OSCILAÇÕES DE TEMPERATURA DO ATLÂNTICO TROPICAL OESTE PARA OS ÚLTIMOS ANOS COM BASE NA TÉCNICA DO ANÁLOGO MODERNO

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Transcrição:

OSCILAÇÕES DE TEMPERATURA DO ATLÂNTICO TROPICAL OESTE PARA OS ÚLTIMOS 40.000 ANOS COM BASE NA TÉCNICA DO ANÁLOGO MODERNO Santos, T. P¹.; Lessa, D. O¹.; Albuquerque, A. L. S¹.; Barbosa, C. F¹.; Belém, A. L.¹ e-mail: thiago.pereirads@hotmail.com ¹ Universidade Federal Fluminense Departamento de Geoquímica, Outeiro de São João Batista, s/n, Centro, Niterói/ RJ, CEP: 24050-150. Palavras-chave: Paleoceanografia, foraminíferos planctônicos, Último Máximo Glacial. 1. INTRODUÇÃO Como resultado da tectônica do Cenozóico, o oceano Atlântico Sul se tornou a única passagem que conecta as águas do oceano Atlântico Norte com o cinturão de circulação termohalina global (conveyor belt). O sistema de correntes do Atlântico Sul representa um cenário sensível dentro da circulação superficial/termohalina global (Arz et. al., 1999), portanto, a funcionalidade deste transporte global de massas d água é crucial para entender o desenvolvimento do clima em escala regional e global (Gersonde et. al., 2003). Atenções têm sido direcionadas para a região sul equatorial do oceano Atlântico devido ao seu potencial de alterar o balanço oceânico de calor, água doce, e ser uma fonte de vapor d água para atmosfera (Peterson et. al., 2000). Devido a este fato, as chuvas da região nordeste da América do Sul e da África subsaariana são profundamente controladas pela temperatura da superfície (TSM) nesta parte do oceano. Alterações do gradiente de temperatura entre 15ºN e 15ºS, o chamado dipolo da TSM do Atlântico, podem influenciar diretamente as condições climáticas a nível global (Chang et. al., 1997). Além disso, a corrente sul equatorial do Atlântico exporta significativa quantidade de calor para o hemisfério norte, sendo a porção tropical oeste através da Corrente Norte do Brasil, a principal passagem de águas quentes para o oceano Atlântico Norte. Nas altas latitudes estas águas liberam seu calor para atmosfera e se resfriam (Paul e Schäfer-Neth, 2003). Portanto, é cientificamente interessante reconstruir o histórico de oscilação da TSM no Atlântico tropical oeste devido a sua influência no clima regional e de altas latitudes. Baseado nisto, este trabalho tem como objetivo aplicar a Técnica do Análogo Moderno em uma assembléia de foraminíferos planctônicos a fim de determinar as anomalias térmicas da região para os últimos 40.000 anos AP.

2. ÁREA DE ESTUDO O testemunho GS07-150 10/3 MC-B (4⁰49.376S e 34⁰52.956W) foi recuperado de uma profundidade de 939 m na costa nordeste do Brasil próximo ao Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). A hidrografia superficial da área é dominada pelo fluxo em direção a Norte- Noroeste da Corrente Norte do Brasil (CNB) e pelo sistema de correntes Sul Figura 1 - Área de estudo Equatorial. Porém, a CNB não possui o mesmo comportamento ao longo de todo ano. De fevereiro a maio ela flui continuamente ao longo da costa norte do Brasil em direção ao Golfo do México e, devido à dinâmica sazonal do sistema equatorial de ventos, que formam a Célula de Walker, no restante do ano a CNB vira em direção a leste, onde se une a Contra-Corrente Norte do Equador (CCNE). As principais águas tipo profundas da região são a Água Central do Atlântico Sul (ACAS), a Água Central do Atlântico Norte (ACAN), abaixo desta a Água Intermediária Antártica (AIA) que move-se do sul em direção ao Equador, e inferior a esta encontra-se a Água Profunda do Atlântico Norte (APAN) que flui do norte em direção ao Equador. 3. MATERIAIS E MÉTODOS O testemunho foi recuperado através de um KC multicorer modelo 72.000 e subamostrado a cada 0,5 centímetro. Foi lavado 1cm³ de sedimento em peneira de 150 µm para a contagem dos foraminíferos planctônicos (FP). Após secas, cada amostra foi quarteada até restarem cerca de 300 carapaças identificadas até o nível específico. Foram executadas três datações em espectômetro de massa (AMS) utilizando o 14 C da carapaça de FP. A calibração das idades foi realizada com o software Calib versão 6.0 com uma correção do efeito reservatório (R) de 400 anos e um R = 8±17 anos 14 C no intervalo de confiabilidade de 2σ. A Técnica do Análogo Moderno (TAM) foi aplicada a fim de reconstruir as temperaturas da região. Para isto, foi empregado o software Paleoanalog 3.0 e a matriz de dissimilaridade Square chord, com um valor limite para a dissimilaridade de 0,169. As anomalias térmicas foram determinadas pela subtração da temperatura média mensal da superfície do mar de 1981 a 2009, distribuídas pelo programa Coast Watch da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) (Kilpatrick, et. al., 2001) pelos valores determinados na TAM.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O modelo cronológico e a taxa de sedimentação não puderam ainda ser aferidos, porém a datação do centímetro da base, do centímetro 15 e do centímetro 2 permitem reconhecer que o testemunho recupera os últimos 40.000 anos AP da região. Vinte e seis espécies de FP foram identificadas com a abundância absoluta atingindo o valor máximo de 21.000 FP.cm -3 (Figura 2). As espécies de águas quentes e superficiais mais abundantes foram Globigerinoides ruber branca e rosa, Globigerinoides sacculifer sem saco, Globigerinita glutinata, Globigerinella siphonifera e Globoturborotalia rubescens. Os FP de águas profundas mais freqüentes foram o plexo menardii, Neogloboquadrina dutertrei, Pulleniatina obliquiloculata, Globorotalia truncatulinoides dextral e sinistral e Globorotalia inflata. As TSM anuais aferidas para região através da TAM possibilitaram a reconstrução de uma oscilação térmica de cerca de 1ºC mais fria que as temperaturas atuais (Figura 3). Dois padrões de anomalia podem ser identificados: da base até o centímetro 15 (31.040 anos AP), em que as anomalias são maiores e altas abundâncias de G. glutinata, N. dutertrei, G. truncatulinoides dextral e sinistral e G. inflata foram registradas, e do centímetro 15 em direção ao topo, onde as anomalias reduzem e cresceram a ocorrência de G. ruber branca e rosa, G. sacculifer, G. siphonifera e do plexo menardii. Diminuições da TSM na região reduzem a quantidade de umidade liberada para o oceano Pacífico através do Panamá. Peterson et. al. (2007), analisando testemunhos da Bacia do Cariaco, apontam que condições mais secas sobre o norte do continente sulamericano impulsionaram um deslocamento para o sul da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), reduzindo as chuvas na região e direcionando-as para os Andes. Além disso, a baixa evaporação reduz a densidade da água na região equatorial e compromete os 7930 anos AP 31.040 anos AP 41.040 anos AP Figura 2 - Abundância das principais espécies de FP

41.040 anos AP 7930 anos AP 31.040 anos AP XIII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário ABEQUA padrões de formação das águas centrais de ambos oceano Atlântico Sul e Atlântico Norte, influenciando a circulação termohalina interhemisférica. Estas oscilações na TSM podem ser causadas por interações termodinâmicas entre o oceano e a atmosfera (Chang et. al., 1997). Aumento na intensidade dos ventos SE, que influenciam a ressurgência de Benguela, foi observada por Kim e Schneider (2003). O fortalecimento desses ventos durante o Último Máximo Glacial e Younger Dryas, potencializou o efeito da ressurgência, com reduções na temperatura superficial do mar da ordem de 6ºC, como observado por demenocal et. al. (2000), diminuindo a profundidade da termoclina na costa africana. Em contrapartida, o fortalecimento deste campo de ventos empilhou a SEC junto ao continente sul-americano com reflexos na temperatura superficial do mar e aprofundando a termoclina da região. Outros trabalhos também têm demonstrado que o gradual aquecimento do Atlântico tropical exerce influência sobre a Oscilação do Atlântico Norte (OAN). A OAN é um processo atmosférico envolvendo diferenças de pressão entre o Açores e a Islândia e que Figura 3 - Anomalia de temperatura para o Atlântico tropical oeste influencia principalmente o continente europeu, podendo causar invernos mais quentes e úmidos ou frios e secos. Experimentos envolvendo modelagens em períodos de tempo mais recentes desenvolvidos por Hoerling et. al. (2001) e Rajagopalan et. al. (1998) demonstraram que oscilações na TSM nos trópicos afetam a atividade convectiva sobre a América do Sul, que por sua vez produz uma resposta na América do Norte, aparentando-se ao mecanismo atmosférico que atua sobre o Pacífico em anos de El-Niño, uma vez que a OAN e o El-Niño se conectam através de oscilações na célula de Walker. 5. CONCLUSÕES A assembléia de FP e a TAM permitiram reconstruir a oscilação da temperatura média para os últimos 40.000 anos AP da região, que atinge valores de cerca de a 1ºC mais frios que as medidas atuais. Duas fases de oscilação foram identificadas, a primeira começando da base do testemunho (41.040 anos AP) até o centímetro 15 (31.040), onde a oscilação é mais alta e marcada por maiores abundâncias de G. glutinata, N. dutertrei, G. truncatulinoides e G. inflata, e a segunda do centímetro 15 até o topo onde a temperatura

se aproxima dos valores atuais, apresentando altas freqüências de G. ruber, G. sacculifer, G. siphonifera e do plexo menardii. Como descrito na literatura, alterações na TSM do Atlântico tropical estão relacionadas à organização dos padrões atmosféricos. Além disso, as oscilações da TSM podem ser apontadas como um dos fatores relacionados a variações nos índices pluviométricos do continente sul-americano e africano, reposicionamento da ZCIT e influencia sobre condições climáticas de altas latitudes (OAN) no hemisfério norte. Portanto, a TAM se apresentou como um ótimo recurso para reconstrução das oscilações térmicas da região. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arz, H. W., Pätzold, J., Wefer, G., 1999, The deglacial history of the western tropical Atlantic as inferred from high resolution stable isotope records off northeastern Brazil. Earth and Planetary Science Letters, n. 167, 105-117. Chang, P., Ji, L., Li, H. 1997. A decadal climate variation in Tropical Atlantic Ocean from thermodynamic air-sea interactions. Nature, vol. 385. demenocal, P., Ortiz, J., Guilderson, T., Sarnthein, M. 2000. Coherent high and low latitude climate variability during the Holocene warm period. Science, vol. 288. Gersonde, R., Abelmann, G., Cortese, G., Becquey, S., Bianchi, C., Brathauer, U., Niebler, H.-S, Zielinski, U., Pätzold, J., 2003. The Late Pleistocene South Atlantic and Southern Ocean Surface A Summary of Time-slice and Time-series Studies. In: Wefer G., Mulitza S., Ratmeyer, V. (Eds), 2003, The South Atlantic in Late Quaternary: Reconstruction of Material Budgets and Current Systems. Springer- Verlag, pp. 499-529. Hoerling, M. P., Hurrell, J. W., Xu, T. 2001. Tropical origins for recent North Atlantic Climate Change. Science, vol. 292. Kilpatrick, K.A., Podesta, G. P., Evans, R. 2001. Overview of the NOAA/NASA Advanced Very High Resolution Radiometer Pathfinder algorithm for sea surface temperature and associated matchup database, J. Geophys. Res.-Oceans, 106 (C5): 9179-9197. Kim, J. H., Schneider, H. H. 2003. Low latitude control of interhemispheric sea-surface temperature contrast in the tropical Atlantic over the past 21 kyears: the possible role of SE winds. Climate Dynamics, vol. 21, pp. 337-347. Neth-Schäfer, C., Paul, A., 2003. The Atlantic Ocean at the Last Glacial Maximum: Objective Mapping of the GLAMAP Sea-Surface Conditions. In: Wefer, G., Mulitza, S., Ratmeyer, V. (Eds), 2003, The South Atlantic in Late Quaternary: Reconstruction of Material Budgets and Current Systems. Springer-Verlag, pp. 499-529. Rajagopalan, B., Kushnir, Y., Tourre, Y. M., 1998. Observed decadal midlatitudes and tropical Atlantic climate variability. Geophysical Research Letters, vol. 25, n. 21, pp. 3967-3970.