CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM E O ENSINO DE GEOGRAFIA ESCOLAR

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Transcrição:

CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM E O ENSINO DE GEOGRAFIA ESCOLAR META Conhecer as concepções da aprendizagem e sua relação com o ensino da Geografi a escolar. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: reconhecer a importância das concepções de aprendizagem para o ensino da Geografi a; refletir sobre a prática pedagógica geográfi ca a partir das concepções de aprendizagem. PRÉ-REQUISITOS anterior.

Laboratório de Ensino em Geografia INTRODUÇÃO Caríssimos(as), Os reflexos da Geografia Tradicional ainda estão embutidos na Geografia escolar. Assim, é importante que os profissionais que estão diretamente ligados ao ensino reflitam sobre a didática e os procedimentos metodológicos usados em sala da aula. Assim, movidos pela necessidade de tornar o ensino da Geografia mais compreensível para o aluno do ensino básico, procuramos analisar as contribuições das teorias da aprendizagem para a Geografia escolar, a partir das concepções construtivista e sócio-construtivista. Para dinamizar a relação ensino/aprendizagem é importante partir daquilo que o aluno já sabe, enfatizando seu espaço vivido. Nessa ótica, os educadores podem criar situações didáticas e metodológicas com a finalidade de descobrir esses conhecimentos, designados de conhecimentos prévios, para construir o saber geográfico. EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E AS CONCEPÇÕES DA APRENDIZAGEM Apesar das mudanças ocorridas ao longo da história da educação no Brasil, de forma geral e na Geografia em específico, pode-se afirmar que continua sendo vista como a disciplina da decoreba. A Geografia é uma ciência que integra contribuições de todos os campos do saber e que deve ter uma função central na necessária renovação do ensino, pois trás para a sala de aula a discussão sobre assuntos locais e globais. O ensino de Geografia contribui para a formação de cidadãos responsáveis, críticos, atuantes e comprometidos com o presente e o futuro. Por meio dessa disciplina, se propõe a construir e reconstruir valores importantes para a vida em sociedade. Para Claval (1996), a Geografia prepara os homens para serem cidadãos do mundo. Alcançar tal objetivo a partir da idéia de construir o espaço na sua dimensão cultural, econômica, ambiental e social é um grande desafio tanto da Geografia [enquanto ciência], como da geografia escolar. Todavia, pensar que os fenômenos geográficos podem ser analisados articuladamente e em diferentes escalas, significa analisá-los conceitualmente, em função de diversas práticas e das representações sociais (CASTELLAR, 005). Neste contexto, para a autora (p. 11), a aprendizagem da Geografia no ensino básico, pode ser associada aos seguintes objetivos: a) Capacitar para a aplicação dos saberes geográficos nos trabalhos relativos a outras competências e, em particular, para a utilização de mapas e métodos de trabalho de campo; b) Aumentar o conhecimento e a compreensão dos espaços nos contex- 18

Concepções de aprendizagem e o ensino de Geografia escolar tos locais, regionais, nacionais, internacionais e mundiais e, em particular partindo da compreensão: - do espaço territorial; - dos traços característicos que dão a um lugar a sua identidade; - das semelhanças e diferenças entre os lugares; - das relações entre diferentes temas e problemas de localizações particulares; - dos domínios que caracterizam o meio físico e a maneira como os lugares foram sendo organizados socialmente; - da utilização e do mau uso dos recursos naturais. A autora ressalta que esses objetivos estão diretamente ligados ao método de análise do saber geográfico, apontando para novas possibilidades de alteração do currículo da geografia escolar e, conseqüentemente, a maneira de pensar o conhecimento geográfico. As tentativas apontam para mudanças na postura, na linguagem e nas atividades de aprendizagem, de forma que leve o educando a refletir sobre a realidade, a sociedade e a dinâmica do espaço. Desse modo, faz-se necessário a compreensão das concepções teóricas da aprendizagem para alcançar resultados positivos no âmbito da Geografia escolar, de forma que contribua para a relação ensino/aprendizagem, do saber pedagógico em relação ao que se ensina e como se ensina, ou seja, auxiliando a ação pedagógica, no sentido de levar o professor a pensar sobre a didática adotada em sala de aula que reflete sobre a maneira de como o aluno compreende o saber geográfico. É preciso que a Geografia perda esse rótulo de matéria decorativa, herdada da Geografia Tradicional. CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS CONSTRUTIVISTA E SOCIOCONSTRUTIVISTA NO CAMPO GEOGRÁFICO Nos últimos anos as discussões sobre o processo de aprendizagem com base nas teorias construtivista e sócio-construtivista trouxeram uma grande contribuição aos educadores, levando-os a repensar suas posições em relação ao que se ensina e como se ensina. Essas contribuições levaram esses profissionais educacionais a refletir sobre a didática da sala de aula, assim como sobre a forma como os alunos compreendem o conhecimento escolar. O Construtivismo é uma das teorias que tende a explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do principio de que o desenvolvimento intelectual é determinado pelas ações mútuas entre o individuo e o meio (CARRETERO, 00). Uma das características básicas da teoria do construtivismo de Vygotsky, é a do caráter histórico e social dos processos psicológicos superiores (percepção, memória, pensamento) desenvolverem-se na sua relação com o meio social, ou seja, a idéia de que esses processos, que têm a característica 19

Laboratório de Ensino em Geografia de alto grau de universalização e descontextualização da realidade empírica imediata (VYGOTSKY, 1988). Para Vasconcelos (1996), os estudos de Piaget têm embasamento construtivista, uma vez que concebe que o indivíduo (re)elabora seus conhecimentos ao longo da vida, a partir de desequilíbrios e reequilíbrios sucessivos de estruturas intelectuais, na medida que interage com o mundo. Assim, de acordo com seus pressupostos, o conhecimento não é fornecido pelo meio nem preexiste no indivíduo, ele é construído. Vários pensadores deixaram contribuições marcantes tanto na educação brasileira de forma geral como para a Geografia em específico. Entre eles pode-se lembrar de Rousseau que embora algumas idéias tenham sido contestadas, outras permanecem na contemporaneidade. Dessa forma, pode-se afirmar que a partir delas o pensamento pedagógico teve uma grande evolução no campo educacional. Entre seus discípulos destacam-se Basedow e Pestalozzi (CALLAI, 006). A autora aborda que em vários momentos de suas escritas Rosseau tratava especificamente do ensino da Geografia, onde suas propostas trazem para discussão a necessidade de conhecer os caracteres nacionais, as condições históricas e geográficas e os arranjos do espaço ou território. O autor já fazia importantes observações no tocante ao ensino geográfico. Para ele, deveria haver muita perspicácia na análise para entender um povo e o seu lugar, e não ficando apenas em meras descrições. Para o autor os ensinamentos deveriam ser feitos por meio do livro da natureza, onde a criança deve aprender com a observação, a partir de suas experiências. Neste contexto, um bom exemplo vale muito mais que longos e belos discursos. Na corrente da psicologia genética, conhecida como o construtivismo epistemológico, o conhecimento é visto como um processo de compreensão da realidade, a partir das concepções que as pessoas possuem dos objetos e fenômenos, em consonância com seus conhecimentos e experiências. Dessa forma, a aprendizagem consiste em conjugar, confrontar ou negociar o conhecimento entre o que vem do exterior e o que há no interior delas (CASTELLAR, 006). Observa-se em grande parte das escolas uma maior preocupação com o conteúdo curricular e não com o que fazer para que o aluno aprenda e não apenas memorize (CASTELLAR, 006). Para Piaget (1967 apud CAS- TELLAR, 006) o conhecer não significa copiar o real, mas agir sobre ele e transformá-lo, para que possa compreendê-lo em função dos sistemas de transformações. Acrescenta ainda, que para conhecer os fenômenos físicos não basta apenas descrevê-lo, é preciso conhecer a interação existente entre os acontecimentos. Gardner (000) frisa que a integração dos princípios construtivistas nas salas de aula pode ser feita mediante a realização de projetos. Envolvendo a observação da vida extra-escolar, propiciando aos alunos a oportunidade de organizar os conceitos e habilidades previamente estabelecidas, utilizando-os 0

Concepções de aprendizagem e o ensino de Geografia escolar ao serviço de um novo objetivo ou empreendimento. A participação ativa em atividades colaborativas e o dialogo a partir das experiências partilhadas são indispensáveis para suportar a negociação e a criação da significação e da compreensão. A aquisição do conhecimento deve ser compreendida como um processo de autoconstrução contínua, ou seja, a gênese do conhecimento explica-se através da função adaptativa dos sujeitos em sua interação com o meio, evidentemente, incluindo sua realidade (PIAGET, 003). Para compreender alguns conceitos básicos da Geografia, como por exemplo, o de lugar, é importante que a criança desenhe o seu lugar de vivência (a rua, a quadra onde mora, a escola e outros lugares mais distantes) para agir sobre ele e transformá-lo. É importante que as ações motivem o aluno a pensar sobre noções e conceitos, relacionando o senso comum com o científico, ou seja, a partir do real para o abstrato, e utilizando as representações simbólicas, as relações espaciais. Nesse sentido, a cartografia escolar deve ser utilizada como uma opção metodológica, o que implica em usá-la em todos os conteúdos da Geografia. Nesse contexto, é preciso levar o aluno não apenas a identificar os países, mas a compreender as relações existentes entre eles, assim como os conflitos e a ocupação do espaço a partir da interpretação e leitura de códigos específicos da cartografia (CAS- TELLAR, 005, 006). Conforme a autora (006) compreensão e a interpretação dos fenômenos geográficos passam a ter significado quando a criança entende a diversidade das formas de organização dos lugares, e compreende determinados conceitos, como o de território. Desta forma, a leitura de mapas e a elaboração de mapas cognitivos são imprescindíveis para a compreensão do discurso geográfico. O ensino da Geografia deve superar a aprendizagem repetitiva e arbitrária, passando a adotar novas práticas de ensino, sobretudo, investindo nas habilidades: análises interpretações e aplicações em situações práticas. Neste sentido, ensinar Geografia vai além da transmissão de informação, de ministrar conteúdos desconectados, é articular o conhecimento geográfico na perspectiva de conexão entre a dimensão física e humana, superando as dicotomias, utilizando a linguagem cartográfica para valorizar a Geografia escolar, com o objetivo de compreender e relacionar os fenômenos abordados (CASTELLAR, 006: 48). Por outro lado, nas análises de Juque, Ortega & Cubero (1998) no construtivismo não encontramos explicação para tudo o que ocorre, nem no mundo, nem na escola, trata-se de uma perspectiva epistemológica a partir da qual se tenta explicar o desenvolvimento humano, ajudando a compreender os processos de aprendizagem e as práticas sociais formais e informais. Já a teoria sócio-construtivista tem Vygotsky como grande referência, 1

Laboratório de Ensino em Geografia Educando O aluno é o sujeito ativo de seu processo de formação e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social; o professor tem o papel de mediador do processo de formação do aluno; a mediação própria do trabalho do professor é propiciar a inter-relação entre sujeito (aluno) e o objeto de seu conhecimento (conteúdo escolar); nessa mediação, o saber do aluno é uma dimensão importante do seu processo de conhecimento (processo de ensino-aprendizagem) (CAVALCANTTI, 005). além de inúmeros seguidores que a exploraram e aprofundaram. Essa teoria tem sido referência para as práticas educativas na geografia. Nessa teoria, o ensino escolar não deve ser identificado como desenvolvimento, mas sua realização eficaz resulta no desenvolvimento intelectual do aluno. Para Cavalcanti (00) essa teoria reconhece o ensino como uma intervenção intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do aluno, buscando sua relação consciente e ativa com os objetos de conhecimento, tendo como objetivo a construção do conhecimento pelo aluno. Sendo assim, o aluno deve ser sujeito do processo, em atividade diante do meio externo, que deve ser inserido no processo como objeto do conhecimento. Segundo Cavalcanti (006) no âmbito da educação e do ensino, num mundo globalizado, o conjunto de experiências tem aumentado a discussão sobre uma orientação do espaço escolar considerando o interculturalismo. Um princípio político-pedagógico que defende uma prática na escola e na sala de aula voltada para a formação de cidadãos democráticos, ligada ao exercício dos direitos e a idéia de igualdade e de vivência com as diferenças, de respeito às identidades culturais, de garantida do diálogo, como também dos confrontos entre elas. Num contexto social, democrático e igualitário, é fundamental enfrentar as desigualdades da sociedade brasileira, para caminhar em direção à construção da cidadania, considerando, na visão de Paulo Freire (1987), que somente uma educação libertadora e humanística contribuirá de forma significativa para que o indivíduo reconheça seus direitos e deveres na sociedade. A escola, elaborada a partir do paradigma da modernidade e estabelecida segundo as necessidades de um mundo industrializado, já vem sendo questionada há algum tempo. A Geografia, como disciplina inserida nesse modelo, não fica imune aos questionamentos. A partir da necessidade de novas mudanças de uma nova escola, de uma nova Geografia, Carvalho (1998) faz um questionamento pertinente: Que caminho tomou o ensino da geografia? Para analisar esse tema e refletir sobre o ensino de geografia, Cavalcanti (005) partiu de alguns pressupostos, tais como: a relação cognitiva de crianças, jovens e adultos com o mundo, onde percebeu que o raciocínio espacial é necessário, pois as práticas sociais cotidianas têm uma dimensão espacial, conferindo relevância ao ensino de Geografia na escola; os alunos dispõem de conhecimentos geográficos oriundos de sua relação direta e cotidiana com o espaço vivido; o desenvolvimento de um raciocínio espacial conceitual pelos alunos depende, também de uma relação intersubjetiva no contexto escolar. É importante abordar que essas e outras orientações metodológicas são frutos da visão sócio-construtivista do ensino, levando em consideração a construção de conhecimentos pelo educando. Para Cavalcanti (005) ao ensinarem Geografia, os professores, devem trabalhar na perspectiva de construção de conceitos, categorias e teorias, a partir dos quais constrói seu discurso, também chamado de linguagem geográfica. Assim, é importante uma relação entre cotidiano, mediação

Concepções de aprendizagem e o ensino de Geografia escolar pedagógica e formação de conceitos no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, a partir da geografia do dia a dia dos alunos de forma que a dimensão do espaço vivido esteja conectada com a dimensão da Geografia científica. A aprendizagem geográfica requer a formação de conceitos geográficos, sendo necessário que o ensino se volte para a apropriação de significados geográficos, processo que ocorre na negociação de significados resultante da relação ensino/aprendizagem. A formação de conceitos geográficos científicos (espaço geográfico, lugar, paisagem, território, região e redes geográficas) não é nada fácil. Assim, partindo da teoria sócio-construtivista, inserindo o aluno como sujeito ativo nesse processo de ensino/aprendizagerm poder-se-á facilitar tal construção. Outrossim, além da importância dos temas estudados na Geografia, é preciso que o professor vá além da apresentação dos fatos, ou seja, não basta apresentar os conteúdos geográficos, para que o aluno assimile, mas sobretudo, trabalhar com os conteúdos realizando tratamento didático, transformando-o em ferramenta simbólica do pensamento. CONCLUSÃO O processo de ensino/aprendizagem no contexto atual tem sido um desafio para os professores. Neste contexto, torna-se fundamental rever a didática e os procedimentos metodológicos até então adotados. É importante que esses profissionais tenham a preocupação de contribuir para desenvolver a capacidade, tanto nele como no aluno, de pensar, refletir, criticar e criar. No contexto da Geografia escolar, a leitura do lugar de vivência está diretamente ligada aos conceitos que estruturam o conhecimento geográfico, como o de espaço geográfico, lugar, território, paisagem, região, ambiente, natureza, espaço e tempo, redes geográficas, paisagem, entre outros necessários. Assim, no sentido de dinamizar e tornar as aulas de Geografia mais prazerosas e compreensiva para o aluno, é importante partir do espaço vivido do aluno, aproveitando prévio conhecimento que ele possui, numa perspectiva sócio-construtivista. 3

Laboratório de Ensino em Geografia RESUMO No contexto da Geografia escolar as teorias construtivista e sócioconstrutivista trouxeram várias contribuições. É preciso que o professor esteja preparado para entendê-las e aplicá-las em sala de aula, partindo do pressuposto da importância de enfatizar o espaço vivido do aluno, de forma que o mesmo possa entender as relações local/global. ATIVIDADES A partir da leitura do texto responda: 1. Quais as principais vantagens e desvantagens das teorias estudas para o ensino da Geografia escolar?. Partindo da análise teórica, é possível aplicar as teorias construtivista e sócio-construtivista em sala de aula para o ensino básico da Geografia? Justifique sua resposta. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES As questões estão voltadas para o exercício mental que você precisa fazer sobre a prática docente, a partir das teorias apresentadas. AUTOAVALIAÇÃO Releia o texto, e faça uma reflexão sobre a necessidade de trabalhar a prática docente a partir das teorias apresentadas. REFERÊNCIAS CALLAI, H. C. A articulação teoria-prática na formação do professor de geografia. In: SILVA, A. M. et al,. Educação formal e não formal, processos formativos e saberes pedagógicos: desafios para inclusão social. Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Recife: ENDIPE, 006. p. 143-161. CARRETERO, M. Construtivismo e Educação. Porto Alegre. Artmed, 1997. CASTELLAR, S. M. V. A psicologia genética e a aprendizagem no ensino da Geografia. In: CASTELAR, S. M. (Org.). Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. ª Ed. São Paulo: Contexto, 006. p. 38-50. 4

Concepções de aprendizagem e o ensino de Geografia escolar CASTELLAR, S. M. V. Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. In: Cadernos Cedes. Campinas, v. 5, n. 66, p. 09-5, mai.-ago. 005. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Acesso em 10/08/010. CASTELLAR, S. M. V. Educação geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. In: Cadernos Cedes. Campinas, v. 5, n. 66, p. 09-5, mai.-ago. 005. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Acesso em 10/08/010. CAVALCANTI, L. S. Cotidiano, mediação pedagógica e formação de conceitos: uma contribuição de Vygotsky ao ensino de Geografia. In: Cad. CEDES. Vol. 5, n 66. ISSN 0101-36. Campinas May/Aug. 005. CAVALCANTI, L. S. Ensino de Geografia e diversidade: construção de conhecimentos geográficos escolares e atribuições de significados pelos diversos sujeitos do processo de ensino. In: CASTELAR, S. M. (Org). Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. ª Ed. São Paulo: Contexto, 006. p. 66-78. CAVALCANTI, L. S. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 00. CLAVAL, Paul. La géographie comme genre de vie. Paris, L Harmattan, 1996. FREIRE, P. Papel da educação na humanização. AGB, Seleção de Textos, n 17. 1987, p.01-13. JUQUE, A; ORTEGA, R.; CUBERO, R. Concepções construtivistas e prática escolar. In: ARNAY, J. (Org.). Domínios do conhecimento, prática educativa e formação de professores. São Paulo: Ática, 1998. p. 16. PIAGET, J. Biologia e conhecimento. 4ª edição. Petrópolis: Vozes, 003. VASCONCELOS, M. S. A difusão das idéias de Piaget no Brasil. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. VYGOTSKY, L. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 5