EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA DE BELO HORIZONTE- MG. DISTRIBUIR POR DEPENDÊNCIA NOS AUTOS Nº 2876067-78.2010.8.13.0024 MARCIA RODRIGUES DO NASCIMENTO, brasileira, divorciada, empregada doméstica, portadora da identidade n MG 3.355.365, inscrita no CPF sob o n 637.732.286-00, residente e domiciliada na Rua Trinta e Dois, n 267, bairro Jardim Felicidade, Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP:3.742-660, vem, respeitosamente, por intermédio de suas advogadas in fine, perante Vossa Excelência apresentar, com fulcro nos arts. 486,IX e 486 do Código de Processo Civil a presente AÇÃO ORDINÁRIA ANULATÓRIA DE SENTENÇA ( QUERELA NULITATIS) Em face de GILSON RODRIGUES DO NASCIMENTO, brasileiro, casado, artesão, portador da identidade n MG 301.762/SSP-MG, inscrito no CPF sob o n 254.544.716-15, residente e domiciliado na Rua Trinta e Dois, n 267, bairro Jardim Felicidade, Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP:3.742-660, pelos fatos e fundamentos seguintes:
I. DOS FATOS O objeto da presente ação é atacar sentença proferida por este douto juízo em ação de inventário/arrolamento no dia 19 de setembro de 2011, autos n 2876067-78.2010.8.13.0024. O ponto principal é a inexistência da relação jurídica processual, tendo em vista que inexistindo citação válida no processo, a relação processual não se perfectibilizou, fazendo-se adequada a propositura da presente actio querela nullitatis insanabilis. Passamos agora a traçar uma linha do tempo em relação aos atos do processo que culminaram na referida sentença atacada pela presente ação (foi juntado o Xerox dos autos do processo, cujas páginas serão aqui referidos por fls.): 1. Em 16 (dezesseis) de julho de 2010, morre EDITE PEREIRA, deixando dois filhos, Márcia Rodrigues do Nascimento(autora da presente ação) e Gilson Rodrigues do Nascimento(réu da presente ação), e um imóvel doado pela URBEL localizado na Rua Trinta e Dois, n 267, bairro Jardim Felicidade, Belo Horizonte, Minas Gerais, onde, atualmente, residem a autora e o réu da presente ação; 2. Logo após a morte da genitora o réu da presente ação abriu inventário de sua mãe sem a ciência de sua irmã, que é pessoa simples, não possuindo conhecimento de como proceder para partilhar os bens de sua genitora. Passamos para aos atos processuais da sentença ora atacada:
3. No preâmbulo da inicial o Sr. Gilson se intitulou inventariante, incluiu sua irmã, que é referida pejorativamente como adotiva, como se anuísse com a partilha, como se a mesma fosse amigável, entrentanto os dois estavam em uma disputa desde a doença de sua genitora; 4. Também, não informa o CPF e o RG de uma das partes que o mesmo intitulou como se estivessem juntos no processo; 5. Também no preâmbulo da inicial, informa que os irmãos residem no lote que está sendo objeto da partilha, único bem imóvel deixado pela de cujos; 6. Também, na inicial, o Sr. Gilson informa que vendeu os bens móveis de sua genitora, entretanto não apresentou a prestação de contas; 7. Alegou que a sua genitora possuía a intenção de deixar todos os bens para o inventariante, entretanto, não comprovou esta alegação, tendo em vista que a autora do inventário não deixou testamento e ainda sim, se houvesse deixado, não poderia dispor de todo seu patrimônio, tendo em vista a legítima; 8. O Sr. Gilson,o inventariante da referida ação, juntou aos autos do referido processo sua procuração, bem como cópia de seus documentos, entretanto, nada juntou
em relação a Sra. Márcia, que também é herdeira da autora da herança; 9. Nas fls. 12 dos autos do referido processo foi proferido despacho em que no item 1. foi requerido que o inventariante juntasse certidão de nascimento/casamento de todos os herdeiros, bem como a respectiva procuração. 10. Nas fls. 13 a 18, o inventariante tentou confundir este douto juízo, juntando documentos de seus filhos que nem herdeiros eram; 11. Na fls. 20 o douto Ministério Público opinou por cumprir os itens 2 e 3 do despacho da fl. 12, entretanto o item 1. ainda não havia sido cumprido; 12. No verso da fl. 23 o Ministério Público se retira do feito tendo em vista que não há herdeiros menores e que os filhos do inventariante, ora réu, não figuram como herdeiros na ação; 13. Nas fls. 36/37, o inventariante, ora réu, junta petição do seu advogado demonstrando que parte do imóvel que está sendo partilhado está em litígio entre os herdeiros; 14. Na fl. 43 o inventariante, ora réu, alega que todas as certidões estão inserida e nada diz das procurações;
15. Na fl. 43, diz que os herdeiros estão em pleno acordo com a partilha, entretanto, não avaliou o imóvel de forma correta; tampouco apresentou qualquer documento que comprovasse que as alegações de os herdeiros estariam de acordo; 16. Na fl. 43 o inventariante, ora réu, avaliou o imóvel em R$14.000,00(quatorze mil reais), pois pretendia passar o valor de R$7.000,00 (sete mil reais) para sua irmã e ficar com todo o imóvel para ele. Note-se que este valor é incompatível com um imóvel construído na região, e que em Belo Horizonte não se pode comprar um imóvel com duas casas construídas, por um valor tão efêmero; 17. Nas fl. 50 o inventariante vem requerer a citação da SR. Márcia,ora aurora, mas não informa que a mesma ainda não faz parte da relação processual, apenas diz para que a mesma se manifeste no feito; 18. Na fl. 58 há homologação, por sentença, da partilha de fls. 42/43. Entretanto não houve a formação da relação processual entre os herdeiros, sendo que o inventariante, ora réu, figurou sozinho no feito, falando em nome de sua irmã, mas não possuía a procuração da mesma; 19. Nas fls. 59 o inventariante requereu o formal de partilha e o mesmo foi concedido; 20. A autora da presente ação foi surpreendida com um processo de indenização proposto pelo seu irmão, ora
réu, sobre o referido imóvel partilhado nos autos do processo ora atacado. Assim, veio por intermédio de sua advogada, manifestar sobre a nulidade da sentença, entretanto não logrou êxito; Por todo o exposto, não há outra alternativa senão entrar com a presente ação para desconstituir esta sentença homologatória nula pelos fundamentos que passa a expor: II.DO DIREITO A inexistência de citação válida torna inexistente a relação jurídica processual, a qual somente se aperfeiçoa com a existente e válida citação do réu. No caso em tela, não há de se falar em homologação de sentença, tendo em vista que as partes não acordaram em nada. Também, não houve a citação da herdeira, o que é essencial para a partilha dos bens, que todos os herdeiros sejam chamados a figurarem na relação processual; Ademais, destaca-se que o ajuizamento da Actio Querela Nullitatis Insanabilis independe da observância do prazo para a ação rescisória, pois estas medidas não se confundem. Nesse diapasão, o Supremo Tribunal Federal assim decidiu: AÇÃO DE NULIDADE. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE VIGENCIA DOS ARTIGOS 485, 467, 468, 471 E 474 DO C.P.C. PARA A HIPÓTESE PREVISTA NO ARTIGO 741, I, DO ATUAL CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - QUE E A DE FALTA OU NULIDADE DE CITAÇÃO, HAVENDO REVELIA -, PERSISTE, NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO, A "QUERELA NULLITATIS", O QUE IMPLICA DIZER QUE A NULIDADE DA SENTENÇA, NESSE CASO, PODE SER DECLARADA EM AÇÃO DECLARATORIA DE NULIDADE, INDEPENDENTEMENTE DO PRAZO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO RESCISÓRIA, QUE, EM RIGOR, NÃO E A CABIVEL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO. (RE 96374 / GO GOIÁS,
RECURSO EXTRAORDINÁRIO, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Julgamento: 30/08/1983, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Publicação DJ 11-11-1983 PP-07542, EMENT VOL-01316-04 PP-00658 RTJ VOL- 00110-01 PP-00210.) AÇÃO DECLARATORIA DE NULIDADE DE SENTENÇA POR SER NULA A CITAÇÃO DO RÉU REVEL NA AÇÃO EM QUE ELA FOI PROFERIDA. 1.PARA A HIPÓTESE PREVISTA NO ARTIGO 741, I, DO ATUAL CPC - QUE E A DA FALTA OU NULIDADE DE CITAÇÃO, HAVENDO REVELIA - PERSISTE, NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO - A "QUERELA NULLITATIS", O QUE IMPLICA DIZER QUE A NULIDADE DA SENTENÇA, NESSE CASO, PODE SER DECLARADA EM AÇÃO DECLARATORIA DE NULIDADE, INDEPENDENTEMENTE DO PRAZO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO RESCISÓRIA, QUE, EM RIGOR, NÃO E A CABIVEL PARA ESSA HIPÓTESE. 2.RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO, NEGANDO-SE-LHE, POREM, PROVIMENTO. (RE 97589 / SC - SANTA CATARINA, RECURSO EXTRAORDINÁRIO, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Julgamento: 17/11/1982, Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO, Publicação DJ 03-06-1983 PP-07883, EMENT VOL-01297-03 PP-00751 RTJ VOL-00107-02 PP-00778) Como cediço, é possível o ajuizamento de Querela Nullitatis Insanabilis nas situações como a presente, em que há INEXISTÊNCIA de citação válida. Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo leciona: É dizer: a tese da querela nullitatis insanabilis sobrevive no direito brasileiro? Dúvida não há, nesse sentido, no que concerne à ação em que a citação do réu não ocorreu ou ainda se deu em circunstância de manifesta nulidade Nesse diapasão, vem entendendo a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça:
"Nula a citação, não se constitui a relação jurídica processual e a sentença não transita em julgado, podendo, a qualquer tempo, ser declarada nula, em ação com esse objetivo, ou em embargos à execução, se o caso (CPC, art. 741, I) Intentada a rescisória, não será possível julgá-la procedente, por não ser o caso de rescisão. Deverá ser, não obstante, declarada a nulidade do processo a partir do momento em que se verificou o vício.""a tese da querela nullitatis persiste no direito positivo brasileiro, o que implica em dizer que a nulidade da sentença pode ser declarada em ação declaratória de nulidade, eis que, sem a citação, o processo, vale falar, a relação jurídica processual não se constitui nem validamente se desenvolve. Nem, por outro lado, a sentença transita em julgado, podendo, a qualquer tempo, ser declarada nula em ação com esse objetivo ou em embargos à execução, se o caso" (íntegra do v. aresto juntada como documento n.º 12)( Recurso Especial 12.685-SP) Também, sobre a nulidade da sentença, já ensinava o saudoso jurista Pontes de Miranda: " Levou-se muito longe a noção de res iudicata, chegando-se ao absurdo de querê-la capaz de criar uma outra realidade, fazer de albo nigrum e mudar falsum in verum. No entanto, a coisa julgada atende à necessidade de certa estabilidade, de ordem, que evite o moto-contínuo das demandas com a mesma causa." (...) "Também nula ipso iure é a (sentença) ferida de morte por alguma impossibilidade: cognoscitiva (sentença incompreensível, ilegível, indeterminável), lógica (sentença invencivelmente contraditória), moral (sentença incompatível com a execução ou a eficácia, como a que ordenasse a escravidão ou convertesse dívida civil em prisão, coisa inconfundível com a detenção civil nos casos especiais da legislação), jurídica (sentença que cria direitos reais além daqueles que o direito permite, como, em Direito civil brasileiro, o fideicomisso do 3º grau). 3. Os meios para se evitar qualquer investida por parte de quem tenha em mão sentença inexistente ou nula ipso iure são os seguintes: I. Autor, reconvinte, réu ou reconvindo ou qualquer pessoa que litigou subjetivamente à relação jurídica processual, pode volver a juízo, exercer o seu direito público subjetivo com os mesmos pressupostos de pessoa,
objeto e causa, sem que se lhe possa opor, com proveito, a res iudicata: as sentenças inexistentes e as nulas ipso iure é que não produzem coisa julgada. (...) II. Opor-se a qualquer ato de execução, por embargos do executado ou por simples petição: porque, ainda que impossível a prestação, há o ingresso à execução: a sentença de prestação impossível não dá, nem tira; mas, como aparência, vai até onde se lhe declare (note-se bem: declare) a impossibilidade cognoscitiva, lógica, moral ou jurídica. III. Usando-se o remédio rescisório, a corte julgadora ou o juiz singular (se for o caso, segundo a respectiva legislação processual), na preliminar de conhecimento ou, se juntos preliminar e mérito, no julgamento de iudicium rescindens, dirá que o autor não tem a ação rescisória, que tende à anulação das sentenças, mas a sentença que se pretendia rescindir é inexistente ou nula ipso iure." (Pontes de Miranda. A ação rescisória contra as sentenças, Rio de Janeiro: Livraria Jacinto, 1934) Sendo assim, é mister a anulação da referida sentença, para que a mesma não venha a causar prejuízos a autora da presente ação. II- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Por todo o exposto, pede e requer: 1. Seja concedido à autora o benefício da JUSTIÇA GRATUITA conforme arts. 3º e 4º da lei 1060/50, uma vez que a mesma declara ser pobre no sentido legal (documento em anexo), sendo oportuno ressaltar que ela é patrocinada na presente causa pelo Centro de Defesa da Cidadania, organização não-governamental, sem fins lucrativos, que presta serviço de assistência jurídica gratuita por meio de seus advogados voluntários.
2. Que a presente ação seja distribuída por dependência aos autos de n 0977198-33.2010.8.13.0024 na 4 Vara de Sucessões; 3. Que seja citado o réu no endereço indicado no preâmbulo, para, querendo, responder à presente ação, no prazo legal, sob pena de incorrer nos efeitos da revelia; 4. Que seja intimado o representante do Ministério Público para que, querendo, manifeste-se sobre o feito, tendo em vista que o mesmo opinou no processo no qual se está alegando o vício da sentença; 5. O cadastramento no Siscon das advogadas que esta subscrevem, Viviane Tompe Souza Mayrink, OAB/MG 79.500 e Liliane Rosa Cardoso dos Santos, OAB/MG 136.243, a fim de viabilizar a intimação dos atos processuais; 6. Que seja o pedido julgado procedente para anular a sentença proferida nos autos de n 0977198-33.2010.8.13.0024. 7. Provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, além dos documentos que ora junta; Dá-se à causa o valor de R$100,00 (cem reais). Termos em que Pede deferimento Belo Horizonte, 19 de outubro de 2012. Viviane Tompe Souza Mayrink Liliane Rosa Cardoso dos Santos OAB/MG 79.500 OAB / MG 136.243