3 O Teorema de Ramsey

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Transcrição:

3 O Teorema de Ramsey Nesse capítulo enunciamos versões finitas e a versão infinita do Teorema de Ramsey, além das versões propostas por Paris, Harrington e Bovykin, que serão tratadas no capítulos subseqüentes. Apresentamos uma demonstração em SF para as versões finitas e uma demonstração geral em ZF que abrange todas as versões expostas do Teorema. 3.1 Partições e os Teoremas de Ramsey Seria enfadonho tratar dos resultados que seguem os enunciando e demonstrando em lógica de primeira ordem partindo dos axiomas de PA. Isso posto, nossa abordagem será a de proporcionar ao leitor enunciados e demonstrações não formais em SF, que, lançando mão da correspondência descrita em 1.3 podem ser escritos e interpretados de maneira formal em PA. Termos como grafo e aresta e expressões como card, min e sup mantém o seu significado tradicional mas, visando não tornar o texto exaustivo, nos permitimos não definir cada um formalmente. Dado I, seja [I] e = {U I : card(u) = e}, o conjunto das e-uplas de I. Dada uma função P : [I] e r, dizemos que P é uma partição de [I] e em r pedaços ou ainda, P pinta as e-uplas de I com r cores. Os exemplos simples para partições são o grafo de I vértices, onde P : [I] 2 2 determina se dois vértices são ou não ligados por uma aresta ou o grafo completo de I vértices, onde P pinta suas arestas nas cores azul e vermelho. Um exemplo mais geral é obtido se passamos a considerar o grafo de I vértices com as arestas pintadas em r cores. Dada P : [I] e σ, dizemos que H P é homogêneo ou monocromático para P se, e somente se, P é constante em [H] e e,dados e,r,k e M, usamos a notação M (k) e r quando para toda partição P : [M] e r existe um H M homogêneo para P, card(h) k. O Teorema de Ramsey, tema central de nosso trabalho, afirma o seguinte: Teorema 4 (Ramsey). Para todo e, r, k N, existe M N tal que M (k) e r.

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 17 Para demonstrar 4 em PA ou, melhor dizendo, em SF, começamos demonstrando uma versão do Teorema para grafos de duas cores para, posteriormente, generalizar os resultados obtidos. Proposição 5 (Ramsey para grafos com duas cores). Para todo r, s N, existe M N tal que para todo grafo completo de M vértices cujas arestas são coloridas de azul ou vermelho, então ou existe um subgrafo completo azul com r vértices ou um subgrafo completo vermelho com s vértices. Observe que o enunciado da Proposição 5 remete ao exemplo onde I é o conjunto dos vértices e P determina se existe ou não uma aresta ligando dois elementos distintos de P. A Proposição 5 deu partida ao ramo da matemática hoje conhecido por Teoria de Ramsey e o menor M que satisfaz as condições de 5 para r e s dados é chamado de o número de Ramsey R(r,s). Podemos ampliar essa definição de modo a contemplar uma gama maior de cores usando a notação R(a 1,a 2,...,a r ) e, se a partição pinta e-uplas, e 2, usando R e (a 1,a 2,...,a r ). Nesse contexto, o Teorema 4 pode ser visto como um caso particular do lema abaixo: Lema 6. Para todo e, r N, existe o número de Ramsey R e (a 1,...,a r ). Demonstraremos, portanto, o Lema 6. A demonstração se desenvolve em três lemas e começa com a demonstração da Proposiçao 5. Para tal, vamos utilizar a indução em r + s. Pela definição, temos que R(n, 1) = R(1,n) = 1. Admita, pela hipótese de indução, que existam R(r 1,s) e R(t, s 1). Lema 7. R(r,s) R(r 1,s) + R(r,s 1). Prova do Lema: Considere o grafo completo G com R(r 1,s)+R(r,s 1) vértices. Tome um vértice v G e considere dois subgrafos M e N onde um vértice w está em M se, e só se, (v,w) é azul e, caso contrário, pertence a N. Agora segue, pelo princípio da casa do pombo, que card(m) R(r 1,s) ou card(n) R(r,s 1). Sem perda de generalidade, digamos que card(m) R(r 1,s). Então ou M admite um subconjunto homogêneo V vermelho com s elementos ou M admite um subconjunto homogêneo azul com r 1 elementos e, portanto, M v tem um subconjunto homogêneo A de r elementos. Como M G, está demonstrado. Seguimos aumentando indutivamente o tamanho das e-uplas. Lema 8. R e (a 1,a 2 ) R e 1 (R e (a 1 1,a 2 ),R e (a 1,a 2 1)) + 1

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 18 O Lema 8 é uma generalização do Lema 7 e demonstração que segue apenas generaliza a demonstração apresentada para o Lema 7. Prova do Lema: Os casos em que e = 1 são triviais e sabemos que R e (n, 1) = R e (1,n) = 1. Suponha, por indução, que exista R a (x,y) para todo a < e e R e (b 1,b 2 ) para todo b 1 a 1 e b 2 a 2 tais que b 1 + b 2 < a 1 + a 2. Seja M um conjunto tal que card(m) é maior que o lado direito do Lema 8 e considere a partição P : [M] e 2. Tome x M e considere a partição P x : [M {x}] e 1 2 definida por P x (y 1,...,y e 1 ) = P(x,y 1,...,y e 1 ). Existe, por hipótese, um conjunto H M {x} homogêneo para P x. Sem perda de generalidade, suponha H homogêneo de cor 0 para P x e, portanto, card(h) R e (a 1 1,a 2 ). Segue que ou H tem um conjunto P-homogêneo de cor 1 com a 2 elementos ou H {x} tem um conjunto P-homogêneo de cor 0 com a 1 elementos. O Lema que segue nos permite aumentar indutivamente o número de cores, concluindo o argumento. Lema 9. R e (a 1,a 2,...,a r ) R e (a 1,R e (a 2,...,a r )) Prova do Lema: A desigualdade se resume a uma igualdade no caso em que r = 2. Por indução suponha que, dados e e r, exista R e (b 1,...,b r 1 ) para qualquer b 1,...,b r 1. Seja M um conjunto tal que card(m) é maior que o lado direito do Lema 9 e considere uma partição P : [M] e r. Defina Q : [M] e 2 da seguinte maneira: { 0 se P(x) = 0 Q(x) = 1 se P(x) 0 M admite, portanto, um subconjunto H que ou é Q-homogêneo de cor 0 com a 1 elementos e vale o Lema ou H é Q-homogêneo de cor 1 com R e (a 2,...,a r ) elementos. No segundo caso, pela hipótese de indução, existe, para algum k < r, um conjunto N H, P-homogêneo de cor i = k + 1, com card(n) = a i, o que conclui a demonstração. Agora, embora o Teorema de Ramsey afirme que, dados e, r e k, existe tal M, ele não nos dá muitos subsídios para determinar explicitamente R e (a 1,...,a r ). Ao passo de que um pouco da combinatória presente na própria demonstração do teorema nos dê cotas superiores para determinados números de Ramsey, o trabalho de Paul Erdős em (9) nos dá cotas inferiores para valores de R(r,s). Um exemplo trivial é o caso R(3, 3) onde, para demonstrar que R(3, 3) 6 podemos considerar um grafo completo de seis vértices, com arestas pintadas de azul ou vermelho. Tome um vértice v qualquer deste grafo. Como v tem

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 19 cinco vizinhos, o princípio da casa do pombo garante que existem pelo menos três arestas saindo de v compartilhando uma mesma cor. Suponha, sem perda de generalidade, que as arestas (a 0,v), (a 1,v) e (a 2, v) são azuis. Segue que ou o conjunto {a 0,a 1,a 2 } é homogêneo vermelho ou, para algum i,j < 3 a aresta (a i,a j ) é azul e o conjunto {a i,a j,v} é homogêneo azul. Concluímos que R(3, 3) = 6 mostrando que o grafo {a 0,a 1,a 2,a 3,a 4 } onde a aresta (a i,a j ) é azul se i j ±1 (mod 5) e vermelha caso contrário não contém triângulos monocromáticos. Seguimos apresentando uma notação apropriada para as diferentes versões do Teorema de Ramsey que serão tratadas nos capítulos seguintes. Definição 10. Seja f : N N, H um conjunto finito. H N é f-relativamente grande se card(h) f(min H). Definição 11. Dados e, r, k e M, usamos a notação M * (k) e r quando para toda partição P : [M] e r existe um H M, f-relativamente grande e homogêneo para P, card(h) k, f(x) = x. Definição 12. Dados e, r, k e M, usamos a notação M ** (k) e r quando para toda partição P : [M] e r existe um H M, f-relativamente grande e homogêneo para P, card(h) k, f(x) = (e + 1) 2 e x. Afirmação A (Ramsey, versão Paris-Harrington) Dados os números naturais e, r e k, existe um natural M tal que M * (k) e r. Afirmação B (Ramsey, versão Bovykin) Dados os números naturais e, r e k, existe um natural M tal que M ** (k) e r. Demonstraremos nesse capítulo que as Afirmações A e B são teoremas em ZF e, nos capítulos 3 e 4, demonstraremos os dois s enunciados abaixo: Teorema A A Afirmação A não é demonstrável em PA. Teorema B A Afirmação B não é demonstrável em PA. A importância histórica do Teorema A, provado em 1977, se deve ao fato de que esse foi o primeiro exemplo matematicamente natural de uma frase indecidível em Aritmética de Peano.

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 20 3.2 O Teorema de Ramsey infinito Teorema 13 (Ramsey, versão infinita). ω (ω) e r para todo e, r ω. Para demonstrar o Teorema 13 vamos começar provando que ω (ω) 2 2, onde P pinta a aresta (x,y) de vermelho se P(x,y) = 0, ou azul, se P(x, y) = 1. Nossa estratégia consistirá em tentar construir um conjunto infinito monocromático vermelho e se, em algum momento do processo abaixo, não for possível continuar construiremos um conjunto monocromático azul. Lema 14. ω (ω) 2 2 Prova do Lema: Considere um número natural a 0 que tenha infinitos vizinhos vermelhos em ω, isto é, tal que se A 1 = {x ω : P(a 0, x) = 0}, então carda 1 = ω. Considere agora um elemento a 1 de A 1 que tenha infinitos vizinhos vermelhos em A 1. Seja A 2 = {x A 1 P(a 1,x) = 0}. Repita o processo, construindo, em cada passo, um conjunto A n+1 = {x A n P(a n,x) = 0}, contendo infinitos vizinhos vermelhos do elemento a n, contido em A n. Se este processo nunca falhar, o conjunto A = {a 0, a 1,a 2,a 3,...} será infinito monocromático vermelho. Se o processo falha no passo n (i.e. se não existir a n com infinitos vizinhos vermelhos em A n ), podemos afirmar que todo elemento de A n tem infinitos vizinhos azuis em A n e, tomando um elemento b 0 qualquer de A n, definimos B 1 = {x A n P(b 0,x) = 1}, o conjunto de vizinhos azuis de b 0. Seguimos selecionando elementos b k e construindo conjuntos B k+1 = {x B k P(b k,x) = 1}. Observe que o processo não tem como falhar dessa vez, uma vez que a falha implicaria na existência, para algum k, de elementos de B k com infinitos vizinhos vermelhos e, como B k A n teríamos uma contradição. Assim, o conjunto {b 0,b 1,b 2,b 3,...} é infinito monocromático azul. Lema 15. r ω, ω (ω) 2 r Prova do Lema: Dados P : [ω] 2 r e i {0, 1,...,r 1}, lançamos mão de partições P{ i, definidas da seguinte maneira: 0 se P(x) = i P i (x) = 1 se P(x) i A idéia agora é, usando as partições P i, tentar exibir um conjunto monocromático infinito na cor i e se falhamos, por pelo Lema 14, podemos afirmar que existe um conjunto infinito monocromático para P i na cor 1. Começamos o processo procurando construir um conjunto monocromático de

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 21 cor 0 para a partição P 0 : [ω] 2 2. Se não existir um conjunto infinito monocromático de cor 0, então existe um conjunto infinito monocromático A 1 de cor 1 e podemos considerar a partição P 1 : [A 1 ] 2 2 e assim prosseguindo, em cada passo tentando obter um conjunto monocromático de cor 0 para a partição P i : [A i ] 2 2 e, caso não seja possível, construindo o conjunto A i+1 infinito de cor 1. Seguindo esse processo ou encontramos, no passo i, um conjunto infinito monocromático H de cor 0 para a partição P i e segue que H é monocromático de cor i para a partição P ou não conseguimos encontrar um H monocromático de cor 0 para a partição P i, para i < n e segue que A n é monocromático de cor n 1 para a partição P. Seguimos provando o Teorema 13. Prova do Teorema: Dada a partição P : [ω] e r, definimos, para cada x ω, partições P x y [ω {x}] e 1. : [ω] e 1 r tais que P x (y) = P(y,x) para todo Ainda no espírito das demonstrações anteriores, vamos tentar construir uma seqüência infinita de conjuntos X s, sempre procurando por um elemento a ij de X s que admita a construção de um conjunto X s+1 X s {a ij } infinito homogêneo de cor i para a partição P aij. Se existir um a ij satisfatório, passamos a procurar em X s+1 o elemento a i(j+1), tal que exista o conjunto X s+2 X s+1 {a i(j+1) } infinito homogêneo de cor i para a partição P ai(j+1). Se não existir um a ij satisfatório, procuraremos no conjunto X s por um a (i+1)0 tal que exista um conjunto X s+1 X s {a (i+1)0 } infinito homogêneo de cor i + 1 para P a(i+1)0. Cada vez que não for possível construir um X s+1, passamos para a cor seguinte e se, em algum momento desse processo, conseguimos construir o conjunto infinito {a i0,a i1,a i2,...}, podemos afirmar que esse conjunto é homogêneo de cor i para a partição P. Se chegamos à cor n 1, é porque o processo falhou seguidas vezes e, portanto, não existem conjuntos homogêneos nas cores 0, 1, 2,...,n 2 para X s. Isso nos permite construir o conjunto {a (n 1)0,a (n 1)1,a (n 1)2,...}, que é infinito homogêneo de cor n 1 para P. 3.3 As versões de Bovykin e Paris-Harrington para o Teorema de Ramsey Para demonstrar o Teorema de Ramsey e as afirmações A e B em ZF vamos, antes, enunciar e demonstrar o Lema de König. Definição 16. Uma árvore é uma ordem parcial, (T,<), tal que para cada y T, {x : x < y} é bem ordenado por <.

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 22 Definição 17. O α-ésimo nível de T é {y : {x : x < y} tem tipo α}. Definição 18. A altura de T é o primeiro α tal que o α-ésimo nível de T é vazio. Definição 19. T é uma sub-árvore de T se, e somente se, vale que T T. Lema 20 (König). Se T é uma árvore de altura ω e cada nível de T é finito, então existe um caminho através de T. Prova do Lema: Tome x 0 no nível 0 de T tal que a sub-árvore T 0 = {y T : y > x 0 } é infinita. Isso é possível uma vez que T é infinita e o nível 0 é finito. Agora, indutivamente, tome x n (n ω) no nível n de T tal que para cada n, x n+1 > x n, a sub-árvore T n+1 = {y T : y > x n+1 } é infinita. Segue da indução que {x n : n ω} é um caminho através de T. Usaremos o lema de König para, usando o Teorema de Ramsey infinito, demonstrar não só o Teorema de Ramsey, mas também as versões de Bovykin e Paris-Harrington. É conveniente citar, no entanto, que tanto o Lema de König quanto o Teorema de Ramsey infinito não são enunciáveis em PA, pois tratam de objetos infinitos em seu enunciado. Prova do Teorema: Para provar o Teorema 4, fixamos e, r e k e supomos, por absurdo, que não exista um M do modo desejado. Dizemos que P é um contraexemplo para M se P é uma partição de [M] e em r pedaços sem um conjunto homogêneo de tamanho pelo menos k. O conjunto desses contra exemplos pode ser visto como uma árvore T infinita, com níveis finitos. Assim, se P e P são, respectivamente, contra-exemplos para M e M, colocamos P abaixo de P em nossa árvore somente se M < M e P é a restrição de P a [M] e. Pelo Lema 20, existe um caminho através de T, ou seja, existe uma P : [ω] e r tal que para todo M, a restrição de P a [M] e é um contra-exemplo para M. Pelo Teorema 13, existe um conjunto H ω homogêneo infinito para P. Se tomamos M grande o bastante (em comparação com k) segue que H M é um conjunto homogêneo para P [M] e de tamanho pelo menos k. Seguimos demonstrando, para escolhas apropriadas de f, as afirmações A e B. Prova da Afirmação: De maneira análoga à prova do Teorema 4, fixamos e, r e k e supomos que não exista um M do modo desejado, construindo assim a árvore T de contra-exemplos, dessa vez acrescentando a condição de que P é um contra-exemplo para M se P é uma partição de [M] e em r pedaços sem um conjunto homogêneo f-relativamente grande de tamanho pelo menos k. Usamos novamente o Lema 20 e o Teorema 13, dessa vez para afirmar que,

Capítulo 3. O Teorema de Ramsey 23 se escolhemos M grande o bastante (agora em comparação com k e min H), vemos que H M é um conjunto homogêneo f-relativamente grande para P [M] e de tamanho pelo menos k.