APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES DE FURTO E ROUBO
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- Luana Andrade de Sequeira
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1 1 APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES DE FURTO E ROUBO ANNE CAROLINE COSTA 1 SUZANA DUARTE GARCIA 2 Resumo: O presente artigo tem como foco mostrar o campo de aplicabilidade do Princípio da Insignificância nos crimes contra o patrimônio, em específico dos crimes de furto e roubo. Apontar como benefício deste princípio a proximidade da equidade e afastamento do injusto penal. Demonstrar a impossibilidade de sua aplicação no crime de roubo, embasando em análises jurisprudenciais e doutrinárias. Palavras-chaves: Princípio da Insignificância Crime de Bagatela Furto Roubo. Introdução Primeiramente iremos tratar, com considerações doutrinárias, o conceito e função do Princípio da Insignificância, abordando sua origem e peculiaridades. Traçamos aqui um paradigma para o tratamento como crime de bagatela no que tange aos delitos de furto e roubo. Cumpre ser necessário a tipificação dos crimes de furto e roubo no Código Penal Brasileiro, para que fique claro aos leitores suas distinções e a aplicabilidade do princípio da insignificância a cada um destes delitos. Conceito de Princípio da Insignificância 1 Aluna do 8º Período Curso de Direito das Faculdades Promove. 2 Aluna do 8º Período Curso de Direito das Faculdades Promove.
2 2 O Princípio da Insignificância foi formulado por Claus Roxin e tem como objetivo excluir a punição dos delitos que tenham como resultado lesões a bens jurídicos insignificantes. Esses pequenos delitos são conhecidos como crime de bagatela e ocorrem quando a conduta e o resultado são juridicamente irrelevantes, ou seja, quando seus efeitos não ferem o bem jurídico de forma suficientemente agressiva a ponto de ser necessária a punição do Poder Judiciário. Permitem desconsiderar-se a tipicidade de fatos que, em razão de sua inexpressividade, são elididos da esfera de censurabilidade. Conforme ensina Luiz Regis Prado (2008, p.146) a irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena, devendo excluir-se a tipicidade da conduta em caso de danos de pouca importância. E ainda, Julio Fabbrini Mirabete (2006, p ) explica que nos casos de ínfima afetação do bem jurídico, o conteúdo do injusto é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o pathos ético da pena. É indispensável que o fato tenha acarretado uma ofensa de certa magnitude ao bem jurídico protegido para que se possa concluir por um juízo positivo de tipicidade. O princípio da insignificância não está tipificado em nenhum normativo legal, mas sua aplicação está amparada pela doutrina e jurisprudência, sob o fundamento do princípio constitucional da ofensividade, que não há crime sem ofensa relevante a bem jurídico, e de ser um critério para determinação do injusto penal. Sua finalidade é auxiliar a análise do intérprete no tipo penal, com intuito de excluir do campo de incidência da lei as infrações de pequeno potencial ofensivo e encontra seus alicerces nos princípios gerais do direito da equidade e na distribuição igualitária da justiça. 3. Do crime de furto O delito de furto está tipificado no artigo 155 do Código Penal Brasileiro vigente que assim o descreve: Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena reclusão, de um a quatro anos e multa.
3 3 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. 3º - Equipara-se à coisa Alheia móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. Furto Qualificado 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I com destruição ou rompimento do obstáculo à subtração da coisa; II com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III com emprego de chave falsa; IV mediante concurso de duas ou mais pessoas. 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado e para o exterior. Atente-se que, apesar de não está expressamente previsto no Código Penal a aplicação deste princípio, o parágrafo único do artigo supra citado introduz a redução da pena se a coisa for de pequeno valor. A aplicação do princípio da insignificância no delito de furto simples tem sido acolhida pela jurisprudência quando o bem furtado tenha valor patrimonial baixo. Conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul considera-se valor inexpressivo aquele que não ultrapasse a um décimo do valor do salário mínimo vigente (ML n / 2008 / CRIME). É perceptível o afastamento de um possível injusto penal quando, por exemplo, no crime de furto, o sujeito furta uma maçã no supermercado. Não seria justo aplicar a pena prevista no Código Penal para este crime, que é de um a quatro anos de reclusão, apenas em face de ter o individuo subtraído para si uma maçã. Ou alguém que furta um doce em uma padaria. Diante do irrelevante valor patrimonial desses bens seria completamente desproporcional aplicar a pena prevista. Mesmo no crime de furto qualificado é aplicável este princípio, como se pode vê na decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (Apelação Crime n ) que excluiu a tipicidade do delito e absolveu o réu, incorrido no artigo 155, parágrafo 2º, inciso I, por terem sido os bens furtados no valor de R$40,00. No entendimento da decisão:
4 4 No Estado Democrático de Direito, observados os princípios constitucionais, entre eles o da proporcionalidade da sanção penal, o princípio da humanidade e da dignidade da pessoa humana, afirma-se a posição do Estado como ente que não apenas pune, mas pune de forma justa. Por isso, é possível não punir quando a pena se apresentar desproporcional ao atuar do agente. Portanto, o fato pode ser atípico porque não preenche os requisitos formais ou porque não causou resultado jurídico relevante e só considera-se a relevância na proporcionalidade entre o agir e a pena a ser imposta. Afasta-se, pois a tipicidade da conduta pela aplicação do princípio da insignificância não apenas pelo valor patrimonial atingido, mas pela conjunção de circunstâncias objetivas ou seja, desvalor social da conduta praticada, o desvalor do resultado e a desproporção entre o fato e a pena aplicável. 4. Do crime de Roubo Este crime está previsto no artigo 157 do Código Penal, que o caracteriza como: Art Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. Diferentemente do crime de furto a aplicação do princípio da insignificância no crime de roubo é muito mais complexa, pois aqui o tipo penal tutela não só o bem patrimonial, mas também a integridade da vítima. São diversos os bens jurídicos protegidos. O delito de roubo é um crime complexo onde a lesão jurídica atinge um grau de gravidade elevado. O sujeito não só subtrai para si coisa alheia móvel, como também utiliza meio violento para isso. Ainda que o valor do bem subtraído seja insignificante,
5 5 não pode ser desconsiderada a conduta violenta e maldosa do agente. Não se pode falar em crime de bagatela quando existe a grave ameaça. O crime complexo caracteriza-se pela junção de dois ou mais tipos penais, formando uma unidade jurídica. No caso do crime de roubo, é tutelado patrimônio, liberdade e a integridade da pessoa. A violência utilizada torna acentuadamente relevante a conduta do agente. Esse é o entendimento pacífico na Jurisprudência e de certo é realmente plausível. Vejamos como exemplo, um sujeito portando um canivete aborda a vitima na rua e manda que ela lhe entregue o seu dinheiro, caso contrário ele irá lhe atingir com o canivete. A vítima somente possui no bolso R$ 2,00 e o infrator pega esse dinheiro e vai embora. Como aplicar o princípio da insignificância neste caso? Está nítida a intenção do agente, ele somente levou R$ 2,00 porque era o que a vítima tinha, mas se ela possuísse R$2.000,00 certamente ele o levaria. Diante da conduta do agente, fica completamente inviável caracterizar como crime de bagatela. É entendimento do Superior Tribunal de Justiça: Na aplicação do princípio da insignificância devem ser considerados o tipo de injusto e o bem jurídico atingido. O objeto material, aí, nem sempre é decisivo mormente em se tratando de crime complexo em sentido estrito. Ainda que se considere o delito de pouca gravidade, não se identifica com o indiferente penal se, como um todo, observado o binômio tipo de injusto/bem jurídico, deixou de se caracterizar a sua insignificância. (Precedentes) V - Para que o agente se torne possuidor, é prescindível que a res saia da esfera de vigilância da vítima, bastando que cesse a clandestinidade ou a violência. (STJ - HC /RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER). 5. Conclusão Em algumas situações, é necessário fazer constar um limite mínimo para a constituição do tipo legal do delito. No crime de furto, fica bem visível a aplicação desse princípio e, em certos casos, chega a ser imprescindível, pois aplicar a pena considerando somente a conduta sem analisar o resultado, seria uma forma arbitraria e ditatorial de punição. Além de tumultuar ainda mais o judiciário e o sistema carcerário com casos que não merecem tal repercussão.
6 6 Excluir a tipicidade de um crime que não tem uma relevante repercussão social, é adequá-lo à organização do ordenamento jurídico que tem como função amparar a sociedade quando há lesão a um bem jurídico. No que tange ao crime roubo é inaceitável excluir a tipicidade do fato, haja vista que não está em questão somente o bem patrimonial, mas ainda o lado subjetivo da vítima que, na maioria dos casos, entra em pânico pela ameaça sofrida e leva traumas pelo decorrer de sua vida. Este princípio deverá ser aplicado para os delitos que realmente não tenham causado uma lesão concreta a ponto de ser necessária uma punição, quando a conduta e o seu resultado não causem prejuízo perceptível à vitima. É necessária que a conduta do agente seja suportável pela sociedade. A utilização deste princípio, repita-se, nos casos adequados, pode ser uma alternativa de aliviar a sobrecarga que o Judiciário e o sistema penitenciário têm sofrido. No entanto, não se pode fazer deste princípio uma brecha para a pratica de crimes e para impunidade. A sua aplicação tem de ser em casos excepcionais, onde restar evidente qual resultado o agente buscava alcançar. A caracterização do crime de bagatela deverá ser apenas para delitos simples, que tenham ocorrido em circunstâncias atípicas em que o a gente necessariamente não pretendia obter vantagem maldosa com o ato. 6. Referências bibliográficas MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal. Vol. I. 23.ed. São Paulo: Atlas, PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. I. 8. ed. Ver., atual. e ampl GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 10 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.
7 7 Documentos eletrônicos STJ. Superior Tribunal de Justiça. Acesso em Tribunal de Justiça Rio Grande do Sul. Acesso em Tribunal de Justiça do Paraná. Acesso em Acesso em Acesso em Acesso em Acesso em
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