03564 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA Simeri de Fatima Ribas Calisto Regina Bonat Pianovski Rosana Aparecida de Cruz RESUMO Este trabalho apresenta um estudo sobre o processo de elaboração do projeto político pedagógico. Destaca o processo de construção coletiva deste documento que ao envolver toda a comunidade escolar busca contemplar a realidade das escolas. Reflete sobre a relação entre as dimensões político e pedagógica: a dimensão política no que tange a formar trabalhadores capazes de se emanciparem, ou seja, tornarem-se livres e a pedagógica no sentido de impulsionar a escola a realizar suas tarefas de forma intencional, buscando cumprir os propósitos firmados na construção do projeto. Tem como objetivo destacar a ação intencional do projeto político pedagógico, enquanto orientador da prática pedagógica da escola. Para fundamentar o estudo recorremos a Veiga (2002, 2010) quanto aos princípios que devem ser considerados no processo de elaboração do projeto político pedagógico nas escolas; Caldart (2009) e Arroyo (com relação a Educação do Campo; também buscamos relatórios das pesquisas de campo desenvolvidas no projeto do observatório da educação/capes, com relação à análise dos projetos político pedagógicos das escolas localizadas no campo. Os resultados preliminares apontam para a incoerência entre o que está firmado nestes projetos e a realidade das escolas, uma vez que não há relação entre o que está escrito e a prática desenvolvida, tanto nas escolas localizadas no campo, quanto nas escolas localizadas na região urbana; estes projetos não são elaborados de forma coletiva, não contam com a participação de professores e tampouco da comunidade, consequentemente não contemplam a realidade do contexto a que se referem. A construção do projeto políticopedagógico, bem como, sua implementação nessa perspectiva é ousada, pois rompe com os processos hierárquicos muito presentes na sociedade atual. Palavras-chave: Projeto Político Pedagógico. Escolas do Campo. Formação Humana. Introdução Entende-se que o processo coletivo de construção do projeto políticopedagógico, seja nas escolas do campo ou da cidade, representa para a instituição escolar um passo importante para a democratização do ensino. Como afirmam Veiga e Araujo (2010, p.118) democracia e participação são os pilares que fundamentam a possibilidade de empoderamento da comunidade escolar na perspectiva da instituição educativa pública e de qualidade social.
03565 Pretendemos neste breve estudo refletir sobre o processo de construção coletiva do projeto político-pedagógico, enquanto documento que norteia o trabalho a ser desenvolvido na escola a partir de decisões firmadas junto à comunidade escolar e, com base nos relatórios desenvolvidos pelos pesquisadores no projeto do observatório da educação financiado pela CAPES, trazer algumas análises de como este processo acontece nas escolas localizadas no campo. O referido projeto tem como objetivo provocar a reestruturação dos projetos político-pedagógicos das escolas localizadas no campo, por meio de uma ação coletiva que envolve professores, coordenadores pedagógicos, graduandos, mestrandos e doutorandos. O projeto político pedagógico Entendemos que o projeto político pedagógico configura um documento orientador do trabalho desenvolvido na escola, o qual ao ser construído de forma coletiva permite uma aproximação com a comunidade, de modo a contemplar as demandas emergentes. Depende das ações pensadas e planejadas dentro da escola, das decisões tomadas pelo coletivo que vivencia as experiências da realidade local, o qual terá condições de decidir sobre as possibilidades do trabalho a ser desenvolvido. Consequentemente requer muito estudo e reflexão acerca das concepções de homem e de sociedade que se deseja formar. Para que a construção do projeto político-pedagógico seja possível, não é necessário convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente. E, para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto (VEIGA, 2006, p.13). A comunidade escolar, no processo de construção de seu projeto políticopedagógico, além de refletir sobre seus planos de ensino e de todas as atividades desenvolvidas, deve ter participação efetiva em todos os momentos, e de todos os envolvidos com o processo educativo da escola. O projeto tem como ação intencional, construir compromissos definidos coletivamente com relação a atender aos interesses reais da população usuária da escola pública. Nesse sentido assume duas dimensões: a política e a pedagógica. A dimensão política corresponde a formar trabalhadores pensantes, críticos, capazes de se emanciparem e, a dimensão pedagógica no sentido de impulsionar a escola a realizar
03566 suas tarefas de forma intencional buscando cumprir os propósitos firmados na construção do projeto. Veiga destaca que a participação da comunidade nas decisões escolares é um importante exercício de cidadania. O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão (VEIGA, 2002, p.02). A construção do projeto político-pedagógico, bem como, sua implementação nessa perspectiva é ousada, pois rompe com os processos hierárquicos muito presentes na sociedade atual. Nesse contexto, os referenciais que fundamentam a construção deste projeto necessitam recorrer a uma compreensão ampla da prática pedagógica. Portanto, a prática pedagógica deve se aproximar das teorias críticas, que articulam o entendimento da prática social como mecanismo de desvelamento do contexto em que a escola se situa e os problemas daí decorrentes. A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade (VEIGA, 2002, p. 03). As possibilidades de autonomia e de qualidade da escola, que rompem com a ótica do poder centralizador que exerce um controle técnico e burocrático, permitem outras possibilidades para a organização do trabalho pedagógico. Veiga (2002) também apresenta importantes princípios que devem acompanhar a construção e implementação dos projetos políticos pedagógicos: igualdade de condições para acesso e permanência na escola; qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais; gestão democrática; a liberdade enquanto princípio articulado a autonomia; e a valorização do magistério. Os princípios elencados por Veiga (2002) são fundamentais para a organização do projeto político pedagógico seja, nas escolas urbanas, ou naquelas localizadas no campo. As escolas localizadas no campo
03567 As pesquisas desenvolvidas no projeto no observatório da educação buscam aprofundar os estudos fundamentados nos princípios da educação do campo, para problematizar a elaboração dos projetos político-pedagógicos destas escolas. Segundo Caldart: Na reafirmação da importância da democratização do conhecimento do acesso da classe trabalhadora ao conhecimento historicamente acumulado, ou produzido na luta de classes, a Educação do Campo traz junto uma problematização mais radical sobre o próprio modo de produção do conhecimento, como crítica ao mito da ciência moderna, ao cognitivismo, à racionalidade burguesa insensata; como exigência de um vínculo mais orgânico entre conhecimento e valores, conhecimento e totalidade do processo formativo. (CALDART, 2009, p.44). O que Caldart afirma é que a democratização de ensino não corresponde somente à garantia de acesso a escola, mas também à garantia da produção do conhecimento científico. Entendemos que no campo também se produz conhecimento, e que este deve ser transformado, sistematizado e ampliado. Arroyo (2010) destaca como matrizes importantes a serem consideradas nas escolas localizadas no campo: o trabalho, a terra, a cultura e a vivência da opressão. Tais temas estão relacionados à vida no campo e devem ser considerados na construção do conhecimento, pois garante aos sujeitos que vivem no campo o protagonismo do seu próprio processo de aprendizagem. No contexto das escolas localizadas no campo, de acordo com os relatórios dos pesquisadores do projeto do observatório de educação, quanto aos projetos políticopedagógicos tem- se constatado que: 1- Não correspondem à realidade da escola, uma vez que existe um projeto padrão para todas as escolas do município. 2- Não há relação entre o que está contemplado nos projetos com a realidade das escolas localizadas no campo. 3- Não é construído por meio de um trabalho coletivo que envolve professores, equipe pedagógica e comunidade. 4- Alguns municípios contratam empresas para a elaboração do referido projeto, sem uma análise da realidade local. 5- Não há estudo sobre as concepções de homem, educação e sociedade que constam nos projetos.
03568 Os resultados preliminares das pesquisas apontaram para a incoerência entre o que está firmado nestes projetos e a realidade das escolas, uma vez que não há relação entre o que está escrito e a prática desenvolvida, tanto nas escolas localizadas no campo, quanto nas escolas localizadas na região urbana; estes projetos não são elaborados de forma coletiva, não contam com a participação de professores e tampouco da comunidade, consequentemente não contemplam a realidade do contexto a que se referem. Considerações finais Entendemos que a construção do projeto político pedagógico realizado de forma coletiva, contando com a participação de toda a comunidade, garante à escola maior autonomia e possibilidade de refletir sobre sua função. No contexto das escolas localizadas no campo, este processo de construção vem oportunizando além de repensar o papel da escola, a identificação da comunidade, trazendo para dentro do ambiente escolar a cultura, o modo de vida dos seus alunos, para que num processo coletivo e formador garantam a produção de conhecimentos na perspectiva da formação humana. REFERÊNCIAS ARROYO, M. As matrizes pedagógicas da educação do campo na perspectiva da luta de classes. IN: MIRANDA, Sônia Guariza; SCHWENDLER, Sônia Fátima. Educação do Campo em movimento: Teoria e prática cotidiana. Curitiba: UFPr, 2010. p.35-53. CALDART, R. S. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. Trab. Educ.Saúde, Rio de Janeiro: V. 7.n.1, p.35-64, mar/ jun. 2009 VEIGA, I. P. A; ARAUJO, J. C. S. O projeto político-pedagógico: um guia para a formação humana. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Quem sabe faz a hora de construir o projeto político-pedagógico. Campinas: Papirus, 2010. p. 11-37 VEIGA, I. P. Conselho escolar e projeto político pedagógico In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Quem sabe faz a hora de construir o projeto político-pedagógico. Campinas: Papirus, 2010. p.113-129 VEIGA, I. P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação reguladora ou emancipatória? Campinas, v.23, n. 61, p. 267-281, 2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v23n61/a02v2361.pdf.acesso em 13 de abril de 2014.