PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS CRIMES DE ROUBO E EXTORSÃO

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PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS CRIMES DE ROUBO E EXTORSÃO Felipe Benedetti Lima 1 felipe_pioi@hotmail.com Rogério Valdir Velho Filho 2 rogevelho@uol.com.br Resumo O nosso ordenamento jurídico elenca no Código Penal, varias condutas humanas positivas ou negativas (ação ou omissão), tidas como criminosas, pois violam bens jurídicos tutelados, dentre eles a vida, a integridade física e o patrimônio. No entanto o objeto da presente pesquisa será dois dos crimes contra o patrimônio, quais sejam o roubo e a extorsão, demonstrando de forma clara e sucinta as principais diferenças existentes entre esses dois tipos penais. Abstract Our juridical planning states on the Penal Code, a lot of positives or negatives moral behavior (actions or omission), deemed as criminal, because it break juridical property defended, among them life, physical integrity and the patrimony. However the object of this research will be two of the crimes against the patrimony, that is theft and extortion, demonstrating clearly and succinct the mainly differences between these Penal types. Palavras-chave Proteção ao patrimônio; roubo; extorsão e diferenças Introdução A noção que temos hoje de Direito pode-se dizer que foi criada de acordo com a necessidade de controlar as relações dos indivíduos que vivem em comunidade, buscando assim um equilíbrio para uma melhor convivência em sociedade. Nesse sentido descreve Damásio E. de Jesus, o fato 1 Aluno do 7º período do curso de Direito do UNIFEG. 2 Mestre em Direito e Professor de Direito Penal e Processual Penal do UNIFEG.

social é sempre o ponto de partida na formação da noção do Direito 3. (DAMÁSIO E. DE JESUS, 2006, p.3). Para melhor aplicabilidade e efeito, o Direito foi dividido em vários ramos, formando assim um conjunto de normas, as quais devem ser rigorosamente cumpridas para que os sujeitos a ela subordinados não arquem com as conseqüências de seu descumprimento. Esse conjunto é separado em dois grandes ramos que são: direito público e direito privado. Não há dúvidas que o direito penal pertence ao ramo do direito público, por tratar-se de uma relação direta entre o Estado e o agente criminoso. Nos dizeres de Cezar R. Bitencourt (2010, p.32.) 4 : O direito penal apresenta-se como um conjunto de normas jurídicas que tem como objetivo a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes penas e medidas de segurança. Esse conjunto de normas e princípios, devidamente sistematizados, tem a finalidade de tornar possível a convivência humana, ganhando aplicação pratica nos casos ocorrentes, observando rigorosos princípios de justiça. O Direito Penal diferentemente de outros ramos do Direito não cria bens jurídicos, mas amplia sua tutela penal aos bens jurídicos regidos por outras áreas do Direito, ou até mesmo os bens ou interesses não regidos por outros ramos do Direito, dando-lhes nova forma e com distinta valoração. A inobservância das regras interpostas pela norma penal é chamada de infração penal, a qual segundo a teoria adotada pela nossa legislação se divide em crime (também chamado de delito) e contravenção penal. O que difere essas duas espécies é a modalidade de pena a ser aplicada, ou seja, para o agente que praticou um crime a pena será de reclusão ou de detenção e ainda de multa, se for o caso, enquanto que ao agente praticante de uma contravenção penal a pena será de prisão simples e/ou multa ou apenas esta. O objeto principal deste presente artigo esta classificado como crime, pois o agente ao praticar a conduta viola um bem jurídico tutelado pela norma penal, qual seja o patrimônio, e a pena a ser aplicada ao agente neste caso será de reclusão e multa. A seguir analisaremos os crimes de roubo e extorsão e suas diferenças, mais para isso veremos anteriormente o conceito de crime em seus diferentes aspectos. Conceito de Crime Apesar do conceito de crime ser essencialmente jurídico, diferentemente do que acontecia nas leis antigas, o Código Penal atual não menciona o conceito de crime. Por esse motivo tal conceito é elaborado pela doutrina, a qual define o ilícito penal sob três aspectos diferentes. No que diz respeito ao aspecto externo, a mera adequação da conduta com o tipo legal, obtém-se uma definição formal; analisando o porquê de o fato ser tipificado como ilícito, chega-se a uma definição material ou substancial; e observando-se a estrutura, as características ou aspectos do crime, consegue-se um conceito analítico. Com relação ao aspecto formal pode-se dizer que é o mais aparente, pois se trata da contradição do fato a norma penal, mostrando assim a simples ilicitude do ato sem analisar sua essência ou vamos dizer assim, sua matéria propriamente dita. Segundo Fernando Capez, considerar 3 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal; parte geral, 28 Ed. São Paulo, Saraiva, 2006. v.1. p.3. 4 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal; parte geral, 15 Ed. São Paulo, Saraiva, 2010. v. 1. p. 32.

a existência de um crime sem levar em conta sua essência ou sua lesividade material é confrontar o principio constitucional da dignidade humana (FERNANDO CAPEZ, 2005, p.112.). 5 O aspecto material decorre da necessidade de se analisar as razões que levaram o legislador a prever uma punição a autores de certos fatos e não de outros, e ainda conhecer os critérios utilizados para a distinção dos ilícitos penais de outras condutas lesivas. Sob esse entendimento pode-se dizer que crime é todo fato humano que, de forma proposital ou de maneira descuidada, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos de cunho essencial para a existência da coletividade e da paz social. Por fim devemos analisar o ilícito penal sob o aspecto analítico, que tem como finalidade estabelecer seus elementos estruturais, buscando, ainda, a mais justa e correta aplicação da norma, desenvolvendo seu raciocínio de forma fracionada. Segundo entendimento dominante (concepção tripartida) o ilícito sob o ângulo analítico é todo fato típico, ilícito e culpável. Sendo assim, primeiramente deve-se observar se estão presentes todos os elementos do fato típico para só então verificar se a conduta é ilícita ou não. Após comprovada a tipicidade e a ilicitude é que se deve identificar os elementos da culpabilidade, ou seja, se o agente deve ou não sofrer um juízo de reprovação pelo ato cometido. Contrariando a posição majoritária, Fernando Capez (2005, p.112, 113) adota a visão bipartida, dizendo: 6 A culpabilidade não integra o conceito de crime....a culpabilidade não pode ser um elemento externo de valoração exercido sobre o autor do crime e, ao mesmo tempo, estar dentro dele. Não existe crime culpado, mas sim autor de crime culpado. Roubo O crime de roubo próprio está previsto no art. 157, caput, do Código Penal, o qual descreve a seguinte conduta: Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Este ilícito penal foi inserido no capitulo referente aos crimes contra o patrimônio, pois o objetivo do agente é justamente causar prejuízo patrimonial à vítima. O sujeito ativo do roubo pode ser qualquer individuo, pois independe de uma qualidade especial do agente. Para atuar no pólo passivo deste ilícito também não é necessário um atributo especifico da vitima. No entanto insta lembrar que a vitima só da violência, e não da subtração, também pode ser sujeito passivo. Isto porque estamos tratando de um crime considerado complexo, pois, é composto por fatos que individualmente também constituem crimes, sendo que neste ilícito são protegidos o patrimônio e a integridade física. Por se tratar de crime complexo, Guilherme de Souza Nucci ensina não ser possível a aplicação do princípio da bagatela, vejamos (2009, p. 719) 7 : 5 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte geral, 9 Ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 1. p.112. 6 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte geral, 9 Ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 1. p. 112,113. 7 NUCCI, Guilherme de Souza; Manual de Direito Penal; parte geral, parte especial, 6 Ed. São Paulo, RT, 2009, p. 719.

Não se aplica o principio da insignificância, pois é crime complexo, que protege outros bens alem do patrimônio, de forma que a violência ou a grave ameaça não podem ser consideradas de menor relevância, configuradora do delito de bagatela. Está inserido no 1º do Código Penal o chamado roubo impróprio, em que o agente, logo após ter subtraído a coisa, usa de violência ou grave ameaça, com o intuito de garantir a impunidade do delito ou mesmo a detenção da coisa. Portanto podemos dizer que a diferença existente entre roubo próprio e o impróprio é o momento em que será aplicada a violência ou a grave ameaça. A ameaça de que se trata o tipo penal pode ser caracterizados pelo simples uso de palavras, gestos ou mesmo porte ostensivo de arma. Neste caso, se o agente além de demonstrar, de alguma maneira, que está armado, apontá-la para vitima ou engatilhá-la, configurar-se-á a causa de aumento de pena relacionada ao emprego de arma (art. 157, 2, I). No entanto se o agente não demonstrar nem mesmo o porte ostensivo, não estaremos diante de um roubo, mas de um crime de furto (art. 155 CP), desde que não fique caracterizada, de outro modo, a violência ou grave ameaça. Vale acrescentar o posicionamento do Supremo Tribunal Federal 8 em relação ao uso de arma defeituosa, desmuniciada, ou até mesmo de brinquedo. Segundo o Pretório Excelso, não descaracteriza o crime de roubo, pois apesar da ineficácia (relativa no primeiro caso e absoluta nos demais) do meio utilizado, também constitui meios ameaçadores, capazes de intimidar a vítima. Nos dizeres de Damásio E. de Jesus (2005, p.342) 9 : O roubo só é punível a titulo de dolo. Possui outro elemento subjetivo, contido na expressão para si ou para outrem, que demonstra a exigência de intenção de posse definitiva. Assim, não há delito de roubo quando o sujeito não age com a finalidade de assenhoreamento definitivo da coisa móvel alheia. Nos termos do 1, o roubo impróprio exige outro elemento subjetivo do tipo, previsto na expressão a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. É possível imaginar a figura da tentativa apenas no roubo próprio, pois nesse caso pode ser que o agente não consiga efetivar a subtração do bem alheio pretendido, por circunstâncias alheias à sua vontade. Em regra, no roubo impróprio a figura da tentativa não é admissível, pois se o agente não pratica a violência contra a vítima ou grave ameaça, mesmo que independentemente a sua vontade, não estará caracterizado o crime de roubo e sim de furto. Admitindo a tentativa de roubo impróprio, Guilherme de Souza Nucci (2009, p.724.) 10 ensina: Pode haver tentativa de roubo impróprio, quando o agente, apesar de ter conseguido a subtração, é detido por terceiros no instante em que pretendia usar violência ou grave ameaça. Podemos dizer ainda que o agente poderá incorrer em concurso de roubo e extorsão, pois são crimes de espécies distintas, previstos em tipos penais diferentes. Isto poderá ocorrer, como por exemplo, no caso que o agente após consumar o roubo, constrange a vitima com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica. 8 STF, RT, 646/676. 9 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte especial, 5 Ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 2. p.342. 10 NUCCI, Guilherme de Souza; Manual de Direito Penal; parte geral, parte especial, 6 Ed. São Paulo, RT, 2009. p. 724,725.

Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça 11 (HC 10.375-MG, 6.T., rel. Fernando Golcalves, 04.11.1999, v. u., DJ 29.11.1999,p.208): O réu, após roubar o carro da vitima, obrigou-a a entregar o cartão 24 horas e o talonário de cheques, alem de coagi-la a assinar alguns desses cheques, o que caracteriza o crime de extorsão. Conclui-se que o réu praticou os crimes de roubo e extorsão em concurso material. Os crimes de roubo e extorsão não são crimes da mesma espécie, pelo que não ensejam continuidade delitiva, mas sim, concurso material. Precedentes do STF. Quanto à consumação, podemos dizer que o roubo próprio se consuma a partir do momento em que o agente subtrai o objeto material, tirando-o da disponibilidade do autor, mesmo que ainda não possa usufruir o bem. Já o roubo impróprio só se consuma a partir do momento em que o agente aplica a violência ou a grave ameaça contra a vítima. Assim, como o Código Penal descreve a conduta que tipifica o crime, também prevê a pena a ser aplicada ao agente. Desse modo o CP (art. 157, caput e 1 ) prevê no caso de roubo simples, próprio ou impróprio, pena de reclusão, de quatro a dez anos e multa. No caso de roubo circunstanciado ( 2 ), a pena aumenta-se de um terço até a metade. Se a vítima sofre lesão corporal grave em sentido amplo (art. 129, 1 e 2 ), a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa (157, 3, 1 parte); se a vitima vem a óbito (latrocínio), a reclusão será de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa ( 3, parte final). Cumpre dizer que, no delito de roubo, a ação penal cabível é pública incondicionada. Extorsão O ilícito penal tipificado como extorsão, está previsto no art. 158 caput, do Código Penal, o qual assim descreve: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. Assim como o roubo, está titulado como crime cuja objetividade jurídica principal é a inviolabilidade do patrimônio. Podemos dizer, ainda, que se trata de um crime complexo, por englobar a figura de outros ilícitos tipificados em nosso ordenamento jurídico, que tem como bens jurídicos a vida e a integridade física. Quanto ao sujeito ativo, também é considerado crime comum, pois qualquer pessoa poderá praticá-lo, não dependendo deste uma característica especial. Insta lembrar que se o sujeito ativo for funcionário público, que se restringe a exigir vantagem econômica indevida em razão da função, sem o emprego da violência ou grave ameaça, estará configurado o crime contra a Administração Público previsto no art. 316 do Código Penal, chamado de concussão. Já o sujeito passivo da extorsão será tanto quem sofre a violência ou grave amaça, quanto quem faz, deixa de fazer ou tolera que se faça alguma coisa. O elemento subjetivo para o pratica do ilícito é o dolo, da mesma forma que o roubo, sendo necessário, ainda, a presença do dolo específico que é a finalidade de obter vantagem econômica ilícita. Se não estiver presente esta finalidade, não estará caracterizado o delito de extorsão, mais isso não impede vir a constituir outro crime, como por exemplo, o constrangimento ilegal. Vale lembrar que esse tipo exige um elemento normativo, que reside na expressão indevida, sendo que, 11 HC 10.375-MG, 6.T., rel. Fernando Golçalves, 04.11.1999, v. u., DJ 29.11.1999,p.208.

se o agente tem por finalidade a obtenção de vantagem que não seja indevida, estará afastada essa modalidade delituosa. É perfeitamente cabível a figura da tentativa, se a vítima, mesmo constrangida por violência ou grave ameaça, deixa de praticar os atos ou omissões impostos pelo agente, por motivos alheios a vontade deste. Vale anotar que o meio empregado na violência ou grave ameaça deve ser capaz de intimidar a vítima. Há divergências na doutrina em relação à consumação da extorsão. Parte dela (majoritária) entende que este ilícito é formal, ou de consumação antecipada, não exigindo a produção do resultado naturalístico para sua caracterização. No entanto, outra corrente (minoritária) ensina tratarse de um crime material, necessitando a produção do resultado para o fato ser típico. Nas palavras de Fernando Capez (2005,p.429): A primeira posição é mais correta, pois o verbo do ripo não é obter vantagem econômica, mas constranger a vítima com essa finalidade. A obtenção da vantagem indevida, por isso, constitui mero exaurimento do crime 12. A pena prevista no Código Penal aplicada ao agente que praticou o ilícito na forma simples, será de quatro a dez anos de reclusão e multa (art. 158, caput). No caso do crime ser cometido por duas ou mais pessoas, ou com o emprego de arma, a pena será aumentada de um terço até a metade ( 1 ). A ação penal cabível no crime de extorsão também é a pública incondicionada. Principais diferenças Como já vimos, apesar de muitas semelhanças, há também várias diferenças entre os crimes de roubo e extorsão, sendo elas divididas basicamente em três correntes. A primeira delas entende que no roubo o bem é retirado, ou seja, subtraído da disponibilidade da vítima pelo próprio agente, com o emprego de violência ou grave ameaça, enquanto que na extorsão é a própria vítima, que, em virtude também da violência ou grave ameaça sofrida se sente coagida de tal modo que venha a entregar o bem. Nesse sentido: JTACrimSP, 62:26, 69:271, 70:38 e 75:460; RT, 501:311, 593:411, e 576:456; RTJ, 116:157 e 105:133; STJ, 6 Turma, REsp 1.386, DJU, 5 mar. 1990, p. 1417 e 1418. A segunda corrente entende que (Carrara apud E. Magalhães Noronha apud Fernando Capez, 2005, p. 433.) 13 :... no roubo o mal é iminente e a vantagem contemporânea, ao passo que na extorsão o mal prometido e a vantagem que se visa são futuros. Ou seja, no primeiro o agente para subtrair da vitima algo móvel, deverá usar de violência ou grave ameaça naquele momento ou logo após a subtração, obtendo a vantagem contemporaneamente, ou o crime não estará consumado, enquanto que na extorsão o agente promete usar da violência ou grave ameaça para coagir a vítima, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, sendo que a vantagem econômica ilícita pretendida pelo agente poderá ser atingida apenas com o passar do tempo, sem prejuízo da tipicidade do fato. Nesse sentido: (RT, 454:430; RTJ, 100:940; JTACrimSP, 68:63 e 69:271 (v.v.).) 12 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte especial, 5 Ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 2. p. 429. 13 Carrara apud E. Magalhães Noronha apud Fernando Capez, Curso de Direito Penal; parte especial, 5 Ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 2. p. 433.

Para a terceira corrente, o que realmente importa é o comportamento da vítima, ou seja, na extorsão a entrega do bem deve ser feita pelo sujeito passivo, desse modo, sua conduta é imprescindível para que o agente obtenha êxito no seu propósito, enquanto que no roubo, pouco importa se a vítima entrega o bem ou se ele é subtraído pelo próprio agente, pois a conduta do primeiro é prescindível. Segundo a jurisprudência: ( JTACrimSP, 77:264,85:385,80:269, 95:192; RT, 604:384, 718:429 e 748:610 e 612; TACrimSP, ACrim 1.241.059, 12ª Câm., rel. Juiz Amador Pedroso, RT, 792:643.) Das três correntes doutrinárias apresentadas acima, é possível afirmar que as duas primeiras são vencidas, sendo majoritária a última. Há diferença também quanto ao momento da consumação, pois, conforme visto, o roubo é classificado como crime material, enquanto que a extorsão é classificada como crime formal. Portanto para que o roubo se consume é preciso que a conduta do agente produza efeito, ou seja, o bem tem de ser subtraído da disponibilidade da vítima, com o emprego de violência ou grave ameaça. Já na extorsão a consumação se da com a simples coação à vítima, com o emprego de violência ou grave ameaça e com o intuito de adquirir vantagem econômica indevida, sem que seja necessária a produção do resultado pretendido pelo agente (mero exaurimento). É importante lembrar que mesmo diante do emprego da violência ou grave ameaça, a vítima não venha a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, a extorsão não estará consumada, sendo possível a responsabilização criminal do agente apenas por esse delito na forma tentada. Também nesse sentido: RT, 454:430; RTJ, 100:940; JTACrimSP, 68:63 e 69:271 (v.v). Bibliografia BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum. Editora Saraiva. 15 ed. São Paulo. 2013. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal; parte geral, 15 ed. São Paulo, Saraiva, 2010. v. 1. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal; parte geral, 9 ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 1., Curso de Direito Penal; parte especial, 5 ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 2. JESUS, Damásio E. de. Direito Penal; parte geral, 28 ed. São Paulo, Saraiva, 2006. v.1., Direito Penal; parte especial, 27 ed. São Paulo, Saraiva, 2005. v. 2., Código Penal Anotado; 18 ed. São Paulo, Saraiva, 2007. MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal; parte geral, 24 ed. São Paulo, Atlas S.A, 2007. v. 1., Manual de Direito Penal; parte especial, 25 ed. São Paulo, Atlas S.A, 2007. v. 2. NUCCI, Guilherme de Souza; Manual de Direito Penal; parte geral, parte especial, 6 ed. São Paulo, RT, 2009. NUCCI, Guilherme de Souza; Código Penal Comentado; 10 ed. São Paulo, RT, 2010.