Enunciados Quantificados Equivalentes

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Referências e materiais complementares desse tópico

Neste artigo, a título de sugestão de abordagem do tema, apresentamos exemplos de explicitação e utilização de algumas dessas regras.

Transcrição:

Lógica para Ciência da Computação I Lógica Matemática Texto 15 Enunciados Quantificados Equivalentes Sumário 1 Equivalência de enunciados quantificados 2 1.1 Observações................................ 7 1.2 Exercícios resolvidos........................... 10 Neste texto, continuamos com o estudo da noção de equivalência de enunciados, aplicando os conceitos e resultados já estudados na resolução (parcial) do problema da equivalência de enunciados quantificados. Após estudarmos este texto, vamos ser capazes de: entender a noção de equivalência de enunciados construídos por aplicações de conectivos e quantificadores; entender como podemos aplicar a noção de interpretação para decidir quando dois enunciados simbolizados são equivalentes ou não; justificar que dois enunciados não equivalentes não são, de fato, equivalentes. Dada a complexidade do problema, um método para a justificativa da equivalência de enunciados construídos por aplicações de conectivos e quantificadores será apenas esboçado. Este texto sobre equivalência de enunciados quantificados corresponde ao Texto 6B, sobre a equivalência de enunciados que só possuem ocorrências de conectivos. 1

1 Equivalência de enunciados quantificados De maneira análoga ao que acontece com enunciados formados por meio de conectivos, dependendo de como entendemos o significado de um enunciado quantificado, ele pode ser simbolizado de mais de uma maneira. Exemplo 1 O enunciado pode ser interpretado como ninguém é feliz (1) todos são infelizes se admitimos que ser infeliz é a negação de ser feliz. Neste caso, (1) pode ser simbolizado diretamente como x[f(x)] ou indiretamente como de acordo com a legenda x[ f(x)] f(x) : x é feliz Do que foi dito acima, surge, então, a questão de decidir se dois enunciados quantificados, simbolizados de maneira distinta, expressam ou não o mesmo conteúdo. Vamos ver agora que, para os enunciados que só possuem uma ocorrência de quantificador, esta questão pode ser resolvida com o uso de interpretações. Equivalências A definição de quando dois enunciados são equivalentes é a mesma, para qualquer tipo de enunciado. Sejam ϕ e ψ enunciados simbolizados. Dizemos que ϕ e ψ são equivalentes se, para cada interpretação para ϕ e ψ, os valores de ϕ e ψ são iguais. O que muda, dos conectivos para os quantificadores, é que, no caso dos enunciados quantificados, a noção de interpretação é um pouco mais elaborada. Exemplo 2 Para interpretar os enunciados devemos determinar: x[f(x)], x[ f(x)] 2

1. um domínio de quantificação, D, para os quantificadores que ocorrem nos enunciados; 2. uma propriedade sobre elementos de D para ser o significado de f. Na interpretação original para os enunciados, dada no Exemplo 1, o domínio D consiste de todas as pessoas e f é a propriedade ser feliz. Mas, além desta, podemos definir muitas outras interpretações para x[f(x)] e x[ f(x)]. Por exemplo, D pode consistir de todos os animais e f ser a propriedade ser bípede; D pode consistir de todos os números reais e f ser a propriedade ser irracional; etc. Assim, de maneira geral, temos: Sejam ϕ e ψ enunciados simbolizados que possuem ocorrência(s) de quantificador(es) e ocorrências de propriedades dentre p 1, p 2,..., p n. Dizemos que ϕ e ψ são equivalentes se, para qualquer interpretação conjunta para ϕ e ψ ou seja, qualquer domínio de avaliação D, associado simultaneamente a todos os quantificadores e quaisquer significados para as propriedades p 1, p 2,..., p n em D temos que o valor de ϕ é igual ao valor de ψ. O que queremos resolver é o problema da equivalência de enunciados, isto é, o problema de dados dois enunciados, classificá-los como equivalentes ou não. Vamos ver, agora, como podemos utilizar o critério acima para mostrar que certos enunciados bem simples são equivalentes. Exemplo 3 (a) Como suspeitamos, os enunciados x[f(x)], x[ f(x)] são equivalentes. De fato, considere um domínio de avaliação D qualquer e uma propriedade qualquer, representada por f, em D. De acordo com as regras de avaliação do, do e do, temos que: x[f(x)] é V x[f(x)] é F 3

o enunciado f(x) é F para todos os valores que a variável x pode assumir em D para todos os valores que a variável x pode assumir em D, o enunciado f(x) é F para todos os valores que a variável x pode assumir em D, o enunciado f(x) é V x[ f(x)] é V. Assim, x[f(x)] é V x[ f(x)] é V e, daí, x[f(x)] é F se, e somente se, x[ f(x)] é F. Ou seja, x[f(x)] e x[ f(x)] têm os mesmos valores nas mesmas interpretações. (b) De maneira similar, podemos garantir que os enunciados x[f(x)], x[ f(x)] são equivalentes. De fato, considere um domínio de avaliação D qualquer e uma propriedade qualquer, representada por f, em D. De acordo com as regras de avaliação do, do e do, temos que: x[f(x)] é V x[f(x)] é F o enunciado f(x) é F para ao menos um dos valores que a variável x pode assumir em D para ao menos um dos valores que a variável x pode assumir em D, o enunciado f(x) é F 4

para ao menos um dos valores que a variável x pode assumir em D, o enunciado f(x) é V x[ f(x)] é V. Assim, x[f(x)] é V x[ f(x)] é V e, daí, x[f(x)] é F se, e somente se, x[ f(x)] é F. Ou seja, x[f(x)] e x[ f(x)] têm os mesmos valores nas mesmas interpretações. O critério acima pode ser convertido em um método para justificar que certos enunciados não são equivalentes. De fato, como dois enunciados simbolizados são equivalentes quando possuem os mesmos valores em qualquer interpretação, dois enunciados simbolizados não são equivalentes quando possuem valores diferentes em alguma interpretação. Assim, de maneira geral, temos: Sejam ϕ e ψ enunciados simbolizados que possuem ocorrência(s) de quantificador(es) e ocorrências de propriedades dentre p 1, p 2,..., p n. Dizemos que ϕ e ψ não são equivalentes se existe ao menos uma interpretação conjunta para ϕ e ψ ou seja, algum domínio de avaliação D, associado simultaneamente a todos os quantificadores e significados para as propriedades p 1, p 2,..., p n em D no qual o valor de ϕ é diferente do valor de ψ. Vamos ver, agora, como podemos utilizar o critério acima para mostrar que certos enunciados bem simples não são equivalentes. Exemplo 4 (a) Os enunciados x[p(x)], x[p(x)] não são equivalentes. Intuitivamente, isto é claro pois, usualmente, quando afirmamos que algum objeto possui uma propriedade, não estamos querendo dizer que todos os objetos a possuam. Assim, aparentemente, é possível exibir uma interpretação conjunta para x[p(x)] e x[p(x)], na qual x[p(x)] é V e x[p(x)] é F. De fato, consideremos a interpretação: D : formado por todos os números naturais p : ser igual a 0 Nesta interpretação o enunciado x[p(x)] significa x (x é igual a 0) 5

ou seja, ao menos um é igual a 0 e, portanto, é V. Enquanto que o enunciado x[p(x)] significa ou seja, x (x é igual a 0) todos são iguais a 0 e, portanto, é F. Como exibimos uma interpretação na qual x[p(x)] e x[p(x)] têm valores diferentes, eles não são equivalentes. (b) Os enunciados y[p(y)] z[q(z)], x[p(x) q(x)] não são equivalentes. Intuitivamente, isto é claro pois, usualmente, quando afirmamos que existe um objeto que possui uma propriedade e que existe um objeto que possui uma outra propriedade, não estamos querendo dizer que o mesmo objeto possui ambas as propriedades. Assim, aparentemente, é possível exibir uma interpretação conjunta para y[p(y)] z[p(z)] e x[p(x) q(x)], na qual y[p(y)] z[p(z)] é V e x[p(x) q(x)] é F. De fato, consideremos a interpretação: D : formado por todos os números naturais p : ser par q : ser ímpar Nesta interpretação o enunciado y[p(y)] z[p(z)] significa ou seja, y (y é par) z (z é ímpar) existe ao menos um par e existe ao menos um ímpar e, portanto, é V. Observe que, ao interpretarmos p(y) e p(z) para tornarmos y[p(y)] e z[p(z)] verdadeiros, nesta interpretação, as variáveis y e z assumem valores diferentes. Enquanto que o enunciado x[p(x) q(x)] significa x (x é par x ímpar) e, portanto, é F. Observe que, ao interpretarmos p(x) q(x) para tornarmos x[p(x) q(x)] verdadeiros, nesta interpretação, o valor de x deveria ser simultaneamente par e ímpar, o que é impossível. 6

1.1 Observações Observação 1 Os raciocínios empregados nos Exemplos 3(a) e 3(b) são perfeitamente gerais. Isto é, se v é uma variável qualquer e ϕ(v) é um enunciado qualquer que possui ocorrências livres de v (e não possui ocorrências livres de nenhuma outra variável), então os seguintes pares de enunciados são formados por enunciados equivalentes: v[ϕ(v)], v[ ϕ(v)] v[ϕ(v)], v[ ϕ(v)] Esta é uma característica comum das justificativas de que dois enunciados são equivalentes: Usualmente, um raciocínio baseado apenas nas regras de avaliação dos conectivos e quantificadores, que justifica corretamente que dois enunciados simbolizados são equivalentes, também mostra que quaisquer dois enunciados, que possuem a mesma forma que os enunciados dados, são equivalentes. Observação 2 Por outro lado, a justificativa de que dois enunciados não são equivalentes, usualmente, não é suficiente para mostrar que quaisquer dois enunciados que possuem a mesma forma que os enunciados dados não são equivalentes. Por exemplo, nos Exemplos 4(a) e 4(b), mostramos que os enunciados x[p(x)] e x[p(x)] não são equivalentes. Mas isto não nos autoriza a concluir de imediato que, dadas uma existencialização e uma generalização, elas não são equivalentes. De fato, os enunciados x[p(x) p(x)], x[p(x) p(x)] que, em um certo sentido, possuem as mesmas formas que x[p(x)] e x[p(x)], são equivalentes. Para justificar esta afirmação, considere um domínio de avaliação D qualquer e uma propriedade qualquer, representada por p, em D. De acordo com as regras de avaliação do, do, do e do, temos que: x[p(x) p(x)] é V o enunciado p(x) p(x) é V, para ao menos um dos valores que a variável x pode assumir em D (2) F 7

para todos os valores que a variável x pode assumir em D o enunciado p(x) p(x) é V (3) x[p(x) p(x)] é V Na justificativa acima, usamos o fato de que o enunciado p(x) p(x) é uma contradição para qualquer valor que a variável x assuma em D. Assim, (2) e (3) são F. Logo, x[p(x) p(x)] é V x[p(x) p(x)] é V, ou seja, os enunciados são equivalentes. Observação 3 Em linhas gerais, o método que utilizamos nos Exemplos 3(a) e 3(b) para justificar que dois enunciados simbolizados são equivalentes pode ser resumido do seguinte modo: Sejam ϕ e ψ enunciados simbolizados que possuem ocorrência(s) de quantificador(es) e ocorrências de propriedades dentre p 1, p 2,..., p n. Para justificar que ϕ e ψ são equivalentes, podemos executar os seguintes passos: 1. Considerar uma interpretação conjunta genérica para ϕ e ψ, formada por um domínio de avaliação genérico, D, e n propriedades genéricas, representadas por p 1,..., p n, em D. 2. Utilizar as regras de avaliação dos conectivos e quantificadores para justificar que ϕ é V ψ é V. 3. Se o Passo 2 terminar com sucesso, então ϕ e ψ são equivalentes. Observe o peso que é dado à palavra genérico, na descrição geral deste método. Aqui, a palavra genérico é empregada para salientar que: Os raciocínios apresentados na justificativa de que dois enunciados simbolizados são equivalentes devem ser baseados apenas nas regras de avaliação dos conectivos e quantificadores e não, por exemplo, em nossa intuição e/ou imaginação. 8

O uso deste tipo de raciocínio, ou seja, raciocínio baseado apenas nas definições e não na intuição e/ou imaginação é uma das características essenciais da Matemática. Nos primeiros contatos com os conteúdos matemáticos abordados no Ensino Superior, o emprego deste tipo de raciocínio parece um pouco exagerado, já que ele usualmente não é empregado no Ensino Médio. Mas, quanto mais estudamos e aprendemos Matemática, mais vemos que o emprego deste tipo de raciocínio é essencial. Assim, ele também é uma das habilidades que todo estudante de Matemática deve possuir. Observação 4 Sejam ϕ e ψ enunciados simbolizados que possuem ocorrência(s) de quantificador(es) e ocorrências de propriedades dentre p 1,..., p n. Para justificar que ϕ e ψ não são equivalentes, podemos executar os seguintes passos: 1. Considerar uma interpretação conjunta específica para ϕ e ψ, formada por um domínio de avaliação específico, D, e n propriedades específicas, representadas por p 1,..., p n, em D. 2. Utilizar as regras de avaliação dos conectivos e quantificadores para justificar que ϕ e ψ possuem valores diferentes nesta interpretação. 3. Se o Passo 2 terminar com sucesso, então ϕ e ψ não são equivalentes. Observe o peso que é dado à palavra específico, na descrição geral deste método. Aqui, a palavra específico é empregada para salientar que: Os raciocínios apresentados na justificativa de que dois enunciados simbolizados não são equivalentes deve ser baseado nas regras de avaliação dos conectivos e quantificadores mas pode, também, ser baseado em nossos conhecimentos específicos sobre um determinado domínio de objetos. Na verdade, neste caso, utilizamos nossa intuição, imaginação e/ou conhecimentos específicos, quando estamos elaborando uma interpretação determinada, baseada na qual raciocinamos empregando as definições para mostrar que os enunciados podem possuir valores diferentes. Observação 5 Justificar que enunciados quantificados são equivalentes, baseados apenas na definição de interpretação e nas regras de avaliação dos conectivos e quantificadores, é uma tarefa puramente técnica que requer, usualmente, reflexão e cuidado. Além disso, em certos casos, elaborar uma explicação detalhada da equivalência pode requerer um texto muito mais complexo do que os que estamos acostumados a redigir, até o momento. Por estas razões, nos limitaremos a tratar apenas dos exemplos mais simples e úteis de equivalências de enunciados quantificados. 9

Justificar que enunciados não são equivalentes baseados apenas na definição de interpretação e nas regras de avaliação dos conectivos e quantificadores também é uma tarefa técnica, mas pode requerer um pouco de imaginação, uma vez que devemos exibir ao menos uma interpretação na qual os valores de ϕ e ψ são diferentes. Esta interpretação pode ser qualquer uma, baseada na realidade ou inventada, desde que os enunciados, quando ali interpretados, tenham valores opostos. 1.2 Exercícios resolvidos Exercício 1 Mostre, usando interpretações, que os enunciados abaixo são equivalentes: (i) x[p(x)] e y[p(y)] (ii) x[p(x)] e y[p(y)] Exercício 2 Mostre, usando interpretações, que os enunciados x[p(x) q(x)] e y[p(y)] z[p(z)] não são equivalentes. Antes de ler as resoluções, tente resolver o exercício usando os conceitos estudados. Resolução do Exercício 1: (i) Sejam D um domínio qualquer e p uma propriedade qualquer em D. Temos que x[p(x)] é V sse p(x) é V para ao menos um dos valores que x pode assumir em D sse p(y) é V para ao menos um dos valores que y pode assumir em D sse y[p(y)] é V (observe que, se p(x) é V quando x : d, temos que p(y) também é V quando y : d; e vice-versa). (ii) Sejam D um domínio qualquer e p uma propriedade qualquer em D. Temos que x[p(x)] é V sse para todos os valores que x assume em D, temos que p(x) é V sse para todos os valores que y assume em D, temos que p(y) é V sse y[p(y)] é V (observe que, se p(x) fosse F quando x : d, teríamos que p(y) também seria F quando y : d; e vice-versa). D : N Resolução do Exercício 2: Considere a interpretação: p : ser par Nesta q : ser ímpar. interpretação x[p(x) q(x)] significa x (x é par x é ímpar) e, portanto, é V. Enquanto que y[p(y)] z[p(z)] significa [ x (x é par) ] [ x (x é ímpar) ] e, portanto, é F. Observe que x (x é par) é F, nesta interpretação, e x (x é ímpar) também é F, nesta interpretação. c 2014 Márcia Cerioli, Renata de Freitas e Petrucio Viana IM-UFRJ, IME-UFF 10