PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO PROCESSO nº 1001968-78.2015.5.02.0701 (RO) Natureza: RECURSO ORDINÁRIO Recorrentes: 1) Tam Linhas Aéreas S.A.; 2) Recorridos: Os mesmos Origem: 1ª Vara do Trabalho de São Paulo Juiz Prolator da Sentença: Dr.(ª) Michelle Denise Dirieux Destri /REPR/25/#/ RELATOR: RAFAEL EDSON PUGLIESE RIBEIRO EMENTA Tam. Aeromoça. Obrigatoriedade de uso da maquiagem. Manual de apresentação pessoal em que consta de forma detalhada as regras de uso de maquiagem, inclusive sobre quais cores são permitidas. Comprovação pela prova testemunhal que, diferentemente do que alega a empresa de se tratar de sugestão de apresentação pessoal, as aeromoças eram obrigadas a se apresentar maquiadas para a prestação de serviços. Exigência inserida no contexto da prestação de serviços de transporte aéreo, sendo do empregador a responsabilidade pelos gastos como maquiagem (art. 186 do CC). RELATÓRIO Contra a r. sentença que julgou procedente em parte a ação, recorre a ré alegando que não obrigava a autora a utilizar maquiagem, sendo indevido o reembolso. Recorre a autora, alegando que eram sonegados os 15 minutos de intervalo durante o período de reserva; que são devidas diferenças de diárias alimentação internacional, diárias de cursos e horas de cursos; que os pagamento dos quilômetros voados não foram realizados integralmente, assim como as horas de reserva e de sobreaviso. Contrarrazões IDs. a602542 e d0c8d15. FUNDAMENTAÇÃO 1. Apelos aviados a tempo e modo (ID. c258c18). Conheço-os. Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 1
MÉRITO RECURSO DA AUTORA2. Reserva. Intervalo de 15 minutos. 2. Reserva. Intervalo de 15 minutos. A autora trabalhou de 07.10.87 a28.08.13, como "comissária de bordo".o preposto confessou (ID. a4c146e) "que se o tripulante é contatado por telefone e não comparece consta 'não comparecimento' na escala; que mesmo durante o período de intervalo se o tripulante for contatado e não atender o telefone e também não comparecer será considerado 'não comparecimento'; que pode ocorrer, em razão do grande fluxo de voos, de o tripulante solicitar intervalo e não ser autorizado". 2.1. A testemunha da autora confirmou que "a depoente ficava em períodos de reserva durante os quais não havia intervalo, nem por solicitação do tripulante; que durante a reserva precisavam ficar durante todo o tempo a disposição e se precisassem ir ao banheiro era só ir e voltar, pois senão dava 'não comparecimento'. 2.2. A testemunha da própria ré também relatou que "na reserva o horário é corrido sem previsão de intervalo", e de forma contraditória, afirmou que ao que se recorda nunca esteve na reserva e não conseguiu fazer intervalo, embora tenha dito também que "a depoente solicita o intervalo quando está na reserva o que é concedido sempre considerando o fluxo de voos que quando está mais tranquilo é autorizada a saída". O depoimento possui contradições quanto ao gozo do intervalo de 15 minutos na reserva e, portanto, não possui valor probante. 2.3. Defiro o pagamento de 15 minutos de intervalo como horas extras, nos dias em que a autora esteve na reserva, conforme os controles juntados, com reflexos no 13º salário, férias+1/3, aviso prévio, DSRs e FGTS+40%. O cálculo observará os dias trabalhados, adicional normativo ou legal e divisor 176 (o art. 23 da Lei 7.183 /84) e a prescrição. 3. Horas extras. Cursos. Reserva. 3. Horas extras. Cursos. Reserva. Sobreaviso. A recorrente alega que as horas de curso não estavam computadas no salário fixo, que o salário complessivo é ilícito, bem como pertence à ré o ônus de provar que quitou tais verbas integralmente (Id. e12cff8). 3.1. Não se sustenta a alegação de que a forma de remuneração fixada no contrato se caracteriza como salário complessivo, porque ela se refere ao pagamento da jornada ordinária contratual, e a própria Lei 7.183/84 autoriza o cômputo na duração do trabalho do aeronauta de todas as horas a título "de vôo, de serviço em terra durante a viagem, de reserva e de 1/3 (um terço) do sobreaviso, Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 2
assim como o tempo do deslocamento, como tripulante extra, para assumir vôo ou retornar à base após o vôo e os tempos de adestramento em simulador" (art. 23) para fins de apuração do limite de 60 horas semanais e de 176 horas mensais. 3.2. Diante desse contexto, improcede a afirmação de que a empregadora deixava de pagar as horas de cursos, reserva e sobreaviso, porquanto tais períodos encontram-se compreendidos na jornada adimplida pelo salário fixo previsto no contrato de trabalho. 3.3. Destaque-se, ainda, que os livros de bordo (ID I. 544b773, por exemplo),permitem aferir a carga horária efetivamente cumprida nos termos do art. 20, da Lei 7.183/84[1]. 3.4. Não foi apontada a existência de eventuais diferenças em benefício da autora, uma vez que os apontamentos foram apurados com base na premissa equivocada de que o tempo em solo, os cursos, treinamentos e horas de sobreaviso não eram remunerados pela empregadora. Dessa forma, mantenho a improcedência do pedido. [1] Art. 20 Jornada é a duração do trabalho do aeronauta, contada entre a hora da apresentação no local de trabalho e a hora em que o mesmo é encerrado. 1º A jornada na base domiciliar será contada a partir da hora de apresentação do aeronauta no local de trabalho. 2º Fora da base domiciliar, a jornada será contada a partir da hora de apresentação do aeronauta no local estabelecido pelo empregador. 3º Nas hipóteses previstas nos parágrafos anteriores, a apresentação no aeroporto não deverá ser inferior a 30 (trinta) minutos da hora prevista para o início do vôo. 4º A jornada será considerada encerrada 30 (trinta) minutos após a parada final dos motores. 4. Adicional noturno. 4. Adicional noturno. Quanto às diferenças de adicional noturno e alegação de inobservância da redução ficta, também não é possível acolher os apontamentos da recorrente, porquanto os registros do livro de bordo foram desconsiderados na apuração. Dessa forma, não há elementos passíveis de autorizar a condenação das rés ao pagamento das diferenças de adicional noturno. 5. Diárias. 5. Diárias. A inicial (fls. 27/28) sustenta que a ré não pagava as diárias de viagens internacionais integralmente. Nas razões recursais, a autora reitera que a ré nem sequer apresentou os recibos de pagamento, embora a preposta tenha confessado que os pagamentos eram efetuados mediante comprovantes assinados pelos empregados. Assim, reformo para acrescer à Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 3
condenação pagamento de diárias internacionais e diárias de cursos, conforme os controles juntados e os valores consignados nas normas coletivas. 5.1. O fundamento do recurso para pleitear diferenças de quilômetros rodados é no sentido de que embora constem nas escalas os horários de apresentação e as horas de solo, estas não eram remuneradas pela ré (ID. e12cff8 - Pág. 12). 5.2. Todavia, a remuneração do aeronauta é formada por uma parte fixa e outra variável, sendo a fixa destinada a remunerar todas as horas de solo, compreendidas na somatória das horas de reserva, sobreaviso, período de apresentação e início de vôo, tempo de espera nas escalas, treinamentos e tudo mais que constituir a jornada de trabalho, ou seja, 176 horas mensais, e ainda os descansos semanais remunerados, conforme artigo 23 da Lei 7.183/84. Mantenho. 5.3. Assim, os cálculos apresentados pela recorrente (ID. e12cff8 - Pág.13, por exemplo) computam como devidas verbas já integrantes do salário fixo. Indevidas diferenças. RECURSO DA RÉ 6. Indenização pelos gastos com maquiagem. 6. Indenização pelos gastos com maquiagem. A sentença deferiu a indenização mensal de R$ 50,00 pelos gastos com a utilização de maquiagem. A defesa sustenta que se trata de uma sugestão de apresentação pessoal e não há punição para as comissárias que se apresentam sem maquiagem. 6.1. No manual de apresentação pessoal da ré consta de forma detalhada as regras de uso da maquiagem, tais como quais as cores permitidas (ID. cb36faf - Pág. 15). E as testemunhas comprovaram a obrigatoriedade de prestar os serviços de comissárias de bordo maquiadas (testemunha da autora "que as comissárias devem voar maquiadas obrigatoriamente; que se a comissária se apresenta sem maquiagem é retirada do voo; que a depoente foi chefe dos comissários e passou pela experiência de impedir o voo de comissárias não maquiadas"; testemunha da ré "nunca viu nenhuma comissária se apresentar sem maquiagem". Comprovado que tal exigência está inserida no contexto da prestação de serviços de transporte aéreo. A ré deve arcar com tais gastos (art. 186 do CC). Mantenho. Conclusão do recurso Dou provimento ao recurso da autora para acrescer à condenação o Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 4
pagamento do intervalo de 15 minutos durante a reserva, como horas extras, com reflexos no aviso prévio, 13º salário, DSRs, férias+1/3 e FGTS+40%; bem como diárias referentes a cursos e a viagens internacionais. Nego provimento ao recurso da ré. Mantenho a referência de alçada. ACÓRDÃO Acórdão Vistos, Relatados e Discutidos os presentes autos, ACORDAM os Desembargadores da 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, nos termos da Certidão de Julgamento que a este integra, em: DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso da autora para acrescer à condenação o pagamento do intervalo de 15 minutos durante a reserva, como horas extras, com reflexos no aviso prévio, 13º salário, DSRs, férias+1/3 e FGTS+40%; bem como diárias referentes a cursos e a viagens internacionais. NEGAR PROVIMENTO ao recurso da ré. Mantida a referência de alçada. CERTIDÃO DE JULGAMENTO Certifico que, em sessão realizada nesta data, a 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região, julgando o presente processo, resolveu: por unanimidade de votos, DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso da autora para acrescer à condenação o pagamento do intervalo de 15 minutos durante a reserva, como horas extras, com reflexos no aviso prévio, 13º salário, DSRs, férias+1/3 e FGTS+40%; bem como diárias referentes a cursos e a viagens internacionais. Por igual votação, NEGAR PROVIMENTO ao recurso da ré. Mantida a referência de alçada. Presidiu regimentalmente o julgamento o Exmo. Sr. Desembargador RAFAEL EDSON PUGLIESE RIBEIRO. Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. RAFAEL EDSON PUGLIESE RIBEIRO, VALDIR FLORINDO e SALVADOR FRANCO DE LIMA LAURINO. Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 5
Relator: o Exmo. Desembargador RAFAEL EDSON PUGLIESE RIBEIRO Revisor: o Exmo. Desembargador VALDIR FLORINDO São Paulo, 13 de junho de 2.017. Priscila Maceti Ferrarini Secretária da 6ª Turma DR. RAFAEL E. PUGLIESE RIBEIRO Desembargador - TRT-2ª Região VOTOS Número do documento: 17032415541735300000014316257 Num. 09b4fbe - Pág. 6