REFLEXÕES A PARTIR DO FILME DOIS DIAS, UMA NOITE. Prof. Dr. Radamés Rogério Universidade Estadual do Piauí

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Transcrição:

REFLEXÕES A PARTIR DO FILME DOIS DIAS, UMA NOITE Prof. Dr. Radamés Rogério Universidade Estadual do Piauí

SOBRE O FILME Título: Dois dias, uma noite Título original: Deux jours, une nuit Direção: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne Roteiro: Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne Ano: 2014 País: Bélgica, França, Itália Gênero: Drama Duração: 95

CENÁRIO Para Bauman, as condições de vida no mundo líquido moderno tem as seguintes características: Vulnerabilidade Instabilidade Precariedade Insegurança Incerteza Falta de garantias Individualismo

O TRABALHO... é a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem. Friedrich Engels, Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem (2001), p.190.... é indispensável a existência do homem - quaisquer que sejam as formas de sociedade é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza e, portanto, de manter a vida humana. Karl Marx, O capital (1975), p.50.

O TRABALHO COMO FONTE DE REALIZAÇÃO A história humana é a história das relações do homem consigo mesmo e com a natureza, relações essas mediadas pelo trabalho, atividade que retira o homem da natureza e o coloca numa posição de domínio sobre esta, jamais ocorrendo, nesse processo, a separação entre trabalho intelectual e manual.

O TRABALHO COMO FONTE DE ALIENAÇÃO A industrialização promove uma tripla expropriação no trabalhador: 1. Do saber sobre o processo como um todo da produção, que passa a ser parcial; 2. Dos instrumentos e meios de produzir o que produz; 3. Da possibilidade de posse do fruto de seu trabalho. Apartado daquilo que produz e do como fazê-lo, o trabalhador passa a vivenciar uma situação de estranhamento em relação ao processo de trabalho, esse fenômeno Marx denominou alienação.

O TRABALHO COMO FONTE DE ALIENAÇÃO (...) a própria ação do homem se transforma para ele em força estranha, que a ele se opõe e o subjuga, em vez de ser por ele dominada. (Marx & Engels, A ideologia alemã, 1998, p. 28). A partir do trabalho alienado, os trabalhadores adquirem falsa consciência da realidade em que vivem passando a não reconhecer a exploração e a injustiça ao qual estão submetidos nas relações de produção, através, por exemplo, do assalariamento.

CARACTERÍSTICAS DO FORDISMO A principal característica do fordismo foi a introdução das linhas de montagem, na qual cada operário ficava em um determinado local realizando uma tarefa específica, enquanto o produto fabricado se deslocava pelo interior da fábrica em uma espécie de esteira. Com isso, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho.

CARACTERÍSTICAS DO FORDISMO Características importantes do processo da alienação do trabalho: Trabalho dividido (especialização) Trabalho repetido, em cadeia e contínuo Entretanto, o fordismo: Treinamento da mão-de-obra Nível baixo de absenteísmo e de rotatividade Centralização do trabalho Processo de proletarização

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS Desregulamentação e flexibilização dos direitos trabalhistas Mudanças tecnológicas Subproletarização Desarticulação da ação sindical Desproletarização

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO BRASIL Apenas no ano passado, para citar dados do Caged [Cadastro geral de empregados e desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego], 97,5% dos postos com carteira assinada remuneravam até 1.5 salários mínimos, com um acentuado aumento da participação da faixa que paga meio salário mínimo, subcontradado e subremunerado. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO BRASIL Altas de taxas de rotatividade + Baixo desemprego = As empresas contratam, intensificam o trabalho e, quando os trabalhadores deixam de dar os resultados esperados por conta da pressão pelos resultados, elas demitem. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO BRASIL OS MALES DA TERCEIRIZAÇÃO: PL 43/30 Se esta mínima barreira que ainda existe contra a terceirização, se ela ruir, você vai decretar o fim da CLT. É, o pior, sem dúvida nenhuma, o pior ataque aos direitos da classe trabalhadora na história do Brasil. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO BRASIL OS MALES DA TERCEIRIZAÇÃO: PL 43/30 O salário médio dos trabalhadores terceirizados é cerca de 36% menor, os acidentes de trabalho concentram-se no setor terceirizado, 64% dos acidentes de trabalho são em empresas ou atingem trabalhadores terceirizados. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO BRASIL OS MALES DA TERCEIRIZAÇÃO: PL 43/30 Segundo dados do Ministério Público do Trabalho, das 36 principais operações de libertação de trabalhadores em situação análoga à escravidão, 35, não menos que 35, foram em empresas terceirizadas. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

PÓS-FORDISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS OS MALES DA TERCEIRIZAÇÃO: Hoje, debate-se muito na Europa os tais minijobs. O trabalhador fica em casa com o celular até receber um SMS dizendo para ele se apresentar em 1 ou 2 horas num McDonald s da vida para trabalhar por 4 horas e receber exclusivamente pelas 4 horas que trabalhou. Ou seja, sem nenhum tipo de direito. Ruy Braga, sociólogo, professor da USP em entrevista disponível em http://www.pstu.org.br/node/21375 - acesso em 06/04/2015.

CONSEQUÊNCIAS A capacidade de fazer projeções para o futuro é (...) conditio sine qua non de todo pensamento transformador e de todo o esforço de reexaminar e reformar o estado presente das coisas mas projeções sobre o futuro raramente ocorrerão a pessoas que não têm o pé firme no presente. Zygmunt Bauman, Modernidade líquida (2001), p.190.

Prof. Dr. Radamés de Mesquita Rogério Universidade Estadual do Piauí Visite: radamesrogerio.worpress.com E-mail: rm_rogerio@yahoo.com.br