Linguagem matemática e a inclusão de alunos com deficiência visual nas engenharias



Documentos relacionados
ENSINO DA DISCIPLINA DE GEOMETRIA ANALÍTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO VOLTADO AO ENSINO DE FÍSICA E A INCLUSÃO NO ENSINO DE FÍSICA

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

ADAPTAÇÃO DE MATERIAIS MANIPULATIVOS COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

Palavras-chave: Deficiência visual; Teorema de Pitágoras; Matemática.

Pibid e a educação inclusiva de alunos com deficiência visual: materiais manipulativos e linguagem matemática para o ensino de ciências

O USO DE SOFTWARES EDUCATIVOS: E as suas contribuições no processo de ensino e aprendizagem de uma aluna com Síndrome de Down

Um mundo de formas do concreto ao abstrato

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

Deficiência auditiva parcial. Annyelle Santos Franca. Andreza Aparecida Polia. Halessandra de Medeiros. João Pessoa - PB

Técnicas Assistivas para Pessoas com Deficiência Visual

Desenvolvimento de um CMS 1 para a criação e publicação de web sites acessíveis por deficientes visuais.

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

Especialização em Atendimento Educacional Especializado

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

Novas Tecnologias no Ensino de Física: discutindo o processo de elaboração de um blog para divulgação científica

MANUAL DO ALUNO EM DISCIPLINAS NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

O ENSINO DE QUÍMICA PARA DEFICIENTES VISUAIS: ELABORANDO MATERIAIS INCLUSIVOS EM TERMOQUÍMICA

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

CONFECÇÃO DE MAPAS TÁTEIS E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

Sistema de Acompanhamento ao Desempenho do Aluno

MATRÍCULA: DATA: 15/09/2013

O uso do DOSVOX no Laboratório de Informática Educativa do IBC

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

O ALUNO CEGO NO CONTEXTO DA INCLUSÃO ESCOLAR: OS DESAFIOS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA RESUMO

Larissa Vilela de Rezende Lucas Fré Campos

Palavras-chave: Deficiência Visual. Trabalho Colaborativo. Inclusão. 1. Introdução

Curso de planilhas eletrônicas na modalidade EAD: Um relato de experiência

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

Utilizando a ferramenta de criação de aulas

RECURSOS E TECNOLOGIAS PARA O ENSINO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL

PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES EM CURSOS PRESENCIAIS E SEMIPRESENCIAIS Ricardo Carvalho Rodrigues Faculdade Sumaré rieli@rieli.com

O uso de jogos no ensino da Matemática

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM LOGO: APRENDIZAGEM DE PROGRAMAÇÃO E GEOMETRIA * 1. COSTA, Igor de Oliveira 1, TEIXEIRA JÚNIOR, Waine 2

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

Metodologia Syllabus Guia do Aluno 2015

Adriana Oliveira Bernardes 1, Adriana Ferreira de Souza 2

INÉDITO! COM ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO

A PÁGINA DISCIPLINAR DE MATEMÁTICA DO PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA: UM ENFOQUE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O USO DE SOFTWARE EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE CRIANÇA COM SEQUELAS DECORRENTES DE PARALISIA CEREBRAL

CARTOGRAFIA TATÍL :MOBILIDADE E PASSAPORTE PARA INCLUSÃO

Pibid 2013 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES FEITAS PELO ALUNO. 1. O que são as Atividades Complementares de Ensino do NED-ED?

1 Fórum de Educação a Distância do Poder Judiciário. Gestão de Projetos de EAD Conceber, Desenvolver e Entregar

QUESTIONÁRIO ONLINE NO MOODLE 2.x: NOVIDADES E POSSIBILIDADES

MANUAL DO ALUNO GRADUAÇÃO MODALIDADE SEMIPRESENCIAL

Visão de Liberdade. Categoria do projeto: I Projetos em andamento (projetos em execução atualmente)

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

Débora Regina Tomazi FC UNESP- Bauru/SP Profa. Dra. Thaís Cristina Rodrigues Tezani.

ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O ALUNO SURDOCEGO ADQUIRIDO NA ESCOLA DE ENSINO REGULAR

A Tecnologia e Seus Benefícios Para a Educação Infantil

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES PARA O CURSO DE FISIOTERAPIA

CURSINHO POPULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

O Processo de Adaptação de Tabelas e Gráficos Estatísticos Presentes em Livros Didáticos de Matemática em Braille. GD13 Educação Matemática e Inclusão

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

PROGRAMA DE APOIO E APERFEIÇOAMENTO PEDAGÓGICO AO DOCENTE

UTILIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARES EDUCACIONAIS PARA PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS.

Projeto em Capacitação ao Atendimento de Educação Especial

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA TEMÁTICA

A INTERATIVIDADE EM AMBIENTES WEB Dando um toque humano a cursos pela Internet. Os avanços tecnológicos de nosso mundo globalizado estão mudando a

UM ROTEIRO PARA A EXECUÇÃO DE ATIVIDADES EM UM PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL

O USO DE PROGRAMAS COMPUTACIONAIS COMO RECURSO AUXILIAR PARA O ENSINO DE GEOMETRIA ESPACIAL

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1. Língua estrangeira nas séries do Ensino Fundamental I: O professor está preparado para esse desafio?

FATEC Cruzeiro José da Silva. Ferramenta CRM como estratégia de negócios

Organização do Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos Multifuncionais

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Currículo e tecnologias digitais da informação e comunicação: um diálogo necessário para a escola atual

EMISSÃO DE CERTIFICADOS ELETRÔNICOS NOS EVENTOS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE CÂMPUS VIDEIRA

REFORÇO AO ENSINO DE FÍSICA PARA CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

ESCOLA ESTADUAL REYNALDO MASSI JOÃO BATISTA ALVES DE SOUZA SIRLENE SOUZA BENEDITO VIRGENS

Público Alvo: Investimento: Disciplinas:

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

NOVOS CAMINHOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

VENCENDO DESAFIOS NA ESCOLA BÁSICA... O PROJETO DE OFICINAS DE MATEMATICA

Proposta de ensino da Segunda lei de Newton para o ensino médio com uso de sensores da PASCO. Carolina de Sousa Leandro Cirilo Thiago Cordeiro

QUESTIONÁRIO DO PROFESSOR. 01. Você já acessou a página O que achou? Tem sugestões a apresentar?

GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: UM BREVE ESTUDO

RESOLUÇÃO DE SITUAÇÕES-PROBLEMA EM TRIGONOMETRIA

ENSINO DE CIÊNCIAS PARA SURDOS UMA INVESTIGAÇÃO COM PROFESSORES E INTÉRPRETES DE LIBRAS.

REGULAMENTO PROGRAMA DE APOIO AO DISCENTE - PADI DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DE GUARANTÂ DO NORTE

O papel do CRM no sucesso comercial

Agenda Estratégica Síntese das discussões ocorridas no âmbito da Câmara Técnica de Ensino e Informação

Transcrição:

Linguagem matemática e a inclusão de alunos com deficiência visual nas engenharias Felipe F. Braz fortesbraz@gmail.com Maria Juanna Lima Hermeto majuh.bass@gmail.com Helena Libardi hlibardi@dex.ufla.br Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Exatas Campus Universitário, Caixa Postal 3037 37200-000 Lavras - MG Resumo: O acesso ao ensino com qualidade é garantido por lei, mesmo para alunos com necessidades educacionais especiais. O número destes alunos está crescendo no ensino básico. Muitos almejam o ensino superior e acabam por ingressar em cursos que ainda não estão adaptados para este desafio. Neste trabalho vamos focar nossa atenção a pessoas com deficiência visual que ingressam em cursos da área de exatas. O formalismo matemático nestas áreas é muito grande. Estes estudantes contam com o apoio de colegas e professores para vencer este desafio, mas é necessário garantir a autonomia para que a inclusão realmente ocorra. Com autonomia o estudante é capaz de estudar sozinho, sem a necessidade de acompanhamento para entender ou explicar uma imagem ou equação. Este é um grande desafio nesta área, pois a compreensão dos conteúdos significa a compreensão da linguagem simbólica e matemática, que tem a visão como fonte principal de apropriação. Palavras-chave: Inclusão, Ensino superior, Educação matemática, Ensino de engenharia. 1. INTRODUÇÃO Hoje em dia o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com necessidades especiais deve ser feito, preferencialmente, nas salas de aula do ensino regular. A inclusão, além de um direito para todos os alunos, é também um dever do docente. A adaptação dos PCN s (Parâmetros Curriculares Nacionais) com estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais (Brasil, 1998) já garante esta inclusão. A realidade de nossas escolas hoje é que todos os alunos estejam integrados nas salas de aula de ensino regular. A educação de alunos com deficiências, nos moldes atuais, deixa de ser exclusiva de escolas especiais, com uma educação segregada como vinha acontecendo anteriormente (MENDES, 2006). Devemos garantir que a educação inclusiva promova a formação do indivíduo, visando o exercício de sua cidadania, em qualquer nível de estudo. As garantias de ensino para alunos com necessidades educacionais especiais aumentaram o número de estudantes que concluem o ensino médio e ingressam no ensino superior, nas diversas áreas de conhecimento.

O processo de formação do conhecimento para pessoas com deficiências é diferente do de pessoas sem deficiências, uma vez que percebem a realidade de maneira diferente. A maneira particular de percepção é essencial para a adaptação e elaboração de novos conceitos. Pessoas com deficiência costumam desenvolver mais os outros sentidos que não foram afetados. Estes outros sentidos devem ser explorados para que as atividades propostas tenham significado para elas (VYGOTSKY, 1997). Mas, apesar das leis destinadas a normatizar o processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, muitas pessoas ligadas a Educação afirmam não se sentirem preparadas para enfrentar tal desafio (FERNANDES & HEALY, 2007). O estudo de metodologias adequadas à aprendizagem que utilizem recursos visando à educação inclusiva e à busca de material didático adequado se torna necessário para qualificar os Educadores para este novo desafio. Estes estudos devem visar uma Educação de qualidade para todos. O foco de nosso trabalho são alunos com deficiência visual (alunos DV) que ingressaram em cursos das áreas de exatas, em especial nas engenharias, e será tema do trabalho de conclusão de curso de um dos autores. Cursos de Engenharia têm como princípio básico a Matemática. A busca de metodologias que possibilitem ao aluno DV a compreensão significativa dos conteúdos matemáticos é um desafio constante. A docência no ensino superior, até pouco tempo, não era objeto de pesquisa por parte dos docentes e pesquisadores. Em geral não são discutidos aspectos didático-pedagógicos na formação acadêmica de parte considerável dos professores do Ensino Superior. E o estudo sobre educação inclusiva ainda é muito incipiente, principalmente para o ensino superior. A formação profissional de um aluno com deficiência deve passar por sua autonomia. O aluno deve ter acesso ao material de estudo adaptado para que ele também possa estudar sozinho. Isso é um desafio para disciplinas da área de Engenharia, com muitas informações visuais e formulação matemática. Segundo Batista (2005) as pessoas com deficiência visual apoderam-se de conceitos matemáticos a partir de experiências táteis, olfativas e auditivas, sendo o tato o recurso didático mais eficiente e de fácil acesso. Os autores deste trabalho fazem parte do Grupo de Estudos sobre Educação Inclusiva da UFLA, que tem por objetivo propor estratégias inclusivas para a sala de aula, criar materiais didáticos e metodologias de estudo voltados para a educação inclusiva. 2. UM ALUNO CEGO PODE FAZER CURSO DE EXATAS? É comum a idéia de que certas profissões não podem ser exercidas por pessoas cegas. Em nossa área, pode-se pensar que uma pessoa cega não pode ser matemático, por exemplo, uma vez que não pode ver gráficos, tabelas, formas geométricas e os muitos símbolos matemáticos, sem correspondentes em Braille. Não é a cegueira o fator incapacitante. Incapacitantes são o preconceito, a baixa expectativa perante a pessoa com deficiência, a falta de acessibilidade, recursos humanos e econômicos, e a falta de oportunidade para aprender e mostrar o potencial da pessoa cega. O Instituto Benjamin Constant realizou um estudo voltado para a preparação e encaminhamento profissional das pessoas deficientes visuais. Uma das profissões listadas como possível para a pessoa cega é de professor, e um aluno, mesmo cego, que completou um curso na área de exatas pode exercer esta profissão. De acordo com o estudo, este profissional seria capaz de planejar, coordenar, executar e avaliar atividades relacionadas ao processo ensino-aprendizagem, visando a formação integral do educando. Ao final, o grupo

responsável pelo estudo ressalta que O portador de deficiência é uma pessoa como as demais, com preferências, habilidades, aptidões, dificuldades, interesses e capacidade produtiva. Necessita apenas de oportunidade para desenvolver suas potencialidades (IBC, s.d.) Alunos com deficiências visual no ensino superior na área de Exatas sofrem por não ter acesso aos livros didáticos ou notas de aulas, dependendo sempre de um auxílio para realizar suas tarefas. Material adaptado deve ser disponibilizado desde os semestres iniciais do curso superior para que esse aluno não se sinta desestimulado para continuar progredindo no curso. O material a ser utilizado deve estar disponibilizado em áudio, Braille e digitalizado, afim de que o aluno tenha alternativas para suprir suas necessidades. Os cursos de exatas têm nas semestres iniciais disciplinas que utilizam gráficos e fórmulas, aumentando a dificuldade de compreensão para aqueles alunos que não tem o sentido da visão, para haver a inclusão real é necessário que essas disciplinas tenham acesso a esses materiais mesmo antes de seu início, para garantir um melhor aproveitamento para esse aluno. O preparo desse material não é um ato de caridade, mas sim um direito que o aluno possui de ter a mesma aula com relação aos demais alunos. No caso dos alunos cegos, devemos explorar os recursos que ele possui, por exemplo, o sentido do tato e da audição, produzindo materiais que representam o que o professor apresenta em sua aula para que o aluno sinta de acordo com suas limitações o que acontece durante a aula. 3. ALGUMAS REPRESENTAÇÕES PARA ALUNOS COM DEFICIENCIA VISUAL O professor de matemática, ao receber um aluno com deficiência visual, tem a responsabilidade de integrá-lo com os demais alunos da turma e atendê-lo de acordo suas necessidades específicas para que tenha acesso ao conteúdo desenvolvido em sala de aula. De acordo com Pozo (1998), é indispensável, via de regra, adotar alguns procedimentos como dar realce à expressão verbal, verbalizando sempre que possível o que esteja sendo representado no quadro para que o aluno cego consiga acompanhar o andamento da aula; oferecer o tempo necessário para o aluno levantar dúvidas, hipóteses de resolução do problema, demonstrar o raciocínio elaborado e executar as atividades propostas e observar se o aluno acompanhou a abordagem do problema apresentado e efetuou seu próprio raciocínio. A seguir mostramos algumas representações que podem ser utilizadas no ensino de engenharias. 3.1. Alguns recursos para lidar com a linguagem matemática O uso da tecnologia na educação pode facilitar o aprendizado de pessoas portadoras de deficiências. O sistema braile foi um dos primeiros sistemas de escrita e leitura desenvolvido para deficientes visuais. O sistema braile é muito importante para o deficiente visual, mas ele ainda é pouco utilizado nas escolas. Existem poucos livros e materiais didáticos escritos em braile a disposição dos alunos. Alunos com deficiência visual podem contar com a tecnologia como um facilitador em seus estudos. Existem programas que se comunicam com o usuário através de síntese de voz. Estes programas auxiliam pessoas com deficiência visual a usar o computador, executando tarefas como edição e leitura de textos, utilização de calculadora, agenda, entre outros.

Programas leitores de texto, entretanto, não lêem figuras. Freitas (2010) apresenta um software descritor de imagem, que possibilita ao aluno com deficiência visual a navegação por figuras de modelos atômicos, desenhos de células, diagramas de experimentos, entre outros, ouvindo sua descrição por meio de textos, editada previamente e inseridos adequadamente nas imagens selecionadas, e lidos através de um sintetizador de voz. As equações correspondem a outro problema no ensino de ciências por alunos com deficiência visual. Os programas leitores de texto não reconhecem os símbolos matemáticos. Podemos recorrer à outra ferramenta para ajudar na leitura de textos com muitas fórmulas, que é o LaTeX. O LaTeX é um sistema tipográfico, bastante adequado para produzir documentos científicos e matemáticos. Os usuários apenas precisam aprender comandos que especificam os códigos desejados. Por exemplo, ao especificar que o perímetro de uma circunferência é 2πR, ao invés de utilizar a letra grega π, o usuário escreveria o comando \pi. Ao invés de trabalhar com idéias visuais, o usuário trabalha com conceitos (comandos) mais lógicos. Conhecendo os comandos do LaTeX uma pessoa deficiente visual pode, utilizando um programa leitor de texto, reconhecer as equações digitadas em um texto em LaTeX. Outra vantagem é que ela pode produzir seus próprios textos. À primeira vista, para quem não conhece esta ferramenta, o processo pode parecer complicado. Entretanto, para quem tem o hábito de escrever os textos diretamente em LaTeX, a escrita se torna automática, assim como a leitura. Os textos produzidos podem ser compilados e enviados para outras pessoas com grande qualidade tipográfica. Para conhecer os comandos do LaTeX pode-se utilizar o guia de Lamport (1994). Como exemplo do uso do LaTex no ensino de engenharia, podemos mostrar como seriam expressas algumas fórmulas. A tensão elétrica alternada senoidal pode ser escrita com comandos em LaTeX como visto na Equação (1): V(t) = V_{m} sen( \omega t + \phi ) (V) (1) Depois de compilada, a reação fica com a forma mostrada na Equação (2): Quem não está familiarizado com o LaTeX pode utilizar editores disponíveis na internet (por exemplo o Editor de equações LaTeX online 1 ). Outra possibilidade que pode ser utilizada com fórmulas, figuras ou gráficos é a áudiodescrição. A áudio-descrição possibilita a interação do aluno com o evento áudio-descrito permitindo que haja a interpretação do conteúdo traduzido e autonomia para compreender conteúdos simbólicos representados. Um texto com estes recursos podem ser lidos pelo programa que se comunicam por síntese de voz ou gravado em um arquivo de áudio. A Equação (2) pode ser áudio-descrita da seguinte forma: A tensão elétrica V de t, em volt, é igual a tensão máxima V índice m multiplicada pelo seno da soma entre a frequência angular Omega multiplicada pelo tempo e a fase. (2) 1 http://www.codecogs.com/latex/eqneditor.php

Materiais manipulativos podem ser utilizados tanto na representação matemática como visando a compreensão dos conteúdos. Na Figura 1 temos uma atividade adaptada para sala de aula em uma aula de Laboratório de Física 1 onde os alunos constroem sobre papel um gráfico em relevo do movimento de lançamento de projéteis. Ao longo do movimento são colocadas setas de acrílico de diferentes cores (texturas), para representar o vetor velocidade instantânea e suas componentes x e y, e de diferentes tamanhos, para representar as diferenças na sua intensidade durante o movimento. Figura 1 Experimento com construção de gráficos onde se utiliza setas de acrílico de diferentes tamanhos e cores (texturas) para representar a velocidade de um projétil em diversos pontos da trajetória. A Figura 2 mostra, na mesma atividade, a construção do gráfico da componente y da velocidade em função do tempo, reposicionando as setas sobre eixo. Figura 2 Gráfico da componente y da velocidade.

Além de ferramentas matemáticas, os materiais manipulativos também podem e devem ser utilizados para o entendimento dos conteúdos de física. Alguns conceitos podem parecer complicados de ensinar ou explicar para uma pessoa com deficiência visual Na Figura 3 mostramos o processo de construção de uma atividade envolvendo formação de imagens por espelhos utilizando alfinetes e linhas. Figura 3 Construção de atividade de espelhos esféricos. Estas e outras atividades podem ser desenvolvidas para serem realizadas por todos os alunos em sala, promovendo a inclusão e servindo também como ferramenta de aprendizagem de todos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Alunos com deficiência visual são capazes de aprender e participar das aulas e atividades dos cursos de Engenharia, desde que sejam disponibilizadas as condições necessárias para isso. Devemos sempre basear nossas atividades nos outros sentidos do aluno. Ensinar conceitos das áreas das exatas para alunos com deficiência visual é possível e os recursos manipuláveis são poderosos auxílios. É claro que nem sempre é possível utilizar deste recurso, mas o professor deve estar atento a forma como explica determinado conceito para que este fique claro a todos os alunos da turma, videntes ou não. Agradecimentos FAPEMIG - Fundação de Apoio à pesquisa do Estado de Minas Gerais. NAUFLA Núcleo de Acessibilidade da UFLA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, C. G. Formação de conceitos em crianças cegas: questões teóricas e implicações educacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, n.1, p. 007-015, jan-abril, 2005. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. PCN: Adaptações Curriculares / Sec. Ed. Fundamental. Sec.Ed. Especial. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998. IBC. O Encaminhamento do Deficiente Visual ao Mercado de Trabalho. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant. Disponível em: <http://www.ibc.gov.br/?itemid=393#anexo1>. Acesso em 15/05/2012. MELO, E. S. A educação inclusiva de alunos com limitações visuais no ensino superior. Universidade Federal de Lavras, MG. 2010. MENDES, E. G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Rev. Bras. Ed. v. 11, n. 33, p. 387, 2006. MOURA, M. O. O Jogo na Educação Matemática Disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias _07_ p062-067_c.pdf. Acesso em 28/06/2011 FERNANDES, S. H. A. A.; HEALY, L. Ensaio sobre a inclusão na Educação Matemática, Rev. Ib. Am. Ed. Mat., n. 10., p. 59-76, Jun 2007. FREITAS, A. C. F. Estudo e proposta de uma tecnologia assistiva de audiodescrição de imagens para portadores de deficiência visual. Monografia de Graduação Universidade Federal de Lavras. Departamento de Ciência da Computação. 2010. LAMPORT, L. LATEX: a document preparation system: user's guide and reference manual. Addison-Wesley Pub. Co., 1994-272 páginas. POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998. VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas V Fundamentos de defectología. Madrid: Visor, 1997. Language mathematics and the inclusion of students with visual impairment in engineering Abstract: Access to quality education is secured by law, even for students with special educational needs (SEN). The number of SEN s students in basic education is growing. Many of these students want higher education and eventually entering in courses that are not adapted to this challenge yet. In this paper we focus our attention to people with visual impairments in courses in exact sciences area. The mathematical formalism in these areas is huge. These students are supported from colleagues and teachers to win this challenge, but it is necessary guarantee autonomy for inclusion to actually occur. With autonomy the student is able to study alone, without the need for monitoring to understand or explain a picture or equation.

This is a great challenge in this area, because the understanding of content means the understanding of symbolic and mathematics language, which has the vision as their main source of appropriation. Key-words: Inclusion; Higher Education, Mathematics Education, Engineering Education