Previsão de custos do setor sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16

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Transcrição:

Revista ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 DOI: 10.22167/r.ipecege.2015.3-4.146 Previsão de custos do setor sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 Costs of Production Forecasts in Center-South region of Brazil: Harvest 2015/16 Aline Bigaton¹*; 1 André Felipe Danelon²; Luiz Fernando Sansígolo Xavier 3 ; Maurício Fanton 4 ; Haroldo José Torres da Silva 5 ¹UNICAMP - Mestranda em Planejamento de Sistemas Energéticos (Faculdade de Engenharia Mecânica) - Rua Alexandre Herculano 120, sala T4, Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil ²ESALQ/USP, Graduando em Ciências Econômicas - Rua Alexandre Herculano 120, sala T4, Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil 3 ESALQ/USP, Graduando em Ciências Econômicas - Rua Alexandre Herculano 120, sala T4, Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil 4 ESALQ/USP, Graduando em Engenharia Agronômica - Rua Alexandre Herculano 120, sala T4, Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil 5 ESALQ/USP Mestrando em Economia Aplicada (Departamento de Economia, Administração e Sociologia) - Rua Alexandre Herculano 120, sala T4, Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil Resumo Esta publicação apresenta as projeções de custos de produção agroindustriais do setor sucroenergético para a safra 2015/16 na região Centro-Sul do Brasil. A safra 2015/16, iniciada no mês de abril de 2015, será caracterizada pela recuperação da produtividade agrícola, castigada pela baixa pluviometria registrada durante o verão da 2013/14. Por outro lado, as expectativas de elevação dos preços dos produtos somadas à recuperação da produtividade agrícola não serão suficientes para reverter a tendência histórica de baixa rentabilidade do setor. Palavras-chave: cana-de-açúcar, custos, previsão, rentabilidade. Abstract This publication presents the projections of production costs of sugarcane sector for the 2015/16 harvest in the Center-South region of Brazil. The 2015/16 harvest, which began in April 2015, will be characterized by the recovery of agricultural productivity, burdened by low rainfall recorded during the summer of 2013/14. On the other hand, the expectations of rising prices of products added to the recovery of agricultural productivity will not be enough to reverse the historical trend of low profitability of the sector. Keywords: Sugarcane, costs, forecast, profitability Expectativas para o ano-safra 2015/16 As estimativas de custos e rentabilidades projetadas para a safra 2015/16 foram baseadas em: i) o modelo de cálculo de custos de produção do PECEGE/CNA para a região Centro-Sul; ii) banco de dados do fechamento da safra 2013/14 e acompanhamento da safra 2014/15 do PECEGE/CNA; iii) dados da UNICA e CONSECANA-SP sobre fechamento da safra 2014/15 e projeção da safra 2015/16; iv) * Autor correspondente <alinebigaton@pecege.com> Enviado: 24 jun. 2015 Aprovado: 10 jul. 2015 146

Previsão de custos do setor Sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 informações levantadas com usinas no mês de abril de 2015 e v) pesquisa interna sobre indicadores relevantes para o setor. As variações das principais contas de custos foram estimadas a partir das variações dos índices de preços no período compreendido entre abril de 2014 e março de 2015. A Tabela 1 apresenta as variações de preços para cada item ajustado no modelo de custos, a magnitude do ajuste e a sua referência. Destaca-se que a revisão da maior parte dos preços dos insumos de produção agrícola foi realizada com base nos dados do projeto de cálculos de índices de inflação do setor sucroenergético organizado pelo PECEGE e publicados por Bigaton et al (2015). Tabela 1. Variações de preços consideradas para projeção dos custos agroindustriais na safra 2015/16: Centro-Sul Área Insumo Produto Δ de custos projetada: safra 2015/16 Fonte % Diesel 11,19 ANP 1 INDUSTRIAL AGRÍCOLA Eletrodos 4,40 IGP-DI Energia Elétrica 35,00 ANEEL Insumos Químicos 4,40 IGP-DI Lubrificantes 17,34 PECEGE* Sacaria - 50 kg 4,40 IGP-DI Mão-de-Obra 7,50 FETIASP** Peças e serviços de manutenção 4,40 IGP-DI Calcário 18,33 Fertilizantes 11,34 Herbicidas -1,49 Inseticidas -11,61 Mão-de-Obra 8,04 PECEGE* Mudas 12,41 Peças e serviços de 4,40 IGP-DI maquinário Mão-de-Obra 7,50 FETIASP** Administrativo Capital de giro 27,90 BACEN Fonte: Baseado em ANP (2015), BACEN (2015), IPEADATA (2015), PECEGE/CNA (2015) e BIGATON et al (2015) 1 Média das variações de preços ao consumidor nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo entre os meses de abril/14 e abril/15. * Todos os itens da área agrícola, exceto peças e serviços de maquinário, foram calculados pelo projeto de índices de inflação do PECEGE. **Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo. Destacam-se como as variações mais relevantes para projeção de custos na safra 2015/16: a) queda de 1,16% do teor de ATR por tonelada de cana; b) aumento de 147 Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015

A. Bigaton et al. 9,1% do preço do ATR; c) aumento de 7,5% dos salários industriais e administrativos e de 8,04% dos agrícolas; d) 11,19% de aumento no diesel; e) 7,1% de aumento no custo de CCT. Todos os indicadores citados contribuem para o aumento dos custos de produção. Espera-se para a safra 2015/16 um aumento na participação da produção de etanol 2, em especial do hidratado e que deverá superar a produção do etanol anidro. Apesar da elevação da demanda pelo etanol anidro, a quantidade estocada do produto deve ser suficiente para que as usinas atendam a demanda sem elevar a produção na mesma proporção nessa safra. Por outro lado, a necessidade de escoar a produção e elevar a entrada de receitas das usinas favorece a produção do etanol hidratado, produto com alta liquidez. Além da cana, a presente projeção de safra analisa as perspectivas para a produção e comercialização do etanol anidro, com mix de 40,10% da produção de etanol e do açúcar VHP, com mix de 72% da produção de açúcar. Em relação aos preços recebidos pelos produtos, projeta-se aumento de 9,80% nos preços para o etanol hidratado e de 8,6% para o anidro, baseado na variação do preço da gasolina apontada na 190º Ata do COPOM. Para o açúcar VHP, a expectativa de variação em 7,2% foi baseada nos preços médios dos contratos futuros do açúcar e dólar com vencimento em julho de 2015 e outubro de 2015, período em que historicamente ocorre o pico de comercialização. Já para o açúcar branco, a variação de preço é estimada em 10,00% de aumento através da projeção da série de preços obtidas no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Metodologia do cálculo de custos A metodologia PECEGE 3 segmenta os custos em Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT) e Custo Total (CT). O COE refere-se aos custos desembolsáveis vinculados ao processo agrícola e industrial, unindo custos de arrendamento, gastos administrativos, mão de obra, insumos, manutenção e administração. O COT, por sua vez, é a soma do COE com depreciação de maquinas, benfeitorias, equipamentos de irrigação e dos investimentos industriais. Por fim, o CT agrega ao COT a remuneração da terra e do capital utilizados no processo produtivo. 2 A safra deverá ser mais alcooleira em função do reestabelecimento parcial da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) incidente sobre a gasolina e a elevação do nível de mistura do etanol anidro adicionado à gasolina. 3 A metodologia de custos do PECEGE pode ser obtida na íntegra em: http://www.pecege.esalq.usp.br/portal. Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 148

Previsão de custos do setor Sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 As premissas técnicas utilizadas nas projeções de custos para a safra 2015/16 foram: i) produtividade média do canavial de 77,0 t/ha; ii) qualidade de 135,0 kg ATR/t de cana de fornecedores e 132,0 kg ATR/t de cana própria; iii) preço do ATR de R$ 0,5210/kg, ou seja, preço da cana de fornecedores de R$ 70,33 por tonelada; iv) ATR padrão de 121,97 kg ATR/t; v) preço de arrendamento de 14,96 t/ha; vi) custo CCT de R$ 28,51/t; vii) perdas industriais comuns 4 de 7,82%; viii) aumento da área colhida em 5%; e ix) taxa de utilização de 93,7% da capacidade industrial. A capacidade de processamento de cana de uma unidade industrial adotada no modelo de custos foi atualizada para 3.000.000 t/safra, visto que essa é a atual capacidade típica de moagem da região Centro-Sul. Resultados e Discussão O custo de produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol foram projetados a partir das premissas relacionadas. As projeções de custos da safra 2015/16 são apresentadas na Tabela 2. Tabela 2. Projeção dos custos de produção agroindustriais para a safra 2015/2016: Centro-Sul Custo Cana Açúcar Branco Açúcar VHP Etanol Anidro Etanol Hidratado R$/t R$/m³ COE 54,93 684,68 651,86 1094,84 1016,22 COT* 77,86 839,56 806,11 1.348,95 1.257,40 CT** 88,65 966,34 932,38 1.556,98 1.454,84 *COT - Custo Operacional Total: considera dispêndios com todos os fatores utilizados na produção, ou seja, custos e despesas operacionais mais depreciação de máquinas e instalações agroindustriais. **CT - Custo Total: inclui ao COT custos de oportunidade do capital próprio imobilizado no negócio e pagamento de juros sobre financiamentos para investimentos. Nas projeções de custos de produção para a safra 2015/16, foram criados doze cenários 5, formados pela combinação de estimativas sobre a produtividade agrícola da cana e o preço do ATR. As projeções de rentabilidades para a produção de cana-deaçúcar sobre o custo total são negativas em todos os cenários, conforme destacam as Tabelas 3 e 4. Na Tabela 3, as margens apresentadas são em relação ao Custo Tota - CT que representa a soma dos custos desembolsáveis acrescidos os custos de depreciação e remunerações da terra e do capital. A Tabela 4 apresenta as margens 4 Perdas industriais comuns referem-se ao agregado das perdas relacionadas ao processamento da cana, ou seja, perdas na lavagem, extração, na torta e indeterminada. 5 O cenário-base considera as premissas técnicas provenientes da projeção da safra 2015/16 da UNICA e as premissas do modelo de cálculo de custos do PECEGE/CNA. A criação de cenários pessimistas e otimistas advém da variação sobre os dados analisados. 149 Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015

A. Bigaton et al. em relação ao Custo Operacional Total COT, isto é, o CT deduzindo-se as remunerações da terra e do capital. O cenário-base destaca o custo total superior ao preço cerca de R$ 18,30/t - e custo operacional maior que o preço. Considerando o preço base do ATR, estima-se que produtores e fornecedores de cana-de-açúcar atingirão rentabilidade positiva sobre o custo total - CT apenas para produtividades superiores a 110 t/ha. Mantendo-se a produtividade base, a qualidade da cana deve ser superior à 170,10 kg ATR/t para o CT e, para o COT, superior a 149,41 kg ATR/t. A Figura 1, por sua vez, relaciona as produtividades agrícolas médias necessárias para equilíbrio econômico de acordo com cada preço médio, compreendido dentro do intervalo projetado pelos cenários. A expectativa de rentabilidade em relação ao Custo Operacional Total - COT para a produção de cana-de-açúcar também se projeta negativa para todos os cenários, salvo o otimista tanto em produtividade como no preço do ATR. Tabela 3. Análise de cenários para a rentabilidade agrícola (margem CT) na safra 2015/16: cenários para preço ATR e produtividade da cana Preço ATR CT Pessimista Base Otimista abr/15 Produtividade 0,4847 0,5211 0,5576 0,4909 t/ha R$/kg ATR 72-32% -25% -19% -29% 77-28% -21% -15% -25% 82-25% -18% -10% -22% Tabela 4. Análise de cenários para a rentabilidade agrícola (margem COT) na safra 2015/16: cenários para preço de ATR e produtividade da cana Preço ATR COT Pessimista Base Otimista abr/15 Produtividade t/ha 0,4847 0,5211 0,5576 0,4909 t/ha R$/kg ATR 72-22% -15% -7% -19% 77-18% -10% -3% -15% 82-15% -6% 2% -11% Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 150

Preço ATR, R$/kgATR Previsão de custos do setor Sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 0,57 0,55 0,53 0,51 0,49 0,47 Figura 1. Produtividade agrícola necessária para o equilíbrio econômico em cada estágio de custos: análise de rentabilidade em COE, COT e CT Fonte: PECEGE/CNA(2015) As Tabelas 5 e 6 apresentam as expectativas de rentabilidade do açúcar VHP e do açúcar branco, respectivamente 6. Enquanto o aumento do preço do VHP não será suficiente para cobrir seus custos, aos níveis de preços médios da safra 2015/16, as usinas com produtividades acima de 86 t/ha atingirão margem econômica positiva, o cenário-base para açúcar branco é o mais rentável dos produtos analisados. Destacase que a produção de açúcar branco é realizada apenas pelas usinas mais capitalizadas. 0,45 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 Produtividade média, t/ha Linha Equilíbrio COE Linha Equlíbrio COT Linha Equilíbrio CT Cenários projetados Tabela 5. Análise de cenários para a rentabilidade (margem CT) na safra 2015/16: cenários para preço e produtividade de açúcar VHP Preço Açúcar VHP CT Pessimista Base Otimista abr/15 Produtividade 818 880 942 858 t/ha R$/t 72-16% -9% -3% -12% 77-12% -6% 1% -8% 82-9% -2% 5% -5% 6 Nos cenários, os preços dos produtos consideram variações em conjunto, ou seja, o cálculo da rentabilidade de cada cenário do açúcar VHP considera variação proporcional nos preços dos demais produtos e no preço do ATR em relação às premissas adotadas no modelo. 151 Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015

A. Bigaton et al. Tabela 6. Análise de cenários para a rentabilidade (margem CT) na safra 2015/16: cenários para preço e produtividade do açúcar branco Açúcar Branco CT Pessimista Base Otimista abr/15 Produtividade 919 988 1057 957 t/ha R$/t 72-9% -2% 5% -5% 77-5% 2% 9% -1% 82-1% 6% 13% 3% As tabelas 7 e 8, por sua vez, apresentam as expectativas para etanol anidro e etanol hidratado. As previsões para o etanol anidro apontam que o produto deve ser mais rentável que o açúcar VHP: produtividades a partir de 78 t/ha garantem rentabilidade econômica. Já o etanol hidratado apresenta baixa rentabilidade: dado o preço médio projetado, o produto terá rentabilidade econômica apenas para produtividades acima de 88 t/ha. Tabela 7. Análise de cenários para a rentabilidade (margem CT) na safra 2015/16: cenários para preço e produtividade do etanol anidro Preço Etanol Anidro CT Pessimista Base Otimista abr/15 Produtividade 1405 1544 1683 1402 t/ha R$/m 3 72-13% -5% 4% -13% 77-10% -1% 8% -10% 82-6% 3% 12% -7% Tabela 8. Análise de cenários para a rentabilidade (margem CT) na safra 2015/16: cenários para preço e produtividade do etanol hidratado Etanol Hidratado CT Pessimista Base Otimista Atual Produtividade 1212 1353 1494 1262 t/ha R$/m³ 72-20% -11% -1% -17% 77-17% -7% 3% -13% 82-14% -4% 6% -10% As Figuras 2, 3, 4 e 5 apresentam a curva de equilíbrio para cada produto da indústria. Todos os preços são suficientes para repor o COE. Assim, para simplificar, Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 152

Preço Açúcar Branco, R$/t Preço Açúcar VHP, R$/t Previsão de custos do setor Sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 estão apresentadas apenas as linhas de COT e CT. Na maioria dos cenários, os preços cobrem inclusive o COT, exceto nos cenários mais pessimistas de comercialização de etanol hidratado, etanol anidro e açúcar VHP. O cenário-base de cada produto ilustra a baixa rentabilidade do setor que, apesar de remunerar os custos operacionais, não aufere lucros econômicos. 1000 950 900 850 800 750 50 60 70 80 90 100 110 Linha Equilíbrio COT Linha Equilíbrio CT Cenários Projetados Produtividade média, t/ha Figura 2. Produtividade agrícola necessária para o equilíbrio econômico em cada estágio de custos da produção de açúcar VHP: análise de rentabilidade em COT e CT 1100 1050 1000 950 900 850 50 60 70 80 90 100 Linha Equilíbrio COT Linha Equiíbrio CT Cenários Personalizados Produtividade média, t/ha Figura 3. Produtividade agrícola necessária para o equilíbrio econômico em cada estágio de custos da produção de açúcar branco: análise de rentabilidade em COT e CT 153 Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015

Preço Etanol Hidratado, R$/m³ Preço Etanol Anidro, R$/m³ A. Bigaton et al. 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 1350 1300 50 60 70 80 90 100 Linha Equilíbrio COT Linha Equilíbrio CT Cenários Personalizados Produtividade média, t/ha Figura 4. Produtividade agrícola necessária para o equilíbrio econômico em cada estágio de custos da produção de etanol anidro: análise de rentabilidade em COT e CT 1500 1450 1400 1350 1300 1250 1200 1150 1100 50 60 70 80 90 100 110 120 Linha Equilíbrio COT Linha Equiíbrio CT Cenários Personalizados Produtividade média, t/ha Figura 5. Produtividade agrícola necessária para o equilíbrio econômico em cada estágio de custos da produção de etanol hidratado: análise de rentabilidade em COT e CT Das análises de rentabilidade geradas, destaca-se que a expectativa de aumento do custo total de produção de cana-de-açúcar faz com que o diferencial projetado entre o custo total e o preço CONSECANA-SP pago pela cana-de-açúcar seja maior que R$ 18/t, apontando para maiores incentivos para usinas adquirirem cana de Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 154

Previsão de custos do setor Sucroenergético na região Centro-Sul do Brasil: safra 2015/16 terceiros. Apesar da recuperação de um cenário climático adverso enfrentado nas últimas safras, o crescente endividamento e aumento dos custos de produção impõem grandes desafios às unidades produtoras, a parte disso soma-se uma menor renovação dos canaviais, deterioração da qualidade de matéria-prima e uma produtividade agrícola abaixo da média histórica do setor. A necessidade crescente de recebimentos financeiros faz com que o mix de produção para safra 2015/16 seja direcionado ao etanol hidratado, visando alavancar o giro dos produtos e de liquidez ao setor, mesmo que as perspectivas de rentabilidade do produto seja uma das menores entre os produtos da indústria. Considerações Finais A produção sucroenergética, em mais uma safra, projeta-se como uma atividade econômica de baixa atratividade em relação a investimentos em outros setores da economia brasileira. A perspectiva de maior rentabilidade do etanol em relação ao açúcar se mantém para a safra 2015/16, embora apenas as usinas com processos mais otimizados apresentem possibilidade de obter equilíbrio econômico na safra. Espera-se uma recuperação dos preços recebidos pelo setor e que garantirão a reposição dos custos operacionais dos produtos industriais. O câmbio favorecerá o fechamento de contratos para exportação do açúcar e as alterações observadas no mercado doméstico darão novo fôlego e competitividade ao etanol ante à gasolina.. Referências Bibliográficas Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis [ANP]. 2015. Disponível em: <http://www.anp.gov.br> Acesso em: 05 maio 2015. Banco Central do Brasil [BACEN]. 2015. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br> Acesso em: 05 maio 2015. BIGATON, A.; DANELON, A.F.; CARVALHO, A.; D ARAGONE, R.R.; SILVA, H.J.T.; MARQUES, P.V. 2015. Evolução dos preços de insumos e valores de mão-de-obra para produção de cana-de-açúcar na região Centro-Sul Tradicional: safra 2014/15. Revista IPecege, Ed. 2. p. 186-196. Disponível em: <http://revista.ipecege.org.br/index.php/ipecege/article/view/22/50> Comitê de Política Monetária [COPOM]. 190º. Ata. 2015. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?copom190> Acesso em: 05 maio 2015. Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo [CONSECANA]. 2015. Disponível em: <http://www.udop.com.br/> Acesso em: 05 maio 2015. 155 Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015

A. Bigaton et al. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEADATA]. 2015. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/> Acesso em: 05 maio 2015. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA]. 2015. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/> Acesso em: 05 maio 2015. Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas [PECEGE]. 2014. Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar, etanol e bioeletricidade no Brasil: Acompanhamento da safra 2014/15 Centro-Sul. Piracicaba, 45 p. União da Indústria de Cana de Açúcar [ÚNICA]. 2015. Disponível em: <http://www.unica.com.br/> Acesso em: 05 maio 2015. Rev. ipecege 1(3/4): 146-156, 2015 156