6.ª CONFERÊNCIA DA FORGES UNICAMP, CAMPINAS, BRASIL 28 A 30 NOV 2016 REGULAÇÃO DE CURSOS JURÍDICOS BRASILEIROS Prof. Dr. Ailton Bueno Scorsoline Faculdade de Direito de Sorocaba FADI Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
Questões Introdutórias Os desdobramentos a partir da Declaração de Bolonha (1999) impulsionaram uma série de reestruturações na educação superior brasileira em função das novas relações socioeconômicas vigentes: priorização da expansão da educação superior privatista, sob o controle Estatal através de políticas de avaliação. A avaliação surge nesse cenário caracterizada como conjunto de instrumentos necessários à medição do serviço educacional prestado, ou recursos investidos, e sua eficácia nos resultados pretendidos: qualidade. Paradigma de qualidade: estratégia competitiva necessária à adaptabilidade ao mercado (eficiência e produtividade econômica).
Impasses na Educação superior globalizada Qual o papel da educação superior no mundo globalizado? Perspectiva social da educação, uma visão democrática-cidadã; o papel da universidade é o desenvolvimento da formação humana para a cidadania, uma vez que constitui o sujeito para o exercício de direitos e deveres na vida social. Perspectiva Reprodutivista - reflete o foco economicista de nossa sociedade atual, pois restringe a concepção de educar a desenvolver habilidades para que os educandos adquiram competências necessárias à integração ao mercado de trabalho o mais vantajosamente possível.
Nesse sentido, a avaliação formativa e a acreditação surgem em perspectivas diversas na busca da qualidade. A Avaliação emerge como um complexo processo social que busca a produção de sentidos por meio da participação democrática de todos os envolvidos no desenvolvimento da universidade. A qualidade é fruto de um processo de construção democrático de vontades coletivas. A Acreditação surge como uma necessidade do mercado (originário da globalização econômica) em regular a educação superior de modo que a qualidade seja materializada no cumprimento de padrões préestabelecidos que possibilitem comparação e a seleção por parte do mercado, a universalização da formação profissional.
A Ordem dos Advogados do Brasil e a Regulação dos Cursos de Direito O presente trabalho discute o processo de avaliação e regulação da Educação Superior Brasileira, sob o foco dos cursos de bacharelado em Direito e as tensões entre o ente estatal e a OAB no controle da qualidade dos cursos jurídicos brasileiros
Tensões quanto à regulação dos cursos de Bacharelado em Direito : MEC X OAB Principais questões postas em debate: Há (in)eficiência do Estado Brasileiro para implementar uma política de qualidade da educação superior? A OAB possui legitimidade para certificar a qualidade dos cursos jurídicos e instituições de educação superior? A promoção da competitividade, principalmente, através de exames (ENADE e Exame de Ordem da OAB), leva à melhoria da qualidade dos cursos jurídicos?
Apesar da centralidade dos processos de avaliação e regulação da educação superior brasileira estar sob o controle regulatório do Estado, a OAB intensifica suas ações de modo a influenciar políticas públicas, cuja perspectiva alinha-se ao ideário do mercado neoliberal. Há, então, a apreensão de que o MEC possa sucumbir à entidade de representação profissional dos advogados ao partilhar a função de controle da qualidade do ensino jurídico do País, e assim, regularem juntos os cursos jurídicos brasileiros, com o estabelecimento de padrões de qualidade universalizados, abrindo espaço para a criação de uma agência acreditadora alicerçada em conceitos ligados ao mercado para regular a qualidade dos cursos jurídicos brasileiros.
CONSIDERAÇÕES A organização de um procedimento próprio de avaliação da qualidade dos cursos jurídicos (OAB Recomenda) baseado nos resultados de candidatos ao Exame da OAB e o conceito ENADE obtido pelas IES constitui num poderoso instrumento do mercado para sinalizar à sociedade o conceito de qualidade privilegiado pela categoria profissional: formação técnicaprofissional para desempenho de atividades esperadas pelo mercado produtivo e não pela sociedade.
Entendemos que a preocupação extremada pela formação técnica para o mercado de trabalho deve ser aliada a uma concepção de formação ético-cidadã. Para tanto, deve-se construir um processo de avaliação que privilegie a participação de todos em todos os momentos, que propicie a discussão a respeito de qual educação superior se quer construir. A regulação é parte importante desse processo, cuja incumbência deve ser do Estado, já que seu caráter é ser indutor de políticas públicas que permita uma visão estratégica no desenvolvimento da educação superior e atendimento às múltiplas demandas da sociedade.
Há que se estabelecer um processo dinâmico e socialmente construído em que haja o compromisso com o sentido social do conhecimento, com os valores universais que permeiam a formação humana: justiça social, democracia, solidariedade, desenvolvimento autônomo do sujeito etc.. A preocupação com a qualidade deve ir ao encontro dos atores que dela participam, como forma de legitimar o processo e conduzir a um resultado que seja objeto de discussão e não de conformação normativa.
REFERÊNCIAS
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