Teologia Sistemática Patriarcado de Lisboa Instituto Diocesano de Formação Cristã Escola de Leigos 1º Semestre 2014/2015 Docente: Juan Ambrosio Fernando Catarino
Tema da sessão A Iniciação cristã Noção e sentido da iniciação cristã A unidade da iniciação Cristã A atual configuração da Iniciação cristã Pano de fundo para uma reflexão Batismo e Crisma/Confirmação O nome dos sacramentos Evolução da celebração na liturgia romana Breve sistematização teológica ESCOLA DE LEIGOS
Noção e sentido da Iniciação Cristã A palavra iniciação vem do verbo latino in + ire, que significa ir para dentro. A iniciação é um fenómeno universal, que obedece à necessidade que toda a pessoa humana tem de um tempo de aprendizagem para adaptar-se a qualquer situação nova da vida. Nem toda a iniciação é de carácter religioso, mas todas as religiões têm formas próprias de iniciação, como processo de integração no grupo religioso. Nas diversas religiões, encontramos processos de iniciação que incluem a instrução e ritos próprios, que são sempre irrepetíveis e que transformam o iniciado. ESCOLA DE LEIGOS 2014 2015
Noção e sentido da Iniciação Cristã Não nascemos cristãos, mas tornamo-nos cristãos (Tertuliano). Ninguém nasce cristão: todo o cristão torna-se cristão. A expressão iniciação cristã pode designar essa passagem ou o processo que conduz a essa passagem. A expressão iniciação cristã pode, entender-se em sentido estrito, entendendo-se a celebração dos sacramentos do batismo, crisma/confirmação e eucaristia, como sacramentos que fundamentam a existência cristã. Em sentido lato, a expressão iniciação cristã designa o conjunto do processo que vai da entrada no catecumenato até à celebração dos três referidos sacramentos.
Unidade da Iniciação Cristã Desde a mais antiga tradição eclesial que o culminar da iniciação cristã se encontra na celebração conjunta dos chamados sacramentos da iniciação. Estes três sacramentos não devem ser encarados como realidades autónomas, desligados uns dos outros e do conjunto do processo de iniciação cristã. São como que um grande sacramento ; formam um conjunto sacramental, que aparece bem em evidência na iniciação cristã de adultos: nesse caso o catecúmeno recebe, numa mesma celebração, os três sacramentos de forma unitária. Não quer isto dizer que não se distingam os sacramentos uns dos outros: distinguem-se claramente, mas são recebidos em conjunto.
A atual configuração da Iniciação Cristã Atualmente, a iniciação cristã tem duas configurações distintas: uma para adultos, outra para as crianças. Um adulto que pretenda ser batizado, faz toda uma caminhada catecumenal, no fim da qual recebe, na mesma celebração, os três sacramentos da iniciação cristã. Para esta situação, há um livro litúrgico próprio: o Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (edição típica de 1972). Quando se é batizado em criança, o itinerário é diferente. Uma vez que a caminhada catequética e catecumenal não se fizeram antes, têm lugar depois do batismo. E nessa situação, altera-se normalmente a ordem da receção dos sacramentos. Em qualquer dos itinerários, deverá sempre sublinhar-se a unidade fundamental dos três sacramentos da iniciação cristã.
Pano de fundo para uma reflexão Ser, servir e celebrar. Batismo - Ser Crisma - Servir Eucaristia - Celebrar Batismo Crisma Eucaristia Ser - Servir - Celebrar Ser - Servir - Celebrar Ser - Servir - Celebrar Como é que eu sou? Servindo e celebrando! Como é que eu sirvo? Sendo e celebrando! Como é que eu Celebro? Sendo e Servindo!
Batismo e Confirmação O nome Este sacramento chama-se Batismo, por causa do rito central com que se realiza: baptizar (baptizein, em grego) significa «mergulhar», «imergir». A «imersão» na água simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai pela ressurreição com Ele (cf. Rom 6, 3-4) como «nova criatura» (2 Cor 5, 17; Gal 6, 15) (Catecismo 1214). Uma outra designação importante é Iluminação. Embora hoje não usemos habitualmente este nome, esta é uma das mais frequentes designações deste sacramento nos primeiros séculos da Igreja. Já no século II, S. Justino dizia: A esse batismo dá-se o nome de iluminação, porque os iniciados nesta doutrina ficam iluminados na sua inteligência. Esta designação é também comum aos escritos do NT: Jesus apresenta-se a si próprio como luz verdadeira que ilumina todo o homem (Jo 1, 9) e luz do mundo (Jo 9, 5) e o cristão, nos escritos de S. Paulo, é chamado filho da luz (Ef 5, 8).
Batismo e Confirmação O nome O segundo sacramento é chamado «Confirmação» ou «Crisma». Nos primeiros séculos do cristianismo não existia nenhum nome específico para designar este sacramento da iniciação cristã. A palavra Batismo abarcava a realidade do Batismo e da Confirmação ou Crisma. O nome Confirmação aplicado a este sacramento surge no decorrer do século V. No Ocidente cristão permaneceu o nome «Confirmação», porque confirma e dá plenitude à unção batismal; no Oriente usa-se a designação de Crismação. A palavra crisma é grega e designa um óleo aromático, mistura de azeite e perfumes, com que se unge ou se massaja alguém. Vem do verbo grego chrío, ungir, que deu também origem ao nome Christós (Cristo), o Ungido, tradução do termo hebraico Messias. Chama-se «Crisma» a este sacramento porque a unção com o óleo do Crisma na fronte, para significar o dom do Espírito Santo, é o gesto sacramental central.
Batismo e Confirmação Evolução da Celebração Depois do século V, as transformações na vida da Igreja provocarão a progressiva desagregação deste grande sacramento da iniciação cristã. À medida que a sociedade se tornava praticamente toda cristã, diminuía o número de adultos que pediam o batismo e aumentava muito o número de crianças, pelo que o catecumenato foi perdendo o sentido. A decisão de reservar a confirmação para o Bispo vai ter como consequência a sua separação do batismo e da primeira participação plena na eucaristia. Do processo de iniciação, ficou apenas o conjunto de ritos de iniciação, sem grande esforço de adequação à nova situação. Consumou-se a separação da confirmação, que era recebida apenas quando o bispo visitava a paróquia.
Batismo e Confirmação Evolução da Celebração O nome confirmação aplicado a este sacramento surge, como já foi dito, no decorrer do século V. A partir dessa época, este sacramento foi recebendo o nome de confirmação, perfeição, fortalecimento, plenitude, complemento ou consumação do batismo. É notório que não foram motivos teológicos que estiveram na origem destas mudanças; e os teólogos medievais limitaram-se a justificar a prática então vigente.
Batismo e Confirmação Evolução da Celebração Se os ritos da confirmação cedo se desenvolveram, a partir dos ritos pósbatismais, a reflexão teológica sobre este sacramento e a sua especificidade levou bem mais tempo a desenvolver-se. Nos primeiros séculos de vida da Igreja, não existe propriamente uma teologia da confirmação, porque não existia consciência de se tratar de um sacramento autónomo em relação ao batismo. Havia sim uma teologia do batismo. Será sobretudo a separação progressiva dos dois sacramentos que fará sentir a necessidade de formular uma reflexão teológica sobre a confirmação.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica Fé e batismo são duas realidades que estão intimamente ligadas: a fé expressase no batismo e este faz crescer aquela. É claro que a fé que se requer para o batismo não é uma fé perfeita e amadurecida, mas uma fé que deverá desenvolver-se e crescer depois do batismo (cf. Catecismo 1253-1255). Segundo o itinerário batismal do NT, a fé precede sempre o batismo e conduz necessariamente a ele. Pelo batismo, essa mesma fé cresce com a graça de Deus. Por ser o Sacramento da fé, a profissão de fé é um dos elementos mais importantes da celebração do batismo, presente quer no batismo de adultos, quer no de crianças. No caso do batismo de crianças não pode tratar-se da fé pessoal do batizado, que ainda não é capaz de tal: a criança é batizada na fé da Igreja e exige-se aos pais e padrinhos
Batismo e Confirmação Sistematização teológica Batismo, páscoa do cristão - Pelo batismo, participamos na morte e ressurreição de Jesus, no seu mistério pascal, que é a fonte da graça batismal. Esta teologia do batismo foi já desenvolvida por S. Paulo, na Carta aos Romanos (6, 4-5): Pelo batismo fomos, pois, sepultados com Ele [Cristo] na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição. Neste sentido, podemos dizer que o batismo é, antes de mais, a Páscoa de cada cristão.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica O Batismo faz de nós novas criaturas e filhos de Deus - Pelo batismo tornamonos novas criaturas (2 Cor 5, 17) geradas por um novo nascimento, filhos de Deus (Gal 4, 5-7), participantes da natureza divina (2 Pe 1, 4). Estas expressões exprimem a radicalidade da transformação operada por este Sacramento. O batismo inaugura uma nova relação com Deus, que é expressa como vida nova, novo nascimento, filiação divina ou divinização. Ser filho de Deus não é mera metáfora: significa ser-se transformado radicalmente pelo próprio Deus, participar da sua vida divina.
Batismo e Crisma Sistematização teológica O perdão dos pecados - Pelo Batismo todos os pecados são perdoados (Catecismo 1263). O batismo é o primeiro e principal sacramento para o perdão dos pecados. Já nos escritos do NT se acentua este efeito: os primeiros relatos do batismo cristão falam do batismo no nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados (Act 2,38; 22, 16). Nas catequeses dos Padres da Igreja, é o simbolismo da água, como elemento de purificação, e do batismo como banho, que servem para destacar este efeito: o perdão de todos os pecados. O batismo perdoa todos os pecados: o pecado original e todos os pecados pessoais.
Batismo e Crisma Sistematização teológica O Batismo incorpora na Igreja - O batismo faz de nós membros de Cristo (...) incorpora na Igreja, afirma o Catecismo (n.º 1267). O batismo faz de nós pedras vivas da Igreja, usando a expressão de S. Pedro (1 Pe 2, 5). Esta dimensão eclesial do batismo é fundamental. Batismo e a transformação no Espírito - É por ação do Espírito Santo, na água do batismo, que recebemos a graça deste sacramento. De facto, é por ação do Espírito Santo, o grande dom pascal do Ressuscitado, que se realiza a união a Cristo morto e ressuscitado.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica A Confirmação, sacramento da vinculação plena à Igreja - A graça sacramental específica da confirmação liga este sacramento a uma mais perfeita incorporação na Igreja (plenitude de comunhão eclesial). No Pentecostes tem início a missão da Igreja. Os Apóstolos, que até aí se escondiam, saem a proclamar a Boa Nova por ação do Espírito. Por este sacramento, o cristão é chamado a tomar consciência mais viva do seu lugar na comunidade crente, já que os dons do Espírito estão ao serviço da construção da Igreja. Como diz S. Paulo, a manifestação do Espírito é dado a cada um para proveito comum (1 Cor 12, 7). Ministro originário da confirmação, o bispo, como sinal e garante da comunhão eclesial, sucessor dos apóstolos, manifesta e sublinha esta dimensão eclesial deste sacramento.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica A confirmação, sacramento do testemunho eclesial - A mais perfeita incorporação na Igreja (plenitude de comunhão eclesial) e a plenitude do Espírito conduzem, consequentemente, a um testemunho cristão mais autêntico (plenitude do testemunho). O Vaticano II aplica à confirmação esta maior vinculação à missão da Igreja, em ordem ao testemunho: enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo (os confirmados) ficam obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e por obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo (LG 11). O testemunho da fé não é algo facultativo para o cristão: é consequência do batismo, é compromisso assumido desde esse momento.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica A Confirmação e a transformação no Espírito - O que é que é próprio e específico da confirmação? 1) o dom do Espírito Santo que os apóstolos receberam no Pentecostes; 2) uma maior vinculação à Igreja; 3) um compromisso mais forte com a missão da Igreja. Em relação ao batismo (e aos restantes sacramentos) o aspeto mais específico da confirmação é a sua direta referência ao acontecimento do Pentecostes, momento integrante e ponto culminante do mistério pascal de Jesus Cristo. A confirmação é o Pentecostes do cristão, tal como o batismo é a Páscoa do cristão.
Batismo e Confirmação Sistematização teológica É no batismo e confirmação conjuntamente que radica a origem de todos os ministérios na Igreja. A corresponsabilidade na vida e missão da Igreja nascem dos sacramentos da iniciação cristã. Toda a promoção do exercício dos vários ministérios laicais [carismas e ministério ordenado] na Igreja, terá forçosamente de partir dos sacramentos da iniciação cristã.
Orientações Bibliográficas Carlos Cabecinhas, Teologia dos Sacramentos. Fundamentos e iniciação, Texto para uso dos alunos da Licenciatura de Ciências Religiosas da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, ano letivo de 2011-2012. ESCOLA DE LEIGOS
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