IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL ABES - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL SEÇÃO SÃO PAULO



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1.1.1 SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE

B I O G E O G R A F I A

Transcrição:

IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL ABES - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL SEÇÃO SÃO PAULO 1

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Seção São Paulo Câmara Técnica de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL São Paulo, maio de 2012 3

ABES-SP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Presidente Dante Ragazzi Pauli Vice-Presidente Alceu Guérios Bittencourt Diretores Milton de Oliveira Elis Regina Jesus Pierre Ribeiro de Siqueira Vasti Ribeiro Facincani 1 Secretário Reynaldo Eduardo Young Ribeiro 2 Secretário Tânia Mara Tavares Gasi 1 Tesoureiro Ana Lucia Brasil 2 Tesoureiro Luiz Roberto Gravina Pladevall Foto da capa: Irene Tosi Ahmad Agradecimentos a Renata Inês Ramos e Irene Tosi Ahmad Câmara Técnica de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas Rua Eugênio de Medeiros, 242-6º andar - Pinheiros - 05425-900 São Paulo - SP Tel / Fax: 11 3814 1872 e 11 2729 5510 4

SUMÁRIO 1. HISTÓRICO, 6 1.1. Brasil Colônia e Império, 8 1.2. Código Florestal de 1934, 8 1.3. Código Florestal de 1965, 9 1.4. Alterações do Código Florestal de 1965 por Medidas Provisórias, 15 2. EVOLUÇÃO DO DESMATAMENTO NO ESTADO DE SÃO PAULO, 16 3. SITUAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL NO TERRITÓRIO PAULISTA, 19 4. CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO DE 1965, 22 4.1. Conceito de Área de Preservação Permanente (APP) Tipos e Funções, 22 4.2. Conceito de Reserva Legal (RL), 23 4.3. Casos Excepcionais - Intervenção ou Supressão de Vegetação em APP, 24 4.4. Flexibilidades da Reserva Legal (RL), 28 Pequeno produtor rural Artigo 16 e 44 do Código Florestal 5. PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO, 34 5.1. Justificativa da Alteração, 34 5.2. Quadro Comparativo, 35 5.3. Considerações Técnicas, 39 5.3.1. Reserva legal (RL), 39 Composição da RL 5.3.2. Área de preservação permanente (APP), 42 6. CONCLUSÃO, 49 6.1. Principais Impactos com a Alteração do Código Florestal, 49 6.1.1. Áreas de preservação permanente (APP), 49 6.1.2. Reserva legal (RL), 52 6.2. Considerações Finais, 54 7. BIBLIOGRAFIA, 56 5

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Alterações dos limites das APP s de cursos d água segundo a largura do mesmo, de acordo com a legislação Tabela 2 - Alterações dos limites das APP s ao redor de reservatórios artificiais segundo uso e área, de acordo com as alterações da legislação Tabela 3 - Alterações dos limites das APP s ao redor de reservatórios naturais, (também denominados lagos e lagoas) de acordo com as alterações da legislação Tabela 4 Temporalidade da APP de nascentes Tabela 5 - Temporalidade de APP de topo de morro, agrupamento de morros, linha de cumeada Tabela 6 - Temporalidade de APP de declividade Tabela 7 - Alterações propostas pelo projeto de lei 1876/99 que visa alterar o Código Florestal atual, aprovadas em dezembro de 2011 pelo Senado Federal, e suas consequências comentadas, adaptação da tabela elaborada de Mascia e Pailler, 2011, considerando a redação final do PL 1876/99 6

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Biomas Brasileiros, IBGE Figura 2 - Mapa do Estado de São Paulo - 1868, Nos Caminhos da Biodiversidade Paulista, 2007 Figura 3 - Evolução do desmatamento no Estado de São Paulo, SOS Mata Atlântica, 1998 Figura 4 - Cobertura vegetal nativa no Estado de São Paulo, IF, 2005 Figura 5 - Inventário Florestal da Vegetação Nativa do Estado de São Paulo, 2009, Instituto Florestal Figura 6 - Áreas Prioritárias para incremento da conectividade - Mapa do Projeto Biota/FAPESP, 2007 Figura 7 - APP locada a partir do leito maior Figura 8 - APP locada a partir do leito menor Figura 9 - Em verde evidenciam-se as Áreas de Preservação Permanente de Topos de Morros e em roxo as APPs de Linha de Cumeada, de acordo com a legislação vigente (Código de 1965 e Resolução CONAMA 303/02) Figura 10 - Para as mesmas elevações da figura anterior, com o PLC 30/2011 não há incidência de APPs de topo de morro e nem tampouco de linha de cumeada, pois não se configuram morros ou montanhas pelo novo conceito e não há proteção específica para linha de cumeada 7

1. HISTÓRICO 1.1. Brasil Colônia e Império A preocupação com as nossas florestas vem desde a época do Brasil Colônia. A primeira grande riqueza explorada foi o pau-brasil e ocorreu de maneira indiscriminada e predatória. Com o intuito de salvaguardar e regrar o uso desse recurso natural foi editado, em 1605, o Regimento sobre o Pau-brasil, considerada a primeira legislação de proteção florestal brasileira. Esse regimento exigia expressa autorização real para o corte do pau-brasil, além de impor outras limitações à exploração dessa espécie arbórea. A Coroa Portuguesa editou também diversas normas para manter o estoque florestal da então colônia brasileira. Além das regras, foram definidas severas penalidades, até mesmo a pena capital e o exílio, para aqueles que desrespeitassem as regras de utilização do solo e das florestas existentes no país. Estava em primeiro plano o aspecto econômico das florestas, mas, indiretamente, eram também leis de proteção ambiental. Em 1799, surgiu nosso primeiro Regimento de Cortes de Madeiras. Esse diploma estabelecia rigorosas regras para a derrubada de árvores, além de outras restrições ali previstas. Em 1802, por recomendação de José Bonifácio Andrada e Silva, foram baixadas as primeiras instruções para se reflorestar a costa brasileira, já bastante devastada. José Bonifácio demonstrava conhecimento e preocupação com a questão e já alertava os governantes no sentido da necessidade de proteger os recursos naturais. Para ele a conservação das florestas estava diretamente ligada com a regulação do clima e manutenção da fertilidade do solo. 1.2. Código Florestal de 1934 O primeiro Código Florestal Brasileiro foi instituído pelo Decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934. À época da edição do Código Florestal de 1934 a população se concentrava próximo à Capital da República, cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara. A cafeicultura avançava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraíba, substituindo toda a vegetação nativa. A criação de gado, outra forma de utilização das terras, fazia-se de modo extensivo e com mínima técnica. Na silvicultura, as atividades da Cia. Paulista de Estradas de Ferro iniciavam a introdução de espécies de Eucaliptos. No resto do País, assim como antes no Estado de São Paulo, a atividade florestal era fundamentada no mais puro extrativismo. Nos Estados do Paraná e Santa Catarina os estoques de Araucária eram rapidamente exauridos. 8

Diante deste cenário é que o Poder Público decide interceder, estabelecendo limites ao que parecia ser um saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora, até então, tais práticas fossem lícitas). A mencionada intervenção necessária materializou-se por meio da edição deste primeiro Código Florestal, embora tenha como paradigma a regulamentação do mercado madeireiro, autorizando-se a subtração com restrições. Podemos dizer que representou importante diploma legal para a flexibilização de interesses individuais em prol de interesses públicos e coletivos. A apropriação privada dos recursos naturais começa a ser matéria atinente a todos. Pela primeira vez as florestas foram reconhecidas como bem de interesse comum a todos os habitantes do país, e, por conseguinte, pela primeira vez a preocupação com o que denominamos atualmente função social da propriedade. O Decreto classificou as florestas em protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento. O conceito de florestas protetoras tinha a preocupação não somente com a preservação da vegetação nativa, mas também com a conservação do regime das águas e de espécies da fauna, bem como na proteção contra erosão, entre outros aspectos. Essas se assemelham conceitualmente as Áreas de Preservação Permanente (APPs), no entanto, o Decreto não estabelecia as distâncias mínimas para a proteção dessas áreas. As florestas remanescentes seriam as destinadas a alguma forma de proteção declarada pelo poder público, o que hoje corresponderiam às Unidades de Conservação. As florestas modelo seriam as plantadas, constituídas apenas por uma ou por limitado número de espécies florestais nativas e exóticas. As demais florestas, não enquadradas nos conceitos anteriores, seriam as de rendimento. Também foi definida a obrigatoriedade de um tipo de reserva florestal nas propriedades. O objetivo era assegurar o fornecimento de carvão e lenha, insumo energético de grande importância nessa época, permitindo a supressão em até três quartas partes da vegetação existente localizada nas propriedades rurais. 1.3. Código Florestal de 1965 Existiram imensas dificuldades para a efetiva implementação do Código Florestal de 1934, seja em decorrência da mentalidade exploratória do desenvolvimento empreendido até então, seja pela inércia, displicência ou resistência passiva ou deliberada das autoridades estaduais e municipais. Elaborou-se, então, proposta para um novo diploma legal que pudesse normatizar adequadamente a proteção jurídica do patrimônio florestal brasileiro em todo o território nacional. Deste modo, a lei claramente expressa as diversas aspirações daquele contexto histórico: a tentativa de impedir a devastação ambiental empreendida até então, e 9

por outro lado, permitir a exploração das florestas e legalizar o mercado de extração da madeira. A nova Lei, embora tenha aperfeiçoado alguns dos instrumentos da antiga lei, manteve seus pressupostos e objetivos: evitar a ocupação em áreas frágeis, obrigar a conservação de um percentual mínimo da vegetação nativa para garantia dos serviços ecossistêmicos e fomentar o reflorestamento e o uso racional das florestas. Manteve e estabeleceu, também, limites ao direito de propriedade no que se refere ao uso e exploração do solo e das florestas. Assim, denota-se a função socioambiental da terra que cada possuidor deve conferir a seu domínio. Destaca-se dessa norma a criação de 2 importantes institutos: Áreas de Preservação Permanente (APPs) e, posteriormente, após alteração feita em 1989, para áreas de Reserva Legal (RL). As APPs foram estabelecidas nos artigos 2º e 3º e a RL foi estabelecido no artigo 16. O artigo 2º sofreu alterações e regulamentações ao longo do tempo. Em 1985 a Resolução CONAMA 4, instituiu parâmetros para delimitação das APPs de reservatórios, nascentes e veredas, topos de morro e linhas de cumeada, restinga e bordas de tabuleiro ou chapadas. Em 1986, a Lei 7511 altera as larguras das faixas correspondentes a APPs de curso d'água. Em 1989, através da Lei 7803 novamente são alteradas as larguras das faixas correspondentes a APPs de curso d'água. Importante destacar que esta Lei 7803/89 fez uma modificação bastante significativa no artigo 2º, alínea a, determinando, a partir de então, que a faixa marginal dos cursos d água fosse medida a partir do seu nível mais alto, isto é, a partir do seu leito maior sazonal. A seguir as tabelas demonstram as alterações efetuadas. Tabela 1 Alterações dos limites das APP s de cursos d água segundo a largura do mesmo, de acordo com a legislação LARGURA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (em metros) Largura do curso d água (em metros) Entre 15/09/65* e 08/07/86** (a contar da faixa marginal do curso d água) Entre 08/07/86** e 20/07/89*** (a contar da faixa marginal Do curso d água) De 20/07/89*** em diante (a contar do nível mais alto do curso d água) até 10 5 30 30 10

Tabela 1 Alterações dos limites das APP s de cursos d água segundo a largura do mesmo, de acordo com a legislação - continuação LARGURA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (em metros) Largura do curso d água (em metros) Entre 15/09/65* e 08/07/86** (a contar da faixa marginal do curso d água) Entre 08/07/86** e 20/07/89*** (a contar da faixa marginal Do curso d água) De 20/07/89*** em diante (a contar do nível mais alto do curso d água) entre 10 e 50 metade da largura do curso d água 50 50 entre 50 e 100 metade da largura do curso d água 100 entre 100 e 150 metade da largura do curso d água 150 100 entre 150 e 200 metade da largura do curso d água 150 entre 200 e 600 200 Igual a largura do 100 curso d água superior a 600 500 * Data da publicação da Lei Federal nº 4771/1965 ** Data da publicação da Lei Federal nº 7511/1986 *** Data da publicação da Lei Federal nº 7803/1989 11

Tabela 2 - Alterações dos limites das APP s ao redor de reservatórios artificiais segundo uso e área, de acordo com as alterações da legislação Uso e área da superfície do Reservatório Artificial Geração de energia elétrica área até 10 ha Geração de energia elétrica área superior a 10 ha LARGURA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (em metros) Entre 15/09/65* e 20/01/86** Entre 20/01/86** e 20/03/2002*** (a contar do nível mais alto) De 20/03/2002*** em diante (a contar do nível máximo normal) Sem delimitação 100 15 Sem delimitação 100 Área urbana consolidada 2 30 Área rural 100 Abastecimento público área até 20 ha Sem delimitação Área urbana 30 Área rural 50 Área urbana consolidada 2 30 Área rural 100 Abastecimento público área superior a 20 ha Outros usos área até 20 ha Sem delimitação Sem delimitação Área urbana - 30 Área rural - 100 Área urbana 30 Área rural - 50 Área urbana consolidada 2 30 Área rural - 100 Área urbana consolidada 2 30 Área rural 15 Outros usos área superior a 20 ha Sem delimitação Área urbana 30 Área rural - 100 Área urbana consolidada 2 30 Área rural 100 * Data da publicação da Lei Federal nº 4771/1965 ** Data da publicação da Resolução CONAMA 004/1985 *** Data da publicação da Resolução CONAMA 302/02 12

Tabela 3 - Alterações dos limites das APP s ao redor de reservatórios naturais, (também denominados lagos e lagoas) de acordo com as alterações da legislação Área da superfície do Reservatório Natural Até 20 ha Acima de 20 ha LARGURA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (em metros) Entre 15/09/65* e 20/01/86** Entre 20/01/86** e 20/03/2002*** (a contar do nível mais alto) Sem delimitação Área urbana 30 Área rural - 50 Sem delimitação Área urbana 30 Área rural - 100 De 20/03/2002*** em diante (a contar do nível máximo normal) Área urbana consolidada 1 30 Área rural - 50 Área urbana consolidada 1 30 Área rural - 100 Tabela 4 Temporalidade da APP de nascentes LARGURA DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (em metros) APP Entre 15/09/65* e 20/01/1986** Entre 20/01/86** e 20/03/2002*** (faixa mínima) De 20/03/2002*** em diante (raio mínimo) Nascente Sem delimitação 50 50 * Data da publicação da Lei Federal nº. 4771/1965 ** Data da publicação da Resolução CONAMA 004/1985 *** Data da publicação da Resolução CONAMA 303/02. 13

Tabela 5 - Temporalidade de APP de topo de morro, agrupamento de morros, linha de cumeada APP ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Antes de 20/1/86* De 20/1/86* em diante Morro Sem delimitação Com delimitação Agrupamento de morros Sem delimitação Com delimitação Linha de cumeada Sem delimitação Com delimitação * Data da publicação da Resolução CONAMA 004/1985 Em 20/03/2002 foi publicada a Resolução CONAMA 303/02, que manteve as mesmas delimitações de APP de topo de morro, agrupamento de morros e linha de cumeada descritas na Resolução CONAMA 004/1985. Tabela 6 - Temporalidade de APP de declividade APP ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Antes de 15/09/65 De 15/09/65* em diante Declividade da encosta ou parte desta Inexistente Superior a 45º * Data da publicação da Lei Federal nº. 4771/1965 14

Com relação aos artigos 16 e o 44, inicialmente não faziam menção explícita a Reserva Legal e sim determinavam um limite mínimo a ser mantido com cobertura arbórea nativa (50% da vegetação de cada propriedade na Amazônia e 20% nas demais regiões do país). Em 1989, foi feita uma modificação do Código Florestal por meio da Lei 7.803, a qual adiciona dois parágrafos ao artigo 16, sendo que o parágrafo 2º determinou o limite mínimo a ser mantido com cobertura arbórea nativa de Reserva Legal, até hoje vigente. Destaca-se, também, que tornou obrigatória a averbação da RL à margem da matricula do imóvel no registro de Imóveis competente. 1.4. Alterações do Código Florestal de 1965 por Medidas Provisórias A inércia da legislação ambiental frente à expansão da fronteira agrícola levou a que, sob o impacto da divulgação dos índices de desmatamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o governo FHC editasse a MP 1.511/96, que inauguraria a edição de uma série de medidas provisórias que alteraram de forma significativa as disposições do Código Florestal sobre a Reserva Legal. A MP 1511/96, aumentou o percentual da Reserva Legal na Amazônia de 50 para 80% da propriedade para as fitofisionomias florestais (artigo 1º, parágrafo 2º) e proibiu a conversão de áreas de floresta em áreas agrícolas nas propriedades rurais que possuíssem áreas já desmatadas, abandonadas ou subutilizadas, de acordo com a capacidade de suporte do solo nessa região (artigo 2º). No entanto, a partir de 1998, iniciou-se um processo de flexibilização da legislação, também através de medidas provisórias. A MP 1736-31/1998 possibilitou o cômputo das APPs na área de Reserva Legal-RL e estabeleceu que devessem ser regulamentadas formas de compensação e recomposição da RL legal, como também a redução do percentual da Reserva Legal no Cerrado Amazônico para vinte por cento (20%). A MP 1956-50/2000 e um marco nas alterações do Código Florestal, pois modificou os artigos 1º, 4º, 16 e 44 e acresceu dispositivos à Lei 4.771/65, dos quais se destacam os conceitos de pequena propriedade rural ou posse rural familiar, APPs, Reserva Legal, utilidade pública e interesse social. As APPs e a Reserva Legal passaram a ter uma conotação claramente preservacionista, considerando também os aspectos relativos à conservação da biodiversidade, e não somente a preocupação de sua origem relativa à reserva de madeira e proteção do solo e dos recursos hídricos. Estabeleceu as excepcionalidades para a supressão de vegetação em APPs para os casos de utilidade pública e interesse social e, também, previu a possibilidade da supressão eventual e de baixo impacto ambiental da vegetação nessas áreas especialmente protegidas, a ser definido em regulamento. 15

Com relação à Reserva Legal, manteve o percentual de 80% para a Amazônia Legal, aumentou para 35% o percentual para o Cerrado situado na Amazônia Legal, mantendo os 20% para o Cerrado situado no restante do território nacional. A possibilidade de inclusão das APPs no computo da Reserva Legal ficou restrita as APPs com vegetação nativa, desde que não houvesse conversão de novas áreas para usos alternativos do solo e em parâmetros baseados nas dimensões das propriedades e sua localização. A referida MP também regulamentou formas de compensação e recomposição da Reserva Legal, agora prevista para todo o território nacional. Este instrumento foi criado para aquelas propriedades com extensão de vegetação inferior aos percentuais estabelecidos para cada região do país. A Medida Provisória vigente é a de nº 2.166-67 de 2001, que mantém as principais alterações e acréscimos dispostos na MP 1956-50/2000, compondo o texto atual do Código Florestal Brasileiro, Lei Federal 4.771/65. 2. EVOLUÇÃO DO DESMATAMENTO NO ESTADO DE SÃO PAULO No Estado de São Paulo ocorrem dois Biomas: Mata Atlântica e Cerrado. O Bioma Mata Atlântica ocupava originalmente grande parte do território paulista (86%), distribuído no litoral, regiões serranas e no interior. Encravado na porção central, se estendia de norte a sul, o Bioma Cerrado, ocupando 14% do território (figura 1). Bioma Mata Atlântica Bioma Cerrado Figura 1 - Biomas Brasileiros, IBGE 16

O Estado de São Paulo entrou no século XX conectado com a economia internacional por meio das ferrovias que convergiam para o porto de Santos, levando o café para a exportação. Uma grande faixa de terras compreendidas entre os Rios Grande, ao norte, Paraná, a oeste, e Paranapanema, ao sul, aproximadamente um terço do território paulista, que coincidia em linhas gerais com o Planalto Ocidental, permanecia quase que inteiramente intocada, apontado no mapa da figura 2 como terrenos ocupadas pelos Indígenas feroses. Figura 2 - Mapa do Estado de São Paulo - 1868, Nos Caminhos da Biodiversidade Paulista, 2007 O Gráfico da figura 3 demonstra a evolução do desmatamento no Estado desde o inicio de sua ocupação nos primórdios do século XVI. O desmatamento foi crescente e significativo. Entre os anos de 1500 a 1886 o índice de cobertura florestal caiu de 80% (original) para cerca de 70%. Do ano de 1886 a 1920, o índice permanece em queda seguindo uma taxa relativamente constante de 17

1500 1886 1907 1920 1935 1952 1962 1973 1985 1990 1995 P orc e n ta ge m (% ) desmatamento. Entre o ano de 1920 a 1935 verifica-se uma queda vertiginosa do índice de cobertura florestal. Destaca-se que na década de cinqüenta o Estado já apresentava índice de cobertura florestal inferior a 20% de sua área territorial. Nota-se que o desmatamento evoluiu nas décadas seguintes, atingindo patamares bastante preocupantes nos anos 90. E v o lu ç ã o h istó r ic a d a s fo r m a ç õ e s flo r e sta is n o E sta d o d e S ã o P a u lo 80 60 40 20 0 Anos Figura 3 - Evolução do desmatamento no Estado de São Paulo, SOS Mata Atlântica, 1998 A partir da década de noventa houve uma mudança na tendência até então verificada desde o início da ocupação do Estado, constatando-se um pequeno aumento da cobertura florestal nativa. Este fato é considerado de grande relevância ambiental, configurando uma alteração do cenário de degradação crescente até então vigente no território paulista. O gráfico da figura 4 demonstra tal situacao. 18

Figura 4 - Cobertura vegetal nativa no Estado de São Paulo, IF, 2005 O Inventário Florestal da Vegetação Nativa do Estado de São Paulo, publicado em 2005, mostra que de 1990 a 2001 houve uma recuperação da Mata Atlântica correspondente 126.561 ha, representado um acréscimo de 3,8% de cobertura florestal. Esse Inventário concluiu que o Estado possuía 13,9% correspondente a 3.457.301 ha de seu território com vegetação nativa. Em continuidade aos trabalhos, no ano de 2009 o Instituto Florestal publicou novo Inventário Florestal da Vegetação Nativa que confirmou a manutenção da tendência de recuperação da vegetação, definindo o índice de cobertura florestal nativa do estado como de 17,5 %, correspondente a 4.343.000 ha. O uso de novas tecnologias e imagens de satélite com melhor resolução permitiu, em relação ao Inventário anterior, identificar um número maior de fragmentos e de fragmentos de menores dimensões. 3. SITUAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL NO TERRITÓRIO PAULISTA Para melhor compreensão da situação da cobertura vegetal nativa no Estado, há de se observar como se dá a sua distribuição no território. Grande parte da vegetação está concentrada no Litoral, Regiões Serranas e Vale do Ribeira, sendo que o restante se apresenta de forma fragmentada na paisagem. O último Inventário Florestal registrou cerca de 300 mil fragmentos de vegetação. Cabe ressaltar que a forma fragmentada da vegetação requer cuidados especiais de manejo para sua preservação, sendo que todos os fragmentos, independente de sua dimensão, têm importância significativa, pois desempenham funções de meio de vida para a fauna (alguns grupos de animais, tais como a herpetofauna, utilizam pequenos territórios como abrigo, fonte de alimentos e reprodução). É 19

importante destacar a relevância da compreensão de como esses fragmentos se distribuem na paisagem para a manutenção dos processos ecológicos. Figura 5 - Inventário Florestal da Vegetação Nativa do Estado de São Paulo, 2009, Instituto Florestal Foi possível verificar que na grande maioria das bacias hidrográficas do Estado predominam fragmentos menores do que 10 ha, o que demonstra a gravidade da situação haja vista que quanto menor o tamanho do fragmento maior a sua vulnerabilidade decorrente de efeito borda, menor freqüência de determinadas espécies da fauna silvestre, entre outras, comprometendo a sustentabilidade dos mesmos. Conforme estudos realizados por Develey e Stouffer, a sobrevivência de muitos vertebrados da fauna nativa depende da capacidade que estes têm de se deslocarem, mantendo populações geneticamente viáveis, especialmente em áreas onde a vegetação nativa se encontra fragmentada. Nas regiões fortemente alteradas pela ação antrópica a vegetação nativa é reduzida a pequenas ilhas isoladas em uma matriz agrícola ou pastoril. Nesta situação, invariavelmente, as populações de animais silvestres são pequenas e a variabilidade genética tende a diminuir, tornando-as altamente vulneráveis a extinção local. Nesta situação corredores de vegetação nativa são de fundamental importância para conectar 20

fragmentos, estabelecendo uma sinergia positiva entre o aumento das populações, da variabilidade genética e, consequentemente, de sobrevivência das espécies (SBPC/ABC, 2011). Uma das principais formas de se garantir a preservação desses fragmentos é promovendo o estabelecimento da conectividade entre eles. Daí a importância das Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal como ferramentas para atingir este objetivo. Considerando a situação atual da cobertura vegetal no Estado e a importância da manutenção e recuperação da conectividade efetiva entre os fragmentos existentes, tem-se outra importante ferramenta advinda do Programa BIOTA/FAPESP, produzida por uma rede de pesquisadores das Universidades e Institutos de Pesquisa de São Paulo, que é o mapa denominado Áreas Prioritárias para Incremento da Conectividade (figura 6). Com base nos inventários e caracterizações efetuados pelos pesquisadores do Programa de diversos grupos da fauna e da flora, foram delimitados polígonos que foram classificados por ordem de importância para incremento da conectividade. Por uma escala de cores, é possível identificar o grau de prioridade para o estabelecimento de corredores. Figura 6 - Áreas Prioritárias para incremento da conectividade - Mapa do Projeto Biota/FAPESP, 2007 21

4. CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO DE 1965 4.1. Conceito de Área de Preservação Permanente (APP) Tipos e Funções A definição legal da Área de Preservação Permanente APP foi estabelecida pelo Artigo 1º, parágrafo 2º, inciso II. Art. 1º (...) II - área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; O estabelecimento de um conceito para APP é considerado um marco importante da legislação, pois explicita que é considerada a área como de preservação permanente, independente de estar coberta ou não por vegetação nativa. Até então, era considerado como de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação. Outro aspecto importante foi que o conceito definiu as funções ambientais desempenhadas pelas Áreas de Preservação Permanente. Ao verificarmos as categorias de APPs, estabelecidas no Art. 2º, identifica-se a correlação dos mesmos com as funções elencadas. Abaixo se transcreve o referido artigo onde estão definidas as categorias de APPs. Art. 2 Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 22

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação. Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. Entre os pesquisadores, há consenso de que as áreas marginais a corpos d água sejam elas várzeas ou Florestas ripárias e os topos de morro ocupados por campos de altitude ou rupestres são áreas insubstituíveis em razão da biodiversidade e de seu alto grau de especialização e endemismo, além dos serviços ecossistêmicos essenciais que desempenham tais como a regularização hidrológica, a estabilização de encostas, a manutenção da população de polinizadores e de ictiofauna, o controle natural de pragas, das doenças e das espécies exóticas invasoras. Na zona ripária, além do abrigo da biodiversidade com seu provimento de serviços ambientais, os solos úmidos e sua vegetação nas zonas de influência de rios e lagos são ecossistemas de reconhecida importância na atenuação de cheias e vazantes, na redução da erosão superficial, no condicionamento da qualidade da água e na manutenção de canais pela proteção de margens e redução do assoreamento. Existe amplo consenso científico de que são ecossistemas que, para sua estabilidade e funcionalidade, precisam ser conservados ou restaurados, se historicamente degradados. Quando ecossistemas naturais maduros ladeiam os corpos d água e cobrem os terrenos com solos hidromórficos associados, o carbono e os sedimentos são fixados, a água em excesso é contida, a energia 23

erosiva de correntezas é dissipada e os fluxos de nutrientes nas águas de percolação passam por filtragem química e por processamento microbiológico, o que reduz sua turbidez e aumenta sua pureza. (SBPC/ABC, 2011). 4.2. Conceito de Reserva Legal (RL) A definição legal da Área Reserva Legal - RL, foi estabelecida pelo Artigo 1º, parágrafo 2º, inciso III. Art. 1º (...) III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas; (...) O conceito definiu as funções ambientais da Reserva Legal considerando os aspectos relativos à conservação da biodiversidade e à possibilidade do uso sustentável dos recursos naturais, o que não é permitido nas APPs. A Reserva Legal tem funções ambientais e características biológicas distintas das APPs em termos da composição e estrutura de sua biota. Nos biomas com índices maiores de antropização, como o Cerrado, a Caatinga e algumas áreas altamente fragmentadas como a Mata Atlântica e partes da Amazônia, os remanescentes de vegetação nativa, mesmo que pequenos, têm importante papel na conservação da biodiversidade e na diminuição do isolamento dos poucos fragmentos da paisagem. Tais remanescentes funcionam como trampolins ecológicos no deslocamento e na dispersão das espécies pela paisagem. Essas características exigem que eventuais compensações sejam feitas na própria microbacia ou na bacia hidrográfica. (SBPC/ABC, 2011). 4.3. Casos Excepcionais - Intervenção ou Supressão de Vegetação em APP Os casos excepcionais passíveis de intervenção ou supressão da vegetação nativa em Área de Preservação Permanente estão previstos no Art. 4º da Lei 4771/65. Esse artigo determina tais possibilidades, nos casos de utilidade pública ou de interesse social, na inexistência de alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. Dispõe, ainda, em seu parágrafo 3º a possibilidade de supressão eventual e de baixo impacto ambiental da vegetação em APP, a serem definidos em regulamento. 24

Assim, no intuito de normatizar estas questões, no ano de 2006, após inúmeras discussões nas Câmaras do Conselho Nacional de Meio Ambiental-CONAMA foi editada a Resolução 369 de 28 de março de 2006, que definiu os casos excepcionais em que o órgão ambiental competente pode autorizar a intervenção ou supressão de vegetação em APP para a implantação de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, ou para a realização de ações consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental. Para estes casos, a referida Resolução estabeleceu que para ser autorizada intervenção ou supressão de vegetação deverá ser comprovada a inexistência de alternativa técnica e locacional às obras, planos, atividades ou projetos propostos; atendimento às condições e padrões aplicáveis aos corpos de água; averbação da Área de Reserva Legal e a inexistência de risco de agravamento de processos como enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rochosa (Artigo 3º). Nos Artigos 2º e 11 estão especificados quais são os casos de utilidade pública, interesse social e de baixo impacto ambiental. Art. 2º (...) I - utilidade pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia; c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais, outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e cascalho; d) a implantação de área verde pública em área urbana; e) pesquisa arqueológica; f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados; e g) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura, obedecidos os critérios e requisitos previstos nos 1o e 2o do art. 11, desta Resolução. II - interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, de acordo com o estabelecido pelo órgão ambiental competente; 25

b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da área; c) a regularização fundiária sustentável de área urbana; d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; III - intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo impacto ambiental, observados os parâmetros desta Resolução. (...) Art. 11. Considera-se intervenção ou supressão de vegetação, eventual e de baixo impacto ambiental, em APP: I - abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar; II - implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber; III - implantação de corredor de acesso de pessoas e animais para obtenção de água; IV - implantação de trilhas para desenvolvimento de ecoturismo; V - construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro; VI - construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais da região amazônica ou do Pantanal, onde o abastecimento de água se de pelo esforço próprio dos moradores; VII - construção e manutenção de cercas de divisa de propriedades; VIII - pesquisa científica, desde que não interfira com as condições ecológicas da área, nem enseje qualquer tipo de exploração econômica direta, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável; IX - coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, desde que eventual e respeitada a legislação específica a respeito do acesso a recursos genéticos; X - plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais em áreas alteradas, plantados junto ou de modo misto; 26

XI - outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventual e de baixo impacto ambiental pelo conselho estadual de meio ambiente. 1o Em todos os casos, incluindo os reconhecidos pelo conselho estadual de meio ambiente, a intervenção ou supressão eventual e de baixo impacto ambiental de vegetação em APP não poderá comprometer as funções ambientais destes espaços, especialmente: I - a estabilidade das encostas e margens dos corpos de água; II - os corredores de fauna; III - a drenagem e os cursos de água intermitentes; IV - a manutenção da biota; V - a regeneração e a manutenção da vegetação nativa; e VI - a qualidade das águas. 2o A intervenção ou supressão, eventual e de baixo impacto ambiental, da vegetação em APP não pode, em qualquer caso, exceder ao percentual de 5% (cinco por cento) da APP impactada localizada na posse ou propriedade. 3o O órgão ambiental competente poderá exigir, quando entender necessário, que o requerente comprove, mediante estudos técnicos, a inexistência de alternativa técnica e locacional à intervenção ou supressão proposta. Destaca-se entre os casos excepcionais para intervenção ou supressão de vegetação em APP o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da área. Tal exceção possibilita ao pequeno produtor obter nestas áreas, além dos serviços ambientais intrínsecos, renda adicional com o uso da mesma. Em relação às Áreas de Preservação Permanente em áreas urbanas, ressalta-se na Resolução CONAMA 369/06 o Artigo 8º, que trata da implantação de Área Verde de Domínio Público, admitindo usos que possibilitam a integração da população com estas áreas. Com as possibilidades de usos para atividades de esporte, cultura e recreação, tais como trilhas ecoturísticas, ciclovias, mirantes, entre outros, verifica-se a diminuição de ocupações indevidas (deposição de lixo e entulho, moradias, etc.), contribuindo sobremaneira para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das cidades. Devido ao grande número de moradias de baixa renda nas cidades, inclusive em APPs, foram estabelecidos na referida Resolução parâmetros visando promover a Regularização Fundiária Sustentável por meio da implantação de infra-estrutura urbana, saneamento básico, coleta e destinação de resíduos sólidos, outros serviços e equipamentos públicos, áreas verdes com espaços livres e vegetados 27

com espécies nativas, que favoreçam a infiltração de água de chuva e contribuam para a recarga dos aqüíferos, considerando a caracterização físico-ambiental, social, cultural, econômica e avaliação dos recursos e riscos ambientais da área. Tais ações buscam a melhoria da qualidade de vida das populações que residem nessas áreas. 4.4. Flexibilidades da Reserva Legal (RL) O instituto da Reserva Legal, diferentemente das APPs, prevê o uso sustentável dos recursos naturais. A grande diversidade da flora nativa possibilita ao produtor rural a obtenção de renda adicional significativa proveniente da produção de madeiras e fibras, de medicinais, de frutíferas nativas, de melíferas, de óleos e resinas, entre outras tantas alternativas viáveis de diversificação de produção na propriedade. Pequeno produtor rural Também com relação à Reserva Legal, a legislação como se apresenta, prevê ferramentas facilitadoras ao pequeno produtor rural, tais como: a possibilidade de serem computados os plantios de arvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas na composição da RL; o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em área de preservação permanente no cálculo do percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal exceder a 25% da pequena propriedade; gratuidade para a averbação da RL. Artigo 16 e 44 do Código Florestal Alem dos mecanismos de flexibilidade para a composição da Reserva Legal para a pequena propriedade rural ou posse rural familiar, tem-se para as demais propriedades, no parágrafo 6º do artigo 16, a possibilidade de computar as áreas relativas à vegetação nativa existente em área de preservação permanente no cálculo do percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal exceder a 80% da propriedade rural localizada na Amazônia Legal e 50% da propriedade rural localizada nas demais regiões do País. Para qualquer dessas situações previstas no referido parágrafo o regime de uso da área de preservação permanente não se altera. As formas de compensação e recomposição da Reserva Legal previstas no artigo 44 foram criadas para aquelas propriedades com extensão de vegetação inferior aos percentuais estabelecidos para cada região do país. 28

Art. 44. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do art. 16, ressalvado o disposto nos seus 5 o e 6 o, deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente; II - conduzir a regeneração natural da reserva legal; e III - compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios estabelecidos em regulamento.(...) Assim, para a instituição da RL são dadas três alternativas que podem ser usadas individualmente ou conjuntamente: recomposição por meio de plantio, a condução da regeneração natural e a compensação por outra área equivalente. A recomposição pode se dar por meio do plantio de espécies nativas, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente, A recomposição também pode ser realizada mediante o plantio temporário de espécies exóticas como pioneiras, visando à restauração do ecossistema original. A fim de regulamentar as questões da Reserva Legal, o Estado de São Paulo editou o Decreto 53.939, de 6 de janeiro de 2009. Com relação à recomposição, o regramento se encontra descrito de forma clara nos artigos 6º e 7º. Artigo 6º - Para a recomposição da Reserva Legal no próprio imóvel deverá ser observado o que segue: I - a recomposição poderá ser executada por meio do plantio de mudas, pela condução da regeneração natural ou pela adoção de técnicas que combinem as duas metodologias, mediante projeto técnico a ser aprovado pelo Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais -DEPRN; II - a definição da metodologia a ser adotada para a recomposição da Reserva Legal deverá ser embasada em recomendações técnicas adequadas para as diferentes situações, podendo ser contemplados diferentes métodos, tais como nucleação, semeadura direta e manejo da regeneração natural; III - o plantio de mudas para fins de recomposição da Reserva Legal, tanto aquele a ser realizado em área total como aquele a ser realizado para 29

enriquecimento, deverá utilizar espécies nativas de ocorrência regional, admitindo-se o uso temporário de espécies exóticas como pioneiras intercaladas com espécies arbóreas nativas ou Sistemas Agroflorestais (SAF), desde que observadas as condições estabelecidas no artigo 7º deste decreto; IV - o prazo máximo para a recomposição da Reserva Legal é de: a) 30 (trinta) anos, se utilizadas espécies nativas de ocorrência regional, observando-se a taxa mínima de 1/10 (um décimo) da área total necessária à complementação a cada 3 (três) anos; b) 8 (oito) anos, se utilizado o plantio de espécies arbóreas exóticas como pioneiras, intercaladas às espécies nativas, observando-se a taxa mínima de 1/8 (um oitavo) da área total necessária à complementação a cada ano. 1º - A Reserva Legal recomposta deverá ser averbada à margem da matrícula do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis, conforme disposto no 2º do artigo 3º deste decreto. 2º - A averbação de que trata o parágrafo anterior poderá ser realizada de uma única vez, no início da recomposição, ou a cada parcela de 1/10 (um décimo) ou 1/8 (um oitavo) previstas no inciso IV deste artigo, sempre após a aprovação do projeto técnico de recuperação pelo Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais - DEPRN. 3º - Se houver a opção por averbar a Reserva Legal a cada parcela, como previsto no parágrafo anterior, deverá ser firmado Termo de Compromisso, com força de título executivo, visando assegurar o cumprimento da obrigação de recompor a Reserva Legal com prazo máximo de 30 (trinta) ou 8 (oito) anos, conforme estabelecido no inciso IV deste artigo. 4º - Durante o prazo para a recomposição da Reserva Legal, a cada período de 3 (três) anos na hipótese prevista no inciso IV, alínea a, ou de 1 (um) ano na hipótese prevista o inciso IV, alínea b deste artigo, o proprietário ou possuidor deverá apresentar ao Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais - DEPRN relatório de acompanhamento firmado por técnico habilitado, com Anotação de Responsabilidade Técnica - ART recolhida, demonstrando os resultados obtidos no período.(...) Artigo 7º - O plantio de espécies arbóreas exóticas intercaladas com espécies arbóreas nativas ou de Sistemas Agroflorestais (SAF) para a recuperação de Reservas Legais, previsto no inciso III do artigo 6º deste decreto, fica condicionado à observação dos seguintes princípios e diretrizes: I - densidade de plantio de espécies arbóreas: entre 600 (seiscentos) e 1.700 (mil e setecentos) indivíduos por hectare; II - percentual máximo de espécies arbóreas exóticas: metade das espécies; 30

III - número máximo de indivíduos de espécies arbóreas exóticas: metade dos indivíduos ou a ocupação de metade da área;iv - número mínimo de espécies arbóreas nativas: 50 (cinqüenta) espécies arbóreas de ocorrência regional, sendo pelo menos 10 (dez) zoocóricas, devendo estas últimas representar 50% (cinqüenta por cento) dos indivíduos; V - manutenção de cobertura permanente do solo; VI - permissão de manejo com uso restrito de insumos agroquímicos; VII - não-utilização de espécie-problema ou espécie-competidora; VIII - controle de gramíneas que exerçam competição com as árvores e dificultem a regeneração natural de espécies nativas. 1º - O proprietário ou o titular responsável pela exploração do imóvel, que optar por recompor a Reserva Legal por meio de plantio de espécies arbóreas nativas de ocorrência regional intercaladas com espécies arbóreas exóticas, terá direito à sua exploração. 2º - Não poderá haver o replantio de espécies arbóreas exóticas na Reserva Legal uma vez findo o ciclo de produção do plantio inicial, exceto no caso de pequenas propriedades. A escolha ou a combinação dos métodos a serem utilizados (recomposição por meio de plantio ou através da condução da regeneração natural) dependerá das condições do local (existência de fragmentos no entorno que serão fontes de sementes ou de propágulos e a ocorrência de banco de sementes na área a ser recomposta). A compensação é um instrumento bastante interessante uma vez que, por permitir a instituição da RL em outra propriedade, desde que obedecidas determinadas condições, pois agrega valor a floresta em pé. Até então, de modo geral, o valor da terra com vegetação nativa era consideravelmente inferior ao valor da terra nua, fato este que vem se modificando após essa flexibilização disposta na lei. Atualmente já se constata a valorização das terras com floresta em pé nas regiões do Estado com maior índice de cobertura vegetal nativa. Todavia, para utilização deste mecanismo, o proprietário ou possuidor, a partir da vigência da Medida Provisória 1.736-31, de 14 de dezembro de 1998, não poderá ter suprimido, total ou parcialmente, florestas ou demais formas de vegetação nativa, situadas no interior de sua propriedade ou posse, sem as devidas autorizações exigidas por Lei. A compensação da área de Reserva Legal em outra propriedade deve ser equivalente em importância ecológica e extensão, pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia. Na impossibilidade de 31

compensação da Reserva Legal dentro da mesma micro-bacia hidrográfica, deve ser aplicado o critério de maior proximidade possível entre a propriedade desprovida de Reserva Legal e a área escolhida para compensação, desde que na mesma bacia hidrográfica e no mesmo Estado, atendido, quando houver, o respectivo Plano de Bacia Hidrográfica. No Estado de São Paulo, o Decreto 53939/09, citado anteriormente, normatiza tal mecanismo em seu artigo 9, abaixo transcrito. Artigo 9º - A compensação da Reserva Legal por áreas em outras propriedades será aceita desde que a área apresentada para compensação seja equivalente em extensão e importância ecológica e pertença ao mesmo ecossistema da área a ser compensada e sejam observados os seguintes critérios: I - a área apresentada para compensação deverá estar localizada na mesma microbacia hidrográfica onde se localiza o imóvel rural cuja reserva legal será objeto da compensação; II - na impossibilidade de compensação na mesma microbacia hidrográfica, poderão ser aceitas áreas de compensação localizadas na mesma bacia hidrográfica, observando-se o critério da maior proximidade possível entre a propriedade desprovida de reserva legal e a área escolhida para compensação, atendido, quando houver, o respectivo Plano de Bacia Hidrográfica; III - preferencialmente devem ser escolhidas áreas de compensação que levem à formação de corredores interligando fragmentos remanescentes de vegetação nativa, áreas de preservação permanente, Unidades de Conservação e áreas consideradas prioritárias para a conservação da biodiversidade indicadas pelo Ministério do Meio Ambiente ou pelo Projeto Diretrizes para a Conservação e Restauração da Biodiversidade no Estado de São Paulo Programa BIOTA - FAPESP, 2007. 1º - Para efeito da aplicação deste artigo, consideram-se situadas no Estado de São Paulo as Bacias Hidrográficas do Paraná e do Atlântico Sudeste. 2º - Nos casos em que a vegetação da área indicada para compensação encontrar-se degradada, a aceitação da compensação dependerá de sua prévia recomposição, observando-se o disposto nos artigos 6º e 7º deste decreto. 3º - A Reserva Legal instituída por meio de compensação deverá ser averbada à margem da matrícula dos imóveis envolvidos e estará sujeita às mesmas disposições estabelecidas neste regulamento. 4º - A Secretaria do Meio Ambiente definirá critérios para orientar a escolha de áreas para a compensação de Reserva Legal considerando a equivalência em importância ecológica, adotando como referência as Áreas Prioritárias para o Incremento de Conectividade indicadas pelo Projeto Diretrizes para a 32