AULA 01: Pessoa natural: conceito, capacidade e incapacidade, começo e fim, direitos da personalidade.

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Transcrição:

AULA 01: Pessoa natural: conceito, capacidade e incapacidade, começo e fim, direitos da personalidade. Olá queridos alunos! Se nós estamos tendo este segundo contato é sinal que a sua confiança em nosso trabalho foi depositada e, portanto, esperamos poder corresponder da melhor forma possível. Não se assuste com o numero de páginas desta aula, não se trata de uma aula teórica muito longa, mas incluímos muitas questões e detalhamos as explicações, porque, como já falamos anteriormente, é fundamental que você saiba o que é cobrado nas provas. Nesta aula 01 vamos aprender a respeito das pessoas naturais, ponto muito importante de nosso estudo, tendo em vista que o ordenamento jurídico, as relações privadas e, por consequência, também o Código Civil, giram em torno das pessoas. Como estas pessoas possuem direitos e obrigações, o ordenamento jurídico procura normatizar, regulamentar, dar ordem, enfim, busca organizar a sociedade. Organizar, particularmente, a vida de cada indivíduo e consequentemente a própria sociedade. É muito importante que existam maneiras de se agir e de formar relações, para que tudo siga uma ordem, pois, a vida seria um verdadeiro caos sem estes parâmetros de conduta. Então, podemos perceber que as pessoas são o começo de tudo. Para que consigam exercer seus direitos e cumprir com suas obrigações, existem regras que vamos estudar a partir de agora. Incluiremos também, nesta aula, o assunto domicílio, no que diz respeito à pessoa natural (embora domicílio não constasse expressamente do edital passado de AFT, julgamos prudente inseri-lo nesta aula, pois está relacionado a individualização da pessoa natural). Mas para o direito o que são as pessoas? Em nosso estudo iremos utilizar a conceituação jurídica, onde pessoa é o ente físico ou moral, susceptível de direitos e obrigações, é o sujeito de relação jurídica, sujeito de direito. Quanto às pessoas, duas são as espécies, quais sejam: a ¹pessoa natural (o ser humano) e a ²pessoa jurídica (agrupamento de seres humanos com fins e interesses comuns). Nesta aula trataremos da pessoa natural, deixando o assunto pessoa jurídica para a nossa próxima aula. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 87

- Pessoas Naturais: O primeiro conceito fundamental do direito privado é o de pessoa. Como vimos acima, pessoa natural 1 é o ser humano, o único ser vivo que pode ser titular de relações jurídicas, sujeito de direitos e obrigações. No entanto, aplica-se às chamadas pessoas jurídicas (assunto da nossa próxima aula), no que couber, a proteção dos direitos da personalidade (CC art. 52). Assim, logo no artigo 1º do Código Civil temos: CC Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Quando utilizamos a expressão toda pessoa queremos dizer homem, mulher, idoso, criança e independente de cor, credo... É sujeito de direito, portanto ente dotado de personalidade, como expresso em seguida no artigo 2º, que diz: CC art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção os direitos do nascituro. Importante observar que; a personalidade é qualidade de quem é sujeito de direitos, sendo adquirida no momento do nascimento com vida 2 e encerrada com a morte da pessoa. Quem é pessoa tem personalidade jurídica. Ok, mas o que quer dizer exatamente a segunda parte do artigo? Quem é o nascituro? Nascituro é o feto, que esta dentro do ventre da mãe e que ainda vai nascer. Não possui personalidade jurídica, mas a lei assegura seus direitos desde a concepção. É uma expectativa de direito, se nascer com vida os direitos retroagem a sua concepção. Embora não tenha personalidade é dotado da chamada humanidade (tem natureza humana). Assim, a personalidade de uma pessoa e sua consequente capacidade de direitos e deveres começa no nascimento com vida e, neste sentido, temos a Resolução n. 1 de 1988 do Conselho Nacional de saúde sobre nascimento com vida: expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta. 1 Também pode ser encontrada a denominação, para pessoa natural, de pessoa física. 2 Quando acontece de a criança nascer morta (natimorto), não adquirindo assim a personalidade civil (qualidade de quem é sujeito de direito), ela não terá uma certidão de nascimento, será registrada em um livro auxiliar; se a criança nascer viva e depois vier a falecer, mesmo que seja por segundos, esta criança terá uma certidão de nascimento, pois adquiriu a personalidade civil (nasceu com vida) e posteriormente uma certidão de óbito. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 87

Para o direito civil nascer com vida é respirar. Comprovado que a criança respirou, nem que seja por um breve momento, houve personalidade. Independente de discussões doutrinárias a respeito de quando realmente se inicia a personalidade, para fins de prova segue-se o que está disposto no artigo 2º, esta começa do nascimento com vida. Voltando ao artigo 1º, quando diz: Toda pessoa é capaz... - podemos perceber a primeira noção de capacidade, que é a maior ou menor extensão dos direitos e obrigações. (é como se estivéssemos medindo estes direitos e obrigações) Então vamos por partes: Capacidade exprime poderes ou faculdades; personalidade é a resultante desses poderes; pessoa é o ente a quem a ordem jurídica outorga esses poderes 3. A personalidade tem sua medida na capacidade e para termos esta medida é necessário diferenciar a capacidade de direito (de gozo) da capacidade de fato (de exercício). À capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações na vida civil, dá-se o nome de capacidade de gozo ou de direito. Ela é inerente à pessoa humana, sem isto se perde a qualidade de pessoa, e neste sentido tem a mesma significação de personalidade. Porém, esta capacidade de direito pode vir a sofrer restrições legais (limitações), por causas diversas, no seu exercício. À capacidade de exercer por si mesmo os atos da vida civil se dá o nome de capacidade de fato ou de exercício. São muitas informações, vocês podem explicar mais devagar? Claro. Vamos com calma então. Até o momento, o seu entendimento a respeito do assunto deve ter sido o seguinte: A pessoa natural é o ser humano, que ao nascer com vida, adquire personalidade civil, capacidade jurídica, considerado, então, como sujeito de direitos e obrigações. Como a capacidade é limitada, para termos a medida da personalidade se faz necessário distinguir a capacidade. Esta pode ser de duas espécies: a primeira ¹de gozo ou de direito, que é aquela oriunda da personalidade, que é inerente à pessoa; e a segunda ²de 3 Washington de Barros Monteiro, Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto, Curso de direito Civil 1, 43 ed. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 87

fato ou de exercício, que é a capacidade de exercer estes direitos, por si só, na vida civil. Então, uma pessoa quando nasce, adquire personalidade e também, por consequência, a capacidade de gozo ou de direito, porém, não adquire a capacidade de fato ou de exercício, tendo em vista que um recém-nascido não consegue exercer estes direitos por conta própria. Quando este crescer e for uma pessoa saudável, em regra ao completar 18 anos vai possuir, então, as duas capacidades, a inerente a sua condição de ser humano - personalidade, e a plena capacidade de exercer por ele mesmo estes direitos. Tendo em vista o que acabamos de ver, podemos concluir que a capacidade jurídica de uma pessoa natural é limitada, pois a pessoa pode gozar de um direito, sem, no entanto, ter seu exercício. Capacidade de direito (ou de gozo) É inerente ao ser humano Já: A Capacidade de fato (ou de exercício) leva em conta critérios como: Idade Estado de saúde A capacidade de direito precede a capacidade de fato e esta última, sim, não pode subsistir sem aquela. 1º-Capacidade de gozo ou de direito 2º-Capacidade de fato ou de exercício Se a capacidade é plena a pessoa estará conjugando tanto a capacidade de direito (gozo) como a de fato (exercício). Vamos agora, então, estudar os casos onde a pessoa natural possui o gozo de um direito, porém não possui a capacidade de exercê-lo por si mesma. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 87

-Incapacidade: Incapacidade é a restrição legal para determinados atos da vida civil. Todas as incapacidades estão previstas em lei, neste sentido temos que falar que a capacidade da pessoa natural é a regra, sendo a incapacidade a exceção. Informação ESAF (2001/SEFAZ-PI/AUDITOR): A capacidade é a regra e a incapacidade é a exceção Você precisa estar atendo a um detalhe: não há que se confundir o instituto da incapacidade com a proibição legal de efetuar certos negócios jurídicos 4 com certas pessoas ou com relação aos bens a elas pertencentes. Esta proibição atribui falta de legitimidade a pessoa e não incapacidade. Preste atenção na distinção dos conceitos de capacidade e de legitimação. Uma pessoa que possui capacidade de fato pode por vezes não ter legitimidade para praticar um negócio jurídico, p.ex.: a proibição de um pai vender um bem para um filho sem a autorização dos demais filhos, se os tiver, e da sua esposa. Perceba que, no exemplo dado, o pai é uma pessoa natural, com plena capacidade, como veremos melhor mais adiante, entretanto, o ato de venda é ilegítimo, falta legitimidade. Veja alguns exemplos de falta de legitimidade encontrados no código civil: CC Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda.... CC Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; A legitimação acaba por ser uma forma específica de incapacidade para determinados atos da vida civil. Está legitimado para agir em determinada situação jurídica quem a lei determinar 5. De acordo com Maria Helena Diniz 6 : O instituto da incapacidade visa proteger os que são portadores de uma deficiência jurídica apreciável, graduando a forma de proteção que para os absolutamente incapazes (CC, art.3º) assume a feição de representação, uma vez que estão completamente privados de agir juridicamente, e para os relativamente incapazes (CC, art.4º) o aspecto de assistência, já que 4 O assunto será abordado em nossas próximas aulas. 5 Sílvio de Salvo Venosa, Direito Civil I, Parte Geral, p. 135. 6 Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro 1. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 87

têm o poder de atuar na vida civil, desde que autorizados. Por meio da representação e da assistência, supre-se a incapacidade, e os negócios jurídicos realizam-se regularmente. (grifos nossos) Absolutamente incapazes Relativamente capazes são representados são assistidos Devagar! Então quer dizer que há mais de um tipo de incapacidade? Exatamente e estes dois tipos diferenciam-se basicamente pela sua gradação. Trata-se da incapacidade absoluta e da incapacidade relativa. Vejamos: 1. incapacidade absoluta: será absoluta a incapacidade quando uma pessoa ficar proibida de exercer por si só o direito. Se esta proibição não for respeitada será nulo qualquer ato praticado pelo incapaz. Neste tipo de incapacidade a pessoa natural tem direitos, ou seja, tem capacidade de gozo ou de direito, mas não possui a capacidade de fato ou de exercício, pois, sozinha não poderá praticar atos da vida civil, precisará para tanto estar representada. Está normatizado no artigo 3º do CC: CC art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I os menores de 16 (dezesseis) anos; II- os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Incapacidade Absoluta I. Menores de 16 anos II.Não tiverem o necessário discernimento (por enfermidade ou deficiência mental) III.Não puderem exprimir sua vontade (mesmo que por causa transitória) I. O primeiro caso de incapacidade absoluta é o dos menores de 16 anos, tendo em vista sua pouca idade e reduzida experiência de vida. Até esta idade julga-se não ter uma pessoa desenvolvimento mental completo e também o correto discernimento para escolhas, podendo ser facilmente influenciada por outrem. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 87

II. O segundo caso de incapacidade absoluta é o dos que por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos. Qualquer que seja a causa da perturbação psíquica, seja ela congênita 7 ou adquirida, desde que impeça o entendimento e a formação da vontade da pessoa e que não seja passageira, mas sim, permanente e irreversível, mesmo que não seja contínua (podendo a pessoa alterar estado de lucidez com estado de perturbação) vai estar neste caso de incapacidade absoluta. Exemplos: demência ou fraqueza mental senil, alienados mentais, maníacos. Estas pessoas devem ser representadas por um curador 8. CC Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;... III. Por fim temos o terceiro caso, a chamada incapacidade absoluta transitória, que é a incapacidade daqueles que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Este caso é diferente do anterior, pois aqui a pessoa possui vontade, mas não sabe como ou, então, não consegue exprimi-la. Exemplo clássico é o de estado de embriaguez temporária, onde a pessoa devido ao seu estado alcoólico não consegue compreender o ato; ou quando uma pessoa se encontra em estado de coma induzido. Trata-se de estados transitório onde a pessoa não pode expressar sua vontade, mesmo que a tenha. Atos praticados diretamente por absolutamente incapaz são nulos, pois estes deveriam ser representados. 2. Incapacidade relativa as pessoas menores não podem exercer autonomamente os atos da vida civil, pois necessitam de assistência. Existem, porém, atos que estes podem praticar sozinhos. Os maiores de 16 anos e menores de 18 podem, por exemplo: aceitar mandato, fazer testamento, ser testemunha em atos jurídicos, votar. Vamos começar pelo artigo 4º: CC art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos; 7 Doenças congênitas são aquelas com as quais a pessoa já nasce. 8 Os institutos da tutela e da curatela fazem parte do Direito da Família. Para fins de seu concurso, tendo em vista o edital, você pode apenas ter uma noção geral; tutela aplicase a menoridade civil, já a curatela aplica-se aos demais incapazes que apresentam problemas para exercer por si só os atos da vida civil. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 87

II os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III os excepcionais sem desenvolvimento mental completo; IV os pródigos. Paragrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Incapacidade Relativa I. maiores de 16 e menores de 18 anos II. ébrios habituais e os viciados em tóxico II. dicernimento reduzido (no caso daqueles que tem deficiencia mental) III. excepcionais sem desenvolvimento mental completo IV. pródigos I. O primeiro caso de incapacidade relativa é dos maiores de 16 anos e menores de 18 anos, pois aos 18 anos, de acordo com o novo Código de 2002, adquire-se a capacidade plena para os atos da vida civil. A pessoa relativamente capaz para praticar determinados atos vai precisar ser assistida por quem a lei autorizar, em razão de parentesco, de relação de ordem civil ou designação judicial. Mas atenção, o menor relativamente incapaz pode praticar livremente diversos atos e equiparar-se ao maior no que se refere a outros, vejamos algumas situações encontradas no código civil: CC Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. CC Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximirse de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. CC Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. CC Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazêlo, não tiverem pleno discernimento. Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos. II. O segundo caso de incapacidade relativa é dos ¹ébrios habituais, dos ²viciados em tóxicos e dos que, por ³deficiência mental, tenham discernimento reduzido. Quaisquer que sejam as drogas: álcool, cocaína, crack, maconha, anfetamina, pois o uso prolongado como todos bem sabem, vicia, Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 87

produz dependência química e física, comprometendo também sua capacidade mental. Ainda neste inciso, temos também, a figura dos deficientes mentais, com discernimento reduzido. Preste atenção: para estar na incapacidade relativa o deficiente mental deve ter um discernimento reduzido, portanto ele deve possuir algum entendimento das coisas e da vida. Se não possui discernimento algum, estamos diante de incapacidade absoluta. III. O terceiro caso de incapacidade relativa é dos excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, neste grupo podem estar os fracos de mente e os portadores de anomalia genética congênita (portadores, por exemplo, de síndrome de Down). IV. Por fim, terminando o rol das pessoas naturais que possuem capacidade relativa, temos o pródigo. Embora o código civil não defina o que seja pródigo, este é aquela pessoa que desordenadamente gasta, acaba com seu patrimônio, ficando na miséria. Cabe ressaltar que enquanto não houver uma sentença declarando o estado de prodigalidade, e tornando-o relativamente incapaz, o pródigo é capaz de todos os atos da vida civil. Com sua interdição, o pródigo será privado, exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimônio, não podendo, sem a assistência de seu curador (artigo 1.767, V do CC), alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipotecar, agir em juízo e praticar, em geral, atos que não sejam de mera administração (artigo 1.782 do CC). Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V - os pródigos. Art. 1.768. A interdição deve ser promovida: I - pelos pais ou tutores; II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III - pelo Ministério Público. Informação ESAF (IRB/ADVOGADO/2006): O pródigo é considerado, se sofrer interdição, relativamente incapaz, estando privado, sem assistência de curador, da prática de atos que possam comprometer seu patrimônio. CPC Art. 1.186. Levantar-se-á a interdição, cessando a causa que a determinou. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 87

Continuando! No parágrafo único do art. 4º do CC temos os índios, regidos por legislação específica, por sua inacessibilidade a vida na cidade apesar de muitos já estarem bem adaptados à vida urbana, possuem uma educação lenta e difícil, por este motivo o legislador criou um sistema de proteção que os defende das pessoas que queiram enganá-los ou fazer-lhes mal. Cc art. 4º... Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Como ficou a questão da incapacidade então? Incapacidade absoluta, é aquela onde a pessoa é incapaz de manifestar sua vontade, serão representados para todos os atos da vida civil, acarretando a nulidade do ato, ato nulo, se praticado sem seu representante; Incapacidade relativa, é aquela onde a pessoa pode praticar atos da vida civil, desde que devidamente assistida por quem a represente de direito, podendo o ato ser anulável se desrespeitada esta norma. Atenção: Em várias das hipóteses de incapacidade apontadas caberá ao juiz analisar o caso concreto auxiliado por perícias médicas, que darão o grau de discernimento da pessoa em cada caso. Desta forma é na medicina que se encontrará o justo grau de incapacidade da pessoa. Absolutamente incapaz deve ser representado se não for, o ato é nulo. Relativamente capaz deve ver assistido se não for, o ato é anulável. - Cessação da incapacidade: Em regra, a incapacidade cessará (terminará) se as situações que a determinavam desaparecerem, caso contrário permanece a incapacidade. Vamos ao CC artigo 5º: CC Art. 5 A menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, quando a pessoa fica habilitada a prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único: Cessará, para os menores, a incapacidade: I pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos; II pelo casamento; III pelo exercício de emprego público efetivo; IV pela colação de grau em curso de ensino superior; Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 87

V pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha economia própria. O novo Código Civil antecipou a maioridade para 18 anos no Código de 1916 esta era de 21 anos, com isso os jovens assumem mais cedo as suas responsabilidades perante si próprios, não precisam mais ser representados ou assistidos para os atos da vida civil, como também assumem suas responsabilidades perante terceiros pelos danos que vierem causar. Houve no código novo a equiparação da maioridade civil com a penal, trabalhista e eleitoral. No paragrafo único é falado da cessação da incapacidade antes dos 18 anos vocês poderiam explicar melhor isso? Claro. É possível que cesse a incapacidade para os maiores de 16 anos e menores de 18 anos pela emancipação do menor. Emancipar é antecipar os direitos que o maior de 16 anos só conquistaria quando completasse 18 anos, é dar-lhe a capacidade plena. A emancipação pode ser ¹Voluntária, quando se dá por concessão de ambos os pais (art. 5º inciso I, primeira parte); ²Judicial, quando por sentença do juiz (art. 5º inciso I, segunda parte); e pode ser ³Legal que é quando a incapacidade cessa por expressa determinação da lei (art. 5º incisos II, III, IV e V). A emancipação voluntária é a dada pelos pais, ou por um deles na falta do outro, através de um instrumento público feito em cartório, neste caso devemos frisar que é desnecessária a homologação judicial. A emancipação voluntária é ato unilateral de concessão realizado por ambos os pais, não exige a intervenção do filho emancipado para aperfeiçoamento e validade do ato, é feita mediante instrumento público, independente de homologação judicial, desde que o menor já tenha completado 16 anos. Observe que no artigo está a palavra concessão que traz em si a ideia de benefício, ou seja, a emancipação não é um direito do menor. Será judicial por uma sentença do juiz caso o menor seja tutelado 9. Tanto a emancipação por outorga dos pais quanto a emancipação por sentença do juiz serão registradas em registro público. 9 Como falamos anteriormente, em outa nota de rodapé, isto é assunto de Direito da Família. Neste caso o menor tutelado é o que possui um tutor por terem os seus pais falecido, terem sido declarados ausentes, ou então, tenham perdido o pátrio poder. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 87

Esquematizando Emancipação ¹Voluntária e ²Judicial: ¹Se pelos pais instrumento público desnecessária a homologação judicial. ²Por sentença do juiz ouvido o tutor. Os casos arrolados nos incisos II, III, IV e V, são os de emancipação legal, determinados por lei, vamos a eles: Casamento - Não é cabível, que uma pessoa, que de acordo com a lei, já esteja apta a formar uma família, ainda fique sob a tutela de outrem. Pela lei, mediante autorização dos pais podem os maiores de 16 anos casarem: CC Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. Importante destacarmos que, mesmo que haja viuvez, separação ou divórcio, ao emancipado não retorna a incapacidade. Caso o casamento seja nulo, não há de se falar em retorno da incapacidade, pois nesse caso não houve emancipação. O ato não foi válido e o relativamente incapaz assim permanece. Então atenção! Depois que uma pessoa é emancipada ela não poderá voltar ao seu estado anterior de incapacidade. A emancipação uma vez concedida é irrevogável, não volta atrás. É, também, definitiva, a pessoa não pode desistir dela (é como fazer uma tatuagem, uma vez feita não se pode voltar atrás e, também, não se pode desistir depois de pronta). Entretanto, se nestes casos de emancipação legal houver alguma falha na condição exigida por lei, haverá a nulidade ou anulabilidade dependendo do caso. Por exemplo: se no caso de emancipação pelo casamento emancipação legal (está prevista em lei) verificar-se depois da cerimônia, que a autorização que a lei exige dos pais era falsa, haverá nulidade do ato. O casamento não aconteceu para o direito, então, por consequência, a emancipação também não. Emancipação por emprego público - Só se beneficiam os nomeados em caráter efetivo. Curiosamente vejamos o que diz a Lei 8112/90 que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais: Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo público:... V - a idade mínima de dezoito anos; Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 87

Como estados e municípios, via de regra, também, seguem este requisito, idade, acaba-se por inviabilizar, na maioria dos casos, que o menor de 18 anos possa adquirir a maioridade pelo exercício de emprego público efetivo. Emancipação adquirida por meio de colação de grau em curso superior. Dificilmente será conseguida, tendo em vista a extensão do ensino fundamental e médio, mas, caso ocorra, independe da idade (isto inclusive já foi objeto de questões de provas). Por último, haverá emancipação se o menor com 16 anos completos tenha economia própria, ¹pelo estabelecimento civil ou comercial, ou ²pela existência de relação de emprego. Observações importantes: Em regra, a emancipação é irrevogável e definitiva. Em qualquer dos casos a emancipação vale apenas na esfera civil. É irrelevante, por exemplo, na órbita penal. - Extinção da personalidade natural Toda existência, a princípio, tem começo e fim. Com a personalidade não é diferente. Já vimos que a personalidade se inicia do nascimento com vida. Mas quando ela termina? A resposta para esta questão está no artigo 6º do CC: CC art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. A pessoa natural, assim como a sua personalidade, tem seu fim com a morte, tendo em vista que esta nasce com aquela, ou seja, a personalidade nasce com a pessoa natural e tem fim com a sua morte. A morte tem como consequência imediata a cessação de direitos e obrigações de que o de cujus (o morto) era titular. Todavia, sua vontade sobrevive por meio de seu testamento. Também, na última parte do artigo 6º, temos a morte presumida relativa aos ausentes 10. 10 Ausentes são as pessoas que se ausentaram ou se afastaram de seu domicílio regular sem deixar procurador ou representante legal, e das quais não se tenha notícias. Porém não basta a simples não presença para configurar a ausência, é necessária a falta de notícia do ausente, de modo que haja dúvidas quanto a sua existência, bem como a declaração judicial desse estado. O instituto da ausência é um instrumento jurídico que tem por escopo proteger os interesses daquele que se ausentou, por meio da curadoria do ausente. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 87

O artigo 7º assim dispõe sobre a morte presumida sem a decretação da ausência: CC Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Fim da Pessoa Natural: A morte pode ser: 1.Real - quando há um corpo. 2.Presumida não há corpo. com ou sem decretação de ausência. É importante você observar que o código admite a morte presumida com ou sem decretação de ausência. A existência da pessoa natural cessa com a morte, real ou presumida, devidamente registrada em registro público, assim como havia sido registrado anteriormente o seu início (nascimento). CC Art. 9 o Serão registrados em registro público: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. CC Art. 10. Far-se-á averbação em registro público: I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal; II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação. Memorize quando ocorre registro e quando ocorre averbação, isto já foi cobrado em provas. O artigo 8º do CC faz referência à morte simultânea ou comoriência, muito cobrada em concurso, portanto preste bastante atenção: CC art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumirse-ão simultaneamente mortos. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 87

A comoriência está intimamente ligada ao direito de família e ao direito sucessório. Para este último é de suma importância que se saiba quem morreu primeiro, ou se os dois morreram ao mesmo tempo. O artigo expressa a ideia de que na dúvida presume-se o falecimento conjunto. Na comoriência há morte de duas ou mais pessoas na mesma ocasião e por força do mesmo evento, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das outras. Observação: Temos ainda em nosso ordenamento alguns resquícios do que se chamava morte civil antigamente os condenados a penas perpétuas e os religiosos professos eram considerados mortos para o mundo e assim tratados pelo direito. Mesmo estando vivos, eram considerados mortos aos olhos da lei. Um exemplo deste resquício está no artigo 1.816 do CC: CC art. 1816 São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. Na morte civil, a pessoa ainda tem vida, porém está morta para alguns direitos e obrigações civis. Como no caso do artigo visto acima art. 1.816 o filho que foi excluído da herança pelo pai. Seus herdeiros, ou seja, os filhos do filho deserdado, receberão a herança do avó como se o pai fosse morto. É um resquício da morte civil, pois a pessoa só está morta para alguns direitos e obrigações. O fato é que existe esta possibilidade de um pai negar a seu filho a herança, está no CC, mas não vem ao caso seu estudo mais detalhado, por não constar do seu edital o direito das sucessões. - Individualização da pessoa natural Neste item vamos estudar como se dá a diferenciação das pessoas na vida civil, ou seja, como se individualiza um indivíduo perante a sociedade, a família e nas relações civis. A identificação da pessoa natural se dá sob três aspectos: pelo ¹nome, que a individualiza; pelo ²estado, que define sua posição na sociedade política e na família; e pelo ³domicílio, que vem a ser o lugar de sua atividade social (definido em lei, é conceito jurídico). - Nome É um dos mais importantes atributos e também direito da personalidade, por ser o elemento identificador por excelência das pessoas. É o sinal exterior pelo qual se identifica; se reconhece a pessoa na família e na sociedade. O aspecto público do direito ao nome advém do fato de estar ligado ao registro da pessoa natural, já o aspecto individual advém da Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 87

autorização que tem a pessoa de usá-lo e de ser chamada por ele. Neste sentido é proibida a utilização sem autorização, de nome alheio em propaganda comercial, promovendo venda de bens ou serviços (artigo 18 do CC), esta proteção também se estende ao pseudônimo ou codinome, comuns no meio literário e artístico 11. CC Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Dois são os elementos constitutivos básicos do nome: o ¹prenome individual de cada pessoa, e o ²patronímico, nome de família ou sobrenome comum a todos que pertencem à mesma família. Sobre este assunto temos no Código Civil o artigo 16: CC art 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome. Por vezes, tem-se o agnome que é o sinal distintivo que se acrescenta ao nome completo, por exemplo: Filho, Júnior, Neto, Sobrinho. Ao lado destes elementos constitutivos básicos há também os secundários como: títulos nobiliárquicos ou honoríficos (p.ex. conde, duque), títulos eclesiásticos (padre, cardeal), qualificativos de dignidade ou identidade oficial (senador, juiz), títulos acadêmicos e científicos (mestre, doutor) e formas de tratamento de cortesia ou de reverência ( Vossa Santidade, Vossa Excelência). Alcunha ou epíteto é a designação dada a alguém em virtude de alguma particularidade sua que se integra de tal maneira à personalidade que, sob certas condições e se não for jocoso, pode ser acrescentado ao nome da pessoa. Um exemplo disso é o do nosso ex-presidente Lula. Hipocorístico é o nome que se dá para expressar carinho, como por exemplo: Nando para Fernando; e nome vocatório é o encurtamento do nome e pelo qual a pessoa passa a ser conhecida. O prenome pode ser simples em nomes como João, Gabriel, ou duplos como: José Antônio, Ana Clara. Pode ainda ser triplo ou quadruplo como nas famílias reais. O prenome pode ser livremente escolhido, desde que não exponha a pessoa ao ridículo, e nestes casos o oficial do registro pode se recusar o registro. Já o sobrenome, patronímico, é que identifica a procedência da pessoa, identificando sua filiação, sendo por este motivo imutável, não podendo ser livremente escolhido, pode vir do apelido de família paterno, materno ou de ambos. Também pode ser simples (Silva, Baptista) ou 11 Há também o heterônimo que vem a ser nomes diferentes utilizados pela mesma pessoa, como casos de escritores que escrevem utilizando seu próprio nome, mas também publicam livros com um nome fictício, virtual. Ambos são nomes do mesmo autor e estão protegidos por lei. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 87

composto (Souza Mello), podendo ainda ser acompanhado das partículas de, do, da, dos e das. Os apelidos de família, ou sobrenome, são adquiridos pelo simples fato de nascer naquela família, tendo em vista que o registro de nascimento tem caráter declaratório. Mas sua aquisição também pode se dar por ato jurídico como a adoção, casamento. Com a adoção, o adotado não pode continuar com o sobrenome de seus pais biológicos, visto que há a destituição do pátrio poder 12, sendo obrigado a ter o sobrenome dos adotantes. Com o casamento, qualquer dos noivos, tanto o homem quanto a mulher, tem o direito de acrescer ao seu sobrenome o do outro. Direito este que se perde em caso de anulação do matrimônio, ou por deliberação em sentença de separação judicial se declarado culpado, voltando a utilizar o sobrenome de solteiro. Importante: A princípio o nome é inalterável, sendo este um princípio de ordem pública. Mas há casos em que este princípio sofre exceções, quais sejam: 1.Quando expuserem seu portador ao ridículo e a situações vexatórias, desde que se comprove o dano; 2.Quando houver erro grave evidente (neste caso trata-se mais de uma retificação de prenome do que uma alteração); 3.Quando causar embaraços no setor eleitoral ou em atividade profissional; 4.Quando houver mudança de sexo; 5.Quando houver apelido público notório, que pode vir a substituir o prenome, se for conveniente e não proibido em lei; 6.Quando for necessário para proteção de testemunhas ou vítimas, se estendendo para o cônjuge, filhos, pais, dependentes, mediante requerimento ao juiz competente para registros públicos, ouvido o Ministério Público (cessada a coação ou ameaça a pessoa pode pedir o retorno ao seu nome originário); 7.Quando houver parentesco de afinidade em linha reta, quando um enteado ou enteada quiser adotar o sobrenome do padrasto ou da madrasta. Isso é possível, desde que haja a concordância do padrasto ou da madrasta e sem o prejuízo de sobrenomes de família (não há necessidade de o menor esperar ate completar a maioridade para pedir a alteração de seu nome, basta que seja representado ou assistido). - Estado (status) da pessoa natural Estado da pessoa natural, é seu modo particular de existir, é a posição jurídica da pessoa na sociedade, conjunto de atributos que a 12 Direito da Família. Como é chamado o poder dos pais em relação a seus filhos Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 87

pessoa detém e desempenha na sociedade. Toda pessoa tem um estado, do qual resultam suas relações jurídicas. Este estado pode ser classificado sob três diferentes ângulos: estado ¹individual ou físico; estado ²familiar; e estado ³político. Vamos a eles: Estado individual ou físico é o que diz respeito à constituição física ou orgânica da pessoa. Sua idade, se este é maior ou menor; sexo, feminino ou masculino; sua saúde, se é portador de alguma síndrome ou doença que o torne especial ou que o impossibilite de expressar suas decisões. São os aspectos da pessoa como ser humano. Estado familiar é a posição que a pessoa ocupa dentro da família. No que concerne ao matrimônio; se é casada, solteira, viúva, divorciada. Quanto ao parentesco sanguíneo; se é pai, mãe, filho, avó, neto, sobrinho. Quanto à afinidade; se é sogro, genro, madrasta, cunhado. Diante da grande importância destes dois estados da pessoa, os artigos 9º e 10 do CC estabelecem que todos os atos que importem em alteração, criação ou extinção do estado individual e familiar das pessoas naturais, devem ser registrados em registro público, para que qualquer pessoa que precise da informação a encontre, vejamos estes dois artigos novamente: Art. 9º Serão registrados em registro público: I os nascimentos, casamentos e óbitos; II a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. Art. 10 Far-se-á averbação em registro público: I das sentenças que decretarem a nulidade ou a anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal; II dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação. Estado político é qualidade que advém da posição da pessoa na sociedade politica, as pessoas podem ser ¹estrangeiras, ²nacionais (os nacionais dividem-se em brasileiros natos e naturalizados). Os princípios que regram este estado da pessoa se localizam na Constituição Federal e em leis especiais. Como se pode perceber o estado de uma pessoa é a soma de suas características, tanto físicas, como familiares ou políticas, que permitem a sua apresentação na sociedade numa determinada situação jurídica, para que assim possa usufruir de benefícios e vantagens, como também sofrer os ônus e obrigações que dela decorram. Este estado da pessoa provém Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 87

de normas de ordem públicas, que possuem imperatividade 13 e não podem ser alteradas por vontade das partes. Também o estado civil é uno e indivisível, pois uma pessoa não pode ser solteira e casada ao mesmo tempo, ou brasileiro e estrangeiro; é indisponível, são de ordem pública as regras que regulam o estado do indivíduo, porém esta indisponibilidade não acarretará sua imutabilidade. Por último estes estados são imprescritíveis, ou seja, não se consomem com o tempo, pois nascem com a pessoa e com ela vão morrer. A ESAF já afirmou que o estado da pessoa é uno e indivisível, mas que está regra comporta exceções, como no caso da dupla nacionalidade. - Domicílio Como falamos anteriormente, embora domicílio (CC arts. 70 a 78) não constasse expressamente do último edital achamos prudente incluí-lo na aula. O domicílio é onde a pessoa natural está fixada, é uma necessidade jurídica, é um conceito criado por lei, pela necessidade de fixar a pessoa a um determinado lugar, para se ter onde encontrá-la caso seja preciso. O domicilio é diferente de residência e de habitação. Residência é o lugar em que a pessoa habita, é onde a pessoa mora, sua casa. Já habitação ou moradia possui um caráter de transitoriedade, sem ânimo de permanecer. É o caso, por exemplo, quando uma pessoa aluga uma casa no litoral para passar uma temporada. Assim, temos o artigo 70 do CC: CC art. 70 O domicílio civil da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Da leitura deste artigo, percebemos que dois são os elementos característicos do domicílio civil: 1. um objetivo ou material que fixa a pessoa a determinado lugar, 2. outro subjetivo que reside na vontade, no ânimo da pessoa de permanecer neste mesmo lugar. O artigo 72 do CC fala do domicílio profissional, pois, tanto o local da residência como o do exercício da profissão serão considerados domicílio. 13 Normas de ordem pública possuem imperatividade, são impostas, sua obrigatoriedade não pode ser afastada. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 87

CC art. 72 É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes a profissão, o lugar onde esta é exercida. Desde modo temos o domicilio profissional, além da residência, pois é comum que as pessoas morem em um determinado lugar e trabalhem em outro, quando isso acontece tanto o local de sua residência como seu local de trabalho poderão ser considerados como domicílio para efeitos jurídicos relativos a situações que se relacionem. Ainda em seu parágrafo único o art. 72 prevê: Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Exemplificando: uma pessoa possui uma loja de roupas em São Paulo capital, um restaurante em São Bernardo e uma loja de sapatos em Guarulhos. Cada loja será considerada seu domicílio para as relações a elas pertencentes. Quando envolver roupas será domicílio São Paulo, quando for sobre comida será São Bernardo e quando estiver relacionado com sapatos será Guarulhos. Nossa lei trata, ainda, do domicílio aparente ou ocasional em seu artigo 73: Ter-se-á por domicilio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. São casos em que a pessoa não possui um lugar certo de moradia, como os ciganos, ou pessoas que trabalhem com viagens. Para estas pessoas será considerado domicílio o lugar onde elas se encontrem. Admite, ainda, nossa legislação a pluralidade de domicílio ao falar no artigo 71 do CC: Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicilio seu qualquer delas. Duas situações diferentes são previstas: uma situação é aquela onde a pessoa tem diversas residências onde alternadamente vive; e a outra situação é quando a pessoa natural possui diversos centros de ocupações habituais. Tendo em vista a competência judiciária esta pessoa poderá ser acionada (no sentido de acha-la para responder a uma ação na justiça p.ex.) em qualquer destes lugares, de acordo com a natureza que se discute, ou de acordo com o assunto que se queira tratar. O domicílio pode ser classificado quanto a sua origem e quanto a sua natureza. 1. Quanto à sua origem pode ser ¹necessário ou legal e o ²voluntário. O domicílio quando é necessário ou legal, advém da lei, ou Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 87

seja, é imposto por lei, independente da vontade das partes, nos demais casos será voluntário. Neste sentido temos o artigo 76 do CC: art. 76 Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. 1.Incapaz 5.Preso Domicílio Necessário 2.Servidor público 4.Marítimo 3.Militar Figura 1. Representação DOMICÍLIO NECESSÁRIO. Como p.ex. o recém-nascido adquire o domicílio dos pais ao nascer; o servidor público tem por domicílio o lugar onde exerce permanentemente sua função. O domicílio necessário se subdivide ainda em originário (quando adquirido ao nascer, exemplo do bebê) e legal (quando presumido ou fixado em lei). O domicílio será voluntário quando a pessoa puder escolhê-lo livremente. Qualquer pessoa que não esteja sujeita a domicílio necessário poderá livremente escolher onde fixará sua residência e onde irá exercer sua profissão. 2. Quanto à sua natureza, o domicílio pode ser ¹geral e pode ser ²especial. Será geral quando fixado nos termos vistos acima, quais sejam, nos necessários e nos voluntários. Será especial quando decorre de um acordo entre as partes, ou seja, as partes de um contrato p.ex. o contratante e o contratado acordam onde será o domicílio para uma eventual pendência jurídica. Ocorrerá a perda do domicílio anterior, pela mudança, por determinação de lei, por contrato. Com relação à mudança de domicílio temos o artigo 74 do CC: Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 87

Paragrafo único: A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa as municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem. Esta declaração da pessoa a municipalidade que consta no paragrafo único, nada mais é do que fazer alterações no cadastro de agua, luz, telefone p. ex. Quando uma pessoa é aprovada em um concurso público, de acordo com a lei, mais especificadamente do artigo 76 já citado anteriormente nos casos de domicílio necessário, haverá uma mudança de domicílio imposto por lei para o local onde a pessoa foi aprovada, este é o caso de mudança de domicílio por lei. E por último a mudança de domicílio por contrato, baseado no princípio da autonomia da vontade, que permite a escolha por parte dos contratantes do foro (aqui leia-se a cidade aonde vai se ajuizar uma possível ação na justiça) onde se cumprirá e executará o contrato firmado por eles. - Direitos da Personalidade A pessoa natural é detentora de direitos inerentes a sua personalidade, a sua condição de ser humano. Estes direitos estão a par dos direitos economicamente apreciáveis 14, não podemos avalia-los pecuniariamente, não fazem parte do chamado patrimônio, são extrapatrimoniais. A Constituição Federal assegurou em seu texto, dentre outros o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à intimidade, à honra, numa referência meramente exemplificativa 15, pois tais direitos são inumeráveis, dinâmicos, variáveis no tempo e no espaço. E a simples não menção na Constituição ou no Código Civil não significa que não exista, ou que não esteja protegido legalmente. Lembre-se que a personalidade não é um direito, mas sim um conceito jurídico, sob o qual estão firmados os direitos. Sob este aspecto os direitos da personalidade são: Absolutos Intransmissíves Indisponíveis Irrenunciáveis Imprescritíveis 14 Caio Mario da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil, volume I, 25ed., pág.199. 15 Washington de Barros Monteiro. Curso de Direito Civil 1, 43 ed. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 87

São absolutos, pois podem ser opostos contra toda e qualquer pessoa ou instituição que queira lhe prejudicar ou diminuir, oponíveis erga omnes 16 ; são intransmissíveis porque não podem ser transferidos de uma para outra pessoa, nascem e se extinguem com o seu titular, são dele inseparáveis; são indisponíveis, em regra 17 (indisponibilidade relativa), porque estão fora do comércio, não possuem valor econômico; são irrenunciáveis visto que a pessoa não pode renunciar um direito que é inerente a sua personalidade; são imprescritíveis uma vez que não se consomem com o passar do tempo, nascem com a pessoa e morrem com ela. No Código Civil complementando o texto constitucional os direitos da personalidade estão dispostos do artigo 11 ao artigo 21. Estão relacionados à proteção à integridade física e a integridade moral 18. Comecemos, então, pelo artigo 11, que nos dá características dos direitos da personalidade: CC Art. 11 Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Depreende-se deste artigo que estes direitos não podem ser objeto de transação (não podem ser negociados), nem se transmitem a seus sucessores e que não podem ser renunciados nem se pode estabelecer limitação voluntária ao seu exercício. Importante: embora os diretos da personalidade sejam intransmissíveis, seus efeitos patrimoniais são transmissíveis e podem ser negociados. O que isto quer dizer? A valoração econômica é transmissível. Por exemplo, a autoria intelectual não pode ser transmitida, mas o recebimento de dinheiro decorrente da comercialização de obra pode, sim, ser negociado. Outro exemplo: o valor da pensão alimentícia (efeito patrimonial) pode ser objeto de transação (concessões mútuas), embora o seu direito não possa ser renunciado. 16 Erga omnes; expressão latina, efeito em relação a todos, eficácia contra todos. 17 São indisponíveis em regra porque pode haver exceções, como por exemplo: admitir sua disponibilidade em prol do interesse social; ninguém poderá recusar que sua foto fique estampada em documento oficial. 18 Washington de Barros Monteiro. Curso de Direito Civil 1, 43 ed., p.107. Profs. Aline Santiago e Jacson Panichi www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 87