ANÁLISE DO PROCESSO DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE ADULTO

Documentos relacionados
EVOLUÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

LETÍCIA SILVA GABRIEL

DESMAME DIFÍCIL. Versão eletrônica atualizada em Março 2009

Uso da VNI no desmame

RELAÇÃO DO PERÍODO DE PERMANÊNCIA EM VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA COM O GÊNERO E A IDADE DOS PACIENTES DA UTI DO HOSPITAL MUNICIPAL DE RIO VERDE

Técnica de fisioterapia pulmonar é eficaz em UTIs

A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DOS PROTOCOLOS DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NO AVE FT RAFAELA DE ALMEIDA SILVA APAE-BAURU

Procedimento Operacional Padrão

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

Palavras-chaves: Desmame do Respirador Mecânico. Ventilação Mecânica. Suporte Ventilatório Interativo.

NURSING ACTIVIES SCORE (NAS) X ESCORE DE BRADEN EM PACIENTES COM ULCERA POR PRESSÃO

Análise da demanda de assistência de enfermagem aos pacientes internados em uma unidade de Clinica Médica

QUESTÃO 32. A) movimentação ativa de extremidades. COMENTÁRO: LETRA A

MÉTODOS DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA UTILIZADOS NA UTI DO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE TUBARÃO

Retirada do Suporte Ventilatório DESMAME

Como estamos ventilando em João Pessoa PB? UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Flávia Targino de Souza Chaves

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Fisioterapia em terapia Intensiva Trabalho de Conclusão de Curso

RESOLUÇÃO. Parágrafo único. O novo currículo é o 0003-LS, cujas ementas e objetivos das disciplinas também constam do anexo.

ESTUDO EPIDEMILOGICO DO ÍNDICE DE PACIENTES IDOSOS COM TRAUMATISMO CRANIO-ENCEFÁLICO INTERNADOS EM UM HOSPITAL DO OESTE DO PARANÁ NO ANO DE 2009

Perfil epidemiológico do CTI e estrutura de atendimento

Estratégias de desmame da ventilação mecânica em uma unidade de terapia intensiva. Resumo

ESTRATÉGIAS PARA CONDUZIR A DESCONTINUAÇÃO E O DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Graduada em Fisioterapia, pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS, São Paulo. 2

Patrícia Santos Resende Cardoso 2012

Estudo comparativo entre testes de respiração espontânea: PS + PEEP versus Tubo T como preditivos para falha de extubação em pediatria

movimento & saúde REVISTAINSPIRAR

COMO VENTILAR O PACIENTE COM TCE

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA. (Baseado nos consensos e diretrizes brasileiras de VM)

VMNI na Insuficiência Respiratória Hipercápnica

CARACTERIZAÇÃO DE LESÕES DE PELE EM UM CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO ADULTO DE UM HOSPITAL PRIVADO

Parâmetros gasométricos após aspiração traqueal em portadores de choque séptico: ensaio clínico

ESTUDO DE IMPACTO DOS PROTOCOLOS DA ODONTOLOGIA HOSPITALAR SOBRE AS CAUSAS DE ALTAS DAS INTERNAÇÕES DAS UTI s DO HOSPITAL REGIONAL DE ARAGUAINA TO.

INCIDÊNCIA DE PNEUMONIA NOSOCOMIAL EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR, DURANTE O PERÍODO DE JULHO DE 2005 A JULHO DE 2006.

11. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

Artigo DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA REALIZADO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Palavras Chave: Ventilação Mecânica. Complacência Pulmonar. Sistema Respiratório. Volume Corrente.

Critérios Prognósticos do Hepatopata na UTI: Quando o tratamento pode ser útil ou fútil

Desenvolvimento de um Escore de Risco Para Falência da Extubação em Pacientes com Traumatismo Cranioencefálico. Tese de Doutorado

Avaliação da Pressão de Cuff de Vias Aéreas Artificiais antes e após procedimento de aspiração traqueal

VENTILAÇÃO MECÂNICA. Profª Enfª Luzia Bonfim

Perfil Clínico e Desmame Ventilatório de Pacientes Acometidos por Traumatismo Crânio-Encefálico

INCIDÊNCIA DE SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO PERÍODO DE TRÊS MESES: UM ESTUDO RETROSPECTIVO

Padronização do Desmame da Ventilação Mecânica em Unidade de Terapia Intensiva: Resultados após Um Ano*

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS DE UM CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS DE BELO HORIZONTE-MG

SERVIÇO DE FISIOTERAPIA HOSPITALAR

Importância da aplicação de um protocolo de desmame ventilatório na prática clínica diária em uma unidade de terapia intensiva

PLANO DE AULA. Aulas práticas

Desmame difícil. Definições. Como estão sendo desmamados os pacientes Coorte mundial Desmame simples. Desmame difícil. Desmame prolongado

SERVIÇO DE FISIOTERAPIA HOSPITALAR

CURSO DE HABILIDADES FISIOTERAPÊUTICAS EM TERAPIA INTENSIVA

Pneumonia Comunitária no Adulto Atualização Terapêutica

CURSO DE FISIOTERAPIA Autorizado pela Portaria nº 377 de 19/03/09 DOU de 20/03/09 Seção 1. Pág. 09 PLANO DE CURSO


Monitor de Índice Bispectral (BIS) na Unidade de Terapia Intensiva

mail: Centro Teresina - PI, Campos São Paulo Brasil,

UNIFESP - HOSPITAL SÃO PAULO - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA

EXIJA QUALIDADE NA SAÚDE

10/04/2012 ETAPAS NO DELINEAMENTO DO ESTUDO EXPERIMENTAL:

COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS EM PACIENTES INTERNADOS EM TERAPIAS INTENSIVAS.¹. Joelma Barbosa Moreira², Isabel Cristina Silva Souza³

CURSO DE VENTILAÇÃO MECÂNICA PEDIÁTRICA E NEONATAL

EXIJA QUALIDADE NA SAÚDE

TERAPIA IMUNOPROFILÁTICA COM PALIVIZUMABE

Jose Roberto Fioretto

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA MARIA APARECIDA VITAGLIANO MARTINS

INCIDÊNCIA DE FALHA E SUCESSO NO PROCESSO DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDA FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE LILIANE BARBOSA DA SILVA PASSOS

EFEITOS CLÍNICOS DO TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES SOB VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA.

Gilmara Noronha Guimarães 1 Rafaela Campos Emídio 2 Rogério Raulino Bernardino Introdução

PREDITORES DE SUCESSO NO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA EM NEUROCRÍTICOS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

SPREAD Ped BEM VINDOS!!! Apoio. Sepsis PREvalence Assesment Database in Pediatric population

Estudo Comparativo entre Traqueostomia Precoce e Tardia em Pacientes sob Ventilação Mecânica*

Indicadores Estratégicos

FREQUÊNCIA DA EVOLUÇÃO PARA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES SUBMETIDOS À VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA E SUA CORRELAÇÃO COM O ÍNDICE DE APACHE II

PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE INDIVÍDUOS NA FASE INICIAL E INTERMEDIÁRIA DA DOENÇA DE PARKINSON ATRAVÉS DO PDQ-39

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

TREINAMENTO DA MUSCULATURA INSPIRATÓRIA NO DESMAME DO PACIENTE TRAQUEOSTOMIZADO ADULTO SOB VENTILAÇÃO MECÂNICA

Informativo da Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar

FATORES RELACIONADOS À FALHA NA EXTUBAÇÃO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DA AMAZONIA OCIDENTAL BRASILEIRA

ANALISE DO PERFIL CLÍNICO DOS PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL SÃO LUCAS QUE REALIZARAM FISIOTERAPIA.

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE IDOSOS HOSPITALIZADOS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

FISIOTERAPIA NO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA: REVISÃO DA LITERATURA BRASILEIRA.

Prémio Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa MSD em Epidemiologia Clínica

Grupo Técnico de Auditoria em Saúde

RELAÇÃO ENTRE PAVM E SISTEMAS DE ASPIRAÇÃO ABERTO E FECHADO

O PERFIL DOS PACIENTES COM SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ATENDIDOS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

BENEFÍCIOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Tipos de Estudos Clínicos: Classificação da Epidemiologia. Profa. Dra. Maria Meimei Brevidelli

INCIDÊNCIA E IMPACTO CLÍNICO DA FALHA DE EXTUBAÇÃO EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: FACULDADE ANHANGÜERA DE CAMPINAS

Política de Avaliação Fisioterapêutica dos Pacientes e Continuidade do Cuidado NORMA Nº 001

Revisão sistemática: o que é? Como fazer?

AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES NOS PARÂMETROS VENTILATÓRIOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Prova de Título de Especialista em Fisioterapia Respiratória

v. 5, n.4, 2011 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS TÉCNICAS: TUBO T E PRESSÃO DE SUPORTE NO DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

DRG REMUNERAÇÃO POR AVALIAÇÃO

Ventilação Mecânica Invasiva. Profa Ms. Cláudia Lunardi

CURSO DE FISIOTERAPIA Autorizado pela Portaria nº 377 de 19/03/09 DOU de 20/03/09 Seção 1. Pág. 09 COMPONENTE CURRICULAR: FISIOTERAPIA EM UTI

Transcrição:

ANÁLISE DO PROCESSO DE DESMAME DA VENTILAÇÃO MECÂNICA DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE ADULTO INTRODUÇÃO RAFAEL CASTANHO SILVA, MARCELO JUN IMAI, AMAURY CEZAR JORGE, ERICA FERNANDA OSAKU, CLÁUDIA REJANE LIMA DE MACEDO COSTA UNIOESTE, Cascavel, Paraná, Brasil caurejane@yahoo.com.br A ventilação mecânica (VM), apesar de ser uma intervenção terapêutica fundamental no paciente com insuficiência respiratória aguda (IRpA) é um procedimento invasivo e não isento de complicações. Estima-se que aproximadamente 40% dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) encontram-se em VM sendo, portanto, atitude terapêutica de alta prevalência (SANTOS et al., 2007; FREITAS E DAVID, 2006). Estas complicações variam com a gravidade da doença, o tempo de permanência em VM e as técnicas utilizadas. Postergar a retirada da VM correlaciona-se com complicações como: pneumonia, barotrauma, lesões laringotraqueais, repercussões hemodinâmicas, tromboembolismo, atrofia muscular e toxicidade pelo oxigênio. Porém, a precocidade desta remoção, relaciona-se com outros riscos, como dificuldade de acesso das vias aéreas, prejuízo na troca gasosa, além do aumento de pneumonia e mortalidade (GOLDWASSER et al., 2007). Retirar o paciente da VM pode ser mais difícil que mantê-lo. A dificuldade no desmame reside em cerca de 5 a 30% dos pacientes, que não conseguem ser retirados do ventilador em uma primeira ou segunda tentativa (GOLDWASSER et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2006). A prática contemporânea leva a questões em que o empirismo se torna inadequado e insuficiente, e as decisões clínicas, principalmente nos pacientes criticamente enfermos, devem ter uma resposta categórica, tal como retirar ou não um paciente do suporte ventilatório artificial e extubá-lo ou não (SANTOS et al., 2007). Tanto a VM quanto o desmame ventilatório são recentes na história da Medicina. Isso faz com que atualmente essas técnicas tenham pouco embasamento científico que oriente as condutas dos profissionais que lidam com esta rotina. A experiência da equipe guiada somente pela prática clínica aplicada ao desmame da VM leva a piora na qualidade do seu processo e conseqüentemente a aumento da taxa de falha, morbidade e mortalidade (OLIVEIRA et al., 2006). Várias estratégias são propostas para determinar a adequada instituição e evolução do desmame. A adoção de critérios preditivos para o desmame pode auxiliar na avaliação e na seleção dos pacientes aptos em sustentar a ventilação espontânea imediata e daqueles que necessitam de transição gradual deste suporte (GONÇALVES et al., 2007). Os protocolos de desmame estudados até o momento têm demonstrado alto grau de eficiência. A utilização de protocolos de desmame com rigor científico e um método padronizado pode trazer várias vantagens em relação ao desmame empírico, tais como: diminuição na relação entre tempo de desmame e tempo total de ventilação, redução significativa no tempo de desmame, diminuição dos índices de insucesso e re-intubações, diminuição da mortalidade, menor tempo de internação hospitalar e conseqüentemente redução dos custos hospitalares (OLIVEIRA et al., 2006). OBJETIVO O objetivo geral do presente estudo foi avaliar retrospectivamente o desmame da ventilação mecânica na Unidade de Terapia Intensiva de adultos no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) no período de Janeiro à Dezembro de 2007.

MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo descritivo retrospectivo com análise de todos os prontuários do Serviço de Fisioterapia da Unidade de Terapia Intensiva, admitidos no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) no período compreendido entre janeiro à dezembro de 2007. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Anexo B), e então a coleta de dados foi iniciada. Critérios de inclusão: Pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva (VMI) por tempo superior a 24 horas, ter mais de 18 anos. Critérios de exclusão: Pacientes que necessitaram do uso de VM permanente, como as doenças neuromusculares degenerativa progressiva. Os prontuários dos pacientes foram revisados quando necessário, e a coleta de dados se deu através do preenchimento de uma ficha elaborada pelo pesquisador. Esta ficha era composta dados pessoais, dados clínicos, desmame ventilatório, extubação. Análise estatística: os dados foram descritos através de freqüência (quando qualitativos) e média e desvio padrão ou mediana e intervalos (quando quantitativos), dependendo de sua distribuição. RESULTADOS Dos 367 pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva de adultos no HUOP, no período abrangente, 89 (24%) foram excluídos por não terem sido localizados as fichas referentes ao controle ventilatório do Serviço de Fisioterapia. A amostra foi constituída, então, por 278 pacientes (76%). Destes, somente 161 (58%) pertenceram aos critérios de inclusão sendo 111 pacientes do sexo masculino (69%) e 50 (31%) do sexo feminino, com idades, em média de 47,5 ± 19,04 anos. O escore APACHE II médio foi de 22. A taxa de mortalidade foi de 39%. A média de dias internados na UTI foi de 11,63 ± 10,62 dias. Em relação ao tempo de VMI tanto em dias quanto em horas foi de 9,27 ± 8,92 e 222,59 ± 213,67 respectivamente. Os dados relativos à causa da admissão foram divididos em 6 categorias: 63 clínicos, 26 cirúrgico, 51 trauma, 13 neurologia/ clínico, 7 neurologia/ cirúrgico e 1 obstétrico e estão demonstrados no gráfico 1. Cento e dois (63%) pacientes realizaram desmame da VM, sendo 88% (90) com o modo SIMV associado a pressão de suporte, 11% (11) PSV, e somente 1% (1) utilizou TRE direto. Nesse mesmo evento, 61 (60%) dos pacientes realizaram TRE e 41 (40%) não realizaram. Dos pacientes que realizaram TRE, 60 (98%) foram por Tubo T e 1 (2%) por PSV, com uma média de tempo de TRE em 43,58 ± 20,88 minutos. A média de horas do início de desmame da VM até a extubação foi de 35,6 ± 45,2 horas. O processo de desmame da VM e o destino desses pacientes podem ser visualizados na Tabela 1. Modos desmame Tabela 1: Processo de desmame da VM 1 evento N % SIMV + PS 90 88 PSV 11 11 TRE direto 1 2 Destino Extubado 44 43 Traqueostomia 29 28 Manteve-se em VM 9 9

Extubado e reintubado ( 48h) 17 17 Extubado e reintubado ( 48h) 3 3 Em relação a falência de extubação no período estudado, 20 (12%) pacientes tiveram que ser reintubados num prazo inferior a 48 horas. Dos 161 pacientes pertencentes aos critérios de inclusão do estudo, 8 (5%) apresentaram extubação não planejada. DISCUSSÃO A diversidade encontrada na literatura científica a respeito do desmame da VM é fato. Esta falta de consenso entre as publicações é observada desde os parâmetros utilizados para iniciar o desmame até o processo de retirada da prótese ventilatória e definir o que é considerado sucesso ou insucesso durante o período de assistência ventilatória (OLIVEIRA et al., 2002). Nesse estudo retrospectivo no período de 1 ano, 58% dos pacientes permaneceram em VM. A distribuição demográfica, como o gênero e a idade foram semelhantes com os achados na literatura. Em um estudo a respeito dos aspectos epidemiológicos da ventilação mecânica no Brasil (VMB), realizada por Damasceno e seus colaboradores (2006), mostraram que o tempo médio de internação dos pacientes submetidos a VM foi de 22 dias. Valores superiores encontrados em comparação a esse estudo (11,63 ± 10,62 dias). Porém, vale ressaltar que no estudo citado sobre a VMB, a amostra foi composta por pacientes tão graves quanto ao presente estudo escore APACHE II médio igual a 20 versus 22 respectivamente. O presente estudo apresentou semelhança com o trabalho de Junior e Menezes (2004), quanto ao índice de mortalidade (39% versus 42,1% respectivamente) e escore APACHE II médio (21,5 versus 22). Quanto ao perfil do desmame da VM, 63% dos pacientes realizaram este processo, com prevalência do modo SIMV + PS (88%). Diferentemente encontrado no estudo de Damasceno e colaboradores (2006), que mostraram que o modo PSV prevaleceu durante o período de desmame da VM em todas as regiões brasileiras (63,5%), seguida pelo modo SIMV + PS (12,2%). Quanto à utilização do TRE, a predominância foi do Tubo T 98%. Em relação a utilização da melhor tentativa de respiração espontânea, ainda não está definida. Porém, pelo fato do TRE por Tubo T se mostrar de fácil execução e eficaz em grande parte dos estudos, explica-se ser o método mais utilizado (YAMAUCHI, 2005). Em um estudo sobre a avaliação do método de Tubo T como estratégia inicial do TRE realizada por Assunção e colaboradores (2006), mostrou-se eficaz em cerca de 80% dos casos. A média de horas de desmame da VM no 1 evento foi de 35,6 ± 45,2 horas. No estudo de Freitas e David (2006), o tempo médio de desmame foi de 26,88 horas. Dos 63% dos pacientes que realizaram desmame, 43% foram extubados e 28% traqueostomizados. Em relação ao estudo de Frutos e colaboradores (2005), a principal causa de realização da traqueostomia é a falência do desmame da VM, o que corrobora com o presente estudo. A extubação não planejada dos pacientes internados na UTI adulto do HUOP no período estudado foi de 5% (8 pacientes), sendo que 5 destes estavam em desmame da VM. Semelhante ao estudo de Tanios e colaboradores (2006), os quais em uma de suas variáveis observaram que 6% (9 pacientes) apresentaram extubação não planejada e estavam no período de desmame da VM.

O presente trabalho apresentou algumas limitações metodológicas, próprias de estudos retrospectivos. A análise de prontuários muitas vezes pode estar comprometida por extravio de prontuários, ou mesmo por não constarem dados essenciais das internações dos pacientes, bem como uma padronização dos mesmos. Para pesquisas futuras, sugerem-se estudos de coorte prospectiva ou ensaios clínicos com delineamentos metodológicos e protocolos de tratamento amplamente elaborados, para elucidar não somente a utilização do protocolo, mas sim a eficácia da utilização dos métodos de desmame disponíveis nesta UTI. Isso irá permitir avaliar se há uma redução do tempo de internação dos pacientes, dos efeitos deletérios que a internação hospitalar por si só causa, bem como dos custos hospitalares que um desmame prolongado poderia causar. Essa avaliação não é possível em estudos retrospectivos pela grande variabilidade metodológica e pelas implicações éticas. CONCLUSÃO Não foi observado grande variabilidade nos modos utilizados e na escolha dos parâmetros para a realização do desmame da VM, sugerindo, então, a presença de uma rotina no serviço na realização desse processo. O tempo de desmame se mostrou superior em comparação a alguns estudos, porém, isso pode ser explicado pela característica da amostra ser composta por pacientes mais graves. Os dados obtidos em relação ao modo de desmame e tempo de internação na UTI não corroboram com a literatura. Neste estudo observou-se que a utilização do modo SIMV+PS no desmame da VM não prorrogou o tempo de internação dos pacientes, mesmo apresentando semelhança em outros estudos quanto a gravidade clínica dos mesmos. PALAVRAS CHAVES: respiração artificial, desmame, protocolos REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, M.S.C.; MACHADO, F.R.; ROSSETI, H.B.; PENNA, H.G.; SERRÃO, C.C.A.; SILVA, W.G.; SOUZA, A.P.; AMARAL, J.L.G. Avaliação de teste de Tubo T como estratégia inicial de suspensão da ventilação mecânica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.18, n.2, p.121-125, abril junho, 2006. DAMASCENO, M.P.C.D.; DAVID, C.M.N.; SOUZA, P.C.SP.; CHIAVONE, P.A.; CARDOSO, L.T.Q.; AMARAL, J.L.G.; TASANATO, E.; SILVA, N.B.; LUIZ, R.R. Ventilação mecânica no Brasil. Aspectos epidemilógicos. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v18, n.3, p.219-227, julho setembro, 2008. FREITAS, E.E.C.; DAVID, C.M.N. Avaliação do sucesso do desmame da ventilação mecânica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.18, n.4, p.351-359, outubro dezembro, 2006. FRUTOS, V.F.; ESTEBAN, A.; APEZTEGUIA, C.; ANZUETO, A.; NIGHTIGALE, P.; GONZALEZ, M.; SOTO, L. Outcome of mechanically ventilated patients who require a tracheostomy. Critical Care Medicine, v.33, p.290-298, 2005. GOLDWASSER, R.; DAVID, C.M. Desmame da ventilação mecânica: promova uma estratégia. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.19, n.1, p.107-112, janeiro março, 2007. GONÇALVES, J.Q.; MARTINS, R.Q.; ANDRADE, A.P.A.; CARDOSO, F.P.F.; MELO, M.H.O. Características do processo de desmame da ventilação mecânica em Hospitais do Distrito Federal. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.19, n.1, p.38-43, janeiro março, 2007. JUNIOR, A.A.P.; MENEZES, F.A. Análise da gravidade de pacientes sob ventilação mecânica em UTI de Fortaleza. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.16, n.4, p. 219-221, 2004.

OLIVEIRA, L.R.C.; JOSÉ, A.; DIAS, E.C.; SANTOS, V.L.A.; CHIAVONE, P.A. Protocolo de desmame da ventilação mecânica: efeitos da sua utilização em uma unidade de terapia intensiva. Um estudo controlado, prospectivo e randomizado. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.14 n.1, p.22-29, janeiro março, 2002. OLIVEIRA, L.R.C.; JOSÉ, A.; DIAS, E.C.P.; RUGGERO, C.; MOLINARI, C.V.; CHIAVONE, P.A. Padronização do desmame da ventilação mecânica em unidade de terapia intensiva: resultados após um ano. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.18, n.2, p.131-135, abril junho, 2006. SANTOS, L.O; BORGES, M.R.; FIGUEIREDO, L.C.; GUEDES, C.A.V.; VIAN, B.S.; KAPPAZ, K.; ARAÚJO, S. Comparação entre três métodos de obtenção do índice de respiração rápida e superficial em pacientes submetidos ao desmame da ventilação mecânica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v.19, n.3, p.331-336, julho setembro, 2007. TANIOS, M.A.; NEVINS, M.L.; HENDRA, K.P.; CARDINAL, P.; ALLAN,J.E.; NAUMOVA, E.N.; EPSTEIN, S.K. A randomized, controlled trial of the role of weaning predictors in clinical decision making. Critical care medicine, v.34, n.10, p.2530-2535, 2006. YAMAUCHI, L.Y. Falência do desmame: risco, fatores associados e prognóstico de pacientes sob ventilação mecânica prolongada. USP, 2005. Dissertação (Doutorado em fisiopatologia experimental). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2005. Endereço: Claudia Rejane Costa: UNIOESTE / Colegiado de Fisioterapia - Rua Universitária, 2069. Bairro: Jardim Universitário. CEP 85819-110, Cascavel/Paraná - Brasil. Telefone: (45) 3220-3158. E-mail: caurejane@yahoo.com.br