DESEQUILÍBRIOS MUSCULARES DE FLEXORES E EXTENSORES DE QUADRIL EM ATLETAS DE GINÁSTICA RÍTMICA Anderson Simas Frutuoso, José Raphael Leandro da Costa Silva, Liudmila de Andrade Bezerra da Costa Silva, André Luiz Frâncio de Medeiros & Cíntia de la Rocha Freitas Grupo de Estudos em Biodinâmica GPBIO; Laboratório de Biomecânica BIOMEC, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. e-mail: andersonsimoca@hotmail.com INTRODUÇÃO O destacado desenvolvimento das variáveis relacionadas ao aspecto competitivo é necessário em todos os esportes. Na Ginástica Rítmica (GR) as características antropométricas, a flexibilidade e a potência muscular são importantes fatores para a melhor execução dos movimentos necessários [1]. Entretanto, algumas das adaptações musculares decorrentes do treinamento, sobretudo em esportes que exigem muita potência muscular, podem apresentar potencial lesivo aos praticantes, a ponto de produzirem um desequilíbrio das forças atuantes em torno das articulações, normalmente em virtude do desequilíbrio encontrado na capacidade de produção de força entre as musculaturas agonista e antagonista [2,3]. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi examinar a relação de força entre a musculatura extensora e flexora de quadril em atletas de GR. MATERIAIS E MÉTODOS Participaram do estudo cinco atletas de GR de nível internacional, pertencentes a um clube brasileiro do estado de Santa Catarina, que acumulavam semanalmente, um volume de treinamento de 30 horas. As médias e desvios padrão de idade e tempo de experiência na modalidade foram de 18,4 (±2,61) e 11,8 (±3,83) anos, respectivamente. Todas as atletas tinham o membro inferior direito como preferido. A força dos extensores e flexores de quadril foi avaliada a partir dos picos de torque quantificados no dinamômetro isocinético Biodex System 4 Pro (Biodex Medical Systems, Shirley, New York). Os sujeitos foram posicionados na cadeira do dinamômetro em decúbito dorsal, com o quadril no plano sagital e o joelho do segmento testado flexionado a 90º. O eixo do dinamômetro foi alinhado com o trocânter maior do fêmur e o tronco dos sujeitos esteve estabilizado por uma cinta em volta da pelve e por um par de cintas peitorais. Foram avaliados o membro preferido e não preferido, por meio de um protocolo com três contrações voluntárias máximas concêntricas, em três velocidades angulares (60º/s, 180º/s e 240º/s). A ordem de execução foi aleatória e, a fim de evitar possíveis efeitos de fadiga, foi estipulado um intervalo de 90 111
segundos entre as diferentes velocidades testadas. Para o cálculo da razão de torque utilizou-se o método convencional (flexores con :extensores con ). RESULTADOS E DISCUSSÃO Como aponta a Tabela 1, na velocidade angular 60º/s o desequilíbrio ficou evidenciado, devido ao maior fortalecimento dos extensores de quadril. Com o aumento das velocidades angulares (180º/s e 240º/s), as razões de torque passaram a atingir o percentual aceitável, considerando os valores normativos de razão de torque convencional para extensores/flexores do quadril, de 60% a 75% [4]. Estudos sugerem que níveis insuficientes de força, principalmente dos músculos isquiotibiais, podem estar associados a um risco acrescido de lesão dos tecidos moles [2,5]. Por estas razões, a avaliação e o controle da força muscular assumem importância particular na monitorização dos efeitos dos programas de treino, bem como na prevenção de lesões [3,5]. Os achados podem estar relacionados ao fato de que movimentos de baixa velocidade angular não são característicos da modalidade, podendo o resultado ter sido influenciado pelas adaptações morfológicas ao treinamento [7]. Além disso, com o aumento das velocidades, pode-se observar que a força dos extensores de quadril diminuiu de forma mais acentuada que a dos flexores. É possível que os flexores do quadril apresentem adaptação para movimentos rápidos, ao contrário do que acontece com os extensores [8]. CONCLUSÕES As adaptações neuromusculares das atletas em função do treinamento parecem ter influenciado diretamente os resultados, visto que nas velocidades consideradas intermediárias e rápidas (180º/s e 240º/s) as razões de torque entre flexores e extensores do quadril obtiveram valores que demonstram um bom equilíbrio para esta articulação. Porém, a falta de dados referentes a atletas de GR, em relação aos valores de força normativos para a articulação do quadril, sugere que mais investigações sejam realizadas com a finalidade de identificar um valor normativo específico para este grupo de atletas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina, às atletas e a comissão técnica da equipe ADIEE/UDESC. REFERÊNCIAS 1. Douda HT et al. Int J Sports Physiol Perform, 3(1):41-54, 2008. 2. Bittencourt NFN et al. Rev Bras Med Esp, 11(6):331-336, 2005 3. Goulart LF, Dias RMR, Altimari LR. Rev Bras Med Esp, 14(1):17-21, 2008 4. Perrin D. Isokinetic Assessment and Exercise. Champaign, Il: Human Kinetics 1993, 212 p. 5. Iga J et al. Scand J Med Sci Sports 2008;1-6. 6. Crosier JL et al. Am J Sports Med, 36(8):1469-1475, 2008. 7. Douda H et al. Med. Probl. Perform. 22(1):10-17, 2007. 8. Bai E, et al. Isokinetic Strength of Leg Flexors and Extensor in Elite High Jumper in: 18 International Symposium on Biomechanics in Sports. Hong Kong, China, 2000 Tabela 1. Média e desvios padrão de valores de torque, em Nm, e razão de torque, em percentual, para cada lado, na diferentes velocidades angulares. Lado preferido 112 Lado não preferido 60 /s 180 /s 240 /s 60 /s 180 /s 240 /s Torque Flexores (Nm) 84,9 ±16,14 70,98±11,96 66,38±11,15 77,28±15,36 66,3 ±9,66 57,8 ±6,93 Torque Extensores (Nm) 149,72±19,00 116,22±20,29 102,52±21,64 137,32±24,28 109,24±22,07 89,34±25,10 Razão de Torque (%) 57,20±11,32 62,85±19,69 67,15±19,69 56,85±9,22 62,88±15,30 69,06±21,96
ASSIMETRIAS DE POTÊNCIA MUSCULAR EM FLEXORES E EXTENSORES DE QUADRIL EM ATLETAS DE GINÁSTICA RÍTMICA Anderson Simas Frutuoso, José Raphael Leandro da Costa Silva, André Luiz Frâncio de Medeiros & Cíntia de la Rocha de Freitas Grupo de Estudos em Biodinâmica GPBIO; Laboratório de Biomecânica BIOMEC, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. e-mail: andersonsimoca@hotmail.com INTRODUÇÃO Estudos recentes têm avaliado diferenças de força e potência entre o membro preferido e o não preferido e o quanto isso pode influenciar no desempenho da função esportiva. Entretanto, o foco atual nesta temática tem sido com atividades cíclicas e que, teoricamente, exigem os mesmos gestos motores de ambos os lados do corpo, como corrida e ciclismo [1]. Em outras modalidades, como na ginástica, no futebol e no judô, o lado não preferido também tem grande contribuição no cotidiano esportivo, porém o membro preferido acaba por participar de forma prioritária, mas não exclusiva, na execução da maior parte dos gestos técnicos. Essa prioridade de utilização do lado preferido pode evidenciar a existência de assimetrias bilaterais na medida de potência. Na Ginástica Rítmica (GR), a potência, aliada às características antropométricas e à flexibilidade são importantes fatores para a melhor execução dos movimentos necessários [2]. Parte desta preocupação 113 tem origem em um elemento corporal obrigatório para as atletas, o salto [3]. Assim, tendo em vista a importância da potência muscular e a prioritária utilização do lado preferido no contexto da modalidade, o presente estudo teve como objetivo comparar a potência dos músculos flexores e extensores de quadril de atletas de uma equipe de conjunto de ginástica rítmica. MATERIAIS E MÉTODOS Participaram do estudo cinco atletas de GR de nível internacional. As atletas, de um clube brasileiro do estado de Santa Catarina, acumulavam uma carga horária semanal de 30 horas de treinamento. As médias e desvios padrão de idade e tempo de experiência na modalidade foram de 18,4 (±2,61) e 11,8 (±3,83) anos, respectivamente. Todas as atletas tinham o membro inferior direito como preferido. A potência média dos extensores e flexores de quadril foi avaliada a partir dos picos de torque quantificados no dinamômetro isocinético Biodex System 4 Pro (Biodex Medical
Systems, Shirley, New York). Para o teste, os sujeitos foram posicionados em decúbito dorsal, com o joelho do segmento testado flexionado a 90º. O eixo do dinamômetro foi alinhado com o trocânter maior do fêmur. Ambos os lados foram avaliados por meio de um protocolo com três contrações voluntárias máximas concêntricas em seis velocidades angulares (30º/s, 60º/s, 120º/s, 180º/s, 240º/s e 300º/s). A ordem de execução foi aleatória, com intervalo de 90 segundos entre cada diferente velocidade testada. O Teste t para amostras pareadas foi utilizado na comparação dos valores de ambos os lados, cada velocidade (p < 0,05). treinamento sistemático do lado preferido é a observada com o aumento das velocidades angulares. No lado esquerdo pode-se notar acentuadas quedas de potência, em flexão e extensão, da velocidade 180º/s para 240º/s. No lado direito, essa queda inexiste na RESULTADOS E DISCUSSÃO A maior potência média foi registrada nas contrações realizadas em 180º/s, com exceção da flexão no quadril direito, registrada em 240º/s. Esta última parece ter sido influenciada pelo treinamento, visto que mulheres apresentam pico de potência em 180º/s [4]. Aparentemente essas são as duas velocidades mais praticadas durante o treinamento de GR. Não foi encontrada diferença significativa entre a potência média de ambos os lados no movimento de extensão de quadril, apenas na flexão (Figura 1). Estes dados podem ser explicados pelo fato de não haver, na GR, ênfase em trabalhos isolados de extensão de quadril em maiores velocidades, diferente da flexão de quadril, em que há um direcionamento do treinamento, devido aos elementos de chutes, equilíbrios e saltos, os quais são executados em velocidades mais elevadas [5]. Cabe salientar que o reduzido número de participantes e a grande variação encontrada nos valores de extensão podem estar influenciando os resultados dos testes estatísticos. Embora todas as atletas tenham o lado direito como preferido, o lado esquerdo apresentou maior potência média na extensão em 180º/s. Este resultado parece estar relacionado ao fato de que, mesmo tendo como preferido o lado direito, boa parte dos saltos realizados na modalidade tem como perna de impulsão a esquerda. Outra evidência da adaptação gerada pelo flexão, e na extensão é pequena. Figura 1. Médias e desvios padrão dos valores de potência em flexão e extensão de quadril. (*) p 0,05. CONCLUSÕES A larga utilização dos movimentos de flexão e extensão de quadril na GR parece influenciar as propriedades mecânicas dos músculos. O treinamento sistemático do lado preferido resulta em maiores valores de potência média de flexão no lado preferido, além de uma manutenção da potência média em altas velocidades angulares. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina, às atletas e à comissão técnica da equipe ADIEE/UDESC. REFERÊNCIAS 1. Carpes FP, Mota CB, Faria IE. Phys Ther Sport, 11(4):136-142, 2010. 2. Douda HT et al. Int J Sports Physiol Perform, 3(1):41-54, 2008. 3. Di Cagno A et. al. J Sci Med Sport. 12(3):411 416, 2009. 4. Brown LE, Wier JP. J Exerc Physiol. 4(3):1-21, 2001. 5. Róbeva N, Rankélova M. Escola de Campeãs: G.R.D. São Paulo, Ícone, 1991. 114
Anais do IV Simpósio em Neuromecânica Aplicada, Novembro de 2013, Florianópolis, SC. Brasil :: ISSN 2316-5685 ANÁLISE DA POTÊNCIA MUSCULAR E VELOCIDADE EM FUTEBOLISTAS SUB-17 José Raphael Leandro da Costa Silva, Daniele Detanico, Patrícia Vieira Ramos, Anderson Simas Frutuoso & Cíntia de la Rocha Freitas Grupo de Estudos em Biodinâmica GPBIO; Laboratório de Biomecânica BIOMEC, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Email: profraphaelcosta@hotmail.com INTRODUÇÃO A imprevisibilidade dos acontecimentos e ações durante uma partida de futebol exige que o atleta esteja preparado para reagir aos mais diferentes estímulos, da maneira mais eficiente possível. Desta forma, o treinamento físico deve privilegiar aspectos distintos como o desenvolvimento da potência muscular, velocidade, capacidade e potência anaeróbia e aeróbia. Diante disto, a busca pela excelência do treinamento e pela otimização da performance esportiva faz com que os atletas sejam constantemente submetidos a testes físicos [1]. As avaliações neuromotoras têm ganhado destaque no meio futebolístico devido a sua aceitação e aplicabilidade. O conhecimento das capacidades físicas intervenientes nas modalidades esportivas, especificamente no futebol, é a ferramenta fundamental na prescrição das cargas de treinamento. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi comparar a potência muscular e a velocidade média de jogadores de futebol da categoria sub-17 de diferentes posições. MATERIAIS E MÉTODOS Participaram deste estudo 28 jogadores de futebol da categoria sub-17 com idade média de 16,81 ±0,58 anos e tempo médio de prática de 10 ±2,11 anos, 67,02 ± 6,4 kg; 174,4 ± 6,9 cm de estatura. Dentre estes, seis eram zagueiros, cinco laterais, seis volantes, seis meias e cinco atacantes. Foram realizadas duas avaliações neuromotoras, um teste de impulsão vertical, onde todos os jogadores executaram saltos com contra-movimento (CMJ) e o teste de 50 m. O CMJ foi realizado sobre uma plataforma de força piezoelétrica (Kistler, Quattro Jump, 9290AD, Winterthur, Switzerland) que mensura a força vertical. A frequência de aquisição dos sinais foi de 500 Hz. Foram realizados três CMJ, sendo considerados para análise a altura máxima do salto e a potência média do melhor salto. O teste de 50 m foi realizado em terreno semelhante ao de jogo (gramado natural), onde o atleta foi orientado e incentivado a realizar o mais rápido possível a distância proposta após o comando verbal e, a partir do tempo do teste, foi calculada a velocidade média de cada atleta [2]. Para análise estatística dos dados utilizou-se teste de Shapiro-Wilk para testar a normalidade dos dados e ANOVA one-way (post-hoc de Tukey) para comparar 135
Anais do IV Simpósio em Neuromecânica Aplicada, Novembro de 2013, Florianópolis, SC. Brasil :: ISSN 2316-5685 as variáveis potência muscular e velocidade entre as posições dos jogadores. pode ser destacado é o número reduzido de sujeitos nos grupos avaliados, o que pode ter interferido nos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A comparação das variáveis velocidade e potência muscular entre os jogadores de diferentes posições é apresentada na Tabela 1. Pode-se constatar que não houve diferença em nenhuma das variáveis analisadas entre as posições de jogo (p > 0,05), indicando que para este grupo as variáveis neuromusculares analisadas parecem não serem sensíveis para discriminar jogadores de diferentes posições. Os resultados de altura de salto no CMJ assemelham-se aos encontrados por Silva et al. [3], que avaliaram futebolistas por posição. Porém, no referido estudo foi encontrada diferença significativa entre zagueiros e meias, corroborando com outros estudos [4]. Essa diferença, segundo os autores, pode ter sido obtida devido a maior realização de sprints e saltos em alta intensidade executados pelos zagueiros. Os valores de velocidade média observados no teste de 50 m nos grupos analisados assemelham-se às velocidades de sprint, consideradas acima de 23 km.h -1 em futebolistas [5]. Porém, o fato de não terem sido encontradas diferenças significativas entre as posições pode ser justificado pelo período de treinamento, que no grupo estudado ainda não está sendo específico por posições (etapa de preparação básica). Outro ponto que CONCLUSÕES Pode-se concluir que não foram encontradas diferenças nas variáveis neuromusculares entre futebolistas de diferentes posições. Assim, as variáveis neuromusculares obtidas por meio dos testes propostos por este estudo parecem não serem sensíveis para discriminar os jogadores por posições. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina, os atletas e a comissão técnica da equipe União Santo Amaro & Águas Mornas / Guarani de Palhoça. REFERÊNCIAS 1. Silva LRR, et al. Revista Brasileira Ciências do Esporte. 26(1):99-109, 2004 2. Matsudo, V.K.R; Testes em ciências do esporte. São Caetano do Sul ed.4,1987. 3. Silva J.F, et al. Motricidade, 8(1):14-22, 2012 4. Wisloff U, et al. Medicine & Science in Sports & Exercise, 30(3):462-667, 1998 5. Barros RM, et al. J Sports Sci Medicine; 6(2):233-242, 2007. Tabela 1: Média ± desvio-padrão da altura de salto, potência muscular e velocidade média de jogadores de futebol em diferentes posições. Zagueiros (n=6) Laterais (n=5) Volantes (n=6) Meias (n=6) Atacantes (n=5) Altura_CMJ (cm) 46,10 ± 3,85 41,40 ± 7,19 44,92 ± 5,95 44,18 ± 4,68 44,78 ± 4,38 Potência_CMJ (W.kg -1 ) 30,13 ± 2,11 28,5 ± 4,97 30,77 ± 5,04 29,05 ± 5,07 28,88 ± 4,22 Velocidade média (km.h -1 ) 26,37 ± 0,50 25,77 ± 0,94 25,56 ± 0,91 25,98 ± 0,93 26,27 ± 1,03 136