A LITERATURA EM SALA DE AULA

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A LITERATURA EM SALA DE AULA Aline Oliveira e Joiane Santos Discentes do curso de Letras Língua Portuguesa e Literatura UNEB - Campus IV- Jacobina. RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa de campo realizada na cidade de Capim Grosso Ba, no 9 ano do fundamental II, no Colégio Magali Carneiro (COMAC), e no 3 ano do ensino médio, no Centro Educacional Profª Alice Barros de Figueiredo - ACEC, ambas da rede particular de ensino, sob a orientação da Profª. Drª. Denise Dias de Carvalho Sousa, no componente curricular Cânones e Contextos na Literatura Brasileira, na Universidade do Estado da Bahia DCH - Campus IV Jacobina. Escolhemos tais escolas, visto que a primeira se trata de uma instituição conceituada na cidade e pelo fato de seu longo período de atuação na área educacional. A segunda, além dos quesitos acima, refere-se à primeira escola fundada em Capim Grosso e possui alto índice de aprovação em vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. Para tanto, tratamos, pois, como se dá a escolha e a análise textual das obras literárias nos supracitados anos e a recepção por parte dos alunos. Reconhece-se que o cânone predomina na seleção de obras literárias em sala de aula e que tais escolhas são norteadas pelo livro didático, pelo ENEM e pelos vestibulares. Palavras-chave: obras literárias; cânone; livro didático; ENEM. 1 INTRODUÇÃO Percebemos que a leitura é de extrema importância para a compreensão, porém não só a leitura como decodificação, a qual não permite ao aluno adquirir subsídios para se tornar um cidadão crítico. A leitura como mera decodificação é um fator decorrente nas escolas, pois percebemos que a maioria dos alunos não conseguem interpretar aquilo que leem. Surge então o questionamento: por que isso acontece? Será a forma como o professor media a aprendizagem do aluno? Será uma dificuldade cultural,

regional, universal? Tem solução? É sabido que o aluno que ler mais, conseguintemente fala melhor, se impõe criticamente, sabe questionar, interpretar o mundo e ser cidadão atuante buscando melhorias. Pensando nessa questão, de que a leitura propicia vários benefícios aos leitores e que estes passam por um longo período de formação, e que é a escola a formadora primordial e de relevante importância, tivemos a curiosidade de saber como se dá a literatura em sala de aula, quais as obras trabalhadas ao longo do ano letivo, quais os critérios para a seleção destas, de que forma ela é recepcionada pelos alunos, como se dá a mediação do professor para o processo ensino/aprendizagem a proporcionar o letramento literário e de que maneira esse conhecimento contribui para sua formação leitora. Apresentamos ainda, um breve histórico da literatura e da sua utilização no campo educacional, a relação do cânone e a valorização da literatura estrangeira. Buscamos, então, saber de que forma realmente acontece o ensino da literatura na sala de aula. 2 BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA BRASILEIRA A literatura brasileira teve seu ponto de partida após o primeiro escrito sobre o Brasil, a Carta de Pero Vaz de Caminha, esta foi meramente descritiva e informativa, buscando evidenciar todos os aspectos do descobrimento da nova terra, bem como, a descrição geográfica, vegetal e cultural, representando assim, o período do Quinhentismo, que abrange também a literatura jesuítica, representada pelo Padre José de Anchieta que tinha por objetivo a catequização dos índios através dos sermões, poemas, poesias e autos. Posteriormente tivemos o Barroco, época marcada pelas invasões europeias (holandeses e franceses). Os conflitos e a oposição entre o mundo material e o espiritual geraram a linguagem característica desta escola: metáforas, hipérboles e antíteses. Dentre os representantes da Literatura Barroca podemos destacar os autores, Bento Teixeira e Gregório de Matos Guerra (Boca do Inferno) e Padre Antônio Vieira. Rompendo com os conflitos e as preocupações do Barroco, surge o Neoclassicismo ou Arcadismo, dando lugar a objetividade e a razão, e em lugar da linguagem complexa usa-se uma mais fácil. Algumas obras importantes desta escola são: O Uruguai, de Basílio da Gama, Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão, Obra poética, de Manoel da Costa e Cartas Chilenas, de Tomás de Antônio Gonzaga.

Já o Romantismo retoma fatos históricos importantes, idealiza o papel da mulher, supervalorização do espírito criativo como sendo uma Divina inspiração, a liberdade e o uso de metáforas. As obas consagradas neste período foram: O Guarani, de José de Alencar, Espumas Flutuantes, de Castro Alves e Primeiros Contos, de Gonçalves Dias. Com o declínio do Romantismo e seus ideais, os autores do Realismo e do Naturalismo começaram a escrever sobre a realidade social, os personagens das tramas retratavam fatos reais. Como marco deste período, temos, respectivamente, o autor Machado de Assis com suas obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Aluísio de Azevedo, com a obra O cortiço. Os autores parnasianistas procederam de forma diferente aos do Naturalismo e do Realismo, estes tinham o ideal de Arte pela Arte. A preocupação não consistia em retratar problemas sociais e sim o culto a forma A linguagem era rebuscada, temas mitológicos e descrições detalhadas. A Arte deste período foi denominada como Arte alienada. Os principais autores são: Vicente de Carvalho, Raimundo Correa, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Os poetas da escola simbolista optaram pela linguagem abstrata, com obras compostas pelo misticismo e pela religião. A morte e seus mistérios eram objetos de escrita. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens. O período pré-modernista é marcado pela transição moderna. O regionalismo, a busca de valores tradicionais, a valorização de problemas sociais e o uso da linguagem coloquial são algumas características. Nesta época, alguns autores e obras se destacaram como: Euclides da Cunha com Os sertões, Monteiro Lobato, Lima Barreto, com Triste fim de Policarpo Quaresma e Augusto dos Anjos. O Modernismo começa a partir da Semana de Arte moderna, que ocorreu no ano de 1922 com exposições de telas, declamações de poemas e poesias com tom satírico, linguagem coloquial e humorada, expressando críticas à linguagem rebuscada e ao culto à forma que se seguiam em outros períodos. Outras características desse estilo literário são o nacionalismo, temas cotidianos e a forte liberdade de expressão e uso de palavras, de forma a dessacralizar a maneira de criação do período romântico. Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira foram alguns dos autores que se destacaram.

Essas foram algumas das escolas do período histórico literário, tais possuem características determinantes para o estilo de escrita. O conteúdo literário presente no livro didático é fundamentado na história da literatura, evidenciando as escolas literárias, bem como, seu surgimento, características, autores e obras de destaque. A consagração de novas escolas literárias ilustra a ruptura em contraste com a tradição. Ao longo dos tempos, a modernização chega também na arte literária, proporcionando destaque a novos escritores, enriquecendo o campo literário e compondo o denominado cânone. O cânone, termo derivado do grego kánon, refere-se a uma regra de medida, que na língua portuguesa convencionou-se num modelo ou norma representado por uma obra ou autor. Dessa forma o cânone literário é uma seleção valorizada que trata de temas considerados atuais, universais, porém, excludentes. Como nos afirma Lauter (1991), o cânone literário, como é conhecido hoje, é significantemente o produto de nosso treinamento na tradição cultural masculina, branca e burguesa. O cânone literário é questionado por seu histórico de formação e critérios de inserção. Haja vista, que esta formação se deu a partir de biografias falsas, que foram criadas para que a obra não fosse questionada. O mais importante não era a obra e sim o autor. Não havia interlocução entre autor e público, a ideia era instaurar a tradição. Não se pensava no leitor nem em como esse público recepcionaria determinada obra. Dessa forma, temos um breve histórico sobre a formação do cânone. Essa ideia excludente permanece viva, apesar das diferentes leituras e releituras do mundo, percebemos ainda a marginalização de alguns textos por causa de seus autores e suas respectivas referências como a cor, classe social, sexo, opção sexual, regionalidade, entre outros aspectos. 3 ENSINO DE LITERATURA O ensino de literatura tem gerado diversas críticas, pois, o aluno, desde muito pequeno é inserido no sistema educacional, porém, ao chegar no ensino médio, no ensino superior e/ou até mesmo na sociedade, não sabe se impor criticamente diante de relevantes fatores, possuindo também outras dificuldades. Surge então o questionamento sobre a aprendizagem do mesmo. As práticas escolares devem se renovar a medida que a sociedade se transforma. Deve-se, no entanto, pensar de que maneira a escola pode inovar na metodologia, pois, encontra-se em disputa com o

crescimento tecnológico, e este propicia diversas formas de entretenimento, causando o desinteresse pela educação, por parte dos alunos, o baixo rendimento, a evasão e até mesmo a reprovação. A língua portuguesa assume forte relevância para a formação educacional e social do aluno, pois, ele deve adquirir, ao longo do período de formação, subsídios para a sua vida profissional e social. A aquisição dos elementos linguísticos e o conhecimento sobre determinados temas é de suma importância. Entretanto, as práticas pedagógicas escolares não estão formando esse aluno da mesma forma que deveria. Em sala de aula, tanto no ensino fundamental quanto no médio, é trabalhado diferentes tipos de textos, estes são lidos e interpretados pelos alunos a fim de que se respondam questionamentos de análise superficial e linguísticas. Já os textos literários de gênero romance, poesia ou poema, a analise está centrada na história. Assim, os textos literários Constituem uma forma peculiar de representação e estilo em que predominam a força criativa da imaginação e a intenção estética. [...] Como representação um modo particular de dar forma às experiências humanas. (BRASIL, 1998, p.26) Deve-se, portanto, explorar diferentes gêneros como romances, contos, poesias, poemas, novelas, cordéis, textos teatrais, entre outros, que contribuirão para a formação do leitor com um rico e variado acervo. O professor, ainda que, dê ênfase maior à história da literatura, não deve deixar de discutir, refletir sobre esses textos e problematizá-los. Nas escolas em que foram realizadas a pesquisa, percebemos que há professores sem formação específica para lecionar a disciplina de Literatura, de modo que, compromete o ensino/aprendizagem, quando não se tem o domínio do conteúdo, buscando, então, seguir somente o que está no livro didático, decodificando as leituras. Assim, as escolhas de obras literárias tem como aporte o que costuma ser solicitado em alguns vestibulares e no Enem, alienando o ensino, restringindo-o ao conhecimento informativo, descritivo, superficial e explicito. O leitor que se pretende formar deve ler o que é permitido, seguindo os valores transmitidos por essa importante formadora da comunidade de leitores'. Esses valores são veiculados, principalmente, através do livro didático, que costuma guiar as

práticas de leitura realizadas na sala de aula. (PINHEIRO, 2006) A escolha das obras literárias trabalhadas em sala de aula acompanha os capítulos dos períodos literários, desta forma, a abra a ser estudada é geralmente a que marca esse período ou a que tem grande destaque, juntamente com o autor, são reconhecidos como cânones. A percepção do professor com relação a essas obras pode levar os alunos a atribuir juízo de valor a elas, menosprezando as outras enquanto a sua função social, autor e reconhecimento. O livro didático direciona caminhos, mas o professor como educador, deve utilizar-se do seu conhecimento e acervo literário para propiciar aos alunos não somente a decodificação da leitura, das características ou das informações expostas pelas obras, mas sim utilizá-la como ferramenta para a percepção crítica, bem como a interpretação da realidade, relacionando os fatores implícitos pelas obras, auxiliando assim, a aquisição e aprimoramento linguístico, lexical e discursivo. Partindo do pressuposto de que a literatura é a arte de ler e também de expor os sentimentos de diversas formas através da escrita, percebemos a importância da mesma no ensino educacional e na formação do leitor crítico, haja vista, que a literatura propicia aquisição de subsídios ortográficos e aprimoramento da interpretação textual, como também construir uma percepção crítica dos fatores sociais, tornando-se um cidadão ativo no âmbito social. A escola deve ter a responsabilidade para promover diferentes letramentos a partir da leitura, fazendo uso de diversos objetos que promovam esse desenvolvimento. Inclui-se nessa responsabilidade, o letramento literário, que está despercebido ou, até mesmo, inexistente no âmbito escolar devido tais atividades pedagógicas selecionadas e realizadas pelos professores. Na medida que o aluno não absorve do texto literário a fruição estética, é esperado que o mesmo não sinta prazer em nenhuma leitura, além de obter dificuldade de interpretação, formulação de ideias e construção de textos. Esses fatores nos mostram claramente a realidade dessas escolas e do ensino de literatura, que embora consigam um relevante número de aprovação não propiciam a formação crítica, necessitando assim, de uma reformulação.

4 CONCLUSÃO De acordo com a pesquisa de campo, realizada nas turmas de 9 ano- ensino fundamental- e 3 ano- ensino médio-, no Colégio Magali Carneiro (COMAC) e no Centro Educacional Profª Alice Barros de Figueiredo (ACEC), respectivamente, na cidade de Capim Grosso, Bahia, constatamos que a literatura em sala de aula é regida pelo livro didático. As obras trabalhadas no ensino fundamental II, vêem previamente estabelecidas na coleção didática e fazem parte do cânone literário. Para as mesmas é indicada a leitura e posteriormente como avaliação, é realizado por parte dos alunos, o resumo da obra ou um seminário, evidenciando tais aspectos: enredo, personagem, tempo, espaço, narrador e linguagem. Já no ensino médio, os critérios para a escolha das obras literárias, a serem trabalhadas durante todo ano letivo, obedecem a ordem dos capítulos e aos períodos estudados, denominados escolas literárias, no decorrer de cada unidade. A mediação do professor com relação ao ensino/aprendizagem, se dá a partir da solicitação da leitura de determinada obra, sendo esta a principal representante do período literário estudado e que por sua vez está inserido no cânone literário. Estuda-se essas obras retomando as características da escola literária, o estilo do autor, o contexto em que a obra foi escrita, bem como, os aspectos narrativos supracitados. Pois, estes fatores são cobrados nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Assim, percebemos que a literatura é trabalhada com um único propósito, o de obter maior número de aprovação. Desta forma, esta mediação, não possibilita ao aluno a liberdade de discussão crítica e contextualização com sua realidade. A partir dessa percepção, foi realizada uma entrevista com os alunos destas turmas e constatamos que 50% dos alunos não gostam das obras trabalhadas em sala e estão lendo cada vez mais os Best-seller estrangeiros. A partir disso, problematizamos a literatura em sala de aula: por que há o desinteresse por parte dos alunos com relação ao cânone, se o mesmo trata de temas atuais? Por que a literatura estrangeira, que não é canônica, e que o objetivo é unicamente vender livros, vem ganhando espaço em detrimento das obras consagradas? Os alunos argumentam que as obras canônicas apresentam uma linguagem complexa, além da forma de avaliação que os professores utilizam. A imposição dessa leitura é outro fator determinante para essa rejeição ao cânone. Já a literatura estrangeira além de estar na moda, lhes proporcionam uma leitura prazerosa, pois

tratam de temas que eles vivenciam, e também, a linguagem na qual a obra está escrita é, (considerada por eles), facilitada. O professor deve rever sua forma de avaliação dessas obras, tendo em vista não apenas a leitura em si ou somente as características literárias, mas também, propiciar, a partir da leitura, a formação crítica deste leitor e acrescentar às obras trabalhadas, outras consideradas populares ou marginais, permitindo assim, que o aluno tenha contato com outros gêneros e autores que não estão inseridos no cânone, diversificando seu acervo literário a fim de que não se forme um pensamento excludente. É sabido que o livro didático direciona a escolha destas obras visando à preparação do aluno para os vestibulares e o Enem, o que é de grande importância, porém, o professor tem a autonomia de abranger obras que não estão nos livros.

5 REFERÊNCIAS RODRIGUES, Karina Rebelo. O cânone literário e o ensino de literatura: como se dá essa relação? 2009. 58f. Monografia (Curso de Pós-Graduação Latu Sensu Especialização em Língua e Literatura com Ênfase nos Gêneros do Discurso) UNESC, Criciúma, 2009. FRITZEN, Celdon. DA SILVA, Danielle Amanda R. Livro didático e ensino de literatura: o que dizem as pesquisas dos programas de pós-graduação? Literatura Brasileira. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/literaturabrasil/. Data de acesso: 05 de outubro de 2015.

6 APÊNDICE Questionário para os professores. 1- Para você o que é Literatura? 2- Quais são as obras selecionadas para trabalhar em sala de aula? 3- Quais os critérios utilizados para selecionar as obras? 4- Quais os gêneros mais trabalhados? 5- Como é realizado o trabalho com essas obras? 6- O que você considera um bom leitor e o que ele deve ler? 7- A escolha das obras tem alguma relação com as que são pedidas nos vestibulares? Questionário para os alunos. 1- Quais obras você já leu este ano, para fins avaliativos da escola? 2- Você gosta das obras escolhidas pelo professor? 3- Quais obras você prefere ler? 4- O que você acha do ensino de literatura? 5- Qual gênero textual e autores você mais gosta?