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Transcrição:

Colóquio Populismo e as suas Expressões NEPUL 23/24 Maio 2017 ROMA ANTIGA Maria SOUSA GALITO Investigadora do Centro de História Faculdade de Letras Universidade de Lisboa 23/05/2017, 16h45 Discurso de Marco António (Pinterest)

Contexto Inicial -A Tríade Romana Tribos Romanas Grupos Étnicos Culto Doméstico Capitólio Palatino Aventino Ramnenses Latinos Lares Júpiter Acca Larentia Ceres Ticienses Sabinos Mares Marte Rómulo Liber Lúceres Etruscos Penates Quirino Remo Libera «O Estado romano tornou-se tão forte que era um bom partido para qualquer dos seus vizinhos na guerra ( )» (Tito Lívio, HR, Livro I, 1.9). Uma vez que Roma tinha três tribos e todas elas deram reis à cidade, é possível que o processo de conquista tenha negociado a rendição das elites vizinhas pois, ao invés de as destruir, convidou-as a viver sob a proteção de um Estado aglutinador. À medida que Roma foi conquistando mais território, a tríade sociopolítica deixou de fazer sentido, mas o seu carater simbólico manteve-se associado à religião.

República Romana As tensões sociais contribuíram para a queda da Monarquia e para a implantação da República. Mas resultaram da luta entre patrícios e plebeus (ricos e pobres naturais da cidade)? Ou da querela entre classes elevadas (patrícios romanos e estrangeiros que entretanto tinham adquirido cidadania romana)? Em meados do séc. III a.c. Roma dividia-se em trinta e cinco tribos, quatro urbanas, e trinta e uma rurais, que desenvolviam atividades num contexto de elevada crispação entre líderes e grupos partidários. Levando em consideração que todos os anos se organizavam novas eleições, o ambiente era de perpétua campanha eleitoral, o que o tornava ainda mais volátil e competitivo.

Após as guerras púnicas o paradigma sociopolítico mudou. A questão tornou-se evidente com os irmãos Graco, mas sobretudo com o eclodir das guerras civis. A agenda popular começou a fazer estragos após as reformas militares de Caio Mário, com o recrutamento massivo das classes baixas, mais fiéis aos seus comandantes do que ao Estado. Os populistas apelavam à sua força coletiva e manipulavam as massas. As elites, mesmo num sistema assimétrico que as favorecia, não herdavam a sua posição do Senado e tinham de provar o seu valor para nele entrar (Vanderbroeck, 1987: 18-19). Foi com desespero que os conservadores se aperceberam cada vez mais dependentes do voto popular. Portanto, tanto optimatescomo popularesabusavam da retórica e conseguiam ser extremistas nas propostas. A propaganda dominava o ambiente político. Nessa medida, o populismo aumentou.

(Baldwin Project) Muitos protagonistas do séc. II-I a.c. contribuíram, com os seus excessos, para a queda da República. Todos os tribunos da plebe assassinados desde os tempos de Tibério Graco foram, de alguma forma, acusados de ter minado o regime político em que viviam. Após o primeiro consulado de César, os mais conhecidos eram talvez Clódio e Marco António dois dos principais partidários de César e inimigos de Cícero.

Após o assassinato de César em 44 a.c. ofuturo Augusto ao mesmo tempo seduziu a elite senatorial e os optimates liderados por Cícero, e aproveitou-se do apoio dos partidários de César (os veteranos das suas guerras e a plebe urbana) descontentes com os excessos de António e a menor liderança de Lépido (mas formou com estes o segundo Triunvirato, tal como o pai adotivo participara no Primeiro Triunvirato com Crasso e Pompeu). Argumentou ser líder que agia pelo bem da República e possuía as qualidades de um PrincepsSenatus(Giacomo, 2014: 108). Quando se declarou vencedor da guerra civil, fundou um regime liderado pelo homem mais importante do Senado. Mas foi ele, e não o pai, quem terminou com a República em Roma. Nesse sentido, a sua atuação foi anti-sistémica e extremista, porque violenta. Augusto estabilizou o sistema político e, com a ajuda da propaganda de Estado, sob a batuta de poetas como Horácio e Virgílio, moldaria magistralmente a perceção generalizada (talvez ilusória mas eficaz) do povo do império viver em paxromana, ou seja, em paz, em segurança e em prosperidade. Há muitas formas de fazer populismo. Fim. Obrigada.