Decisão sobre Repercussão Geral Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 12 02/03/2017 PLENÁRIO REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 986.296 PARANÁ RELATOR RECTE.(S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :CCV COMERCIAL CURITIBANA DE VEICULOS S/A :KLEBER MORAIS SERAFIM :EDRISA COSTA PEREIRA :UNIÃO :PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PIS E COFINS. LEI Nº 10.865/2004. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DECRETO Nº 8.426/2015. REDUÇÃO E RESTABELECIMENTO DE ALÍQUOTAS. Decisão: O Tribunal, por maioria, reputou constitucional a questão, vencido o Ministro Edson Fachin. Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. O Tribunal, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada, vencido o Ministro Edson Fachin. Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. Ministro DIAS TOFFOLI Relator documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 12577325.
Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 12 02/03/2017 PLENÁRIO REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 986.296 PARANÁ RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PIS E COFINS. LEI Nº 10.865/2004. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DECRETO Nº 8.426/2015. REDUÇÃO E RESTABELECIMENTO DE ALÍQUOTAS. MANIFESTAÇÃO Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da Quarta Região assim ementado: TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. LEI 10.865/2004. DECRETO 8.426/2015. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. EFEITO ULTRA LEGEM DO DECRETO. INOCORRÊNCIA. 1. Não há se falar em inconstitucionalidade da Lei 10.865/2004, pois o art. 27, 2º, não autoriza a instituição ou a majoração de tributo mediante ato do Poder Executivo, tampouco delega a este a criação de fato gerador, de alíquota ou de base de cálculo de tributo. A referida permissão legislativa não trata propriamente de nenhum dos elementos que compõem as obrigações, mas apenas da possibilidade de redução e restabelecimento, pelo Poder Executivo, de alíquotas previamente determinadas na lei em sentido estrito. Ausência de ofensa ao princípio da legalidade. 2. O Decreto 8.426/2015 restabeleceu as alíquotas de contribuição para o PIS e da COFINS exatamente nos moldes indicados pela Lei 10.865/2004, ou seja, o ato infralegal foi perpetrado dentro dos limites do permissivo legal, não se verificando, assim, qualquer invalidade. documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 12577323.
Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 12 3. Inviável a apreciação de argumentos não invocados na petição inicial, nem apreciados em sentença, já que se trata de indevida inovação recursal. 4. O 2º do art. 27 da Lei 10.865/2004 não se restringe às operações vinculadas ao mercado externo. Opostos embargos de declaração, foram rejeitados. No extraordinário, articula-se a inconstitucionalidade da delegação contida no art. 27, 2º, da Lei nº 10.865, de 2004, no que autorizou o Poder Executivo a reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam os incisos I e II do caput do art. 8o desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses que fixar. Sustenta o recorrente que o Decreto nº 8.426, de 1º de abril de 2015, com as alterações promovidas pelo Decreto nº 8.541, de 19 de maio de 2015, ao restabelecer a alíquota da contribuição ao PIS/Pasep e da COFINS ao patamar de 4,65% - antes o Decreto nº 5.164, de 2004 a fixava em zero -, se mostraria ofensivo ao princípio da legalidade insculpido no art. 150, I, da Constituição. Alega contrariedade ao art. 153, 1º, da Constituição, uma vez que apenas as alíquotas dos tributos informados nas alíneas I a VII do caput poderiam ser alteradas por meio de decreto. Aduz que, [m]uito embora os efeitos da malfadada exigência do 2 documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 12577323.
Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 12 PIS e da COFINS sobre as receitas financeiras tenha sido sentido com a majoração da alíquota (de 0% para 4,65%) promovida pelo Decreto 8.426/2015, é necessário ter em mente que a contrariedade ao mandamento constitucional advém do permissivo legal que autorizou a fixação de alíquotas de tais tributos por Decreto, o que foi promovido pela Lei 10.865/2004. Esclarece o recorrente que a redução à zero da alíquota das aludidas contribuições não foi o elemento que configurou o ato coator contra o qual se insurgiu por meio do mandado de segurança. Segundo o recorrente, o que caracterizou a coação e o ferimento à Constituição Federal foi, em verdade, o permissivo promovido pelo art. 27 da Lei nº 10.865/2004 e a alteração promovida[,] de forma efetiva, pelo Decreto 8.426/2015. Em prol da repercussão geral, assevera que, [e]m se tratando da incidência de PIS e de COFINS sobre as receitas financeiras de todos os contribuintes que apuram tais contribuição pelo regime da não cumulatividade, é indubitável que tal imposição legal afeta, de forma viciada, grande parte das empresas nacionais (visto que o regime da não cumulatividade é a regra prevalecente de incidência de tais tributos), em um momento econômico do País é extremamente delicado e dificultoso, para quase a totalidade dos contribuintes. Refere o recorrente que o tema em questão possui uma envergadura que justifica, por si só, a análise do caso pelo, de modo que os contribuintes possam conhecer o entendimento da Corte 3 documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 12577323.
Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 12 sobre a matéria em debate. Passo a me manifestar. É de se fixar orientação sobre a possibilidade de o art. 27, 2º, da Lei nº 10.865/2004 transferir a regulamento - portanto, a ato infralegal - a competência para reduzir e restabelecer as alíquotas da contribuição ao PIS e da COFINS. A matéria é similar à discutida na ADI nº 5.277/DF, de minha relatoria, de modo que entendo estarem presentes a densidade constitucional e a repercussão geral. Diante do exposto, manifesto-me pela existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada, submetendo-a à apreciação dos demais Ministros desta Corte. Brasília, 10 de fevereiro de 2017. Ministro Dias Toffoli Relator Documento assinado digitalmente 4 documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 12577323.
Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 12 REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 986.296 PARANÁ PRONUNCIAMENTO PIS/PASEP ALÍQUOTAS DECRETO Nº 8.426/15 CONSTITUCIONALIDADE ADMITIDA NA ORIGEM RECURSO EXTRAORDINÁRIO REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. 1. O Gabinete prestou as seguintes informações: Eis a síntese do discutido no recurso extraordinário com agravo nº 986.296/PR, relator o ministro Dias Toffoli, inserido no sistema eletrônico da repercussão geral em 10 de fevereiro de 2017, sexta-feira, com termo final para a manifestação no próximo dia 2 de março, quinta-feira. O Juízo indeferiu a segurança pleiteada pela recorrente, consistente no afastamento da exigibilidade dos valores cobrados a título de contribuição para o Programa de Integração Social PIS/PASEP e para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, decorrentes do reestabelecimento das alíquotas ao patamar de 0,65% e 4%, respectivamente, implementado pelo Decreto nº 8.426/2015. Entendeu legal a majoração, asseverando que o artigo 27, 2º, da Lei nº 10.865/2004 cuja alegada inconstitucionalidade foi afastada autoriza o Poder Executivo a promover a redução e o reestabelecimento das alíquotas até o percentual de 1,65%, no caso da contribuição para o PIS/PASEP, e 7,6%, quando se tratar da Cofins. A Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região desproveu a apelação interposta pela recorrente,
Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 12 mantendo a sentença pelos próprios fundamentos. Assentou a inexistência de ofensa ao princípio da legalidade tributária, frisando que o Decreto nº 8.426/2015 não instituiu nem aumentou tributo. Pontuou que o artigo 27, cabeça e 2º, da Lei nº 10.865/2004 refere-se a todas as situações de não cumulatividade, não apenas às operações vinculadas ao mercado externo. Os declaratórios interpostos foram desprovidos. No extraordinário, protocolado com arguida base na alínea c do permissivo constitucional, a recorrente aponta transgressão aos artigos 150, inciso I, e 153, 1º, da Constituição Federal. Sustenta que este último dispositivo faculta ao Poder Executivo alterar as alíquotas somente dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V, não autorizando a providência em relação às contribuições alusivas ao PIS/PASEP e à Cofins. Afirma que redução e restabelecimento são espécies do gênero alteração. Aduz que o legislador constituinte, na redação do aludido artigo, objetivou permitir ao Poder Executivo alterar a alíquota de tributos atinentes a questões de política tributária, com inerente função regulatória de mercado, da qual as contribuições PIS/PASEP e Cofins são desprovidas. Destaca ser inconstitucional a delegação da função de regular a alíquota das contribuições, ante o disposto no artigo 150, inciso I, do Documento Básico. Alude ao julgamento do recurso ordinário em mandado de segurança nº 25.476-2, no qual se concluiu que o princípio da legalidade estrita não é observável em situações de redução tributária, e ao da ação direta de inconstitucionalidade nº 3.674, de relatoria de Vossa Excelência, em que assentada a impossibilidade de delegação ao Poder Executivo para dispor sobre alíquota de imposto sobre circulação de mercadorias e 2
Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 12 serviços ICMS, mesmo havendo previsão de teto de redução na norma. Sob o ângulo da repercussão geral, assevera que a matéria ultrapassa os limites subjetivos da lide, mostrando-se relevante dos pontos de vista econômico e jurídico. Aponta afronta a anterior entendimento do Supremo. Sublinha o artigo 27 da Lei nº 10.865/2004 tem o condão de afetar todo o empresariado brasileiro. A recorrida, com as contrarrazões, anexa nota explicativa sobre o Decreto citado, defendendo a legalidade. O extraordinário foi admitido na origem. Eis o pronunciamento do ministro Dias Toffoli, quanto à existência de questão constitucional e de repercussão geral da matéria: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PIS E COFINS. LEI Nº 10.865/2004. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DECRETO Nº 8.426/2015. REDUÇÃO E RESTABELECIMENTO DE ALÍQUOTAS. MANIFESTAÇÃO Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da Quarta Região assim ementado: TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. LEI 10.865/2004. DECRETO 8.426/2015. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. EFEITO ULTRA LEGEM DO DECRETO. INOCORRÊNCIA. 1. Não há se falar em inconstitucionalidade da 3
Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 12 Lei 10.865/2004, pois o art. 27, 2º, não autoriza a instituição ou a majoração de tributo mediante ato do Poder Executivo, tampouco delega a este a criação de fato gerador, de alíquota ou de base de cálculo de tributo. A referida permissão legislativa não trata propriamente de nenhum dos elementos que compõem as obrigações, mas apenas da possibilidade de redução e restabelecimento, pelo Poder Executivo, de alíquotas previamente determinadas na lei em sentido estrito. Ausência de ofensa ao princípio da legalidade. 2. O Decreto 8.426/2015 restabeleceu as alíquotas de contribuição para o PIS e da COFINS exatamente nos moldes indicados pela Lei 10.865/2004, ou seja, o ato infralegal foi perpetrado dentro dos limites do permissivo legal, não se verificando, assim, qualquer invalidade. 3. Inviável a apreciação de argumentos não invocados na petição inicial, nem apreciados em sentença, já que se trata de indevida inovação recursal. 4. O 2º do art. 27 da Lei 10.865/2004 não se restringe às operações vinculadas ao mercado externo. Opostos embargos de declaração, foram rejeitados. No extraordinário, articula-se a inconstitucionalidade da delegação contida no art. 27, 2º, da Lei nº 10.865, de 2004, no que autorizou o Poder Executivo a reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam os incisos I e II do caput do art. 8o desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de nãocumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses 4
Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 12 que fixar. Sustenta o recorrente que o Decreto nº 8.426, de 1º de abril de 2015, com as alterações promovidas pelo Decreto nº 8.541, de 19 de maio de 2015, ao restabelecer a alíquota da contribuição ao PIS/Pasep e da COFINS ao patamar de 4,65% - antes o Decreto nº 5.164, de 2004 a fixava em zero -, se mostraria ofensivo ao princípio da legalidade insculpido no art. 150, I, da Constituição. Alega contrariedade ao art. 153, 1º, da Constituição, uma vez que apenas as alíquotas dos tributos informados nas alíneas I a VII do caput poderiam ser alteradas por meio de decreto. Aduz que, muito embora os efeitos da malfadada exigência do PIS e da COFINS sobre as receitas financeiras tenha sido sentido com a majoração da alíquota (de 0% para 4,65%) promovida pelo Decreto 8.426/2015, é necessário ter em mente que a contrariedade ao mandamento constitucional advém do permissivo legal que autorizou a fixação de alíquotas de tais tributos por Decreto, o que foi promovido pela Lei 10.865/2004. Esclarece o recorrente que a redução à zero da alíquota das aludidas contribuições não foi o elemento que configurou o ato coator contra o qual se insurgiu por meio do mandado de segurança. Segundo o recorrente, o que caracterizou a coação e o ferimento à Constituição Federal foi, em verdade, o permissivo promovido pelo art. 27 da Lei nº 10.865/2004 e a alteração promovida[,] de forma efetiva, pelo Decreto 8.426/2015. Em prol da repercussão geral, assevera que, em se tratando da incidência de PIS e de COFINS sobre as receitas financeiras de todos os contribuintes que apuram 5
Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 12 tais contribuição pelo regime da não cumulatividade, é indubitável que tal imposição legal afeta, de forma viciada, grande parte das empresas nacionais (visto que o regime da não cumulatividade é a regra prevalecente de incidência de tais tributos), em um momento econômico do País é extremamente delicado e dificultoso, para quase a totalidade dos contribuintes. Refere o recorrente que o tema em questão possui uma envergadura que justifica, por si só, a análise do caso pelo, de modo que os contribuintes possam conhecer o entendimento da Corte sobre a matéria em debate. Passo a me manifestar. É de se fixar orientação sobre a possibilidade de o art. 27, 2º, da Lei nº 10.865/2004 transferir a regulamento - portanto, a ato infralegal - a competência para reduzir e restabelecer as alíquotas da contribuição ao PIS e da COFINS. A matéria é similar à discutida na ADI nº 5.277/DF, de minha relatoria, de modo que entendo estarem presentes a densidade constitucional e a repercussão geral. Diante do exposto, manifesto-me pela existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada, submetendo-a à apreciação dos demais Ministros desta Corte. 2. Tem-se tema de envergadura constitucional, podendo vir a repetir-se em inúmeros processos. Tudo recomenda a atuação do Supremo, definindo-se, vez por todas, se o Decreto nº 8.426/2015 implicou usurpação da competência normativa do Congresso, no que versa alíquotas referentes ao PIS/PASEP. 6
Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 12 3. Admito configurada a repercussão geral. 4. À Assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente, inclusive quanto a processos que, no Gabinete, aguardem exame. 5. Publiquem. Brasília residência, 23 de fevereiro de 2017, às 10h25. Ministro MARCO AURÉLIO 7