PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO EM CONTOS INFANTIS: INTERFACES COM A LEI 10.639/03, DCN s PARA A EDUCAÇÃO ÉTNICO- RACIAL E PCN s DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Cecília de Lima 1 Instituto de Letras e Lingüística Rua, João Naves de Ávila, 2121 Bloco 1U mariaceciliadelima@gmail.com Jussara Gabriel dos Santos 2 Faculdade de Educação Rua, João Naves de Ávila, 2121 Bloco 1G jubinhamineira@hotmail.com Resumo: O presente trabalho intitulado Análise crítica do discurso em contos infantis: interfaces com a lei 10.639/03, Diretrizes Curriculares Naconais(DCN s) para a educação étnico-racial e Parâmetros Curriculares Nacionais(PCN s) de língua portuguesa é uma proposta de projeto de Iniciação Científica pelo Instituto de Letras e Linguística, em processo de aprovação pelo Conselho do Instituto de Letras e pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Uberlândia, que objetiva analisar discursos dos contos trabalhados pelas professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, nas escolas públicas de Uberlândia, para detectar qual o modo de operação da ideologia predominante na constituição da identidade e na representação da criança negra, visando a promoção da igualdade racial na sala de aula, a implementação da lei 10.639/03 que obriga o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no ensino fundamental e médio, dos DCN s para a educação étnico-racial e PCN`s da língua portuguesa. O arcabouço teórico parte da Análise de Discurso Crítica (Fairclough, 2001; Chouliaraki e Fairclough, 1999; Resende e Ramalho, 2006) bem como estudos sobre gêneros discursivos, indicando com isso, um caminho possível para se trabalhar com contos a fim de evitar práticas racistas, discriminatórias e preconceituosas no âmbito escolar. Palavras chave: Educação, Igualdade Racial, Contos, Análise do Discurso Crítica, Gêneros discursivos 1.INTRODUÇÃO Este projeto de Iniciação Científica, a ser desenvolvido; em processo de aprovação pelo Conselho do Instituto de Letras e Lingüística e pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Uberlândia, será parte integrante de pesquisa realizada por um dos membros do GEPL (Grupo de Práticas de Linguagem do ILEEL) - que é integrante de um grupo maior denominado Grupo de Pesquisa e Estudos em Práticas e Metodologia de Ensino de Letras do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia, cujo credenciamento encontra-se em tramitação junto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), bem como do 1 ORIENTADORA: Profa. Dra. em Linguística (Análise de Discurso Crítica) do Instituto de Letras e Linguística (ILEEL) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 2 ORIENTANDA: Estudante da Faculdade de Educação Curso Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia e estagiária voluntária do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB-UFU) 1
Grupo de pesquisa e estudos em Análise de Discurso Crítica e Linguística Sistêmico-Funcional já credenciado no Cnpq certificado pela Reitoria da Universidade Federal de Uberlândia. A presente pesquisa pretende analisar o discurso de gêneros discursivos indicados pelos PCNs para o trabalho com a linguagem oral e escrita quando trabalhados em sala de aula de Língua Portuguesa (leitura, produção de textos, literatura); principalmente contos infantis trabalhados pelos (as) professores (as) em aulas de Língua Portuguesa nos anos iniciais do ensino fundamental em escolas públicas de Uberlândia esses, critérios de inclusão e exclusão dos (as) professores (as) na pesquisa Esta pesquisa não apresenta riscos para o sujeito de pesquisa, professores (as) mas sim benefícios. Pois através dos gêneros discursivos, principalmente, os contos trabalhados pelos/as docentes, poderemos analisar como os discursos veiculados nos gêneros contribuem com a constituição de identidades das crianças, em especial das crianças negras. A análise dos discursos veiculados nos gênero poderá alertar aos/às docentes sobre o poder constitutivo do discurso nessas crianças, a fim de evitar práticas racistas, discriminatórias e preconceituosas e buscar uma educação que promova a igualdade étnico-racial. Portanto, com a adesão de tais professores (as) nessa pesquisa pode-se afirmar que instigarão futuros e atuais professores (as) 3 a refletirem criticamente sobre suas práticas educativas, no que se concerne à educação das relações étnico-raciais na sala de aula. A análise crítica de gêneros discursivos, em especial, contos infantis - perspectiva indicada pelos Valores, Normas e Atitudes dos conteúdos gerais das séries iniciais do Ensino Fundamental nos PCN s de Língua Portuguesa - não se restringe ao texto em si, mas em questões sociais que incluem maneiras de representar a realidade, manifestação de identidades e relações de poder no mundo contemporâneo.(meurer, 2005, p.81). (...) embora os discursos afirmem a necessidade de se manter uma postura ética em todas as atividades sociais, há diferentes valores sendo praticados, muitas vezes contraditórios com esses discursos. Há os discursos e as práticas justas, mas há também a ideologia de levar vantagem em tudo, a busca e a aceitação de privilégios (...) (Ministério de Educação, 2001 apud NEVES, 2008, p.73) Nessa perspectiva, a identificação da ideologia dominante no discurso dos gêneros discursivos indicados nos PCNs, em especial de contos infantis, é colocar transparente o poder constitutivo do mesmo, ou seja, seus efeitos constitutivos nos indivíduos, especificamente, nas crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental pautando-se em três dimensões: i) formas de conhecimento e crenças; ii) relações sociais e iii) identidades; e no que tange os objetivos gerais dos PCN s de Língua Portuguesa: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. (BRASIL, 1997, p. 7-8) 3 Chamo de profissionais da Educação ou futuros profissionais da educação aquelas pessoas, de algum modo, ligadas ao trabalho com a Educação, os estudantes das diversas graduações e da Pedagogia, bem como as pessoas já graduadas nessas áreas. 2
No entanto, a ideologia predominante nos contos infantis, em especial, internaliza nas crianças negras, quais crenças, conhecimentos, relações sociais e identidades? Desse modo, a lei 10.639/03 motivadora de tal pesquisa -, juntamente com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana é visto como veículo de combate ao racismo e de promoção da igualdade étnico-racial nas escolas (Ministério de Educação, 2001 apud NEVES, 2008.p.79). Nesse sentido, a análise crítica do discurso em gêneros discursivos, em especial, em contos infantis, além de analisar criticamente a relação dos contos infantis com a estrutura social e racial do Brasil, traz também como proposta a elaboração de um percurso pedagógico para o trabalho com gêneros que contemplem o que é preconizado pela lei 10.639/03 e pelos PCNs nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A saber, um percurso pedagógico a partir de contos infantis africanos e afrobrasileiros. O critério único para a suspensão e encerramento da pesquisa com docentes selecionados (as) é a negação dos (as) mesmos (as) em responder o questionário/entrevista, que constitui a primeira etapa de tal projeto. 2. OBJETIVOS Objetivo Geral: Analisar o discurso em gêneros discursivos indicados pelos PCNs para o trabalho com linguagem oral e escrita, em especial, os contos infantis mais trabalhados nas séries iniciais do ensino fundamental. Objetivos específicos: detectar qual e o modo de operação da ideologia nos discursos dos contos analisados; descrever o poder constitutivo do discurso nos contos analisados; discutir a representação das crianças negras nos contos infantis analisados; elaborar uma proposta de trabalho pedagógico com contos africanos e afro-brasileiros, focando a implementação da lei 10.639/03, DCN s para a Educação Étnico-Racial e PCN s de Língua Portuguesa, a fim de contribuir com a promoção da igualdade étnico-racial no ensino de Língua Portuguesa. 3. JUSTIFICATIVA A Análise Crítica do Discurso, diferente da análise do discurso tradicional (de pendor descritivo e a trabalhar com uma noção de discurso essencialmente linguístico), nos permite correlacionar o discurso como texto à estrutura social. Em outras palavras, a preocupação central da Análise Crítica do Discurso é com as conexões do uso de formas discursivas com a produção, manutenção e mudança de relações de poder (FAIRCLOUGH, 1989 apud MEURER, 2005, p.86). Dessa maneira, Wodak (2004) nos diz que um dos objetivos da Análise Crítica do Discurso é desmistificar os discursos decifrando as ideologias entendo esta, como sistemas de pensamento, de valores e crenças, por exemplo, que denotam um ponto de vista particular sobre o real, uma construção social da realidade, independentemente de aspirarem ou não à preservação ou à mudança da ordem social (GOUVEA, 1997, p. 18). Sendo que, o interesse da ACD está em como as formas lingüísticas são usadas em várias expressões e manipulações do poder. O poder é sinalizado não somente pelas formas gramaticais presentes em um texto, mas também pelo controle que uma pessoa exerce sobre uma ocasião social através do gênero textual. Com freqüência, é justamente dentro dos gêneros associados a certas ocasiões que o poder é exercido ou desafiado (WODAK, 2004, p.237). Assim, a análise crítica de contos infantis gênero recortado em tal pesquisa se faz necessária para a formação crítico-reflexiva dos futuros e atuais educadores em relação aos dilemas 3
e desafios da educação étnico-racial, a fim de promover a igualdade étnico-racial no ensino de Língua Portuguesa. Além disso, a relevância de tal, parte da exigência da lei 10.639/03 que obriga o ensino da História Africana e Afro-brasileira, especialmente, na área de Literatura, Educação Artística e História Brasileiras, das DCN s para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, dos PCN s de Língua Portuguesa e do incentivo das mesmas, em pesquisas que possuem como finalidade a implementação da lei, DCN s e PCN s citados. A demanda por reparações visa o que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude de políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminação. (Parecer CNE/CP, 3/2004) Senão ainda, pela importância de construir percursos pedagógicos no caso a proposta dos contos africanos e afro-brasileiros para a reeducação étnico-racial. Para que o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial na educação se efetivem, são necessárias metodologias, métodos, técnicas que promovam a mudança de olhar diante das desigualdades, novos saberes sobre a história e cultura afro-brasileiras, mudanças de atitudes diante das situações de racismo e alteração da realidade.(ministério da Educação, 2001 apud NEVES, 2008, p.81) Enfim, a proposição dessa pesquisa se justifica: na limitada bibliografia sobre o assunto, na necessidade de colocar em evidência o aparato ideológico dos contos infantis para a reflexão crítica dos futuros e atuais educadores, proporcionar a implementação da lei 10.639/03, das DCN s para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana e dos PCN s de Língua Portuguesa nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e pela necessidade de arcabouços pedagógicos para trabalhar a temática discutida no ensino de Língua Portuguesa, especificamente, em Literatura. 4. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS O estudo dos gêneros discursivos vem se transformando desde a classificação de obras em líricas, épicas e dramáticas até o entendimento de que é necessária uma abordagem do texto que privilegie a interação. Essa abordagem que tem sido discutida por diferentes autores(as) como Bakhtin (trad., 1997), Swales (1990), Fairclough (trad., 2001, 2003) e Martin (1997, in Christie e Martin orgs., 1997). Os gêneros discursivos são entendidos por Bakhtin (trad., 1997) discussão clássica e que tem orientado as demais em um enfoque discursivo 4. Esse autor, que insiste no caráter social da linguagem, considera o enunciado como o produto da interação social, sendo que cada palavra é definida em trocas sociais, em um dado contexto que constitui as condições de vida de uma dada comunidade linguística. Sendo social, e ocorrendo em um dado contexto, os gêneros discursivos são diversos, as produções de linguagem são diversas e são eles tipos relativamente estáveis de enunciados que são caracterizados pelos seus conteúdos temáticos, estilos e construções composicionais das quais se utilizam. Nos gêneros discursivos, considerados como formas padronizadas de linguagem empregadas em situações comunicativas com fins específicos (Flowerdew, 2004), temos materializados discursos que podem ser analisados por meio de textos. 4 Em Brait (1997: 92, in: Brait, org., 1997) temos que o conceito de linguagem que emana dos trabalhos desse pensador russo [Bakhtin] está comprometido não com uma tendência linguística ou uma teoria literária, mas com uma visão de mundo que, justamente na busca das formas de construção e instauração do sentido, resvala pela abordagem linguístico/discursiva, pela teoria da literatura, pela filosofia, pela teologia, por uma semiótica da cultura, por um conjunto de dimensões entretecidas e ainda não inteiramente decifradas. 4
Textos esses que representam determinada realidade, estabelecem relações sociais e atribuem certas identidades às pessoas, inclusive as de gênero, uma vez que se encontram socialmente situados, correspondendo a distintas maneiras de usar a linguagem para cumprir diversas tarefas culturalmente definidas (Bakhtin, trad., 1997; Christie e Martin, orgs., 1997; Martin, 1997, in Christie e Martin orgs., 1997). Para Chouliaraki e Fairclough (1999), os gêneros discursivos, manifestos em textos que são partes dos eventos sociais, são formas de manifestação do discurso que figura em três modos na prática social: gêneros (modos de ação), discursos (modos de representação), estilos (modos de identificação), que correspondem respectivamente às funções propostas por Halliday (1985): a interpessoal, a ideacional. Para Fairclough (2003: 24), os gêneros, bem como os discursos e os estilos, são elementos de ordens de discurso 5, que selecionam certas possibilidades para a linguagem e excluem outras 6. Por isso, há uma relação dialética entre transformações nos gêneros e nas ordens de discurso locais ou societárias. Compreender o funcionamento de gênero do discurso e seu emprego, por meio de uma abordagem crítica, é também compreender os discursos linguagem como prática social neles subjacentes, é aprender a analisar criticamente as identidades neles constituídas. Segundo Halliday e Hasan (1989), os gêneros podem ser utilizados como ferramentas culturais para estabelecer, sustentar e expandir e resistir a idéias, informações e conhecimentos porque constituem sistemas semióticos que estabelecem relações entre os processos sociais nos quais os textos se desenvolvem. O que pode ser corroborado pelas discussões de Rothery e Stenglin (1997, in Christie e Martin, orgs., 1997) que, ao tratarem do gênero narrativa, afirmam que ela tem o importante papel de introduzir os membros de uma cultura em formas valorizadas de comportamento, além do papel de construir valores, conservar as sequências de atividades em ordem para manter a estabilidade da cultura, tendo também o potencial de mudá-la. Pela estreita relação existente entre essas vertentes que consideram a relação entre gêneros discursivos e estrutura social, a Teoria Social do Discurso (Fairclough, 1989; trad., 2001; 2003; Gouveia, 1997, in Pedro, org., 1997; Chouliaraki e Fairclough, 1999), que explora o papel da linguagem na manutenção ou na mudança das relações de poder, será também empregada em nossa pesquisa. Para esses/as autores/as, a mudança nas práticas discursivas pode preparar o caminho para mudanças nas práticas sociais, quer seja para a emancipação da/o cidadã/ão ou não. Num processo de evolução dessa teoria, Chouliaraki e Fairclough (1999) apresentam-nos um arcabouço teórico-analítico que reúne três tradições de estudo: análise linguística (sic) e textual detalhada, a análise macrosociológica (sic) referente às estruturas sociais e a análise microsociológica (sic) ou interpretativa (apud Martins, 2003: 35). Magalhães (2004) elabora uma síntese da Teoria Crítica do Discurso e da Análise de Discurso Textualmente Orientada. A Teoria Crítica do Discurso, situada na Ciência Social Crítica, propõe uma agenda de debate sobre a linguagem textualmente orientada. Magalhães (2004) apresenta a Análise de Discurso Textualmente Orientada como uma abordagem adequada à análise dos processos sociais relacionados às transformações econômicas e culturais contemporâneos que se materializam em textos. Fairclough (2003) considera os textos como elementos dos eventos sociais que têm efeitos sociais que moldam identidades. Fairclough (2003), bem como Magalhães (2004), apresentam a Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1975, 1985) como uma teoria que, por relacionar a linguagem com outros elementos e aspectos da vida social, é adequada para a análise de textos. Isso porque existem várias versões de análise de discurso, mas Fairclough (2003) atenta para o fato de que ela deve ser textualmente orientada para, segundo Silva (2002: 9, in Silva e 5 Ordem do discurso é o equilíbrio instável entre as contradições e diferenças na relação das práticas discursivas, fabricado por naturalização do senso comum ideológico e pela hegemonia de grupos sociais particulares, com base no conhecimento letrado, na etnia, no grupo etário, no gênero e na classe social (Magalhães, 1997) 6... select certain possibilities defined by languages and exclude others... (Fairclough, 2003: 24) 5
Vieira, orgs., 2002), cumprir o propósito de tornar visíveis as relações entre prática social e linguagem.. Por propor a análise da forma, da estrutura, da organização textuais em seus diversos níveis, o emprego da Análise de Discurso Crítica em nossa pesquisa corrobora com o estudo de gêneros discursivos, bem como da Linguística Sistêmico-Funcional. A Linguística Sistêmico-Funcional também ter como idéia básica que a língua constrói o contexto social e é por ele construída, ela é empregada, de modo producente, como ferramenta para análises de discursos, em especial da Análise de Discurso Crítica, pois é centrada na análise da linguagem do ponto de vista de como se dá a construção de significados na interação. Assim como Fairclough (trad., 2001), Halliday (1985) considera a linguagem como prática social, em que os participantes constroem significados, dependendo das circunstâncias históricas, culturais, sociais particulares em que estão envolvidos De acordo com a Linguística Sistêmico-Funcional, as condições de produção, o contexto em que o texto é produzido, os participantes da interação nesse contexto e o modo como os participantes organizam o texto para a comunicação irão influenciar as redes de significados que compõem os diferentes tipos de textos - unidades essencialmente semânticas. Pelo fato de Halliday (1985) considerar que os significados se realizam em sociedade, em contextos específicos de comunicação, temos, de acordo com esse autor, as variáveis de contexto - de situação e de cultura, variáveis essas importantes para a análise. O contexto de situação é o ambiente imediato em que o texto está de fato funcionando. Essa noção serve para explicar por que certas formas foram ditas ou escritas em uma ocasião particular e o que mais poderia ser dito ou escrito. Uma vez que o sistema linguístico é construído sócio-historicamente, apenas certos significados são possíveis, e a construção desses significados é dependente da forma como a linguagem foi usada no passado. Temos que os fatores que constituem o contexto de cultura determinam coletivamente a forma como o texto é interpretado em seu contexto de situação. Assim, a linguagem, o texto e o contexto são tidos como os responsáveis pela organização e desenvolvimento da experiência humana. (Meurer e Motta-Roth, 2002). A seleção desse arcabouço teórico apresentado deve-se principalmente ao fato de precisarmos de uma perspectiva crítica que discuta como questões de poder, preconceito, desigualdades como algo a ser compreendido e superado. Assim, com o subsídio desse arcabouço teórico, contribuiremos para a formação docente e para a melhoria do ensino de Língua Portuguesa. 5. METODOLOGIA Com a proposta de analisar criticamente os discursos em gêneros discursivos indicados pelos PCNs para o trabalho com linguagem oral e escrita nas séries iniciais em aulas de Língua Portuguesa, em especial contos infantis e elaborar uma proposta pedagógica para trabalhar a educação étnico-racial através de contos africanos e afro-brasileiros, este projeto terá duração de 1 ano. Empregaremos os pressupostos metodológicos e analíticos da Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki e Fairclough, 1999) pelo fato de ela fornecer subsídios para a análise dos dados dos discursos dentro de uma visão transdisciplinar, considerando-o como uma das dimensões das práticas no contexto pesquisado. Para empreendermos uma análise crítica, não há receitas prontas, como já ressaltou Van Dijk (2001, in Wodak e Meyer, orgs., 2001). Embora diversos/as analistas tenham um projeto em comum, recorrem a estudos diversos para chegar ao mesmo ponto. Chouliaraki e Fairclough (1999) nos apresentam um arcabouço que constitui mais uma opção para procedermos a uma Análise de Discurso Crítica Nossa primeira ação acontecerá por meio da pesquisa de campo, ou seja, entraremos em contato com 10 professores (as) do Ensino Fundamental em diversas escolas públicas 7 de 7 A inserção nas escolas só se dará após aprovação do projeto no Conselho de Ética na Pesquisa, da Universidade Federal de Uberlândia, bem como após receber autorização assinada das Secretarias de Educação Estadual e Municipal e, ainda, da Direção das escolas onde realizaremos parte da pesquisa. 6
Uberlândia, para explicitar sobre o projeto, especificamente, sobre os objetivos do mesmo, a fim de se ter a adesão dos (as) professores (as) à pesquisa. O número proposto de professores (as) se faz necessário para melhor coletar o corpus da pesquisa e ter um maior contato com as diferentes práticas dos (as) professores (as) no município. Enfim, com a adesão, marcaremos uma data disponibilidade dos (as) professores (as) para que a questionários sejam respondidos. Nesse momento, alguma dúvida do (a) docente pode surgir. Responderemos a todas elas e, a essa conversa que porventura possa surgir, chamamos aqui de entrevista. Segundo McCracken (1988: 9), a entrevista é um dos mais poderosos métodos qualitativos 8. Por meio dela, podemos ter uma visão mais ampla das experiências sociais e culturais e das visões de mundo dos/as entrevistados/as. Além disso, a interação permite o aprofundamento de questões levantadas em outros momentos da pesquisa. Durante o processo de coleta de dados dos contos indicados pelas professoras serão também coletados os contos africanos e afro-brasileiros, para a elaboração da prática pedagógica. O levantamento bibliográfico já estará em curso, o que contribuirá com a análise dos dados e com a elaboração da proposta pedagógica. 6. REFERÊNCIAS Bakhtin, M. Estética da criação verbal. Trad.: M. E. Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Bauer, M. W.; Gaskell, G. (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad.: P. A. Guareschi. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. Brait, B. (org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Cameron, D. et al. Researching language: issues of power and method. Londres e Nova York: Routledge, 1992. Chouliaraki, L.; Fairclough, N. Discourse in late modernity: rethinking critical discourse analysis. Edimburgo: Edinburgh University Press, 1999. Christie, F.; Martin, J. (org.). Genre and institutions: social process in the workplace and school. Londres e Nova York: Continuum, 1997. Cohen, L.; Manion, L. Research methods in education. Londres: Croom Helm, 1983. Fairclough, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. Londres e Nova York: Routledge, 2003. Fairclough, N. Discurso e mudança social. Coord. trad. I. Magalhães. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. Fairclough, N. Language and power. Londres: Longman, 1989. Flowerdew, J. The discursive construction of a world-class city. Discourse and Society, 15 (5): 579 605, 2004. Gaskell, G. Entrevistas individuais e grupais. In: M. W. Bauer; G. Gaskell (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad.: P. A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, pp. 64 89. Geertz, C. A interpretação das culturas. Trad.: F. F. Wrobel. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. Gieve, S.; Magalhães, I. (org.). Power, ethics and validity. Issues in the relationship between researcher and researched. Proceedings of the 4th Annual C.R.I.L.E Seminar. Lancaster, 1994. Gieve, S.; Magalhães, I. On empowerment. In: S. Gieve; I. Magalhães (org.). Power, ethics and validity. Issues in the relationship between researcher and researched. Proceedings of the 4th Annual C.R.I.L.E Seminar. Lancaster, 1994 a, pp. 121 145. 8 The long interview is one the most powerful methods in the qualitative armory (McCracken, 1988: 9). 7
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