MATERIAL INSTRUCIONAL EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) PARA PROFESSORES-FORMADORES DELBA GUARINI LEMOS UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA UNIVERSO RESUMO A pesquisa se propõe discutir material instrucional, na modalidade de educação a distância, para professores formadores do Programa Alfabetização Solidária (PAS/ ALFASOL), e estratégias de estudo independente e individualizado para essa população. Considera-se como o problema o analfabetismo que se apresenta com índices alarmantes em muitos municípios de vários Estados Brasileiros e os professores formadores que atuam nesse processo, que são em grande parte, professores leigos, carecendo de formação continuada e permanente em seu programa de capacitação. A metodologia é de natureza discritivo-crítica, para a análise dos elementos essenciais do processo e aplicação de questionários à população alvo: de municípios do Ceará e Piauí.O questionário foi constituído por 2 blocos: no primeiro foram enfocados dados de identificação e escolaridade, e no segundo, temas específicos em relação a material instrucional em Educação a Distância, como o material impresso, aulas por meio de áudio e/ ou vídeo, além do interesse do professor-formador em realizar estudos independentes e individualizados, em local de trabalho e/ ou residência. Os objetivos definidos foram os seguintes: identificar o interesse dos professores formadores em receber material instrucional, na modalidade de educação a distância, no seu processo de capacitação; conhecer as características desses professores-formadores que possuem os mais diferentes capitais culturais, para que se possa oferecer subsídios que (re) orientem seu processo formativo. Os resultados revelaram o interesse dos professores- formadores em receber material instrucional, na modalidade de educação a distância. Materiais como textos impressos, programas de rádios e vídeos educativos foram apontados como estratégias adequadas a uma aprendizagem de caráter individual e independente. Concluiu-se pela adoção de metodologia de EAD, respondendo ao interesse desses professores em estudo independente e individualizado e pelo uso do material impresso, como meio básico mais utilizado, ainda, hoje, em educação a distância, além do rádio e do vídeo educativo. Palavras-chave: Professores-formadores, Material instrucional,educação a distância Sub-Tema: Profissionais da Educação : formação, concepções, impasses e perspectivas
2 ABORDAGEM PRELIMINAR As grandes transformações ocorridas no mundo globalizado e os conseqüentes efeitos sobre o emprego e sobre os requisitos dos mercados de mão-de-obra, além das novas exigências da família, intrínsecas a novos perfis da sociedade, estão a exigir que se desenhem novos programas de ação na área educacional. Dentro deste contexto, entende-se a educação como processo continuado e permanente, reconhecendo-se a educação e o conhecimento como fatores essenciais para o desenvolvimento dos países e a construção da cidadania (Demo, 1977). Acredita-se que o desenvolvimento sustentável das sociedades exige que as pessoas tenham a capacidade de descobrir e de potencializar seus conhecimentos e aprendizagem aquisição e produção de conhecimentos de forma global e permanente. Entendendo-se educação continuada, como educação pela vida toda (lifelong / learning), pode-se inferir que só um processo de educação aberta e flexível como a Educação a Distância (Belloni, 1999), poderá atender o trabalhador, em suas múltiplas atividades em permanente mutação e aos formadores desse processo que, necessariamente, passarão a ter outras competências, diferenciadas daquelas até então exigidas na sua formação, tais como: o conhecimento da psicologia do adulto, a formação continuada, a educação a distância e em espaços sociais diversificados, com metodologias flexíveis para orientação do processo ensino-aprendizagem (Aretio, 1996). Acredita-se, também, que a construção da cidadania passa pela eliminação do analfabetismo, razão da importância do Programa de Alfabetização Solidária (PAS / ALFASOL) que conta com a participação de Empresas e de Universidades. O problema que se coloca é o analfabetismo, apresentando índices alarmantes em muitos municípios brasileiros e dos professores-formadores, (jovens e adultos), do Programa, em sua maioria, professores leigos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 80 e parágrafos, propõe a política de educação a distância e continuada, nos seguintes termos: o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
3 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico se apóia, sobretudo, na participação dialógica de Paulo Freire (1983) e no agir comunicativo de Habermas (1987). Sabe-se que o material instrucional hoje, deve suprir a maior parte das funções, tradicionalmente, atribuídas ao professor e, oferecer oportunidades e espaço para diálogo com o próprio material,,mantendo coerência com os rumos da educação para o século XXI (Moulin e Pereira 1999). Todo material instrucional deve ser, cuidadosamente, elaborado segundo as exigências da população-alvo. Deve ser discutido, criticado, reelaborado, nos diversos momentos coletivos e individuais que integram o planejamento e a execução das atividades propostas no ensino a distância. É na leitura e releitura, no planejamento, na execução crítica que se constrói um ensino de qualidade onde o aprender a ler e contar seja um ato prazeroso para todos, onde dominar o conhecimento, historicamente construído seja, efetivamente, um exercício de cidadania. (Ramos, 2004). Para Perrenoud (2000), é preciso que se criem situações que facilitem verdadeiras aprendizagens, tomadas de consciência de valores de uma identidade moral e cívica. E, ainda: ensinar é, também, estimular o desejo de saber. Alves e Villard (1998) apontam duas considerações relacionadas à formação de professores a distância: benefícios da alternância do processo ensino aprendizagem, entre a formação aplicada on line (espaço-virtual); desenvolvimento de um processo formativo mais participativo e envolvente que confira a equipendência entre a ação individual e em grupo. Para Pierre Lévy (1993), o futuro será muito mais feito de comunicações virtuais acompanhadas de mobilidade do que o isolamento estático diante da tela. O fenômeno fundamental é o da interconexão, entre pessoas, idéias, atividades, instituições... e não o isolamento. É sabido que a escola como lugar fechado e exclusivo de aprendizagem tem seus dias contados, tanto os estudantes universitários, quanto os alunos do ensino fundamental e médio, viverão modos de cooperação e de coordenação cada vez mais virtuais, à medida que avançar a idade das crianças, Por outro lado, o grupo deverá encontrar-se fisicamente, em especial, para as atividades de criação mais intensivas, as quais demandam trabalhos cooperativos, para socialização da construção do conhecimento.
4 É com esta abordagem que procuramos desenvolver a pesquisa, mostrando que a importância do trabalho pedagógico em educação a distância deve comportar novas formas de aprendizagem e as tecnologias devem mediar o processo ensino-aprendizagem. ACHADOS DA PESQUISA Os dados relativos aos municípios do Ceará revelaram que a população-alvo, 50 participantes de 4 municípios do Ceará e 51 de 4 municípios do Piauí, é, em sua maioria, constituída de pessoas jovens: 47,05% têm menos de 20 (vinte) anos e 37,25% têm de 21 a 25 anos. Na faixa de 36 a 40 anos existem apenas, 5,88%. Esse resultado mostra o interesse da população jovem pelo problema de Alfabetização e se constitui em clientela promissora que muito poderá progredir em termos de capacitação e contribuir para o processo de construção da cidadania. Em relação aos municípios do Estado do Piauí, verificaram-se as mesmas tendências: 61, 53% estão na faixa-etária de 20 a 25 anos. Em relação ao estado civil, predominou o de solteiro nos dois contextos, A formação acadêmica dos professores-formadores nos dois Estados, varia de 1º grau incompleto 33% a 3º grau completo, 4%, encontrando-se 54% entre os que possuem 1º e 2º graus completos. Cabe assinalar que o contingente que possui o 2º grau normal é apenas de 27%, logo, a grande maioria é de professores leigos, portanto, a necessidade de uma formação continuada é muito importante. Os professores-formadores foram unânimes em afirmar que gostariam de receber em casa e/ou no local de trabalho, material instrucional que os ajudasse no processo de capacitação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando-se que, hoje, o impresso, ainda, é o meio básico mais utilizado em EAD, concluiu-se por sua validade, como elemento que direciona e propicia a aprendizagem, sobretudo quando se sabe que o aluno realiza sozinho suas tarefas, quando na modalidade de educação a distância.
5 Entre as razões que justificam as vantagens do material impresso sobre outras mídias, autores indicam ser o meio mais econômico e necessitar de equipe reduzida para sua elaboração e produção; facilidade de multiplicação e divulgação e não precisar de instalações especiais para o seu envio e recebimento. O material impresso tem como função : repassar informações, ajudar a desenvolver habilidades, exemplificar a aplicação do conhecimento, dentre outras. Todo o material instrucional para EAD deve levar a uma auto-aprendizagem dirigida, ou seja, que se realiza na ausência do professor mas com o apoio de um material-guia organizador e sistematizador da aprendizagem que deverá levar o aluno a: desenvolver capacidades autônomas e adquirir conhecimentos relevantes que se somam aos conhecimentos anteriores. O material impresso, como forma de apoio à aprendizagem autônoma, nos programas de EAD, é considerado de real valia para o aluno que com ele interage, estabelecendo uma forma afetiva de relação, o que torna o processo de aprendizagem mais rico e significativo. (Emerenciano e Wickert, 1998). O material impresso mediatiza a relação aluno-tutor ou orientador da aprendizagem. Não sendo construído de forma rígida permite a flexibilidade necessária para que o aluno exercite a sua criatividade e a sua capacidade crítico-reflexiva, no momento em que alia sua experiência anterior e é livre na consulta de fontes diversas de informação, para elaborar as respostas às indagações formuladas. Reforça-se a cumplicidade autor-leitor assegurada através do texto impresso, que permite ao aluno mergulhar no universo do autor e sentir e assimilar suas posições, pensamentos e emoções em relação ao conteúdo apresentado. Para tanto, faz-se mister a construção de um saber pessoal, fruto de uma atuação críticocriativa na observação do material impresso, com base na investigação, como condição essencial para que se evite a perpetuação das rotinas, o que inviabilizaria a formação de um saber autônomo e a expressão do conhecimento à luz da criatividade. O rádio é veículo de grande popularidade, graças ao caráter universal de sua linguagem, além da empatia que procura estabelecer com o ouvinte ao atender suas demandas por lazer, música, entretenimento, informação e companhia, ingredientes de grande importância em programas de EAD. A introdução de vídeos educativos no sistema de EAD é
6 uma estratégia que permite o acesso ao conhecimento, quando e como o estudante desejar, congelando a imagem, para posterior reprodução. (Castro e Barreto, 1998). REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVES, Nilda, VILLARD, Raquel (orgs) Múltiplas Leituras da Nova LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Rio de Janeiro. Dunya, 1998. ARETIO, Lourenço Garcia. Educación a distancia hoy. Madrid: UNED. 1996 645p. BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. São Paulo: Editora Autores Associados, 1999. 115p. CASTRO, F. G. da Rocha e BARRETO, L. S. Educação Radiofônica. Curso de Especialização em EAD. Eixo temático II: Mediatização. Unidade de Estudo Autônomo (UEA) 3 Editora universa. Universidade Católica de Brasília (UCB). Brasília. 1998. DEMO, Pedro. Educação e desenvolvimento: algumas hipóteses de trabalho frente à questão tecnológica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991. EMERENCIANO, M.S e WICKERT, M. L. Material impresso para Educação a Distância (EAD). Curso de Especialização em EAD. Eixo temático II: mediatização, Unidade de Estudo Autônomo (UEA)2. Editora UNIVERSA, Universidade Católica (UCB) Brasília. 1998. HABERMAS, J. Teoria de La Accion Comunicativa. Barcelona. Península, 1987. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução de Carlos I, da Costa. Rio de Janeiro, Editora 34, 1993. MEC Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB, nº 9394/96.
7 MOULIN, N e Pereira, V. Material impresso para educação a distância: formas e funções. Caderno de Estudos e Pesquisas. Ano 3 N5, ago. 1999, p. 27-34. PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para ensinar, Porto Alegre. Artes Médicas Sul, 2000. RAMOS, Francisco Carlos Suzano. O telecurso 2000: Possibilidade de individualização no Ensino a Distância. Dissertação de mestrado em Educação. UNIVERSO. 2004. 123 páginas UNIVERSIDADE Católica de Brasília UCB. Curso de Especialização em Educação a Distância. Eixo-temático I Contextualização. UEA-01. Conceituação de Educação a Distância e UEA-02 Educação a Distância no contexto Global. Brasília (DF): Editora Universa. UCB. Brasília, 1998.