Maria da Conceição Muniz Ribeiro
O uso de ornamentos no corpo inicia-se com os homens, que chegavam a mutilar o corpo com propósito de torná-los mais atrativos. Alguma tribos usavam pintura do corpo para atrair as mulheres ou para espantar os espíritos maléficos. Com tudo, na maioria das vezes, a pintura, as tatuagens ou o uso de adornos, entre outros constituíam formas para satisfazer a vaidade.
Além da expressão artística o ser humano tenta comunicar experiência, conhecimento e sentimentos. Dessa maneira, a arte como forma de expressão cultural, de comunicação e de expressão de sentimentos, registra a história, a cultura de um povo e as formações e rituais de cuidados.
Deus penalizou-os, destinando a Eva as dores do parto e a Adão, a subordinação e a penúria do trabalho. Tornando estes seres mortais. Em sua curta trajetória, Jesus, filho de Deus e Salvador do mundo, é um perfeito ser de cuidado humano, um restaurador de almas e de corpo. Vários registros da história, principalmente depois de Cristo, o cuidado humano torna-se mais visível. A compaixão, a misericórdia, a humildade, o amor, são entre outros, os elementos que lhe representam esse cuidado.
Os primeiros seres a praticar a medicina foram as mulheres, não porque eram as enfermeiras naturais de seus homens e crianças, tão pouco porque realizavam os partos, mas devido à sua conexão tão próxima com o solo através da agricultura. Essa experiencia deu-lhes conhecimento das plantas, frutos, raízes e sementes, capacitando-as a desenvolver a arte da medicina, distinta da mágica dos religiosos e shamans.
Desde os primórdios, foi a mulher que em primeiro tratou no sentido de cuidar e de medicar. Collière (1989), compartilha esta idéia, ao referir a esquecida associação das mulheres com a farmacologia. Mulheres ao longo da história, além das práticas do cuidado, relacionado as funções reprodutivas, desempenharam cuidados aos incapacitados e idosos, dedicando-se a educação dos filhos, a manutenção da casa, ao preparo dos elementos e muitas culturas a de medicamentos caseiros.
A cultura américo-japonesa apresenta significados de cuidar e modos de ação da seguinte maneira: Respeito pela família, com os mais velhos e com o grupo de trabalho, cumprindo com as obrigações parentais e de trabalho; Preocupação com os outros e com o grupo de trabalho, protegendo e cuidando; Controle das emoções, mostrando indulgências com os cuidadores tanto jovens quanto velhos;
Limpeza pessoal; Resistência a dor e ao estresse, utilizando terapias populares; Tranquilidade e passividade; Interesse em relação as queixas físicas e cuidado com os outros para obter afeição. A tranquilidade e passividade parecem ser o resultado de um mecanismo de autocontrole e visa à afeição. São bastantes respeitosos com a autoridade familiar, grupo e com os idosos.
A cultura américo-germânica apresenta como significados de cuidar e conseqüentes modos de ação: Organização mantendo as coisas em seus lugares e trabalhando com afinco; Limpeza e asseio; Ajudar os outros oferecendo ou facilitando a assistência; Obediência as regras e pontualidade; Proteção aos outros contra danos e contra estranhos
Manutenção de autocontrole; Alimentação correta, observando o descanso e aeração; Boa disposição, mostrando-se sorridente. Fica evidente o valor dado ao trabalho, à organização, a limpeza e ao controle. Nessa cultura, pode-se deduzir a valorização da independência e a necessidade de ser útil.
A cultura américo-italiana, por sua vez, apresenta como significado de cuidado consequentes modos de ação: Bem-estar da família, mantendo-a saudável e ativa e dando apoio; Integridade familiar, protegendo os nomes e os bens compartilhando entre seus membros; Envolvimento com a família através dos negócios da família e nas suas diversas atividades;
Presença através de contatos, toques e muitos abraços; Expressão livre através da linguagem e de gestos; Ingestão de comidas italianas frescas e muito vinho. Na cultura italiana, a família é o ponto central, tudo gira em torno dela. Todos são bastantes afetivos entre si, tocando-se e comunicando-se bastante.
Considerando os elementos de cuidado humano, tais como: amor, solidariedade, respeito, honestidade, fica difícil caracterizar a população brasileira. Certamente os fatores sociais contribuem para impedir que esses elementos façam parte da maioria da população marginalizada, desfavorecida. Como é o caso dos idosos no nosso país.
No Brasil, na época da colonização, os jesuítas eram os responsáveis por esta prática, pois tinham formação e conhecimento médico. Entre os nosso indígenas, os pajés eram os detentores do saber no que se referisse ao corpo e ao espírito. Com a institucionalização do cuidado e, mais tarde, com os primeiros hospitais que treinavam para atender os doentes, observa-se a predominância do elemento feminino até culminar com a formalização do seu ensino por Florence Nightingale e com a aceitação exclusiva de moças.
Como o cuidar tem sido historicamente associado a uma função feminina de prestação de serviço de natureza servil, de menos valor, talvez por esta razão a enfermagem tenha se desenvolvido de forma subordinada a outras profissões (principalmente a medicina) e como a ação complementar e/ou auxiliar.
As ações de enfermagem cuidado -, exerce efeitos tais como: uma banho no leito, uma boa higienização após usar as alimentações, posicionamento e tantas outras ações consideradas simples, provocando conforto e bem-estar, inclusive ouvir e conversar, além de auxiliarem, sobremaneira, na integridade, não só física mais moral, e na autoestima da clientela. Infelizmente, muitos profissionais as rejeitam e não respeitam os desejos e necessidades do ser cuidado, pois evitam essas ações ou as realizam de forma grosseira, inábil e desleixada, em função de desculpas como sobrecarga do trabalho, de falta de tempo e de sua próprias necessidades, ou melhor, de suas dificuldades em relação a elas. Considera-se, inclusive, que atitudes que seriam compatíveis com descuidado configuram-se como uma total falta de compromisso e envolvimento com o cuidado.
A humanização ocorre pelo cuidado, por ser o cuidado a essência do ser que o torna, assim, humanizado.
Assim, no cuidado humano, existe um compromisso, uma responsabilidade em estar no mundo, que não é apenas para fazer aquilo que satisfaz, mas para ajudar a construir uma sociedade com base em princípios morais.
A enfermagem, no Brasil, não muito diferentes de outros países, passou a desvalorizar o cuidado atendendo a uma ideologia da cura. As ações curativas ocupavam a maior parte das atividades, utilizando se tecnologia mais sofisticadas.
Almeida (1986) diz o saber da enfermagem, ao mesmo tempo em que quer se tornar cientifico, procura essa cientificidade na aproximação com o saber médico, consequentemente, com sua autoridade. A década de 50 trouxe modificações no cenário da enfermagem nos EUA, de onde a enfermagem brasileira tem se inspirado.
A introdução da alta tecnologia tem um forte impacto hospitalar. A eficiência em administrar tratamentos sofisticados e novos medicamentos tornam a ação de enfermagem mais complexas. Leininger (1991) refere que o culto à eficiência e fez com que as praticas de enfermagem ganhassem um certo prestígio, porém bastante dependentes das prescrições e ordens médicas. Isso reforçou a imagem de atividade auxiliar de medicina, que passou a delegar muitas de suas intervenções à enfermagem.
A função administrativa ou melhor, de gerenciamento, surge as auxiliares de enfermagem neste cenário que são preparadas para prestarem o cuidado de enfermagem auxiliado nas tarefas menos complexas pelos atendentes de enfermagem. Na década de 1960 surge o técnico de enfermagem neste cenário.
Nas escolas de enfermagem, o ensino continua priorizando o conhecimento médico, acrescido de uma ênfase nas teorias administrativas, priorizando as ações de planejamento, organização e supervisão do cuidado administrado pelas demais categorias trabalhadoras.
Na década de 1970, a metodologia do processo de enfermagem é introduzida no Brasil, principalmente nos hospitais universitários que servem de campo de práticas para as escolas de medicina e enfermagem.
Esse cuidado favorece a convergência que, além de ciência e de arte, inclui a tecnologia, aqui entendida como a utilização da série de equipamentos, materiais e técnicas necessárias para as ações de enfermagem. É, entretanto, uma profissão que lida com o ser humano, interage com ele e requer o reconhecimento de sua natureza física, social e psicológica e suas aspirações espirituais. O ser humano em sua relação com o meio ambiente deve ser visto como um ser em constante evolução, em processo de vir a ser.