SEPARAÇÃO DE IRMÃOS NA ADOÇÃO: CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PARA A BUSCA DE UMA NOVA FAMILIA?

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Transcrição:

SEPARAÇÃO DE IRMÃOS NA ADOÇÃO: CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PARA A BUSCA DE UMA NOVA FAMILIA? Camila Almeida Pereira (UEPG) (camila_ap94@homail.com) Camila Alves (UEPG) (camilaalves442@gmail.com) Prof. Me. Alexandre Almeida Rocha RESUMO: O Estatuto da Criança e do Adolescente, através do seu artigo 28, 4º dita que grupos de irmãos postos para a adoção devem ser alocados sob a guarda de uma mesma família. Visto isto, adoção é o meio que assegurará ao adotado condições dignas para que possa ter um desenvolvimento saudável. Entretanto a condição estabelecida pelo artigo 28, em seu 4º acaba por transformar-se em uma grande barreira para a concretização do ato da adoção, pois os casais dispostos a adotar, em muitos casos, não demonstram interesses em adotar grupos de irmãos. Por meio do método dedutivo, tem por objetivo mostrar que manter a união do grupo é desvantajoso, pois acarreta em um aumento do número de crianças e jovens que ficam por anos nos abrigos, chegando até mesmo a completar a maioridade sem que sejam alocados em uma família e ainda não tutelando o direito exposto no artigo 19, 2, na qual expõe que nenhuma criança ou adolescente deverá ficar institucionalizado por mais de dois anos. Palavras-chave: Estatuto da criança e do adolescente, Grupo de irmãos, Adoção. Introdução: O instituto da adoção é protegido, defendido e regrado, principalmente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Criado pela Lei de Nº 8.069 de 13 de julho de 1990, que foi sancionada pelo ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello, o ECA nada mais é do que um instrumento de cidadania. Foi especialmente criado para revelar os direitos e os deveres das crianças e adolescentes, mas principalmente lhes atribuir um papel de sujeitos de direito, que antes não havia garantido para si. Dentro deste quadro, a adoção é medida na qual se busca imitar a filiação natural, sendo assim definida como [...]ato ou negocio jurídico que cria relações de paternidade e filiação entre duas pessoas. (VENOSA,2009), ou seja, busca-se para a criança e o adolescente um novo lar que possa lhe garantir um meio digno de desenvolvimento. No ato da adoção, serão assegurados ao adotado os mesmos direitos que um filho biológico possui, sendo estes referentes a nome, parentesco, alimentos e sucessão. É vedada qualquer forma de diferenciação entre o filho adotado e o filho biológico. O instituto é concretizado como medida excepcional, pois uma criança ou adolescente só será posta para adoção em último caso, depois de exauridas todas as possibilidades de manter aqueles com sua família biológica. Assim fica estipulado na Lei 8.069:

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes A medida de adoção poderá então, ser aplicada, quando houver destituição do poder familiar, momento este em que os pais perdem os direitos sobre seus filhos menores. Acontece a destituição por motivos diversos, como abuso familiar, exposição constante à drogas, abandono ou qualquer outro meio que denigre os direitos das crianças. Devido a estes fatores, será encontrada uma nova família para o vulnerável que atenda suas necessidades e lhe proporcione uma vida digna. Como forma de efetivar os direitos inerentes expostos no ECA, deve-se, no ato da adoção observar as vantagens e benefícios para os menores e quando possível, ouvir a sua opinião, sendo este ato garantido na lei 8.069 artigo 28, 1º2 pois vale reforçar que o instituto ora mencionado não foi criado para beneficiar famílias que buscam um filho, mas sim um filho que busca uma família adequada para si, que possa lhe suprimir todas as carências afetivas que ele teve em seu desenvolvimento emocional. Portanto, é essencial o consentimento da criança quando possível, pois são os seus interesses que devem ser atendidos neste momento. Toda criança e adolescente será inscrito no Cadastro Nacional de Adoção para que haja um processo mais célere e efetivo na busca de uma nova família. E de acordo com dados do CNJ (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,2015), o Brasil possui 5.469 mil crianças e adolescentes cadastrados, enquanto existem 33.276 mil casais dispostos a adotar. É notório que existe um número muito maior de famílias que desejam adotar do que crianças param serem adotadas, portanto, olhando de uma forma lógica, não haveria crianças e adolescentes disponíveis para adoção, pois todos já estariam alocados em uma família, mas a realidade não é esta, pois é comum os menores passarem anos em um abrigo, chegando até mesmo a completar a vida adulta sem serem adotados. Pode-se referir este fato às exigências que os adotantes especificam em seu cadastro, optando por crianças com até três anos de idade, brancas, loiras e de olhos claros e que não possuam doenças físicas e mentais e que ainda não pertençam a grupos de irmãos. Nota-se, portanto, que procuram crianças parecidas fisicamente consigo, como uma forma de esconder a adoção e não sofrer preconceitos, porém acabam se esquecendo do objetivo da adoção, que é a de fornecer ao adotado uma família e não buscar aos adotantes uma forma de suprir a falta de um filho ou até mesmo ver na adoção um ato de caridade. A verdadeira paternidade funda-se no desejo de amar e ser amado, mas é incrível como a sociedade ainda não vê a adoção como deve ser vista. (DIAS,2009). Pode-se aludir que a adoção não se concretiza simplesmente pelo seu meio burocrático que acaba por atrasa-la, mas principalmente pelas exigências que os adotantes fazem no momento em que buscam um filho. Objetivos O instituto da adoção é visto como um meio burocrático, na qual alguns casais aguardam anos para conseguir realizar seu sonho de adotar uma criança ou adolescente, sejam por dificuldades impostas pela própria justiça ou até mesmo

pelas preferências dos adotandos. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo demonstrar que o artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, na tentativa de manter um grupo de irmãos unidos no momento da alocação no seio de uma nova família, acabou por criar um entrave de maior proporção, que é o de retardar o processo de adoção e não permitir que um desses irmãos sejam adotados, pois a grande maioria dos casais não deseja adotar mais de uma criança/adolescente e estes, por lei, não podem ser separados. Método e Técnicas de Pesquisa O presente trabalho foi elaborado pelo meio dedutivo, analisando a Constituição da República Federativa do Brasil, bem como o Estatuto da criança e adolescente até o cadastro nacional de adoção, na qual demostrou a estatística de crianças e adolescente postas para adoção e o numero de casais aptos a adotar. Resultados O Estatuto da Criança e do Adolescente expõe em seu 4º do artigo 28: Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. Esta prerrogativa busca proporcionar àquele grupo de irmãos que sofreu com a separação de seus pais que não aguente com mais uma perda e tenha a dor de viver distante de ente familiar que enfrentou consigo a dor de viver em um abrigo e lidar com uma rotina de abandono afetivo por parte de uma figura paternal. Entretanto cumpre ressaltar que nem sempre esses irmãos, possuem vínculos afetivos entre si. Visto isto, a família é o primeiro instituto socializador na vida de uma criança, na qual irá lhe ensinar os conceitos de afeto, carinho e respeito, e que influenciará diretamente no comportamento da mesma no meio social, portanto, a carência daquele afetará todo o desenvolvimento de uma vida emotiva e social saudável. Diante deste quadro de fragilidade no desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança, é necessário um processo de adoção célere para que danos psicológicos não sejam criados em uma pessoa em estágio de desenvolvimento. Visando esta segurança, o ECA garante em seu artigo 19 que crianças não poderão ficar institucionalizadas por mais de dois anos, tendo assim a instituição um caráter meramente transitório. Desta forma o processo de adoção deverá proceder de forma rápida para que os interesses dos menores sejam atendidos. O assunto a ser destacado é que em muitos casos manter o grupo de irmãos e ir de encontro com o exposto no artigo 28, 4 do ECA, irá afrontar o artigo 19 desta mesma lei, pois os casais cadastrados para adoção buscam em grande maioria crianças de até 5 anos e que não possuam grupos de irmãos. Ainda segundo os dados do CNJ (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA,2015), apenas 21,51% dos casais pretendem adotar grupos de irmãos. O que se nota é que estes grupos ficarão por anos institucionalizados, pois a procura por mais de uma criança para adoção é mínima e o Estatuto não permite que estes sejam separados e nem ao

menos apresenta formas para que a medida seja amenizada. Com isto, caso um dos irmãos aptos para adoção esteja dentro do perfil pretendido por um casal, o seu pedido de adoção por estes não será homologado pela Vara da Infância caso os pretendentes à adoção não estejam dispostos a acolher os outros irmãos institucionalizados. A criança tem direito a uma família e esse direito não deve ser embaraçado porque a criança tem um irmão que não pode ser adotado pela mesma família. Defendemos então que em certos casos os irmãos podem ser separados para adoção por famílias diferentes ou mesmo alguns serem entregues para adoção e outros permanecerem em entidades de acolhimento. ( ROCHA, 2009) A separação de irmãos respeita, ainda, o direito logrado pelo artigo 227 da Constituição da Republica, pois este dispositivo abarca que é dever do Estado e da família assegurar à criança e ao adolescente seus direitos básicos. Todavia, ao analisar a realidade, pode-se deduzir que o próprio Estado não respeita os direitos básicos de seus pupilos, uma vez que é notório que com o quadro de adoção apresentado pelo Brasil é extremamente dificultoso efetuar a adoção de grupos de irmãos. Em muitos casos, os grupos familiares postos para adoção não mantêm contato com seus irmãos consanguíneos, chegando até mesmo haver casos em que não tem o conhecimento de ter outros irmãos na mesma situação de abandono familiar. Entretanto esta questão não é levada em conta nos tribunais no momento de sentenciar um pedido de adoção. Crianças e adolescentes veem seu sonho de ter uma família barrado por uma questão legal, e meramente burocrática. Considerações Finais O ideal seria aplicar efetivamente o que se expõe nas normas, pois os legisladores, no momento em que a elaboram, buscam tutelar todos os direitos inerentes ao cidadão para que este não fique desamparado. Entretanto a proposta exposta defende outro viés ao que estatui a lei 8.069, pois caso fosse cumprida efetivamente a imposição de manter grupos de irmãos unidos na adoção, crianças e adolescentes, em grande número, continuariam por anos nos abrigos, havendo assim um excesso de jovens institucionalizados que chegariam à fase adulta vivendo em um abrigo devido ao pouco interesse que os casais demonstram em adotar mais de um pupilo. A justiça brasileira deve estudar o caso e encontrar meios eficientes para suprir esta grave falta em nossa norma, buscando até mesmo formas alternativas para que estes grupos de irmãos possam ser separadas, mais que ainda mantenham o contato entre si. O que não pode é que um problema tão explícito quanto este não seja estudado e solucionado de forma a garantir os direitos inerentes de nossas crianças, grupo este que merece uma maior atenção devido a sua grande vulnerabilidade. Conclui-se que a separação de irmãos com a concretização da adoção pode causar efeitos negativos no desenvolvimento psicológico da criança, entretanto, há de notar

que a não inserção em um núcleo familiar pode acarretar em danos ainda mais severos que o primeiro, perdurando para a vida toda. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 09 jun. 2015. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Cadastro Nacional de Adoção. Disponivel em: http://www.cnj.jus.br/cna/publico/relatorioestatistico.php. Acesso em: 09 jun. 2015.. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 12 dez. 2014. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5 ed.rev. São Paulo. Revista dos Tribunais.2009. ROCHA, Maria Isabel de Matos. Separação de Irmãos no Acolhimento e na Adoção. Revista Trimestral de Jurisprudência, Campo Grande, n.34, 187,p.07-11, janeiro a março de 2013. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 9. ed. São Paulo. Atlas. 2009.