Laudo ergonômico de um setor industrial
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- Cristiana Van Der Vinne Chaves
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1 Laudo ergonômico de um setor industrial Resumo Norival Agnelli (UNESP) Carlos Eduardo Segamarchi (UNESP) Edson Antonio Capello Sousa (UNESP) José Roberto Godoy Sé (UNESP) Augusto Cesar de Sant Anna Agnelli (Universidade São Marcos) Trata-se de um laudo que retrata as condições de trabalho dos operadores de guilhotina, que têm a função de executar cortes de chapas metálicas em uma indústria metalúrgica. O laudo foi solicitado pelo empregador, afim de instruir as modificações necessárias neste posto de trabalho, haja vista que os mencionados operários têm reclamado de fortes dores nas costas, apontando como nexo causal o levantamento e posicionamento manual inadequados dessas chapas, cujo peso, em alguns casos, ultrapassa a 130kg. Ao final do laudo, o perito apresenta sugestões para melhoramento das condições de trabalho no mencionado setor, visando eliminar as causas geradoras dos problemas de saúde desses operários. 1. Introdução A Ergonomia, considerada a ciência do conforto, traz importantes diretrizes e parâmetros, que bem empregados, melhoram, em muito, as condições do posto de trabalho, gerando segurança, satisfação e bem-estar ao operário, com conseqüente aumento de produtividade para a empresa. A Ergonomia corretiva é aquela que intervém no ambiente ou no processo produtivo já existente e que precisa ser melhorado, visando gerar maior conforto e segurança ao trabalhador e melhorar a produtividade do sistema. Esse tipo de Ergonomia se aplica em situações já existentes, tentando resolver problemas relacionados com segurança, fadiga, doenças do trabalhador, ou a quantidade e qualidade da produção. Podem ser adotadas melhorias como mudanças de postura corporal do trabalhador, introdução de acessórios que facilitam a elevação e movimentação de peças pesadas e dispositivos de segurança, com relativa facilidade, eficiência e economia. O levantar peso de forma incorreta pode ser a causa do desencadeamento de uma dor lombar aguda. Nas atividades laborais, mais especificamente naquelas em que se esforça a coluna, nem sempre se tem a consciência de que pequenas lesões podem ser produzidas em cada esforço mau feito. Nos dias de hoje, ainda é freqüente encontrar atividades onde predominam o levantamento e a movimentação manual de cargas. E a dúvida é se esta atividade está sendo realizada dentro dos limites normais de tolerância, ou se está sobrecarregando alguma parte do corpo, havendo possibilidades de vir provocar uma lesão músculo-ligamentar ou mesmo uma hérnia de disco. No Brasil, a legislação não é muito específica, neste ponto. Estipula-se em 60kg o peso máximo que um trabalhador pode manusear numa atividade laboral. Apesar disto, este valor não pode ser referenciado para uma atividade que seja realizada durante toda uma jornada de trabalho. Desta forma, alguns trabalhadores, acostumados a levantar cargas que variam de 10 a 15 kg, apresentam hérnia de disco, ou outras lesões na coluna ou membros, o
2 que leva a se questionar não só a legislação, como os métodos utilizados para obter estas referências limites. O presente laudo foi elaborado após uma análise ergonômica dos dados levantados no setor de corte de chapas metálicas, em que se procurou observar o modo operatório da atividade e o peso das chapas. 2. Metodologia Para desenvolver a análise foram levantadas as dimensões da guilhotina, atentando-se para o posicionamento do operador. Face ao tipo de doença apresentada, dores nas costas, procurou-se observar o esforço feito pelo operador e sua postura quando da execução da tarefa. Foram observados, ainda, os pontos de acionamento da guilhotina, tipos de materiais utilizados, peso da chapa e alimentação deste material no equipamento. Depois de avaliado o posto de trabalho foram feitas algumas proposições de correção de postura e correção do equipamento de trabalho. Como fundamentação para elaboração do laudo utilizou-se a NR 17 Ergonomia (MTE, Brasil, 2004) e a apostila intitulada A Ergonomia e suas Aplicações em Postos de Trabalho (Agnelli, 2004). Nesta apostila foram observados, mais especificamente, os itens que tratam de levantamento e movimentação manual de cargas e a aplicação da equação de NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health). 3. Avaliação do posto de trabalho Na operação da guilhotina os operadores realizam operações de corte em chapas metálicas de diversas dimensões sendo porém a condição mais crítica o corte de chapas na dimensão de 1,20m de largura; 3,00m de comprimento e espessura de 4,76 milímetros com um peso de 137kg. Devido a diversidade de peças e visando o melhor aproveitamento das chapas a posição de corte varia continuamente, variando assim a posição da chapa, as dimensões e espessuras das mesmas. Local de trabalho A guilhotina está posicionada com sua lateral direita próxima a parede do barracão sendo as outras faces com amplos espaços para movimentação de chapas e operadores. A iluminação do local é adequada, apresentado pontos bem iluminados na altura de operação. Etapas do processo de corte Para a realização do corte as chapas são posicionadas pela dupla de operadores, que realizam as seguintes operações: 1 - Remoção da chapa do chão até a mesa de operação (altura da mesa 95 centímetros); 2 Posicionamento da chapa na mesa para efetuar o corte; 3 Efetuar o corte; 4 Remover a peça cortada e também a sobra da chapa não cortada.
3 4. Análise do Problema O peso das chapas (137kg) excede, em muito, o limite máximo de levantamento manual de peso, conforme orientação da NIOSH, que, em condições ideais de levantamento, não pode ultrapassar a 23kg. No posicionamento da chapa o operador acionador fica posicionado lateralmente e puxa a chapa até a posição de corte. Nesta etapa do processo o operador está com a cabeça projetada para o lado esquerdo do corpo para visualizar o ponto de corte da chapa e puxando a chapa com o braço direito. Nesta posição nota-se que o operador está realizando força com os braços em posição lateral em relação ao corpo, propiciando uma condição que pode estar causando as dores na coluna. O operador auxiliar está no lado oposto da máquina realizando portanto o mesmo trabalho porém com o braço esquerdo. Após o posicionamento o operador acionador, aciona com o pé o corte da chapa. A figura 1 mostra uma visão geral da guilhotina, e a figura 2 mostra a posição da mesa de apoio das chapas a serem cortadas. Figura 1 - Vista Geral da Guilhotina Figura 2 - Posição da Mesa de Apoio das Chapas de Corte
4 Problemas encontrados A operação de levantamento de chapas ultrapassa em pelo menos 6 vezes o limite de levantamento conforme orientação da NIOSH. A guilhotina não possibilita a mudança da posição do pedal de acionamento, conforme se pode observar mediante a figura 3, dificultando a operação de um operador canhoto ou o revezamento de acionamento entre os operadores. Figura 3 - Posição fixa do pedal de acionamento A figura 4 mostra a posição de trabalho do operador. A posição lateral realizando força para o arraste da chapa juntamente com a posição projetada da cabeça produz um alongamento anormal e em conjunto com a contração dos músculos do braço e tronco causando tensão na coluna e com o passar das operações surgem as dores em função do comprometimento dos anéis intervertebrais. Fig. 4 - Posição de trabalho do operador ao puxar a chapa para corte
5 5. Proposições de possíveis melhorias As figuras 5 e 6 mostram uma comparação entre o posto de trabalho atual e o posto de trabalho com as alterações propostas a seguir: Alterar a mesa de operação, substituindo a mesa de tampo fechado para suportes verticais com roletes para deslizamento das chapas, mantendo vãos livres para que o operador auxiliar empurre as chapas em sua posição central nos rolos enquanto que o operador acionador posiciona a peça para o corte; Instalar um pedal móvel, facilitando assim o acionamento por um operador canhoto; e Instalar uma talha de carga com trole para levantamento e deslocamento das chapas até a mesa de operação, evitando assim o esforço de levantamento. Figura 5 - Mesa atual utilizada para apoio das chapas Figura 6 Mesa proposta para apoio e deslizamento das chapas
6 6. Conclusão e Considerações Finais Através das avaliações feitas pode-se obter algumas conclusões e fazer algumas considerações finais no que se refere a proposições de melhorias no posto de trabalho avaliado. Verificou-se de fato existir um nexo causal entre a doença apresentada pelo trabalhador e as condições de trabalho do local. São necessárias algumas alterações na dimensão e posicionamento da mesa de trabalho a fim de diminuir a movimentação do operador, melhorando sua condição de trabalho. O pedal da prensa também será alterado, possibilitando o seu acionamento em toda a extensão da máquina. Finalmente, verifica-se que se pode obter maior satisfação do operador e melhoria da sua condição de trabalho, com pequenas alterações do local estudado. 7. Bibliografia consultada AGNELLI, N. A Ergonomia e sua aplicação em postos de trabalho. Apostila do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Bauru, SP: FE/Unesp, 2004, 96p. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO MTE, BRASIL. NR 17 Ergonomia. Brasília: MTE, 2004.
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