POLUIÇÃO URBANA NAS BACIAS DE DRENAGEM DAS BARRAGENS DE ALQUEVA E PEDRÓGÃO

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Transcrição:

POLUIÇÃO URBANA NAS BACIAS DE DRENAGEM DAS BARRAGENS DE ALQUEVA E PEDRÓGÃO Margarida FONSECA Engª do Ambiente, Directora de Projecto da PROCESL - Engenharia Hidráulica e Ambiental, Lda. SintraCascais Escritórios-Rua da Tapada da Quinta de Cima-Linhó-2714-555 SINTRA, +351.21.910 45 87, mfonseca@procesl.pt Maria Helena TAVARES Engª Química e Sanitarista, Directora de Projecto da PROCESL - Engenharia Hidráulica e Ambiental, Lda. mtavares@procesl.pt Alexandra CARDOSO Engª Civil e Sanitarista, Directora Geral da UNIREDE - Sistemas de Informação e Gestão, Lda. Rua Poeta Bocage, 2-3ºEsqº, 1600-233 LISBOA, +351.21.711 14 45, alexandra.cardoso@unirede.pt Resumo - A comunicação sintetiza o estudo realizado para a EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, S.A. sobre a bacia hidrográfica do Rio Guadiana na secção da barragem de Pedrógão, em especial na área em território nacional que drena directamente para as albufeiras de Alqueva e Pedrógão, visando referenciar e caracterizar as fontes de poluição urbana e programar as intervenções a desenvolver para atenuar as cargas poluentes respectivas em articulação com os requisitos legais e de qualidade das águas superficiais. Enquadrados inicialmente os condicionantes estruturais e legais e tendo presente a significativa importância da componente internacional desta bacia hidrográfica, foram depois sistematizadas as características mais relevantes da situação quanto à qualidade do meio hídrico e as alterações previsíveis com o enchimento da albufeira de Alqueva, sendo referenciado o desenvolvimento turístico que se prevê para a sua envolvente. Subsequentemente foi avaliada a contribuição, para a poluição tópica e urbana, de cada subbacia hidrográfica principal do Rio Guadiana, em Portugal e Espanha, para percepção da importância e distribuição das cargas poluentes afluentes aquele rio. Em relação ao território nacional, foram depois georeferenciadas e avaliadas todas as descargas de águas residuais urbanas, e caracterizadas, mediante levantamento individualizado, as instalações de tratamento existentes e respectivas condições de funcionamento. A concluir, foram definidos condicionantes específicos a respeitar por certos efluentes urbanos, foram estabelecidas as prioridades de intervenção relativamente às descargas desses efluentes e foi apresentado um conjunto de recomendações específicas. Palavras-chave Alqueva, Qualidade das águas superficiais, Poluição urbana, Tratamento das águas residuais urbanas 1

1 - ESTADO DE QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS A situação é marcada, à partida, pelo facto de o Guadiana ser um rio internacional e de apenas cerca de 17 % da sua bacia hidrográfica se situar em Portugal, bem como pela significativa irregularidade interanual e sazonal do escoamento daquele curso de água. Na área de estudo em território português, estudos desenvolvidos com base em dados até 1997 indicavam que: - O Guadiana está já muito poluído (pela presença de poluentes biodegradáveis) na entrada em Portugal, sobretudo em anos secos, sendo a qualidade da sua água fortemente dependente da proveniente de Espanha. Quanto à sua qualidade microbiana, em meados da década de 90 os valores médios anuais eram consentâneos com as exigências para captação destinada à produção de água para consumo humano, mas só no troço final da área de estudo - onde se prevêem criar as Aldeias de Água, com infraestruturas ligadas ao turismo e lazer - havia conformidade com os requisitos para águas balneares; em nenhum troço dessa área se respeitavam os limites recomendados para águas de rega; - Nos afluentes monitorizados do Rio Guadiana - Ardila, Caia, Degebe, Lucefécit - a água está também poluída ou muito poluída, por excesso de matéria orgânica e nutrientes, carência de oxigénio dissolvido e elevada concentração bacteriana. Dados recentes sobre a mesma área permitiam concluir que: - Quanto à aptidão das águas superficiais para determinadas utilizações, constata-se que: a) em três das cinco captações destinadas à produção de água para consumo humano - albufeiras de Bufo, Caia e Monte Novo - se tem mantido sistematicamente qualidade inadequada face aos requisitos formais dessa utilização; b) na única zona balnear classificada - albufeira do Caia - a qualidade tem sido muito irregular, com incumprimento, nos últimos anos, das normas de qualidade aplicáveis; c) o Rio Degebe e a Ribeira de Lucefécit não cumpriram, em 2000/2001, os requisitos legais para águas de ciprinídeos para que estão classificadas. Apenas as albufeiras dos aproveitamentos hidroagrícolas do Estado monitorizadas - Lucefécit e Vigia - mantêm água de qualidade consentânea com as exigências legais relativas a águas para rega, embora a persistência de elevadas concentrações bacterianas possa introduzir restrições ao seu uso em determinadas culturas; - As cinco albufeiras de águas públicas - Bufo, Caia, Lucefécit, Monte Novo, Vigia - estão fortemente eutrofizadas, bem como o Rio Guadiana (sobretudo no seu troço superior), com desenvolvimento excessivo de algas e ocorrência de cianofíceas, potencialmente perigosas para a saúde pública na ingestão e/ou no contacto com a água. Existem diversas opiniões sobre qual o nutriente limitante nos diversos locais, mas há um consenso de que devem ser tomadas medidas para controlo do crescimento das algas e que o controlo dos nutrientes deve ser feito desde o início da sua formação. Por sua vez, na Albufeira de Alqueva, por simulações efectuadas fundamentalmente com base em dados analíticos de 1998/99, concluía-se que, em ano húmido, eram previsíveis problemas com elevados valores de CBO5, azoto amoniacal e fosfatos, no Inverno, com carência de oxigénio dissolvido no Verão e com estados de elevada eutrofização na Primavera/Verão; em ano seco, previa-se uma situação mais favorável. Acresce que: - Toda a área de estudo em território nacional está formalmente classificada como zona sensível na acepção do Decreto-Lei n.º 152/97 de 19 de Junho (pelo que se exige legalmente um tratamento superior ao secundário aos efluentes de aglomerados com mais de 10 000 habitantes-equivalentes que nela descarreguem para cumprimento dos requisitos resultantes das 2

directivas da UE sobre a qualidade do meio receptor) e a grande maioria dela abrange zonas de interesse para a Conservação da Natureza; - A proposta de objectivos de qualidade apresentada pelo INAG em 1996 considera que: a) todo o curso do Rio Guadiana a montante da confluência com o Ardila deverá satisfazer os requisitos legais para águas superficiais destinadas à captação de água para consumo humano, o mesmo sucedendo, nomeadamente, com o troço do Rio Degebe sensivelmente a jusante da foz da Ribeira da Azambuja e a montante da Barragem de Monte Novo, o troço do Rio Caia a montante da Barragem do Caia e o troço do Ardila a montante da actual captação; b) o Rio Guadiana sensivelmente a jusante da confluência da Ribeira de Varche e as albufeiras de Caia, Lucefécit, Monte Novo e Vigia, deverão cumprir as exigências legais para águas balneares; c) todo o curso do Rio Ardila, bem como o Rio Guadiana até à confluência da Ribeira de Alcarrache, além do troço do Rio Degebe a jusante da Barragem de Monte Novo e das albufeiras do Caia, Lucefécit e Vigia, nomeadamente, deverão satisfazer os requisitos da lei para águas ciprinícolas. 2 - SITUAÇÃO QUANTO À DESCARGA DE ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS Constatou-se que: - Na área de estudo (incluindo o território português e o território espanhol), no que se refere à carga poluente associada a águas residuais urbanas, quase 94 % da carga total em CBO5, bem como cerca de 87 % da carga total em azoto e em fósforo, gerada nesta área, provém de território espanhol; - Em território português, as sub-bacias que geram maiores cargas poluentes urbanas são, sequencialmente, as do Degebe (com cerca de 24 %), Caia (com cerca de 20 %), Álamo, Ardila e Asseca, no conjunto das quais se produz cerca de 77 % da carga gerada nesse território. Em território português, segundo o levantamento efectuado em Abril de 2003 no âmbito deste estudo (vd. Figura 1): - Num total de 108 449 habitantes, a população dispondo de instalações de tratamento das suas águas residuais urbanas (ETAR) era de 76 %, sendo 13 % servidos com fossas sépticas colectivas; os restantes 11 % descarregavam as suas águas residuais urbanas sem qualquer tratamento; - Das 107 fontes de poluição tópica urbana que foram identificadas, distribuídas por 15 concelhos e espacialmente muito pulverizadas - uma vez que 78 % dessas fontes estão associadas a aglomerados com menos de 1 000 habitantes - 45 (42 %) eram fossas sépticas colectivas, 42 (39 %) eram ETAR e 20 (19 %) correspondiam a descargas sem tratamento, sendo todas estas últimas efectuadas directamente na albufeira de Alqueva; - Das 42 ETAR existentes, foram auditadas detalhadamente todas as que se localizavam na área que drena directamente para as albufeiras de Alqueva/Pedrógão e para os seus afluentes a jusante das barragens existentes, ou que se localizavam fora dessa área desde que relativas a aglomerados com mais de 2 000 habitantes, num total de 24; - Das 42 ETAR existentes, 30 estavam em funcionamento e as restantes 12 estavam fora de serviço, ainda que temporariamente; - Dessas 30 ETAR em funcionamento, apenas quatro (13 %) se puderam considerar com funcionamento razoável ou bom; as restantes 26, ou apresentavam mau funcionamento (40 %), ou os dados de controlo analítico de que dispunham eram insuficientes para uma avaliação do seu funcionamento ou não existiam (47 %); - O tratamento das lamas era, em quase todos os casos, incipiente; 3

7º Congresso da Água Figura 1 Locais de descarga de águas residuais urbanas ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS RECURSOS HÍDRICOS 4

- A existência de um elevado número de ETAR por lagunagem 15, no total e as características climáticas da região perspectivam boas possibilidades de reutilização para rega agrícola ou urbana das águas residuais tratadas; - As ETAR de maior dimensão em funcionamento eram a de Elvas (para 16 000 habitantes, em funcionamento parcial), a de Moura (para 8 760 habitantes), a de Reguengos de Monsaraz (para 6 000 habitantes), as de Campo Maior/Bacia B e Bacia A (para 4 150 e 3 150 habitantes, respectivamente) e a de Borba (para 4 000 habitantes); as restantes serviam populações inferiores a 3 000 habitantes; - Quanto às descargas sem tratamento, a maioria localiza-se no concelho de Reguengos de Monsaraz (com 60 % do total) e drenam, na sua quase totalidade, directamente para a albufeira de Alqueva; - Relativamente às obras previstas, destacam-se, pela dimensão das populações a beneficiar: a) relativamente à área sob gestão da empresa Águas do Norte Alentejano, SA, a ampliação e remodelação da ETAR de Elvas, a remodelação das duas ETAR de Campo Maior e a remodelação da ETAR de Arronches; b) na área sob gestão da empresa Águas do Centro Alentejo, SA, a reabilitação e reforço do nível de tratamento das ETAR de Reguengos de Monsaraz e o reforço do nível de tratamento da ETAR de Borba. Em qualquer destes casos, prevê-se a disponibilização de tratamento terciário para remoção de nutrientes. 3 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES - Na área de estudo em território nacional, as maiores preocupações centram-se na área que drena directamente para o Rio Guadiana acrescida da parte das bacias hidrográficas dos seus principais afluentes a jusante das barragens existentes, onde, simultaneamente, as carências de infraestruturas de águas residuais são mais significativas; - Atendendo à necessidade de promover a redução dos nutrientes na origem e à reduzida dimensão da generalidade dos núcleos populacionais, e tendo presente que toda a área em território nacional está classificada como zona sensível, foi proposto reduzir de 10 000 para 2 000 o limite de população dos aglomerados acima da qual haverá que prever tratamento terciário para redução de nutrientes às águas residuais urbanas e incluir também neste contexto as descargas directas na albufeira de Alqueva seja qual for a dimensão do respectivo aglomerado. Além de Elvas (o único aglomerado com mais de 10 000 habitantes, já com tratamento secundário), esta proposta incluíu assim Amareleja, Borba, Portel, Reguengos de Monsaraz, Moura e Vila Viçosa, por corresponderem a populações entre 2 000 e 10 000 habitantes, bem como Granja, Luz e Monte Novo, por descarregarem directamente na albufeira de Alqueva; - Quanto à contaminação bacteriana, foi decidido propor o tratamento terciário com desinfecção às águas residuais de aglomerados com um mínimo de 500 habitantes localizados na envolvente próxima das zonas balneares existentes ou a criar; - Foi elaborada uma listagem das fontes de poluição urbana relevantes sequenciada em quatro níveis de faseamento das intervenções para a respectiva despoluição, atendendo à respectiva população e à proximidade das albufeiras de Alqueva e Pedrógão; - Além de sugestões que foram apresentadas, nomeadamente para evitar descargas emersas nas albufeiras de Alqueva, foram propostos diversos estudos para avaliar a poluição de origem industrial, agropecuária e agrícola difusa, para definir as melhores soluções para os pontos de descarga de águas residuais urbanas sem tratamento, para averiguar as condições de funcionamento dos sistemas do tipo fossa séptica e para analisar as situações de descarga de efluentes industriais nas redes urbanas de colectores; 5

- Foram ainda sugeridas avaliações regulares do estado da situação, bem como acções de divulgação, informação e sensibilização das populações quanto ao uso e defesa da qualidade da água e também acções de lobby junto das entidades responsáveis para promover a melhoria da qualidade da água do Guadiana proveniente de Espanha. AGRADECIMENTOS São devidos agradecimentos à EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, S.A., pelo acompanhamento activo e empenhado da progressão do estudo e à Comissão de Coordenação e de Desenvolvimento Regional do Alentejo pela contribuição com informação relevante. BIBLIOGRAFIA PROCESL/UNIREDE - Estudo da Situação das Fontes de Poluição Urbana na Bacia Hidrográfica da Barragem de Pedrógão, EDIA, 2003. 6