AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIA EM TRABALHADORES ENVOLVIDOS NA ATIVIDADE DE CAPINA QUÍMICA Emília Pio da Silva 1 ; Luciano José Minette 1 ; Amaury Paulo de Souza 1 ; Felipe Leitão da Cunha Marzano 1 ; Regiane Valentim Leite 1 ; André Luiz Petean Sanches 1. 1 Universidade Federal de Viçosa emilia.ergo@ufv.br Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o risco de lombalgia em trabalhadores envolvidos na atividade de capina química. A coleta de dados foi realizada em uma empresa de base florestal e a população foi constituída por 49 trabalhadores. Para avaliação do risco de lombalgia foi utilizado o questionário nórdico padrão e o check-list de Couto (1995). Os resultados evidenciaram que 35% dos trabalhadores apresentaram dor e, ou, desconforto na região da coluna lombar, sendo, estes sintomas resultantes dos freqüentes movimentos de flexão e rotação do tronco. O risco de lombalgia foi classificado como moderado para este tipo de atividade. Concluiu-se que a prevalência de lombalgia era elevada, o risco moderado e que era necessário medidas ergonômicas para melhorar a execução da atividade. Palavras-chave: lombalgias; trabalhadores florestais; capina química. 1. Introdução A capina química é uma prática bastante utilizada no setor florestal, por ser de fácil manejo e de baixo custo. O objetivo é eliminar a matocompetição que prejudica o crescimento do eucalipto. No entanto, a realização da atividade pode provocar agravos à saúde do trabalhador, principalmente ao sistema músculo-esquelético. A lombalgia é um distúrbio, bastante comum que pode acometer os trabalhadores desta atividade A principal característica da lombalgia é a dor que atinge a região inferior da coluna vertebral, ou seja, a coluna lombar. Essa dor pode ser aguda ou crônica e geralmente afeta a maioria dos trabalhadores no estágio produtivo da vida. Por isso, a ergonomia têm se preocupado tanto em estudar esse distúrbio, já que o mesmo pode gerar afastamento e incapacidade. A ergonomia se constitui na principal forma de se evitar as lombalgias no trabalho. A adoção de medidas ergonômicas é capaz de reduzir em pelo 1
menos 80% a incidência de dores lombares e a grande maioria das medidas são de baixíssimo custo. A lombalgia é resultante de diversos fatores dentre eles, destaca-se as inadequações dos postos, equipamentos e ferramentas de trabalho. Na capina química, o uso do costal manual obriga o trabalhador a adotar posturas inadequadas e transportar carga. Segundo IIDA (2005), a adoção de posturas incorretas e o transporte e levantamento de carga, esporádico ou contínuo, provoca dores e deformidades articulares. Fiedler (1998) afirma que no setor florestal a prevalência de lombalgia é bastante elevada. Sendo esse distúrbio causado e agravado principalmente pelas posturas incorretas e movimentação de cargas durante a execução das atividades. Esses fatores de risco Diante disso, esta pesquisa teve como objetivo avaliar o risco de lombalgia em trabalhadores envolvidos na atividade de capina química. 2. Material e Métodos 2.1. Local do estudo A pesquisa foi realizada em uma empresa de base florestal. As áreas de atuação da empresa estão localizadas na região centro-leste do estado de Minas Gerais, entre as coordenadas Latitude 18º29 25 a 20º15 52 S e Longitudes 42º07 50 a 43º 35 58 W. 2.2. População e amostragem A população pesquisada foi constituída por 49 trabalhadores florestais envolvidos na atividade de capina química. Sendo 98% dos trabalhadores do gênero masculino e 2% gênero feminino, com idade média de 42 anos, peso de 65 kg e altura 1,79 cm. A maior parte dos trabalhadores (90%) possuía um tempo mínimo de 6 meses de experiência na operação. 2
2.4 Avaliação do risco de lombalgia 2.4.1. Questionário nórdico padrão A aplicação do questionário nórdico padrão teve como objetivo identificar os sintomas de dor e desconforto osteomusculares. O instrumento possuía questões de escolhas múltiplas ou binárias quanto à ocorrência de sintomas nas diversas regiões anatômicas (pescoço, ombros, pulsos/mãos, costas parte superior e inferior, quadris/coxas, joelhos e tornozelos/pés). Os dados coletados relatam os sintomas considerando os 12 meses e os sete dias precedentes à entrevista, bem como a ocorrência de afastamento das atividades rotineiras no último ano. 2.4.2. Check-list para avaliação simplificada do risco de lombalgia Para a avaliação do risco de lombalgias, foi utilizado o check-list proposto por Couto (1995). O instrumento é composto por 12 perguntas relacionadas às características do trabalho. Para cada pergunta há uma combinação de respostas SIM ou NÃO, onde é obtido um escore, interpretado da seguinte forma: - 0 a 3 pontos = altíssimo risco de lombalgia; - 4 a 5 pontos = alto risco de lombalgia; - 6 a 7 pontos = risco moderado de lombalgia; - 8 a 10 pontos = baixo risco de lombalgia; e - 11 a 12 pontos = baixíssimo risco de lombalgia. 3. Resultados e Discussão A pesquisa em questão abordou a ocorrência de dor ou desconforto músculo-esquelético nos últimos 12 meses. Neste período, observou-se que 40% dos trabalhadores queixaram desses sintomas na coluna (região superior), 37% nos joelhos, 35% nos ombros e coluna (parte inferior), 24% nos tornozelos/pés, 20% nos quadris/coxas, 16% pescoço e 12% pulsos/mãos. 3
De acordo com Silva (2011), a dor e o desconforto muscular são queixas comuns relatadas pelos trabalhadores florestais. Esses sintomas são decorrentes das características ocupacionais das atividades e podem resultar no adoecimento do sistema músculo-esquelético. Observou-se que os sintomas predominaram nas regiões da coluna superior (40%) e inferior (35%). Isso está relacionado aos constantes movimentos de flexão e rotação do tronco realizado pelos trabalhadores. Para Marçal et al. 2006 os movimentos freqüentes de flexão e rotação do tronco estão associados aos múltiplos fatores de risco da lombalgia. As freqüentes queixas relacionadas à coluna lombar confirmam o risco de lombalgia para os trabalhadores investigados. Outro fator de risco evidenciado é a idade dos trabalhadores, visto que a média era de 42 anos. Segundo Couto (2002), as lombalgias atingem pessoas com mais de 40 anos. Nessa faixa etária os trabalhadores costumam apresentar distúrbios dos discos intervertebrais (hérnia de disco). Esses distúrbios são graves e podem ocasionar dor muito forte e extremamente incapacitante. É comum os trabalhadores ficarem afastados de suas atividades por períodos prolongados. Outro agravante da atividade de capina química é o uso do costal manual, este equipamento provoca uma sobrecarga na coluna vertebral do trabalhador, as queixas lombares são comuns, visto que durante a atividade os trabalhadores mantêm o tronco flexionado, em posição instável, transportando carga. Além disso, o abastecimento era realizado com o costal no chão e às vezes em uma bancada improvisada no próprio caminhão. Essa condição sobrecarregava ainda mais a coluna lombar, devido a necessidade de flexionála para abastecer e remover do solo o costal devidamente abastecido Para 10% dos trabalhadores a dor na coluna lombar impediu a realização normal do trabalho nos últimos 12 meses. E a mesma porcentagem de trabalhadores relatou a presença desses sintomas nos últimos 7 dias. 4
O check-list de Couto (1995) evidenciou que a capina química é uma atividade que expõe os trabalhadores florestais a um risco moderado de lombalgia. Esse risco já mostra a necessidade de realizar alterações nos postos de trabalho, instrumentos e ferramentas e na execução da tarefa. As lombalgias podem ocasionar dor muito forte e incapacidade para o trabalho, que costuma durar de 3 a 4 dias. Num nível de média gravidade, as lombalgias causadas por distensão dos músculos e ligamentos da coluna vertebral, geralmente afasta o trabalhador de suas atividades por aproximadamente 7 a 10 dias e têm características recidivante (COUTO, 2002). 4. Conclusão Ao término da pesquisa pode-se concluir que a atividade expõe os trabalhadores florestais a um risco moderado de lombalgia e a prevalência de dores lombares em trabalhadores envolvidos na capina química era elevada (35%). Portanto, a capina química requer medidas ergonômicas para melhorar a execução da atividade, garantindo assim a saúde do trabalhador florestal. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por conceder recursos financeiros destinados a aquisição de equipamentos que viabilizaram a execução de projetos, permitindo a elaboração deste trabalho. 5. Referências Bibliográficas COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições. Belo Horizonte: Ergo Editora, 2002. 202 p. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: Ergo Editora, Vol. 1, 1995. 382 p. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Editora Edgar Blüncher, 2005. 614 p. 5
MARÇAL, Márcio Alves et al. Lombalgia entre serventes de pedreiro: estudo da incidência e dos fatores de risco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 16., 2006, Curitiba-PR. Anais... Curitiba-PR, 2006.. FIEDLER, N. C. Análise de postura e esforços dispendidos em operação de colheita florestal no litoral norte do estado da Bahia. 1998. 103 f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1998. SILVA, E. P. Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de operadores da colheita florestal mecanizada. 2011. 169 f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011. 6