PATRIMÔNIO IMATERIAL
I Simpósio de Queijos Artesanais do Brasil - de 23 a 25 de novembro de 2011 - O papel do Registro de alimentos tradicionais como patrimônio cultural imaterial limites e possibilidades
A grande maioria das demandas de salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial por parte de instituições, organizações da sociedade civil e por produtores/ detentores de bens culturais, recebidas pelo Iphan, apresentam como objetivos fundamentais: A proteção e a garantia de continuidade de bens culturais sob ameaça real ou potencial; e/ou A valorização e a visibilização de bens culturais considerados referenciais para comunidades ou grupos específicos.
O Iphan também atua de forma proativa, em várias situações, em conformidade com os princípios e diretrizes que orientam a política institucional, identificando temas e objetos de interesse para a política de salvaguarda do patrimônio imaterial, especialmente no que diz respeito a mapeamentos, promoção de estudos e inventários, implementação de medidas de salvaguarda de caráter emergencial, entre outras ações similares.
No conjunto das demandas recebidas desde o ano 2000, com a implantação da política de salvaguarda do patrimônio imaterial, muitas delas se referem a comidas, receitas, à culinária ou práticas agrícolas, e temas correlatos. Como exemplos, podemos citar: os inventários da mandioca e dos feijões, que resultaram no pedido de Registro do Ofício de Tacacazeira na região Norte, e no Registro do Ofício das Baianas de Acarajé; os pedidos de Registro para o chimarrão, os doces de Pelotas, a rapadura, diversos pratos e receitas tradicionais da culinária goiana, o cuxá do Maranhão, a cajuína, entre outros.
Além do Ofício das Baianas de Acarajé, foram registrados, ainda, o Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro, Serra da Canastra e Salitre/ Alto Paranaíba e o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro/AM. Para cada um destes bens culturais Registrados encontram-se em andamento iniciativas voltadas para a elaboração e implementação de Planos de Salvaguarda. No caso do Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas, foram realizadas quatro reuniões entre o Iphan, parceiros e produtores, entre o período de agosto a setembro de 2010, dando início a este processo.
Constituição Federal de 1988 A criação do Departamento do Patrimônio Imaterial no Iphan, a edição de normas específicas voltadas para os bens intangíveis que constituem o patrimônio cultural brasileiro, assim como a implantação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, entre outras medidas correlatas, decorrem da promulgação da nova carta constitucional brasileira, especialmente no que estabelece a seção Da Cultura: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 1º - O Poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. A noção de Patrimônio Cultural ampliou-se para abranger a diversidade cultural brasileira.
Instrumentos de Preservação do Patrimônio Cultural A missão institucional do Iphan é exercida com o uso de instrumentos técnicos e jurídicos, entre os quais se destacam: Para os bens de natureza material, a cargo do Departamento de Patrimônio Material do Iphan: o TOMBAMENTO que incide sobre bens que apresentam existência física, como sítios, edificações, objetos, documentos; e a CHANCELA DE PAISAGEM CULTURAL, instrumento recentemente criado que visa unir os conceitos de natureza e cultura.
Política de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial A atuação do Iphan na área do Patrimônio Cultural Imaterial está voltada para a valorização da diversidade cultural por meio de: 1. Ações de identificação, mapeamento e inventário de bens culturais de natureza imaterial, especialmente através da metodologia do INRC Inventário Nacional de Referências Culturais;
2. Reconhecimento de expressões da cultura como Patrimônio Cultural do Brasil através do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial; 3.Implementação de ações emergenciais de salvaguarda, de Planos de Salvaguarda dos bens culturais registrados e de outras ações de fomento e apoio às condições de produção e reprodução de manifestações culturais por meio do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial PNPI.
O Tombamento de um bem cultural pode ser solicitado por qualquer cidadão e é respaldado por seu valor em termos de originalidade, singularidade e autenticidade. No caso do Registro, estes parâmetros não se aplicam; o pedido de Registro deve ser respaldado pelo interesse coletivo, e o valor do bem cultural é dado pelo próprio grupo produtor ou detentor do mesmo, que o tem como referência cultural comum àquela coletividade.
Para a salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial, o conceito de continuidade histórica substitui os de autenticidade e originalidade, assim como destaca sua relevância para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira O Iphan adota os conceitos referenciais presentes na Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da UNESCO, do qual o Brasil é signatário desde outubro de 2003
Patrimônio Imaterial são os usos, representações, expressões, conhecimentos e técnicas junto com os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são inerentes que as comunidades, os grupos e em alguns casos os indivíduos reconheçam como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é recriado constantemente pelas comunidades e grupos em função de seu entorno sua interação com a natureza e sua história, infundindo-lhe um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim a promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.
Decreto nº. 3.551/2000 Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem o patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Instrumento legal de reconhecimento e valorização do patrimônio imaterial, por meio da inscrição nos Livros dos Saberes; das Celebrações; das Formas de Expressão e dos Lugares. O Registro corresponde a um compromisso do Estado brasileiro em documentar, reconhecer e apoiar a continuidade do bem cultural de natureza imaterial, e que culmina no ato declaratório do bem como Patrimônio Cultural do Brasil.
Resolução nº. 001/06 Estabelece os procedimentos para o Registro. O processo de Registro consiste, em primeiro lugar, na produção de uma documentação extensiva de todos os aspectos culturalmente relevantes do bem cultural a ser registrado.
O conhecimento a ser produzido na instrução de um processo de Registro deve necessáriamente abranger as seguintes informações e documentação sobre o bem cultural que se pretende reconhecer: origens, transformações e continuidade histórica; processo de produção, circulação e consumo; identificação dos produtores; significados atribuídos ao bem por seus produtores e pelos grupos sociais envolvidos no processo de produção e consumo; contexto cultural específico; referências documentais e bibliográficas; documentação audiovisual produzida sobre o bem ou que lhe seja pertinente.
Os procedimentos de Registro estruturam-se em 4 fases: 1ª Fase Pedido de Registro, instauração do processo de Registro e Avaliação Preliminar 2ª Fase Instrução Técnica do Processo 3ª Fase Análise Técnica e Jurídica do Processo, elaboração de Pareceres e deliberação final pelo Conselho Consultivo 4ª Fase Inscrição do Bem no Livro de Registro e alimentação do Banco de Dados/ Divulgação do Bem Cultural Registrado.
Efeitos e implicações do Registro Alimentação da Base Informatizada dos Bens Registrados BCR. Publicação do dossiê textual e audiovisual na Coleção dos Bens Registrados do Iphan. Início do processo de elaboração e implementação do Plano de Salvaguarda do bem cultural registrado.
Plano de Salvaguarda O Plano de Salvaguarda de um bem cultural registrado objetiva apoiar sua continuidade de modo sustentável, buscando melhorar as condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência.
Entre as diretrizes prioritárias do Plano de Salvaguarda, relacionam-se: Melhoria das condições de produção, reprodução e transmissão desses bens, valorizando os produtores/ detentores dos mesmos; Formação e consolidação de organizações locais e a capacitação de membros dos grupos produtores para a gestão desse patrimônio; Difusão e promoção sensibilização dos demais atores sociais para a preservação do bem cultural.
Livro de Registro das Celebrações Onde se inscrevem os rituais e festas que marcam a vivência coletiva de trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social.
Círio de Nazaré Belém/ PA Registrado em setembro de 2004
Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis GO Registrado em maio de 2010
Ritual Yaokwa do povo indígena Enawene Nawe MT Registrado em novembro de 2010
Festa de Sant Ana de Caicó RN Registrado em dezembro de 2010
Livro de Registro das Formas de Expressão Onde são inscritas as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, de caráter coletivo, enraizadas no cotidiano das comunidades.
Arte Kusiwa pintura corporal e arte gráfica Wajãpi /AP Registrado em dezembro de 2002
Samba de Roda do Recôncavo Baiano Registrado em setembro de 2004
Jongo no Sudeste Registrado em dezembro de 2005
Frevo/PE Registrado em Fevereiro de 2007
Tambor de Crioula Registrado em Novembro de 2007
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: partido alto, samba de terreiro e samba-enredo Registrado em Junho de 2007
Roda de Capoeira Registrado em Outubro de 2008
Toque dos Sinos em Minas Gerais Registrado em dezembro de 2009
Livro de Registro dos Saberes Onde são inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades..
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras Vitória/ES Registrado em dezembro de 2002
Modo de Fazer Viola-de-Cocho MT/MS Registrado em dezembro de 2004
Ofício das Baianas de Acarajé Salvador/BA Registrado em dezembro de 2004
Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro, da serra da Canastra e Salitre/Alto Paranaíba Registrado em Junho de 2008
Ofício dos Mestres de Capoeira Registrado em Outubro de 2008
Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora / SE Registrado em Janeiro de 2009
Ofício de Sineiro Registrado em dezembro de 2009
Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro AM Registrado em novembro de 2010
Livro de Registro dos Lugares Livro onde são inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas.
Cachoeira de Iauaretê Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos rios Uaupés e Papuri, localizada na região do Alto Rio Negro distrito de Iauaretê, município de São Gabriel da Cachoeira Estado do Amazonas. Registrado em Agosto de 2006
Feira de Caruaru Registrado em Dezembro de 2006
Outros livros de Registro poderão ser abertos para a inscrição de bens culturais de natureza imaterial que constituam patrimônio cultural brasileiro e que não se enquadrem nos livros estabelecidos pela norma legal. A cada dez anos, no máximo, o Registro de um bem cultural deverá ser reavaliado, com a revalidação, ou não, da titulação a ele conferida.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN Departamento de Patrimônio Imaterial/DPI Diretora Célia Corsino Coordenação de Registro Coordenadora Claudia Marina Vasques Telefone: (61) 2024-5422 dpi@iphan.gov.br www.iphan.gov.br