Policultivos de coentro x beterraba x rúcula: Avaliação uni e multivariada da eficiência agronômica/biológica Francisco Cicupira Andrade Filho 1 Francisco Bezerra Neto 2 Jailma Suerda Silva de Lima 2 Joserlan Nonato Moreira 1 Eliane Gonçalves Gomes 3 Eliane Queiroga de Oliveira 1 Aurélio Paes Barros Júnior 2 Ítalo Nunes Silva 2 1. Introdução O policultivo é um sistema de cultivo consorciado onde mais de duas culturas com diferentes arquiteturas vegetativas são exploradas concomitantemente na mesma área, e as culturas não são necessariamente semeadas ou plantadas ao mesmo tempo, mas durante apreciável parte de seus períodos vegetativos, havendo assim, uma simultaneidade de modo a forçar uma interação entre elas (VIEIRA, 1998). Esse sistema de cultivo tem se apresentado como uma alternativa viável aos pequenos produtores de hortaliças. A avaliação da eficiência desses tipos de consórcio pode ser feita através de diferentes métodos. Um dos mais utilizados é feito pela quantidade de alimentos produzida por unidade de área, sendo considerado o de maior interesse pelos pequenos produtores, principais usuários do sistema. Outra forma é pelo lucro gerado, mediante análise econômica. Os pesquisadores, costumeiramente, utilizam o índice de uso eficiente da terra (UET) também denominado de índice equivalente de área. Mais recentemente, tem-se usado o índice de eficiência produtiva de sistemas através da Análise de Envoltoria de Dados (DEA), que incorpora vantagens biológicas e econômicas dos sistemas consorciados (GOMES et al. 2005) 1 IFET, Souza -PB-cicupiraifpb@yahoo.com.br;moreiragronomo@hotmail.com;eliqueiroga04@yahoo.com.br 2 UFERSA jailmaagro@gmail.com; bezerra@ufersa.edu.br; aureliojr02@yahoo.com.br; italonunessilva@gmail. com 3 Embrapa Sede - eliane.gomes@embrapa.br
e a análise multivariada de variância dos rendimentos das culturas (BEZERRA NETO et al., 2007). Visando contribuir com mais informações sobre os sistemas de produção de hortaliças em policultivo, este trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho do bicultivo de coentro e rúcula consorciados com beterraba em função de adubação com flor-de-seda e combinações de densidades populacionais entre as culturas componentes, através de análises uni e multivariada de variância. 2. Material e Métodos O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Rafael Fernandes da Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA, localizada no município de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte, no período de junho a novembro de 2011. O delineamento experimental utilizado foi em blocos completos casualizados, com os tratamentos arranjados em esquema fatorial 4 x 4, com quatro repetições. O primeiro fator foi constituído pelas quantidades de flor-de-seda (6, 19, 32 e 45 t ha -1 em base seca) incorporadas ao solo e, o segundo, pelas combinações de densidades populacionais das culturas componentes do policultivo [50 C -50 B -50 R %; 40 C -50 B -40 R %; 30 C -50 B -30 R % e 20 C -50 B -20 R % das densidades recomendadas para o cultivo solteiro de coentro(c), beterraba (B) e rúcula (R)]. O cultivo consorciado das culturas foi estabelecido em faixas alternadas das culturas, na proporção de 50% da área para beterraba (cultura principal), 25% da área para o coentro e 25% da área para a rúcula, onde cada parcela foi constituída de quatro faixas de quatro linhas de cultivo, sendo duas de beterraba e uma de coentro e outra de rúcula, ladeadas por duas linhas de bordadura em cada lado da parcela. As cultivares de coentro, beterraba e rúcula plantadas foram Verdão, Early Wonder e Cultivada, recomendadas para cultivo na região Nordeste. Além da produtividade comercial de cada cultura componente, foi avaliado o índice eficiência produtiva, através de análise de envoltoria de dados IEP e o escore da variável canônica (Z). Uma análise univariada de variância para o delineamento de blocos casualizados completos foi realizada nos rendimentos de cada cultura no policultivo, bem como no IEP e Z. Uma análise multivariada de variância foi realizada nos rendimentos das hortaliças consorciadas, em função dos fatores-tratamentos, utilizando-se o critério de Wilks para testar cada fator (FERREIRA, 1996). O teste de Tukey foi usado para comparar as médias do IEP
sob as densidades populacionais estudadas. O teste de Scheffé foi usado para comparar as médias das densidades do escore da variável canônica. Procedimento de ajustamento de uma função resposta foi utilizado nas variáveis em função das quantidades de jitirana incorporadas ao solo. 3. Resultados e Discussão Pelos resultados da análise multivariada de variância dos rendimentos das hortaliças, observou-se que houve interação significativa entre as quantidades de jitirana incorporadas ao solo (QJ) e as combinações de densidades populacionais das culturas componentes (DP) no escore da variável canônica e no índice de eficiência produtiva (Tabelas 1 e 2 e Figura 1). O autor valor (λ 1 = 86,65) correspondeu a 90,21% da variação, considerada a variável canônica principal, devido explicar quase toda a variação da interação (Tabela 1). Assim, não foi necessária a estimação de outras funções discriminantes para explicar essa interação. Tabela 1. Análise de variância multivariada dos rendimentos conjuntos de coentro, beterraba e rúcula, autovalores, variância da interação significativa entre as quantidades de flor-de-seda incorporadas ao solo e as combinações de densidades populacionais e a variável canônica. Fontes de Variação GL para F (n,d) λ (Wilks) F Prob> F Blocos (9;104,8) 0,680 2,00 0,0467 Quantidades (Q) (9;104,8) 0,079 21,28 0,0001 Combinações de densidades populacionais (D) (9;104,8) 0,002 137,13 0,0001 Q x D (9;104,8) 0,024 12,06 0,0001 Fatores Autovalor Variância (%) Variável canônica (Z) QF x DP 86,65 90,21 Z = 0,521 Y c + 0,014 Y b + 0,854 Y r QF 8,91 9,29 Nenhuma equação ajustada DP 0,42 0,43 Nenhuma equação ajustada * Y r Produtividade de rúcula; Y c Produtividade de coentro; Y b Produtividade de beterraba. Desdobrando-se as quantidades de flor-de-seda dentro de cada densidade, observou-se que nas combinações de 20 C -50 B -20 R e 30 C -50 B -30 R, a variável canônica aumentou com as quantidades crescentes de flor-de-seda até os valores máximos de 5,64 e 6,62 nas quantidades de 20,60 e 13,02 t ha -1, decrescendo até a maior quantidade de flor-de-seda (45 t ha -1 ) incorporada ao solo. Não houve ajuste de função resposta para a variável canônica nas combinações de densidades de 40 C -50 B -40 R e 50 C -50 B -50 R (Figura 1A). No índice de eficiência produtiva na densidade de 40 C -50 B -40 R, registrou-se também aumento com as quantidades crescentes de flor-de-seda incorporadas até o valor máximo de 1,00 na quantidade de 14,23 t ha -1 do adubo verde adicionada ao solo. Não se ajustou nenhuma função resposta para as combinações 20 C -50 B -20 R, 30 C -50 B -30 R e 50 C -50 B -50 R (Figura 1B).
Figura 1. Escore da variável canônica Z (A) e índice de eficiência produtiva (IEP) (B) em função de quantidades de flor-de-seda incorporadas ao solo e combinações de densidades populacionais entre as culturas componentes. Desdobrando a interação, densidade populacional dentro de cada quantidade, observou-se que os escores Z na combinação de 40 C -50 B -40 R sobressaíram-se dos demais nas quantidades de 19 e 45 t ha -1 (Tabela 2). O escore na combinação de 50 C -50 B -50 R se sobressaiu dos demais na quantidade 32 t ha -1. Tabela 2. Valores médios do escore da variável canônica (Z) e do índice de eficiência produtiva (IEP) em função de quantidades de flor-de-seda incorporadas ao solo e densidades populacionais entre as culturas componentes. Combinações de densidades Populacionais Quantidades de jitirana 6 19 32 45 20 C -50 B -20 R 1,80 c 2,82 d 2,07 d 2,85 c 30 C -50 B -30 R 2,87 b 3,34 c 2,45 c 3,47 b 40 C -50 B -40 R 4,89 a 6,36 a 4,99 b 4,42 a 50 C -50 B -50 R 4,95 a 5,56 b 5,22 a 3,33 b 20 C -50 B -20 R 0,31 d * 0,50 b 0,39 b 0,46 d 30 C -50 B -30 R 0,47 c 0,54 b 0,41 b 0,57 c 40 C -50 B -40 R 0,81 b 0,93 a 0,82 a 0,70 b 50 C -50 B -50 R 0,97 a 1,00 a 0,97 a 0,85 a Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scheffé ao nível de 5% de probabilidade. * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Z IEP
Por fim, os escores nas combinações de densidade de 40 C -50 B -40 R e 50 C -50 B -50 R se destacaram dos demais na quantidade de 6 t ha -1 de flor-de-seda (Tabela 2). Os índices de eficiência produtiva na combinação de 50 C -50 B -50 R sobressaíram-se dos demais nas quantidades de flor-de-seda de 6 e 45 t ha -1, enquanto que, os índices nas densidades 40 C -50 B -40 R e 50 C -50 B -50 R destacaram-se dos de 20 C -50 B -20 R e 30 C -50 B -30 R nas quantidades de 19 e 32 t ha -1 de flor-de-seda incorporadas ao solo. O melhor índice de eficiência produtiva (1,00) foi obtido na combinação de 50 C -50 B -50 R na quantidade de 19 t ha - 1 de flor-de-seda (Tabela 2). 4. Conclusões Tanto pelo método multivariado quanto pelo método univariado foram registradas interações significativas entre os fatores-tratamentos estudados. A otimização dos índices agronômicos foi obtida na densidade de 30 C -50 B -30 R na quantidade de flor-de-seda de 32 t ha -1 ou na densidade de 20 C -50 B -20 R na quantidade de 45 t ha -1 de flor-de-seda incorporada ao solo. 5. Referências [1] BEZERRA NETO, F.; GOMES, E. G.; NUNES, G. H. de S.; BARROS JUNIOR, A. P. Análise multidimensional de consórcios de cenoura-alface sob diferentes combinações de densidades populacionais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 12, p. 1697-1704, 2007. [2] FERREIRA, D.F. Análise multivariada. Lavras: UFLA, 1996. 394 p. [3] GOMES E.G.; SOUZA G.S. 2005. Avaliação de ensaios experimentais com o uso da análise de envoltoria de dados: uma aplicação a consórcios. In: REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA (RBRAS), 50.; SIMPÓSIO DE ESTATÍSTICA APLICADA À EXPERIMENTAÇÃO AGRONÔMICA (SEAGRO), 11. Resumos... Londrina: IBS. 5p. (CD-ROM). [4] VIEIRA, C. Cultivos consorciados. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J.; BORÉM, A. (eds.). Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas Gerais. Viçosa: UFV, 1998. p.523-558.