Escherichia coli em frangos de corte com aerossaculite*

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Transcrição:

Escherichia coli em frangos de corte com aerossaculite* Leandro S. Machado 2+, Elmiro Rosendo do Nascimento 2, Virgínia L.A. Pereira 2, Dayse L.C.Abreu 2,Raquel Gouvea 2 e Lídia M.M. Santos 2 ABSTRACT. Machado L.S., do Nascimento E.R., Pereira V.L.A., Abreu D.L.C., Gouvea R. & Santos L.M.M. 2014. [Escherichia coli in broiler chickens with airsacculitis.] Escherichia coli em frangos de corte com aerossaculite. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 36(3):261-265, 2014. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, Rua Dr. Vital Brazil Filho 64, Vital Brazil, Niterói, RJ 24230-340, Brazil. E-mail: leandromachadovet@yahoo.com.br The Brazilian poultry industry grows each year and becomes increasingly representative in the production and export of products. The health care with poultry have accompanied and favored this evolution, however, respiratory agents that affect the weight and carcass quality, continue to cause great damage to the poultry industry. Airsacculitis is considered the main cause of total and partial condemnation of carcasses of broilers, and has been attributed to Mycoplasmosis mostly caused by Mycoplasma gallisepticum (MG) and Mycoplasma synoviae (MS) and Escherichia coli. The aim of this study was to relate the positivity of MG / MS and E. coli detected by PCR as a risk factor for airsacculitis in condemnation of broilers in Health Inspection Service. We studied 30 broiler poultry slaughtered in a slaughterhouse under Federal Sanitary Inspection, located in the State of Rio de Janeiro. 30 chickens were randomly collected from different lots and tracheas obtained in each PCR. DNA was extracted by phenol-chloroform method and amplified using pairs of primer specific for MG, MS and E. coli. Of the 30 chickens analyzed by PCR, 30% (9/30) had lesions in air sacs. None of the birds showed infection with MG and/or MS PCR, however 33.3% (3/9) birds were positive for airsacculitis iss gene from E.coli. E.coli found in broiler chickens that were negative for mycoplasma airsacculitis, implying the presence of such bacteria may be sufficient to cause respiratory problems in broilers and no influence on diagnosis by type of material collection biological. KEY WORDS. Broilers, airsacculitis, Mycoplasma, PCR. RESUMO. A Indústria avícola brasileira cresce anualmente e se torna cada vez mais representativa na produção e exportação dos seus produtos. Os cuidados com a sanidade avícola têm acompanhado e favorecido essa evolução, entretanto, agentes respiratórios que afetam o peso e a qualidade da carcaça, continuam a provocar grandes prejuízos à avicultura industrial. Aerossaculite é considerada a principal causa da condenação total e parcial de carcaças de frangos de corte, e tem sido atribuída às Micoplasmoses, causadas principalmente pelo Mycoplasma gallisepticum (MG) e Mycoplasma synoviae (MS) e por Escherichia coli. O objetivo do presente estudo foi o de relacionar a positividade por MG/MS e E. coli detectado pela PCR como fator de risco de aerossaculite na condenação de frangos de corte na Inspeção Sanitária Federal. Foram estudados 30 frangos de corte abatidos em um matadouro avícola sob Inspeção Sanitária Federal, localizado no Estado do Rio de Janeiro. Foram coletados alea- *Recebido em 26 de setembro de 2012. Aceito para publicação em 23 de janeiro de 2014. 1 Departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, Rua Dr. Vital Brazil Filho 64, Vital Brazil, Niterói, RJ 24230-340, Brasil.*Autor para correspondência: leandromachadovet@yahoo.com.br Rev. Bras. Med. Vet., 36(3):261-265, jul/set 2014 261

Leandro S. Machado et al. toriamente 30 frangos de diferentes lotes e obtidos traquéias em cada um deles para PCR. O DNA foi extraído pelo método de fenol-clorofórmio e amplificado com pares de primers específicos para MG, MS e E.coli. Dos 30 frangos analisados pela PCR, 30% (9/30) apresentaram lesões nos sacos aéreos. Nenhuma das aves apresentou infecção por MG e/ou MS pela PCR, entretanto 33,3% (3/9) aves com aerossaculite apresentaram positividade para gene iss de E. coli. E. coli foi encontrada em frangos de corte negativos para micoplasmas que apresentaram aerossaculite, levando a crer que a presença dessa bacteria pode ser suficiente para causar problemas no sistema respiratório de frangos de corte e não houve influencia no diagnóstico através do tipo de colheita do material biológico. PALAVRAS-CHAVE. Frangos de corte, aerossaculite, micoplasmas, Escherichia coli, PCR. INTRODUÇÃO A posição do Brasil como terceiro produtor e maior exportador mundial de carne de frango foi alcançada devido a uma busca constante de evolução na qualidade e manutenção da sanidade avícola, Em função desse grande desenvolvimento, a preocupação com os aspectos higiênico-sanitários dos produtos também evoluiu na avicultura brasileira. No Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), as micoplasmoses são consideradas como doenças prioritárias com vistas ao controle e/ou erradicação nos planteis. As manifestações clínicas de Mycoplasma gallisepticum (MG) e Mycoplasma synoviae (MS) são tosse, corrimento, descarga ocular e nasal, decréscimo no consumo de alimentação, retardo de crescimento e lotes desiguais e queda na produção de ovos e mortalidade variável (Nascimento & Pereira 2009). Nas aves reprodutoras adultas, ocorre a forma crônica ou subclínica com baixo impacto nos índices produtivos. Por outro lado, a progênie costuma ser muito afetada, com descartes em razão de sacos aéreos lesados, ganho de peso reduzido e índices de conversão alimentar negativos (Mettifogo & Ferreira 2006). No Brasil, existem relatos do aumento das condenações de aves em matadouros pela presença de aerossaculite, que na sua maioria, pode ser decorrente de infecção pelo (MG) e (MS) e/ou em associação principalmente com Escherichia coli (Minharro et al. 2001, Branco 2004). E.coli patogênica para aves (Avian Pathogenic E. coli - APEC), é responsável pela colibacilose e pertence ao grupo das E.coli patogênicas extra-intestinais, estando associada a quadros de: colisepticemia, peritonite, pneumonia, pleuropneumonia, aerossaculite, pericardite, celulite, coligranuloma, DCR complicada, onfalite, salpingite, síndrome da cabeça Inchada, panoftalmia, osteomielite, ooforite e sinovite (Ferreira & Knobl 2009). Nas aves, a colibacilose inicia-se no epitélio traqueal, em contraste com a maioria das doenças causadas pela E.coli em humanos e outros mamíferos, afetados inicialmente no epitélio intestinal e urinário (Vidotto et al. 1997) e é responsável por condenações parciais ou totais das carcaças devido a vários processos inflamatórios, entre eles a aerossaculite (Brasil 1998). As cepas de APEC possuem fatores de virulência específicos e são capazes de causar a colibacilose aviária (Cardoso et al. 2002, Delicato et al. 2003). Destacam-se como fatores essenciais para a patogenicidade das estirpes de E. coli a ação das adesinas, a produção de metabólitos bacterianos, fatores de resistência sérica, a ação de hemolisinas e aerobactina e a produção de citotoxinas (Brito 2003). Segundo Gibbs et al. (2003) e Rocha et al. (2008), a patogenicidade das estirpes está relacionada com o impacto cumulativo de vários fatores de virulência. Skyberg et al. (2003), em um estudo complementar sobre a letalidade embrionária de cepas de E. coli, demonstraram que apenas as cepas que apresentaram mais de dois fatores de virulência causavam a mortalidade em um número maior de embriões, mesmo que isolados de aves sadias. Além do aumento das condenações, aves com aerossaculite podem apresentar-se com menor peso em relação a aves sem aerossaculite. A desuniformidade dos lotes na linha de abate aumenta o risco de erros durante a evisceração e, consequentemente, maior risco de contaminação das carcaças com patógenos do trato intestinal (Russel 2003). A PCR pode tanto detectar, quanto tipificar o agente, sem a necessidade de um cultivo prévio, e por isso passou a desempenhar um papel de grande importância no diagnóstico laboratorial. Entre as vantagens do diagnóstico molecular, é possível citar a rapidez, a especificidade, a segurança dos resultados, a possibilidade de detecção de agentes de difícil cultivo ou de crescimento muito lento, detecção de agentes patogênicos em amostras clínicas de animais assintomáticos ou em tratamento com antibióticos, detecção antes da induçãode uma resposta imunológica e em hospedeiros imunocomprometidos, demonstrando vantagens sobre os testes sorológicos (Moreno 2009). O objetivo deste estudo foi relacionar a aerossaculite em frangos de corte à presença de MG, MS e gene iss de E. coli detectados pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). 262 Rev. Bras. Med. Vet., 36(3):261-265, jul/set 2014

Escherichia coli em frangos de corte com aerossaculite MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 30 frangos de corte, coletados aleatoriamente na área de pendura de matadouro avícola sob Inspeção Sanitária localizado no Estado do Rio de Janeiro. Foi realizada a necropsia dessas aves para observação das lesões macroscópicas nos sacos aéreos e foram coletadas as traquéias de cada ave, acondicionadas em placa de Petri estéril sob refrigeração e encaminhadas ao Laboratório de Epidemiologia Molecular da Universidade Federal Fluminense (UFF). As traquéias foram submetidas à coleta com suabe e por escarificação para obtenção de espécimes diluídas em 1,0mL de Phosphated Buffered Saline (PBS), ph 7,4. O método de extração por fenol/clorofórmio, adaptado de Sambrook et al. (1989), foi realizado diretamente das amostras, sem a realização de pré-enriquecimento. A PCR para MG/MS (Buim, 2009) foi realizada com: 61,5µL de água ultrapura (Milli-Q), 10µL de Tampão PCR 10X, 4µL de MgCl 2 (50mM), 5µL de dntp mix (0,25 mm de cada), 2µL (100 pmol) de cada primer, 2µL (2,5U/mL) de Taq Polimerase e 15µL do DNA extraído, obtendo-se um volume final de 100µL. Para amplificação do gene iss de E. Coli (Rocha et al 2008) foi realizada a seguinte reação: 12,75 µl de água ultrapura (Milli-Q), 2,5µL de Tampão PCR 10X, 1,25µL de MgCl 2 (25mM), 1,25µL de dntp mix (0,25 mm de cada), 1 µl (100 pmol) de cada primer, 0,25µL (2,5U/mL) de Taq Polimerase e 5µL do DNA extraído, obtendo-se um volume final de 25µL. Foram utilizados dois pares de primers para cada micro-organismo (Quadro 1). Como controle positivo utilizaram-se as cepas padrões MG-R (ATCC 19619), MS WUV 1853 (Charles River 538631) e a amostra padrão de gene iss de E.coli fornecida pelo Dr. Sílvio Luís da Silveira Rocha, do Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR- GS). Após a reação de amplificação, homogeneizou-se 10µL de cada amostra com 2µL de tampão de arrasto, aplicou-se em gel de agarose a 1,5% submerso em Tampão Tris-Borato-EDTA (TBE) 0,5X e por fim submeteu-se à eletroforese em condições baseadas em Sambrook et al. (1989). Após a corrida eletroforética, corou-se o gel em brometo de etídio e procedeu-se a visualização dos amplicons, sob luz ultravioleta em transiluminador. A influência do tipo de colheita de material biológico (suabe, escarificado ou suabe+escarificado) sobre o resultado da PCR foi testado pelo teste exato de Fisher (Thrusfield 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 30 frangos analisados, 30% (9/30) apresentaram lesões nos sacos aéreos. A presença de aerossaculite nesse estudo está de acordo com outros trabalhos que apontaram a aerossaculite como uma das principais causas de condenações de carcaças em matadouros (Branco 2004, Buim 2009). A presença de aerossaculite, per si, é fato que merece ser considerado de grande importância, pois além das perdas determinadas pela condenação de carcaças (Brasil 1998) pode comprometer a saúde das aves e do consumidor de produtos avícolas. Além do aumento das condenações, aves com aerossaculite podem apresentar-se com menor peso em relação a aves sem aerossaculite e essa desuniformidade na linha de abate aumenta o risco de erros durante a evisceração e, consequentemente, maior risco de contaminação das carcaças com patógenos do trato intestinal (Russel 2003). Nenhuma das aves apresentou infecção por MG e/ou MS pela PCR, entretanto três das aves com aerossaculite 33,3% (3/9) apresentaram positividade para gene iss de E. coli, confirmando a presença da bactéria no sistema respiratório (Figura 1). Em contrapartida, recente trabalho de campo para frangos de corte com sorologia positiva para MG e MS na Turquia, aerossaculite foi o segundo tipo de lesão mais encontrada com freqüência de 53,1% (Yilmaz 2011). Estudando infecções simples de MG, MS e E.coli em pools de frangos de corte condenados por aerossaculite em SIF de Goiás, Minharro et al. (2001) obteve as frequências de 9,7%, 0% e 41,9% respectivamente. Al-Attar et al. (2002) analisando um total de 100 granjas da zona norte e central da Jordan investigou a associação de bacté- Tabela 1. Sequência dos primers, tamanho dos fragmentos amplificados (pares de base/pb) e ciclos da PCR. Sequência Tamanho Ciclos da dos primers ( 5`- 3 ) fragmento PCR MG-1 5 CGT GGA TAT CTT 481 pb TAG TTC CAG CTG C 3 (Nascimento MG-2 5 GTA GCA AGT TAT et al, 2005) 5 min 94ºC / 35 ciclos (1 min 94ºC, AAT TTC CAG GCA T 3 1 min 55ºC e 2 min 72ºC) MS-1 5 GAG AAG CAA AAT 207 pb / 10 min 72ºC AGT GAT ATC A 3 (Lauerman et al, MS-2 5 CAG TCG TCT CCG 1993) AAG TTA ACA A 3 E. Coli Iss-1 5 GTG GCG AAA ACT 760 pb 5 min 94ºC / 30 ciclos (1 min 94ºC, AGT AAA ACA GC 3 (Rocha et al, 2008) 1 min 61ºC e 2 min 72ºC) E. Coli Iss-2 5 CGC CTC GGG / 2 min 72ºC GTG GAT AA 3 Rev. Bras. Med. Vet., 36(3):261-265, jul/set 2014 263

Leandro S. Machado et al. E.coli em frangos de corte, não sendo este diagnóstico influenciado pela de colheita de material biológico por suabe ou escarificação. Agradecimentos. Ao Programa de Pós-Graduação de Higiene Veterinária e Produtos de Origem Animal da Universidade Federal Fluminense. Aos colegas do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, pela valiosa ajuda deste trabalho. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 1. Gel de agarose com os amplicons de 760 pb referentes aos animais 11, 13 e 15 coletados por suabe (parte superior) e 13, 15 coletador por escarificado (parte inferior) positivos para E.coli gene iss pela PCR. M = Marcador de DNA de 100pb, C+ = controle positivo. Tabela 2. Positivos e negativos para E.coli gene iss por suabe e escarificação como técnicas de processamento. Técnicas de PCR E.coli gene iss processamento Positivo Negativo Total Suabe 03 27 30 Escarificado 02 28 30 Suabe + escarificado 02 28 30 Qui-quadrado, IC=95% (p>0,05). rias com aerossaculite em frangos de corte e isolou 170 bactérias, sendo 88,2% como E.coli, 8,8% como Ornithobacterium rhinotracheale e 3% como Bordetella avium. Tais resultados estão acima dos 33,3% de E.coli e ausência de MG e MS, encontrados neste trabalho, o que era de se esperar pelos autores terem trabalhado somente com aves de risco. Pelo teste exato de Fisher, comparando-se a detecção de E.coli em material coletado por suabe e escarificação de traquéia, obteve-se um p>0,05, não havendo, portanto, diferença significativa entre os tipos de coleta (Tabela 1). Como não houve significância da influência do tipo de colheita de material biológico no diagnóstico de MG, pode-se supor que tanto suabe quanto escarificação podem ser utilizados em se tratando de PCR. CONCLUSÃO Escheria coli foi encontrada em frangos de corte negativos para micoplasmas que apresentaram aerossaculite, levando a crer que a presença dessa bactéria pode ser suficiente para causar problemas no sistema respiratório de frangos de corte. A PCR foi uma técnica rápida e sensível para a detecção de Branco J.A.D. Manejo pré-abate e perdas decorrentes do processamento de frangos de corte. Anais Conf. Apinco Cienc. Tecnol., 2:129-142, 2004 Brasil, 1998. Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico- -sanitária de Carne de Aves do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Portaria nº210, de 10 de novembro de 1998. Diário Oficial República Federativa do Brasil, Brasília/DF, 11 de novembro. 1998. Seção 1. 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