória Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81 ) Criou instrumentos de: Licenciamento Zoneamento Princípio do poluidor pagador Decreto Federal n 99.274/90, suplementado pela Resolução CONAMA n 237/97, regulamentou as fases de licenciamento Portarias de 28/10/2011 simplificando/normatizando licenciamento infraestrutura
Fatos Projetos de infraestrutura geram enormes ganhos sociais, mas podem ser responsáveis por custos externos ambientais significativos no espaço e no tempo Essas externalidades colocam quase sempre os investimentos em infraestrutura em contraposição aos objetivos de sustentabilidade ambiental No caso do Brasil essa contraposição é gerenciada no processo de licenciamento com graves conflitos e altos custos de transação e de incerteza
Avaliações Recentes custos adicionais de investimentos e tempo do processo de licenciamento nem sempre estão relacionados com seus danos ambientais incerteza regulatória afeta significativamente a precificação dos investimentos Banco Mundial (2008), Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil: Uma contribuição para o Debate, Relatório Nº. 40995-BR, Brasília, janeiro CNI (2012) A Contribuição do Setor Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis para o Desenvolvimento Sustentável no País, Confederação Nacional da indústria/instituto brasileiro de Petróleo, Gás e biocombustíveis, Cadernos Setoriais Rio + 20, Brasília, maio
Problema Está em curso uma ampla e rápida expansão da infraestrutura no país cobrindo todo o território nacional com diversas formas de intervenção nos sistemas naturais impactos ambientais diferenciados em escopo e magnitude Logo o processo de licenciamento ambiental será ainda mais controverso
Desafio Reformulação no processo de adequação ambiental dos projetos de infraestrutura nos âmbitos: regulatório (governo e sociedade civil); e corporativo (empresas e mercado) Além do processo de licenciamento...
Custos Ambientais da Infraestrutura Efeitos ambientais complexos Diretos (within the fence) - curto prazo; associados à construção Indiretos - interação no espaço e no tempo, logo prazo; associados a operação Infraestrutura: grandes montantes de capital e longa vida útil com intervenções múltiplas e significativas na base natural Custo alto de ajuste nos empreendimentos já realizados: efeito lock-in - impactos congelados no tempo Uma vez definidos localização, quantidade de recursos e tipo de tecnologia: impactos permanentes ao meio ambiente Resultado: investimentos em infraestrutura são geralmente vistos como uma ameaça aos objetivos de sustentabilidade ambiental
Proposições da Literatura Considerar antecipadamente os efeitos ambientais no desenho e localização dos projetos Adotar procedimentos conceitual e metodologicamente uniformes de avaliação ambiental Analisar num contexto integrado de políticas e não apenas setorialmente
Licenciamento Ambiental: Brasil e no Mundo Brasil: três licenças ao logo do processo Licença Prévia - LP autoriza fase preliminar de planejamento do empreendimento ou atividade Licença de Instalação - LI - autoriza a instalação Licença de Operação - LO - autoriza a operação Processo: Termos de Referência do órgão ambiental x EIA-RIMA do empreendedor: o proposta de mitigação dos danos ambientais (tamanho, localização, tecnologia, etc) o medidas de compensação na forma de investimentos públicos (em áreas de conservação, saneamento, escolas, igrejas, etc) para condicionantes que não puderam ser totalmente cumpridas
Evidências Banco Mundial (2008) e CNI (2012) usinas hidroelétricas no Brasil gastam em média 5% do custo total para adequá-las às exigências do licenciamento e outros 3% em compensações tempo médio total de licenciamento é de 6,5 anos: próximo EUA e Noruega mas com dispersão muito maior resolução de conflitos dento do sistema enquanto noutros países há outras instâncias externas (painéis de especialistas e cortes especializadas)
Problemas Regulatórios Falta de transversalidade: a adequação ambiental dos projetos é delegada ao processo de licenciamento Licenciamento com múltiplos principals : Conflitos de competência ambiental entre União e unidades da federação Regulações setoriais que possibilitam interferência de muitas instituições (ambientais, patrimônio, indígenas, etc.) e do Ministério Público no processo em qualquer fase do licenciamento (no termos de referência e sua análise) Leis de Crimes Ambientais e Improbidade Administrativa gera insegurança nas decisões por parte dos agentes públicos
Problemas Regulatórios (2) Resultados: Soluções negociadas sem instâncias administrativas ou judiciárias especializadas para resolução de conflitos Função objetivo das instituições e empreendedores: decidir sobre gastos que não estão diretamente relacionados com o impacto ambiental na forma de compensações (construção de estradas, escolas, hospitais, etc.) Custo de transação alto e incerto: processo complexo e demorado
Problemas Corporativos Barreiras aos investimentos ambientalmente sustentáveis / investimentos verdes Conceito generalista relativo a internalização dos aspectos de sustentabilidade ambiental: recursos hídricos, eficiência energética, emissões atmosféricas e proteção a biodiversidade. Identificação: varia com cada aspecto e métrica adotada Viabilidade social versus financeira
Problemas Corporativos (2) Viabilidade: Dificuldades na mensuração dos custos ambientais e sociais para apontar ótimo ambiental Barreiras a tecnologias sustentáveis viáveis : incerteza (valor de opção), inércia, deseconomias de rede e incentivos separados Carência de mecanismos financeiros de mitigação dessas barreiras e de tarifação de custos ambientais (PPPs e regras de preços?) Reconhecimento do valor de mercado desses tipos de projetos (índices de sustentabilidade?)
Recomendações o Análise integrada intersetorial com procedimentos uniformes para identificação e mensuração dos custos ambientais o Políticas de salvaguardas com base nas principais preocupações ambientais de curto e longo prazos o Mecanismos de tarifação que incluam externalidades ambientais para gestão da demanda o Mecanismos de financiamento com mitigação de risco e incentivo ao desempenho ambiental e tecnologias ambientalmente mais sustentáveis o Instâncias de resolução de conflitos e de debates sobre os nexos entre infraestrutura e preservação ambiental.
Iniciativas Curto Prazo o Seminários sobre (i) experiência internacional e (ii) mecanismos de mercado o Estudos de determinantes do custo e tempo de processo dos projetos licenciados
OBRIGADO seroadamotta.ronaldo@gmail.com