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RESENHA VELLOSO, Arthur Versiani, A Quididade do Real, Belo Horizonte: Tese apresentada para o concurso à cadeira de Filosofia, UFMG, 1948, 184 p. O problema sobre a essencialidade do real sempre foi de vital importância nos questionamento metafísicos. Arthur Versiani Velloso 1 (1906-1986) se preocupou com essa questão, para ele seminal, ao abordar a problematização da essência da realidade. O autor sabe e anuncia em uma breve advertência no começo da tese 2 que a questão é por demais ampla e não se pretende esgotá-la. A tese está dividida em três partes. A primeira parte, intitulada Como surge o e se apresenta historicamente o problema da Quididade do real passará em revista, começando pelos gregos, o problema da quididade do real. Coloca o problema no sentido de uma evolução histórico-crítica. Desde o início isso é feito colocando em evidência o dualismo e suas diferentes aparições no âmbito das discussões metafísicas, a saber, aparência e essência, mutável e imutável, unidade e multiplicidade, ou que outra forma tenhamos de apresentar um dos primeiros problemas na história do conhecimento. Embora as tradições orientais contemplem estes problemas é com os gregos que a questão é definitivamente explorada em praticamente todas suas nuanças. A moderna ciência e o desenvolvimento de uma concepção apurada do Eu, não modificaria a questão central, que é, se a essência da realidade se encontra no espírito e, portanto é de natureza formal, ou se se situa no existente sendo, portanto de natureza real. Isso leva a conexão necessária entre o problema e a questão do conhecimento, podendo ser observado na filosofia dos primeiros gregos. Ainda que esses não ponham em dúvida a existência do real, 1 Sobre o prof. Velloso ver artigo de José Henrique Santos Elogio do prof. Arthur Versiani Velloso. Revista Kriterion, nº 85. jan e jul de 1992 e artigo de Rodrigo Duarte, Kriterion nº 95, jan a jun de 1997. E também o texto de Antonio Ribeiro de Almeida no site www.blocosonline.com.br intitulado Memórias do meu Mestre de filosofia. 2 O livro é uma tese apresentada ao concurso à cadeira de Filosofia da UFMG. 101 Página

e por isso busquem um fundamento, um princípio responsável pela realidade e não uma justificativa ou garantia para ela, é com eles que o problema do quid se conjuga com o problema do ser. Como observa o autor, os problemas levantados entre os ditos pré-socráticos se refletem diretamente sobre Platão e Aristóteles. Mas se Platão situa a essência do real fora da realidade perceptível é com Aristóteles que se tenta trazer a essência da realidade para o concreto. Mas não se pode considerar Platão e Aristóteles como totalmente antitéticos, como fazem alguns com Parmênides e Heráclito. O Estagirita não consegue plenamente, nas palavras do autor, destruir a teoria da transcendência platônica e substituí-la pela sua teoria da imanência das idéias 3, voltando várias vezes aquela. Os epicuristas como os estóicos vogam nas mesmas águas, insistem na importância do sensível para o conhecimento intelectual. Há a afirmação da matéria como realidade única. Mas o ceticismo também aparece e, nas figuras de sexto Empírico Argesilau e Pirro moldam a recusa de uma possibilidade certa sobre a essência do real, moldando já outra importante bifurcação da questão: a questão de como se atinge o real exterior e se tem contato com ele e a questão de se de fato se conhece essa realidade. A isso acresce, nesse percurso rápido pela tradição filosófica, a observação de Velloso, sobre uma diferença básica entre Ciência e Metafísica: Cada filósofo, cada sistema ou escola tem a sua vista sobre a realidade, ou o seu modo de pensar sobre a possibilidade ou não possibilidade de uma visão exata da realidade, total ou parcial. A ciência é uma representação diferente; diríamos, uma visão panorâmica, de conteúdo diferente; ou melhor, é a primeira vista, de superfície, não indo às do cabo, como a Metafísica, cuja característica é precisamente ir às últimas. 4 E a modernidade não tardará em trazer a tona à ciência como melhor instrumento para conhecer o real. Se o período tardio do medievo glorifica o Estagirita como o Filósofo, a modernidade tratará de destituí-lo desse cargo. Mas se é com Hume que o problema do conhecimento é colocado em xeque, ainda em Descarte vislumbra-se uma critica aos sentidos. Mas não haveria uma afirmação incisiva da racionalidade e, com isso, o espírito não é colocado no centro da questão da essência da realidade? Para o autor, de René 3 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.26. 4 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.55. 102 Página

Descartes em diante os filósofos abandonam a rota aristotélica e caem num desvio de conseqüências ominiosas e retumbantes. 5 E com isso se refere a Leibniz, Spinoza e Malebranche, dentre outros. Passa pelos empiristas, em especial Hume e Locke, para fazer a contraposição recorrente, porém necessária, entre o racionalismo e o empirismo. Relaciona esses autores de forma direta, como sendo o primeiro grande devedor do segundo, seguindo na mesma trilha ao achar que só se conhece o que é dado pela experiência e o objeto deste conhecimento seria os estados subjetivos. Mas esse ceticismo pode levar a conseqüências pouco proveitosas numa inquirição sobre a quididade do real e por isso Versiani Velloso prefira a saída do demolidor de Koenigsberg. Mas seu trajeto pela modernidade vai além de Kant, chega em Comte, e passa até por nomes pouco conhecidos como Hamilton, Reid e Maine de Biran, e até mesmo Proust é citado ao final da primeira parte, para reforçar o problema entre a ficção e realidade, entre sujeito e objeto 6. Tudo isso, para reforçar a idéia de que a percepção tem um papel diferenciado em relação as nossas representações, pois é ela que nos cerceia um sentimento de realidade, com relação à coisa percebida. Na segunda parte, intitulada Discussão do Problema, Versiani Velloso ira discutir as principais implicações, com especial atenção ao relativismo. O problema parece querer ser exatamente o de escapar do relativismo vulgar, ou mesmo aos mais sofisticados, atenção especial ao kantiano, e para isso, o realismo crítico do Aquinatense apresentar-se-ia como uma saída. O autor então resume sua a questão em vista dessas duas posturas: E a opção por uma dessas posturas, a idealista ou a realista, atitudes antagônicas e talvez irredutíveis, que atormentam a inteligência especulativa desde os primórdios da Filosofia até hoje, seria o tema nuclear ou a tese propriamente dita que se extratasse do presente trabalho, sendo ocioso salientar que na emaranhada questão está implicada e comprometida à própria possibilidade da Metafísica como ciência e o valor mesmo da chamada Filosofia Geral. 7 É nessa parte da tese que o autor vai ao encontro de Kant. Assim a primeira parte começa a se delinear como uma discussão histórica a partir dos pressupostos teóricos que 5 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.76-77 6 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.102. 7 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.115. 103 Página

levaram esse filósofo a cotejar sua crítica e por isso ele foi pouco analisado nessa parte, maior inclusive, do texto. Irá analisar também os desdobramentos da postura critica kantiana, reportando-se a Hegel, Fichte e Schopenhauer. Mas é necessário ultrapassar uma postura subjetivista e fundamentar que a inteligência deve possuir uma base universal e necessária, real. Ou seja, deve conhecer a realidade, de algum modo pelo menos, antes de conhecer e analisar as idéias que temos dela 8. E por isso a importância do realismo de fundo Aristotélico e mais refinadamente, de fundo Tomista, para trazer a tona à afirmação desse real. Desse real que se atualiza na existência, ainda que possa se apresentar como apenas possível no âmbito abstrato, e se limita nela e deve buscar no ser sua quididade. A terceira parte, intitulada Conclusão, irá tomar noutros críticos a possibilidade de uma quididade do real, via kantismo, via realismo crítico, mas apontando principalmente, o que esses autores vêem de insustentável na aproximação das posturas. Passa em revista Henri Bergson para apontar uma saída possível, ainda que insatisfatória, do problema. Insatisfatória, seguindo a crítica de Julien Benda e Jacques Maritain, pois coloca o problema da quididade do real como algo muito difuso e acaba por cair em um novo idealismo de fundo intuitivo. Comentara ainda, mesmo que brevemente, a fenomenologia e alguns dos seus desdobramentos. Nas palavras de Versiani Velloso, continuam os filósofos contemporâneos a braços com a ubiquitário e enervante problema da essência da realidade 9. Isso se deve ao afastamento da tese mesma em função de outras preocupações, fruto da estratificação das preocupações contemporâneas, deslocando o foco da discussão, para problemas periféricos que nunca chegam ao cerne, de fato. Nesse momento ao encontrar um caminho, ainda que incompleto e com caráter mais de sugestão que de conclusão, o autor não quer transpor de uma só vez as dificuldades, sabe que não é possível, diante de todos os problemas colocados pela tradição. Assim como não é possível, negar o estatuto de realidade, ainda que recortada, do real, que é estudado e tido como certo por tantas outras ciências. Mas a filosofia não se satisfaz com essa perspectiva 8 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.133. 9 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.160 104 Página

ingênua da realidade, é preciso ir mais fundo, não é possível abster-se da Metafísica, pois a ela cabe a palavra derradeira sobre a quididade do real 10. O próprio autor sabe que de outra forma não poderia ser uma conclusão sobre o tema, senão como uma peça que ainda se falta pedaços e que não poderia se apresentar em sua perfeição. Qual não seria um ponto de contato entre o kantismo e o tomismo senão a ideia de Deus? A realidade não é irracional. A realidade é Deus. 11 Mesmo que de forma distinta, não há dúvida, que nesses dois sistemas a idéia de Deus se apresenta de diferentes maneiras e serve a diferentes princípios. E aqui se vê delimitada de forma direta o que o autor já vinha indicando ao logo de toda tese, que seria a busca de algo que nós escapa, de uma vontade de absoluto, um desejo pela essência necessária e infundada. Saulo Moraes de Assis 12 10 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.167. 11 Arthur Versiani VELLOSO, A Quididade do Real, p.167. 12 Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Especializando em Filosofia Moderna e Contemporânea pela mesma Instituição. 105 Página