ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO. Brás, Bexiga e Barra Funda e outros contos. PROJETO DE LEITURA Douglas Tufano Maria José Nóbrega

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Transcrição:

ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO Brás, Bexiga e Barra Funda e outros contos PROJETO DE LEITURA Douglas Tufano Maria José Nóbrega

Literatura é aprendizado de humanidade DOUGLAS TUFANO A literatura não é matéria escolar, é matéria de vida. A boa literatura problematiza o mundo, tornando-o opaco e incitando à reflexão. É um desafio à sensibilidade e inteligência do leitor, que assim se enriquece a cada leitura. A literatura não tem a pretensão de oferecer modelos de comportamento nem receitas de felicidade; ao contrário, provoca o leitor, estimula-o a tomar posição diante de certas questões vitais. A literatura propicia a percepção de diferentes aspectos da realidade. Ela dá forma a experiências e situações que, muitas vezes, são desconcertantes para o jovem leitor, ao ajudá-lo a situar-se no mundo e a refletir sobre seu próprio comportamento. Mas essa característica estimuladora da literatura pode ser anulada se, ao entrar na sala de aula, o texto for submetido a uma prática empobrecedora, que reduz sua potencialidade crítica. Se concordarmos em que a escola deve estar mais atenta ao desenvolvimento da maneira de pensar do que à memorização de conteúdos, devemos então admitir que sua função mais importante é propiciar ao aluno atividades que desenvolvam sua capacidade de raciocínio e argumentação, sua sensibilidade para a compreensão das múltiplas facetas da realidade. A escola, portanto, deveria ser, antes de tudo, um espaço para o exercício da liberdade de pensamento e de expressão. E se aceitarmos a idéia de que a literatura é uma forma particular de conhecimento da realidade, uma maneira de ver o real, entenderemos que ela pode ajudar enormemente o professor nessa tarefa educacional, pois pode ser uma excelente porta de entrada para a reflexão sobre aspectos importantes do comportamento humano e da vida em sociedade, e ainda permite o diálogo com outras áreas do conhecimento. O professor é o intermediário entre o texto e o aluno. Mas, como leitor maduro e experiente, cabe e ele a tarefa delicada de intervir e esconder-se ao mesmo tempo, permitindo que o aluno e o texto dialoguem o mais livremente possível. Porém, por circular na sala de aula junto com os textos escolares, muitas vezes o texto literário acaba por sofrer um tratamento didático, que desconsidera a própria natureza da literatura. O texto literário não é um texto didático. Ele não tem uma resposta, não tem um significado que possa ser considerado correto. Ele é uma pergunta que admite várias respostas; depende da maturidade do aluno e de suas experiências como leitor. O texto literário é um campo de possibilidades que desafia cada leitor individualmente. Trabalhar o texto como se ele tivesse um significado objetivo e unívoco é trair a natureza da literatura e, o que é mais grave do ponto de vista educacional, é contrariar o próprio princípio que justificou a inclusão da literatura na escola. Se agirmos assim, não estaremos promovendo uma educação estética, que, por definição, não pode ser homogeneizada, massificada, despersonalizada. Sem a marca do leitor, nenhuma leitura é autêntica; será apenas a reprodução da leitura de alguma outra pessoa (do professor, do crítico literário etc.). Cabe ao professor, portanto, a tarefa de criar na sala de aula as condições para o de 2

senvolvimento de atividades que possibilitem a cada aluno dialogar com o texto, interrogá-lo, explorá-lo. Mas essas atividades não são realizadas apenas individualmente; devem contar também com a participação dos outros alunos por meio de debates e troca de opiniões e com a participação do professor como um dos leitores do texto, um leitor privilegiado, mas não autoritário, sempre receptivo às leituras dos alunos, além de permitir-lhes, conforme o caso, o acesso às interpretações que a obra vem recebendo ao longo do tempo. Essa tarefa de iniciação literária é uma das grandes responsabilidades da escola. Uma coisa é a leitura livre do aluno, que obviamente pode ser feita dentro ou fora da escola. Outra coisa é o trabalho de iniciação literária que a escola deve fazer para desenvolver a capacidade de leitura do aluno, para ajudá-lo a converter-se num leitor crítico, pois essa maturidade como leitor não coincide necessariamente com a faixa etária. Ao elaborar um programa de leituras, o professor deve levar em conta as experiências do aluno como leitor (o que ele já leu? como ele lê?) e, com base nisso, escolher os livros com os quais vai trabalhar. Com essa iniciação literária bem planejada e desenvolvida, o aluno vai adquirindo condições de ler bem os grandes escritores, brasileiros e estrangeiros, de nossa época ou de outras épocas. Nesse sentido, as noções de teoria literária aplicadas durante a análise de um texto literário só se justificam quando, efetivamente, contribuem para enriquecer a leitura e compreensão do texto, pois nunca devem ser um fim em si mesmas. A escola de Ensino Fundamental e Médio quer formar leitores, não críticos literários. Só assim é possível perceber o especial valor educativo da literatura, que, como dissemos, não consiste em memorizar conteúdos mas em ajudar o aluno a situar-se no mundo e a refletir sobre o comportamento humano nas mais diferentes situações. Literatura é aprendizado de humanidade. DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA UM POUCO SOBRE O AUTOR Apresentamos informações básicas sobre o autor, situando-o no contexto da história da literatura brasileira ou portuguesa. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, ao conhecer o tema e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta o interesse e o nível de leitura de seus alunos. COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Conforme as características do gênero a que pertence a obra, destacamos alguns aspectos importantes, como a visão de mundo nela expressa, a linguagem do autor, os seus recursos expressivos, a composição dos personagens etc. Com esses comentários, o professor poderá ter uma idéia dos aspectos que poderão ser abordados e também identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser explorados em sala de aula. QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns aspectos didáticos da obra em questão. São eles: a indicação do gênero literário, as áreas e os temas transversais envolvidos nas atividades e o público-alvo presumido para a obra. 3

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo: PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Considerando que os sentidos que atribuímos a um texto dependem muito de nossas experiências como leitor, sugerimos neste item algumas atividades que favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão da obra. b) durante a leitura Apresentamos alguns objetivos orientadores que podem auxiliar a construção dos sentidos do texto pelo leitor. c) depois da leitura Sem nenhuma pretensão de esgotar os sentidos do texto, propomos algumas atividades que ajudam o leitor a aprofundar sua compreensão da obra, sugerindo também, conforme o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares e a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas. F nas tramas do texto Compreensão geral do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões propostas pelo professor em situação de leitura compartilhada. Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. Discussão de outros pontos de vista a respeito de questões suscitadas pela obra. Tendo a obra estudada como ponto de partida, produção de outros textos verbais ou de trabalhos que contemplem diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc. F nas telas do cinema Indicação de filmes, disponíveis em VHS ou DVD, que tenham alguma articulação com a obra estudada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional. F nas ondas do som Indicação de músicas que tenham relação significativa com a temática ou com a estrutura da obra estudada. F nos enredos do real Sugestão de atividades que ampliam o estudo da obra, relacionando-a aos conteúdos de diversas áreas curriculares. DICAS DE LEITURA Sugestões de outros livros relacionados à obra estudada, criando no aluno o desejo de ampliar suas experiências como leitor. Essas sugestões podem incluir obras do mesmo autor ou obras de outros autores que tratam de temas afins: w do mesmo autor; w de outros autores; w leitura de desafio. Indicação de livros que podem estar um pouco além do grau de autonomia do leitor da obra analisada, com a finalidade de ampliar os horizontes culturais do aluno, apresentando-lhe até mesmo autores estrangeiros. 4

ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO Brás, Bexiga e Barra Funda e outros contos UM POUCO SOBRE O AUTOR Antônio Castilho de Alcântara Machado D Oliveira nasceu em 1901, na cidade de São Paulo, filho de tradicional família paulistana. Em 1913, faz sua primeira viagem à Europa e, em 1919, começa a cursar a faculdade de Direito de São Paulo. Em 1921, publica seu primeiro artigo de crítica literária em O Jornal do Comércio, edição paulista, iniciando precocemente sua carreira de jornalista. Em 1925, faz outra viagem à Europa. As crônicas resultantes das impressões dessa viagem foram reunidas no livro Pathé-Baby, publicado em 1926. Ainda nesse ano, lança a revista literária modernista Terra roxa e outras terras, publicação efêmera que dirige com Couto de Barros. Em 1928, participa da direção de outra revista literária: Revista de Antropofagia. Seu estudo histórico Anchieta na capitania de São Vicente é premiado. Publica o livro de contos Laranja da China. Em 1929, começa a escrever nos Diários Associados e, no fim desse ano, faz sua terceira viagem à Europa. Em 1934, assume a direção do Diário da Noite, no Rio de Janeiro. É eleito deputado federal por São Paulo, na chapa do Partido Constitucionalista. Em 1935, é operado do apêndice e sofre uma peritonite infecciosa, morrendo no dia 14 de abril, com 34 anos incompletos. Deixa inacabado o romance Mana Maria. RESENHA A obra apresenta os doze contos do livro Brás, Bexiga e Barra Funda Notícias de São Paulo, três contos de Laranja da China ( O mártir Jesus, O aventureiro Ulisses e O tímido José ) e dois avulsos ( Miss Corisco e Apólogo brasileiro sem véu de alegoria ). É uma amostra significativa da produção literária de Antônio de Alcântara Machado, o principal contista da primeira fase do Modernismo. Seus contos apresentam uma ampla galeria de personagens, em que o imigrante italiano é presença constante, mas não única. Há tragédias, como em Gaetaninho e O monstro de rodas ; crimes passionais, como em Amor e sangue, mas também crítica social, em A sociedade, e sátira e humor, em Tiro-de-guerra n o 35 e Miss Corisco. Além da novidade temática que Antônio de Alcântara Machado trouxe à nossa literatura, o seu estilo coloquial, ágil, feito de frases curtas, é uma característica marcante de sua obra, revelando um autor competente para realizar uma das aspirações principais do Modernismo, que era eliminar o falar difícil, o jeito parnasiano e pedante de escrever. 5

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Atento às grandes transformações pelas quais passava a cidade de São Paulo, Antônio de Alcântara Machado deteve o olhar principalmente em uma figura que começava a se tornar cada vez mais presente no dia-a-dia da cidade: o imigrante italiano. Ler os seus contos é acompanhar os dramas e os sonhos daqueles imigrantes pobres, que lutavam pela sobrevivência numa cidade que se industrializava rapidamente. Mas também é acompanhar as mudanças que a presença deles provocava nas tradicionais famílias paulistanas, cuja riqueza, muitas vezes, era só aparente, pois o capital começava a mudar de mãos rapidamente naquela São Paulo do início do século XX, em que o dinheiro já falava mais alto do que nomes de família. Embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, o autor foi amigo dos modernistas e engajou-se profundamente na renovação da linguagem literária, aproximando-a do falar cotidiano. Além disso, incorporou à literatura personagens que até então não tinham lugar nos livros, debruçando-se sobre os dramas das pessoas comuns e anônimas da cidade de São Paulo, enfocando a vida sofrida dos imigrantes pobres. É essa literatura nova, palpitante de vida, que encontramos nos textos desta coletânea. QUADRO-SÍNTESE Gênero: conto Palavras-chave: relações familiares, crítica social, vida cotidiana, imigrantes Áreas envolvidas: Língua Portuguesa Temas transversais: Ética Público-alvo: jovem adulto PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Recordar com os alunos as características principais do conto, destacando a unidade de ação e a brevidade do enredo, que logo se encaminha para o clímax e desenlace. 2. Pedir aos alunos que, pelo sumário, calculem a extensão média dos contos para confirmar ou não uma das características desse tipo de texto: a brevidade do enredo. 3. Conversar sobre o título da obra e verificar o que os alunos sabem a respeito dos nomes Brás, Bexiga e Barra Funda. Explicar que são três bairros da cidade de São Paulo nos quais, até hoje, é marcante a presença dos imigrantes italianos e seus descendentes. Durante a leitura 1. Reunir os alunos em pequenos grupos e encarregá-los da leitura de um ou dois contos, conforme o número de alunos. Essa distribuição dos textos pode ser feita por sorteio. Pedir que preparem uma resenha de cada conto para posterior apresentação oral à classe. Dessa resenha devem constar, pelo menos, os seguintes itens: a) resumo do enredo; b) o tema do conto; c) os aspectos do conto que mais chamaram a atenção dos alunos (linguagem, significado simbólico do texto, atualidade do tema etc.). Outros itens poderão ser incluídos nessa resenha, a critério dos grupos e segundo as características dos contos analisados. 2. O título de um texto muitas vezes pode despertar o interesse das pessoas, levando-as à leitura. Pedir aos alunos que imaginem outros títulos para os contos, submetendo-os depois à apreciação dos colegas, que julgarão se eles são mais interessantes do que os títulos originais. Essa atividade estimula os alunos a refletir sobre as características principais dos contos que devem analisar. Depois da leitura F nas tramas do texto 1. Depois da apresentação oral dos alunos, pedir à classe que separe os contos em diversos grupos, levando em conta os aspectos semelhantes entre 6

eles, como, por exemplo: dramas familiares, amor, mistério, humor, violência, crítica social etc. Os próprios alunos devem estabelecer os critérios que permitem o agrupamento dos contos. 2. Sugerir aos alunos que façam uma votação para escolher o melhor conto do livro, com base em critérios estabelecidos por eles mesmos. Essa atividade provavelmente estimulará uma releitura dos textos e chamará a atenção de alguns alunos para contos escolhidos por outros colegas. 3. Com relação ao conto Gaetaninho, destacar que ele é formado de pequenos blocos narrativos, que mostram diversos momentos da vida de Gaetaninho. Apesar da surpresa trágica do epílogo, notamos que há alusões à morte em todos os blocos, como se fossem antecipações disfarçadas do que viria a acontecer no final. Pedir que aponte as passagens em que ocorrem essas alusões. 4. No conto Carmela, temos o encontro de dois personagens que pertencem a níveis sociais bem diferentes. O que cada um deles procura no outro? A frase que encerra esse conto é: O Ângelo é outra coisa. É pra casar. No contexto do conto, os alunos devem explicar o significado dessa frase. 5. Pedir a classe que pesquise o conceito de sátira e explicar se os contos Tiro-de-guerra n o 35 e Miss Corisco podem ser considerados satíricos. 6. No conto Amor e sangue, pedir que expliquem a relação que se pode estabelecer entre os comentários do freguês da barbearia e o epílogo da história. 7. Pedir que expliquem como o autor mostrou o preconceito de certas famílias paulistanas contra os imigrantes italianos no conto A sociedade. 8. Com relação a esse mesmo conto ( A sociedade ), pedir que expliquem por que o casamento de Teresa com Adriano foi vantajoso para as duas famílias. 9. O conto Lisetta põe em evidência o contraste entre os ricos e os pobres. Responder: a) Como ocorre a humilhação de Lisetta e de sua mãe? b) Como a mãe de Lisetta se liberta da humilhação sofrida no bonde? c) Como Lisetta se recupera, em parte, da frustração sofrida no bonde? 10. Os alunos devem explicar por que o conto Corinthians (2) vs. Palestra (1) constitui uma grande novidade no panorama literário da época. 11. Pode-se dizer que o conto Notas biográficas do novo deputado exemplifica uma das formas pelas quais o imigrante italiano se integrava nas famílias paulistanas e virava brasileiro? Por quê? 12. Pedir que destaquem os pontos em comum que há entre os contos O monstro de rodas e Gaetaninho. 13. Pedir que expliquem como o conto Armazém Progresso de São Paulo revela o sonho de ascensão social dos imigrantes italianos em São Paulo. 14. Em muitos casos, os imigrantes italianos faziam questão de afirmar sua nacionalidade, orgulhando-se de continuar a usar sua língua natal e de manter, no Brasil, os costumes da Itália. Mas seus descendentes nem sempre pensavam assim, procurando, ao contrário, afirmar-se como brasileiros. Pedir que expliquem como se manifesta essa situação no conto Nacionalidade. 15. Nos contos O mártir Jesus, O aventureiro Ulisses e O tímido José, temos três aspectos bem diversos da vida na cidade de São Paulo. Os alunos devem explicar por que o autor usou as palavras mártir, aventureiro e tímido para caracterizar cada um dos personagens centrais dos contos. 16. Pedir que pesquisem o conceito de apólogo e de alegoria e explicar por que o conto Apólogo brasileiro sem véu de alegoria tem esse título. 17. Alcântara Machado escreveu na apresentação do livro Brás, Bexiga e Barra Funda: Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos 7

não nasceram contos: nasceram notícias. Com base nessas afirmações, os alunos devem escolher um dos contos do livro e reescrevê-lo como se fosse uma notícia de jornal. F nas telas do cinema Gaijin Os caminhos da liberdade. Dir. Tizuka Yamasaki. Narra a saga dos primeiros imigrantes japoneses que aqui chegaram no início do século XX para trabalhar nas lavouras de café. Boleiros era uma vez o futebol. Dir. Ugo Giorgetti. O conto Corinthians (2) vs. Palestra (1) pode despertar o interesse por esse filme, que apresenta várias histórias engraçadas envolvendo juízes e jogadores de futebol. F nas ondas do som A obra musical do compositor Adoniran Barbosa é fortemente marcada pela presença italiana. Aliás, o bairro do Bexiga (Bixiga, segundo a ortografia oficial do bairro), homenageou-o com um busto. Com seu humor inconfundível, Adoniran, ele mesmo filho de italianos (seu nome verdadeiro era João Rubinato), usou muitas vezes a linguagem pitoresca dos paulistanos italianizados, chegando a compor um samba todinho em italiano. Comentar com os alunos algumas músicas desse famoso compositor paulista. Nossas dicas: Samba italiano, Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro, Trem das onze. F nos enredos do real Propor aos alunos que façam uma pesquisa para explicar o fenômeno da imigração que marcou a história do Brasil no começo do século XX. Dos tópicos que podem ser explorados, sugerimos: a) Os motivos que levaram o Brasil a importar mão-de-obra estrangeira. b) Os países de onde veio a maioria dos imigrantes. c) Os motivos que levaram esses imigrantes a deixar seus países de origem. Sugestão de fonte para pesquisa: História da vida privada no Brasil 3: da belle époque à era do rádio Nicolau Sevcenko (org.), São Paulo, Companhia das Letras DICAS DE LEITURA w de outros autores Os 100 melhores contos brasileiros do século XX Rio de Janeiro, Objetiva Os 100 melhores contos de humor Rio de Janeiro, Ediouro Contos do imigrante Samuel Rawet, Rio de Janeiro, Ediouro. Um exemplo engraçado da forte presença do imigrante italiano na vida de São Paulo é o livro La divina increnca, de Juó Bananere, pseudônimo de Alexandre Ribeiro Marcondes Machado. Num estilo macarrônico que mistura italiano e português, o livro apresenta crônicas sobre o dia-a-dia paulistano e paródias de poesias famosas. w leitura de desafio Para ampliar as experiências de leitura de contos dos alunos, seria interessante desafiá-los a ler alguns grandes contistas da literatura mundial. Nossas dicas: Os buracos da máscara São Paulo, Brasiliense. Antologia de contos fantásticos que reúne alguns dos mais famosos escritores estrangeiros no gênero, tais como Franz Kafka, Hoffmann, Edgar Allan Poe, e os dois melhores brasileiros Murilo Rubião e José J. Veiga. O assassinato e outras histórias Anton Tchekhov, São Paulo, Cosac & Naify O diabo e outras histórias Leon Tolstoi, São Paulo, Cosac & Naify A cartomante e outros contos Machado de Assis, São Paulo, Moderna