BNDES: MITOS & FATOS mais contribuições ao debate da MP 777

Documentos relacionados
Tributação no Setor de Concessões: visão geral José Roberto Afonso

Nome do Palestrante Lorem Ipsum

Reforma da Previdência: Os Impactos no Mercado de Trabalho

Desafios da Lei de Responsabilidade Fiscal José Roberto R. Afonso

A importância da eficiência da arrecadação das receitas próprias para os entes públicos

Financiamento da (in)seguridade Social na era do Trabalho 4.0

Relações entre Tesouro e Banco Central: mais peculiaridades brasileiras

A economia brasileira e a situação fiscal

Tendências na Tributação Brasileira

Uma abordagem macroeconômica: investimentos públicos

Desafios da política e da gestão fiscal estadual

Liquidez Bancária: Breve Comparações

O Simples Nacional e a Estrutura Tributária Brasileira: SuperSimples versus HiperComplexo

Como a reforma da previdência impactará a indústria de fundos?

BNDES em uma Encruzilhada

Crise Fiscal e Estratégias de Governo Eletrônico

BNDES e o Apoio ao Setor de P&G. André Pompeo do Amaral Mendes Gerente AIB/DEGAP Novembro / 2014

BNDES e Crédito de Longo Prazo em uma Encruzilhada: a MP 777

A experiência brasileira com o regime de metas fiscais José Roberto Afonso

O m ercado de crédito e o papel do B N D ES

Financiamento da Saúde no Brasil: os desafios do Estado e da Sociedade

A importância do FCO para o desenvolvimento do Centro-Oeste

Em Defesa dos Bancos Públicos: contra ataques neoliberais

Trabalho 4.0 x Tributos 0.4

Investimento e intermediação financeira Brasília, CDES, 12/04/2017. Luiz Fernando de Paula Professor Titular da FCE/UERJ e Pesquisador do CNPq

Fontes de Financiamento. Fernando Nogueira da Costa Professor do IE-UNICAMP

Apresentação Institucional BNDES Cadeia Fotovoltaica. 19 de Junho de 2015

Procedimentos e Regras: a dimensão institucional de programas de ajuste fiscal

Indústria de Transformação e Investimento

A Extinção da TJLP: Um salto no escuro. Ernani T. Torres Filho (*)

OPERAÇÕES DE CRÉDITO NO BRASIL 27 de junho de 2018

BNDES e o apoio à Infraestrutura. Agosto de 2016

Perspectivas para Economia Brasileira em 2009

NOTA TÉCNICA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS PROPOSTAS DE COMPOSIÇÃO DE DÍVIDAS RURAIS

O Financiamento do Setor Elétrico Brasileiro: o papel do BNDES e as novas tendências 1.

Diante da atual conjuntura econômica, qual é a relação da crise fiscal com a cidadania?

Perspectivas Econômicas O Brasil e o Mundo FÓRUM DE DESENVOLVIMENTO José Roberto Afonso

Operações Crédito do SFN

6 SEMINÁRIO ABECIP 2018

BDMG. Linhas de crédito disponíveis

A Oportunidade da Bolsa Brasileira

O BNDES e as políticas fiscal e monetária

Mercados de Capital e Crédito no Brasil: tendências recentes

NOVAS MEDIDAS DE COMBATE À CRISE E ESTÍMULO AO CRESCIMENTO

Luciano Coutinho Presidente

A Sustentabilidade Fiscal e a Redução do Tamanho do Estado. Carlos Kawall Economista Chefe

Impactos para o BNDES com a proposta de mudança nos recursos do FAT

Raia Drogasil Teleconferência de resultados

Agro em Questão. Financiamento para o Agronegócio: desafios e alternativas para garantir o crescimento do setor

Instrumentos de Política Macroeconômica

Contribuições ao Desenvolvimento do Mercado de Renda Fixa. Abril/2011

Banco do Brasil. Divulgação do Resultado 3T10 Teleconferência

Evolução da Dívida Pública Federal na Vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal: Tripé virou Quatrilho depois da Crise Financeira

Plano Agrícola e Pecuário, safra 2016/17 Medidas anunciadas em 04 de maio de 2016

BRDE. 1º Workshop Nacional de CGH s ABRAPCH 28/03/2017 Tatiana Henn Gerente de Planejamento PR

Poupança Privada e o Financiamento Corpora3vo de Longo Prazo

Nota Técnica: Benefícios Financeiros e Creditícios da União

Ministério da Fazenda. 08 de agosto de 2011

COOPERATIVISMO FINANCEIRO E CRÉDITO RURAL

Agronegócios. Cuiabá, outubro de 2017

Informações de Impressão. Informações de Impressão. Questão:

47ª Reunião do Treino & Visita GRÃOS Embrapa/Soja

Custos e Benefícios Fiscais do PSI e Empréstimos do Tesouro ao BNDES. 19 de agosto de 2010

Spread bancário no Brasil: Tendências de longo prazo, evolução recente e questões metodológicas

Trabalho de Discussão Interna - TDI CEMEC 06

EVOLUÇÃO DO CRÉDITO E JUROS EM 2002

Banco do Brasil. Divulgação do Resultado 2T09

IMPLANTAÇÃO DA TLP Lei nº /2017

18/05/2017. Gasto Público Total no Brasil. Carga Tributária % do PIB. GASTO FISCAL NO BRASIL: crescimento e dilemas

CENÁRIO ECONÔMICO QUE VENHA 2018! NOVEMBRO/2017

Mercado de Crédito. Fernando Nogueira da Costa Professor do IE-UNICAMP ss.com/

FINANCIAMENTO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

Banco do Brasil. Divulgação do Resultado 2T10 Teleconferência

MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS MÓDULO 10 BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL BNDES

RENDA FIXA TESOURO DIRETO

RENDA FIXA TESOURO DIRETO

Apoio do BNDES à Infraestrutura. Rio de Janeiro Março de 2013

Financiamento de Desenvolvimento Seminário da RedeD IE- UNICAMP - Dia 10/05/12: 08:30 às 10:30

COLETIVA DE IMPRENSA DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTO VAREJO E PRIVATE BANKING

DESTAQUES DO RELATÓRIO. Carteira Recomendada. Cenário Macroeconômico

Coletiva de Imprensa. Resultados de 2016 e Perspectivas para Gilberto Duarte de Abreu Filho Presidente. São Paulo, 24 de Janeiro de 2017

V i s ã o G e r a l d e M e r c a d o ( I n s t i t u c i o n a l + N ã o I n s t i t u c i o n a l )

Teleconferência Resultados 1T12

NOTA CEMEC 04/2017 Contas Financeiras CEMEC Financiamento de Entidades Não Financeiras

Retomada do Crescimento e Reformas Estruturais

Pesquisa Serasa Experian de Expectativa Empresarial. 1º Trimestre de 2011

BANCO DO BRASIL 3º Trimestre 2011

Produto 8 Instrumentos de mercado de capitais para financiamento de infraestrutura. Outubro 2018

Boletim Informativo de Crédito Imobiliário e Poupança

Operações Crédito do SFN

Coletiva de imprensa. Estatísticas de Distribuição

Retomada do Crescimento e Reformas Estruturais

Seminário e Oficina Técnica ABDE-BID: Papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) no Financiamento de Infraestrutura Sustentável

Encontro de Provedores Regionais Nordeste Bit Social / Momento Editorial

Financiamento e Garantias para a Infraestrutura

Estatísticas. Economia. Agrícola. Dados Básicos FEVEREIRO/2013

LIG. As Oportunidades e Impactos da Letra Imobiliária Garantida. Workshop. Filipe F. Pontual Diretor Executivo. São Paulo, 2 de Agosto de 2018

Luciano Coutinho Presidente

RENDA FIXA TESOURO DIRETO

Transcrição:

BNDES: MITOS & FATOS mais contribuições ao debate da MP 777 José Roberto Afonso Agosto/2017 zeroberto@joserobertoafonso.com.br

A MP 777/17 não acabará com o BNDES nem tampouco reduzirá a sua relevância. Não há um estudotécnico sobre o impacto datlp sobre o nívelde investimento da economia brasileira. A TLP será aplicada exclusivamente sobre o BNDES, haja vista que ficaram fora da MP 777: Ø FGTS; Ø Fundos Constitucionais (FCO e FNE); Ø Poupança Rural (BB); Ø Financiamentos à FINEP. O BNDES tem um porte (e papel) semelhante aquele exercido pelos demais Bancos de Desenvolvimento Internacionais em suas economias. 17,4% 17,5% 13,4% 13,6% 11,9% Carteira da IFD/PIB Carteira da IFD/Crédito para o Setor Privado 8,8% 9,1% 6,5% 6,3% 7,2% 3,5% 3,9% 3,3% 1,9% 1,1% 1,0% CDB (China) KfW (Alemanha) BNDES (Brasil) KDB (Coréia do Sul) JFC (Japão) 2 CDP (Itália) CDC (França) ICO (Espanha) zeroberto@joserobertoafonso.com.br

A MP 777/17 não acabará com o BNDES nem tampouco reduzirá a sua relevância. Haverá certamente perda de capilaridade. A estimativa é de que haja um encolhimento (significativo a partir de 2019/2020) das operações indiretas automáticas (efetuadas via rede de agentes financeiros). Isso ocorrerá pois o custo de captação junto ao BNDES será mais alto do que o dessas instituições em mercado. A única vantagem comparativa remanescentedo BNDESnas operações de repasse será o prazo. Em 2023, mantida a regra da TLP e ceteris paribus, o custo de repasse do BNDES para os agentes financeiros será de: IPCA + Juro Real da NTN-B 5 anos + 2,1% ao ano. Mesmo que o BNDES trabalhe na redução dos seus spreads (hoje, na faixa de 2,1% ao ano), o mais provável é que os programas automáticos sejam gradativamenteextintos. Nos Programas Agrícolas, o Tesouro Nacional arcará com taxa de equalização diferentes, caso a operação seja feita pelo BNDES (TLP) ou pelo Banco do Brasil (Poupança Rural), posto que para o cliente final a taxa é fixa, mas o funding tem custo diferenciado pois a Poupança Rural está fora de MP 777. Isso elevará o custo fiscal para o Tesouro Nacional caso o cliente opte pelo BNDES. 3

Com o ajuste fiscal e as demais reformas econômicas, todas as taxas de juros da economia deverão cair. A MP 777 inverte a causalidade. A MP muda o custo do financiamento de longo prazo para taxas de mercado, sem que as pré condições para redução das taxasde juros da economia tenham ocorrido. Nos deparamos com um dilema: É a TJLP que faz a Selic ser alta, ou ao contrário, é a persistência de elevadas taxas de juro de mercado que exigiu na décadade1990 a criação datjlp? O mercado de longo prazo no Brasil é incipiente. Mesmo o mercado de Debêntures Incentivadas (Lei nº 12.431/11) não sustenta um patamar de investimento compatível com as necessidades da economia brasileira. O volume de emissões é da ordem de R$ 4 a 6 bilhões/ano, o que representa 4 a 6% do valor do CAPEX dos projetos de infraestrutura. Essas emissõesmostramtrêscaracterísticasintrigantes: i) a concentraçãoem pessoas físicas (incentivos fiscal); ii) a baixa participação de investidores institucionais (cuja regulamentação faz com que sejam, basicamente, investidores em títulos públicos); e iii) a elevada participação do BNDES em função do pouco apetite do mercado para esse instrumento, provavelmente em função dos riscos existentes. 4 4

Parte significativa da indústria nacional sequer tem acesso ao crédito do BNDES O BNDES responde por: i) 19,4% do saldo das operações do BNDES como proporção do crédito total da economia; ii) aproximadamente 1/3 do mercado de crédito bancário a pessoas jurídicas (empresas); e iii) 95% do mercado de crédito bancário direcionado ao segmento de financiamento a infraestrutura, desenvolvimento e projetos (aproximadamente metade em operações diretas). No período 2011-2016, a média de participação das MPMEs nos desembolsos do Banco foi de 32%. Em valores constantes de 2016, ao longo do período 2001-2016, o BNDES destinou um total de R$ 695,4 bilhões para MPMEs. O Banco desembolsou para praticamente todos os setores da economia, atingindo 228 mil empresas apoiadas/ano no período 2010/16. As operações com pessoas físicas (Agrícola e ProCaminhoneiro), Micro e Pequenas empresas responderam por 89% do número de operações aprovadas e 23% dos desembolsos do BNDES em 2016.

A participação do BNDES no financiamento agrícola é irrisória. No período 2008 2016 apenas 4,7% de seus desembolsos foram para o setor agrícola. No total, não mais que R$ 6 bilhões em média (o total de crédito rural foi mais de R$ 100 bilhões em2016) Os financiamentos do BNDES concentram no Investimento, não havendo atuação expressiva no segmento de custeio e comercialização. No PAP 2017/18 (Agricultura Empresarial) do total de R$ 38,1 bilhões de financiamento ao investimento, o BNDES responde por R$ 19,6 bilhões (51% do total), dos quais R$ 12,9 bilhões em programas equalizados. No Plano Safra 2017/18 da Agricultura Familiar do total de R$ 7,5 bilhões de financiamento ao investimento, o BNDES responde por R$ 2,0 bilhões (27% do total). Nas últimas safras o BNDES se tornou protagonista como fonte de recursos para investimento: 6

Em termos absolutos os financiamentos para região Sul e Sudeste são maiores. Entretanto, se observarmos a razão entre os desembolsos do BNDES e o PIB Regional verificamos que as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste têm uma relação superior à observada na região Sudeste e à média Brasil. Os financiamentos do BNDES são direcionados majoritariamente para o Sudeste e o Sul. Logo reduzir os subsídios significará redistribuição regional da renda. Portanto, essas regiões podem ser afetas significativamente coma alta da taxa de juros dos financiamentos do BNDES, mesmo tendo os Fundos Constitucionais sido excluídos damp 777.

Livro Verde do BNDES Os dados aqui utilizados têm por fonte: Livro Verde do BNDES: nossa história tal como ela é: Disponível em: http://bit.ly/2wnwuin; BNDES: PortalTransparência: Disponível em: http://bit.ly/2vmjaty.

José Roberto Afonso é economista e contabilista, doutor pela UNICAMP, pesquisador do IBRE/FGV e professor do programa de mestrado do IDP. Mais trabalhos, próprios e de terceiros, no portal: zeroberto@joserobertoafonso.com.br 9

EXONERAÇÃO DE RESPONSABILIDADE (DISCLAIMER) Este relatório foi elaborado para uso exclusivo de seu destinatário, não podendo ser reproduzido ou retransmitido a qualquer pessoa sem prévia autorização. As informações aqui contidas tem o propósito unicamente informativo. As informações disponibilizadas são obtidas de fontes entendidas como confiáveis. Não é garantida acurácia, pontualidade, integridade, negociabilidade, perfeição ou ajuste a qualquer propósito específico das fontes primárias de tais informações, logo não se aceita qualquer encargo, obrigação ou responsabilidade pelo uso das mesmas. Devido à possibilidade de erro humano ou mecânico, bem como a outros fatores, não se responde por quaisquer erros ou omissões, dado que toda informação é provida "tal como está", sem nenhuma garantia de qualquer espécie. Nenhuma informação ou opinião aqui expressada constitui solicitação ou proposta de aplicação financeira. As disposições precedentes aplicam-se ainda que venha a surgir qualquer reivindicação ou pretensão de ordem contratual ou qualquer ação de reparação por ato ilícito extracontratual, negligência, imprudência, imperícia, responsabilidade objetiva ou por qualquer outra maneira. 10