Um itinerário histórico-geográfico sobre os lugares da EXPO 98 e sua relação com o evoluir da capital



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Transcrição:

Um itinerário histórico-geográfico sobre os lugares da EXPO 98 e sua relação com o evoluir da capital O que nos propomos A zona oriental da cidade de Lisboa foi bastante diferente da que hoje conhecemos. No início da década de noventa constituía um vazio urbano, segregado do resto da cidade e exibindo uma profunda degradação urbanística e ambiental. O cenário, correspondia ao de uma paisagem industrial e portuária praticamente parada, consequência de uma atividade produtiva quase residual que coexistia com algumas daquelas atividades que a cidade não sente conforto em acolher dentro das suas fronteiras. Neste conjunto emergia um impressionante aterro sanitário que vivia paredes meias com um Depósito Geral de Material de Guerra, bem como um Matadouro Municipal e outras infraestruturas herdadas dos períodos áureos. Este afastamento do resto da cidade de Lisboa começara, algumas décadas atrás, em consequência da expansão da atividade industrial. O pólo dinamizador ficou a dever-se à implantação do caminho-de-ferro, se bem que numa primeira fase de forma pouco notória. Foi, no entanto, a partir da década de 40 do século XX, que se intensificou a ocupação industrial, desenvolvendo uma acentuada alteração da paisagem e do uso do solo. Foram contemporâneas deste período a instalação das grandes infraestruturas, nomeadamente a refinaria de petróleo em Cabo Ruivo, produto de uma lógica urbanística planeada por Duarte Pacheco, cujo princípio estruturante consistia no estabelecimento de zonamentos por funções. O monopólio produtivo acentuou-se até à década de 70, altura em que o insucesso portuário e o declínio industrial foram acompanhados pela degradação das condições paisagísticas, fruto de uma ausência absoluta de legislação ambiental e dos critérios estruturados de ordenamento. Quando se avaliaram as várias hipóteses para localização da Exposição Mundial de Lisboa foi com alguma naturalidade que a Zona oriental de Lisboa veio a acolher um consenso alargado, essencialmente pela capacidade, que assim se abria, de aliar a sua realização a uma ampla regeneração urbanística.

O grau de complexidade de que a intervenção suscitava e o prazo apertado para executar as respetivas infraestruturas obrigou à criação de uma entidade que ficou responsável de promover o projeto urbanístico. Assim nasceu a Parque EXPO 98, S.A, sociedade de capitais exclusivamente públicos. A obrigação de reabilitar ambientalmente o território, de preparar a montagem da Exposição Mundial de Lisboa e assegurar a requalificação urbana do sítio foi assumida por aquela empresa, através da elaboração do Plano de Urbanização da Zona de Intervenção da EXPO 98. Este Plano de Urbanização foi faseado em duas etapas distintas: a primeira das quais equivaleu à preparação da Exposição Mundial de Lisboa e a segunda à consolidação do Projeto Urbano. A primeira daquelas etapas foi executada entre Maio e Setembro de 1998, durante os 132 dias que durou a festa da EXPO 98. A revelação de uma cidade, um lugar sem dúvida utópico, mas real, como a definiu António Mega Ferreira, foi atingida graças à qualidade do recinto e à estruturação que decorria dos respetivos espaços públicos os quais tinham permitido o desenvolvimento de espetáculos temáticos e garantido um intenso relacionamento coletivo entre os visitantes. A segunda etapa procurou dar continuidade aos princípios herdados da Exposição Mundial de Lisboa, no que respeita à qualidade do ambiente urbano. O nascimento do Parque das Nações revelou-se como um território vivido por todos, mas onde nos deparamos com certas ambiguidades urbanísticas. Assim, agora que o Projeto Urbano Parque das Nações se encontra quase consolidado valerá a pena fazermos uma pequena viagem ao longo das últimas duas décadas. Partindo de um «vazio urbano», reinventou-se uma «cidade imaginária» e ganhámos o desafio da integração e a articulação urbana com a sua envolvente. Confrontar-nos-emos ainda com esta visão tão otimista?

:1 PRÉ EXPO: UM TERRITÓRIO DISTANTE E PERIFÉRICO [1993 1998] 1ª PARAGEM JARDIM DO CABEÇO DAS ROLAS..O QUE SE QUESTIONA: > O VAZIO URBANO QUE ANTECEDIA A INTERVENÇÃO A CINTURA INDUSTRIAL PERIFÉRICA E SEGREGADA DO RESTO DA CIDADE; A AUSÊNCIA ABSOLUTA DE LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E DE REGRAS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL; A DECADÊNCIA PAISAGÍSTICA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. > O TERRITÓRIO. A RAZÃO DE UMA ESCOLHA A REGULAÇÃO TERRITORIAL: A RECUPERAÇÃO DA SIMETRIA ENTRE AS CINTURAS RIBEIRINHAS OCIDENTAL E ORIENTAÇÃO DE LISBOA; SISTEMA DE INFRA-ESTRUTURAS DE MOBILIDADE: PROXIMIDADE DE CAMINHO-DE-FERRO, EIXOS RODOVIARIOS E AEROPORTO DE LISBOA; VALORIZAÇÃO DA CONTIGUIDADE URBANA: TERRITÓRIO MARGINALIZADO RELATIVAMENTE AO TECIDO ENVOLVENTE CUJA REAQUALIFICAÇÃO URBANÍSTICA SE DEVERIA INTEGRAR NO DESENVOLVIMENTO DA CIDADE DE LISBOA. > O MODELO RECONVERSÃO. A MUTAÇÃO DE UM TERRITÓRIO AMBIENTALMENTE DEGRADADO O ACTOR DA RECONVERSÃO: A CRIAÇÃO DA EMPRESA PARQUE EXPO 98; A CONFIGURAÇÃO JURÍDICO INSTITUCIONAL DO PROJETO GLOBAL DA EXPO 98 [A DESAFECTAÇÃO DOS DOMÍNIOS PÚBLICOS DO ESTADO E DOS BENS SOB JURÍSDIÇÃO DA APL]; A APROVAÇAO DO REGIME DE REORDENAMENTO URBANO PARA A ZONA DE INTERVENÇÃO DA EXPO 98;

ä OS INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS APLICADOS: PLANO DE URBANIZAÇÃO E PLANOS DE PORMENOR [PERSPECTIVADOS PARA DOIS HORIZONTES A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE LISBOA/1998 E A CONSOLIDAÇÃO URBANA/2010] ä AS EXPROPRIAÇÕES E A RELOCALIZAÇÃO DAS EMPRESAS PETROLÍFERAS. OS TRABALHOS DE DESMATELAMENTO DE ESTRUTURAS PESADAS. A DESCONTAMINAÇÃO DO TERRITÓRIO E A SELAGEM DO ATERRO DE BEIROLAS. A DESPOLUIÇÃO DO RIO TRANCÃO E DO BAIXO TEJO. ä A INFRAESTRUTURAÇÃO (ÁREA INTERVENCIONADA ENVOLVENTE). A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO. E

:2. A REINVENÇÃO DA CIDADE IMAGINÁRIA. O RECINTO DA EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE LISBOA [1998] E O DESAFIO DA INTEGRAÇÃO URBANA COM A SUA ENVOLVENTE 2ª PARAGEM JARDINS DE ÁGUA /OCEANÁRIO O QUE SE QUESTIONA: > UMA IDEIA DE VALORIZAÇÃO TERRITORIAL E COMPETITIVA ATRACÇÃO E FIDELIZAÇÃO DE NOVOS FLUXOS TURÍSTICOS; A VALORIZAÇÃO DA ZONA INTERVENCIONADA NO ÂMBITO DA FRENTE RIBEIRINHA. > A ESTRUTURA ESPACIAL DO RECINTO DA EXPO 98 A INOVAÇÃO E IDENTIDADE CRIATIVA DO ESPAÇO PÚBLICO; QUALIDADE EXPRESSIVA DAS ARQUITECTURAS/PAVILHÕES TEMÁTICOS. > VALORIZAÇÃO DA PLATAFORMA TEMÁTICA DA EXPOSIÇÃO MUNDIAL REFLEXÃO EM TORNO DA PRESERVAÇÃO DOS OCEANOS. > O PÓS EXPO A INTEGRAÇÃO DO ANTIGO RECINTO NA MALHA URBANA ENVOLVENTE REVISÃO DO PLANO DE URBANIZAÇÃO DA ZONA DE INTERVENÇÃO DA EXPO 98; A RECONVERSÃO DO PLANO DE CIRCULAÇÃO RODOVIÁRIO; A ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS ÂNCORA (OCEANÁRIO, ATLÂNTICO, MUSEU DA CIÊNCIA E FIL) E O DESAPROVEITAMENTO DO PAVILHÃO DE PORTUGAL; OS ESPAÇOS PÚBLICOS HERDADOS DA EXPO 98 E A INTEGRAÇÃO DA MALHA URBANA ENVOLVENTE. AS HERANÇAS DE ALGUMAS DE PRÁTICAS DE SOCIABILIDADE CONFERIDAS DURANTE A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE LISBOA. CERTEZAS E INCERTEZAS.

> OS NOVOS RITMOS DO TERRITÓRIO PLANO DE URBANIZAÇÃO QUASE CONSOLIDADO. PONTOS FORTES, FRACOS E EXPETATIVAS INERENTES AO PROJETO URBANO A CRIAÇÃO DA FREGUESIA DO PARQUE DAS NAÇÕES E O MODELO DE GESTAO URBANA; AS NOVAS VIVÊNCIAS. UMA NOVA PAISAGEM SONORA AS NOVAS ESPACIALIDADES E AS PRÁTICAS ASSOCIADAS AO CONSUMO E AO LAZER. CONSTATAR SE TAL TER CONTRIBUÍDO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE URBANA A ABSORÇÃO DE NOVOS USOS COLETIVOS (O EXEMPLO DA INFLUÊNCIA DO CAMPUS JUSTIÇA) A OBSERVAÇÃO DE UM ESPAÇO ONDE A NOVA ECONOMIA ASSUME UMA IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA NO DESENVOLVIMENTO URBANO

Pequeno Glossário do Pré-EXPO Acessos Os acessos à zona oriental de Lisboa reflectiam a natureza e a intensidade da actividade portuária e industrial que ali florescera e a que o transporte rodoviário e ferroviário davam escoamento. As infra-estruturas ferroviárias reflectiam o desenvolvimento do local embora constituíssem, elas próprias, uma barreira artificial entre a cidade e o rio Tejo. A linha do Norte marcava a fronteira poente deste território. No seu interior desenvolvia-se a linha da Matinha, destinada ao transporte de mercadorias e a fazer ligação ao Porto de Lisboa e ao Terminal de Beirolas, onde, mais tarde, surgiria um parque para contentores destinado a cargas diversificadas. Os acessos rodoviários foram dimensionados para aquele tipo de ocupação, e os respectivos projectos elaborados entre os anos 20 e 60. No início da década de noventa, a falta de manutenção e o abandono dos acessos rodoviários revelavam o declínio da actividade industrial e o aproveitamento do local para vazadouro de lixo camarário. As Outras Industrias As industrias não petrolíferas ou portuárias, que existiam neste território, representavam uma herança das sucessivas camadas históricas da industrialização. O pólo dinamizador fora a abertura em 1856 da linha de caminho de ferro que acelerou a expansão industrial de Santa Apolónia a Sacavém. Esta expansão foi feita à custa de terrenos com boa aptidão agrícola e boa acessibilidade fluvial. Deu lugar a um conjunto de indústrias como a «Sociedade Reunidas Reis», a Fábrica de Moagem Lisbonense e outras de menor dimensão. No início da década de noventa do século XX formavam um conjunto desconexo de pequenas unidades fabris ou de armazéns grossistas, servindo alguns dos edifícios industriais, que tinham perdido a funcionalidade inicial, como no caso da «Sociedade Reunidas Reis», para aluguer ou mesmo sub-aluguer a diversos tipos de armazenagem. Aterro Sanitário de Beirolas A ausência absoluta de legislação ambiental e de regras de ordenamento levou a que esta zona se transformasse num gigantesco vazadouro camarário e num generalizado depósito clandestino de lixos e de detritos de construção. A imagem máxima deste estado de coisas foi o Aterro Sanitário de Beirolas. Ocupando uma área de 17 ha tinha, durante o período de 1985 a 1990, servido para depósito dos resíduos sólidos da cidade de Lisboa. A sua utilização, que se estendeu por um período superior ao que inicialmente havia sido previsto, reflectiu-se na deficiente drenagem dos lixiviados que o aterro produzia e na instabilidade dos respectivos taludes. Na memória deste território perdurará sempre a imagem deste impressionante aterro dominando um imenso mar de metal.

Depósito Geral de Material de Guerra Funcionava como apoio logístico do Exército, ocupando uma área aproximadamente de 251.500 m2, e uma área coberta de cerca de 80.000 m2. Esta instalação de enorme dimensão integrava, conjuntamente com os terrenos pertencentes à empresa concessionária dos Caminhos-de-ferro Portugueses (CP), os únicos terrenos do Estado que não se achavam submetidos à jurisdição da Administração do Porto de Lisboa, principal servidão pública da zona. O alinhamento das máquinas de guerra representava uma imagem confusa e desumanizada revelando a marca de um penoso vazio urbano. Doca dos Olivais Construída nos anos 40 do século XX para acolher os hidroaviões de carreira que faziam a ligação intercontinental entre a Europa e a América do Norte. Ali se acolheram os «clippers» da Pan American e os hidroaviões «Sunderland» da companhia inglesa Aquila Airways. O uso de hidroaviões durou até aos inícios dos anos sessenta, o que atribuiu ao local um efémero aspecto cosmopolita. O decair desta actividade deu lugar a uma utilização exclusivamente industrial e portuária que, progressivamente, limitou os seus horizontes com contentores e a deixou inoperacional dada a acumulação de lodos e areias. Instalação Petrolíferas A partir da década de 40 do século XX, a ocupação industrial da zona oriental de Lisboa cresceu significativamente, dando lugar a uma alteração do uso do solo e da paisagem. A área das instalações petrolíferas da Petrogal, BP, MOBIL e SHELL atingia cerca de 60 ha, embora apenas as duas primeiras se encontrassem dentro do território intervencionado. Em 1993 a actividade da refinaria estava praticamente desactivada, funcionando apenas as unidades de cracking da PETROGAL, com o respectivo tratamento das emissões atmosféricas e a recuperação de gases provenientes do tratamento da gasolina. Salientava-se, para além disso, o abastecimento feito através de uma rede de oleodutos e gasodutos que partiam da Ponte Cais de Cabo Ruivo, explorada pela SOPONATA como local de atracagem de navios tanques, de onde irradiava um conjunto de oleodutos para o Aeroporto, para o Parque da PETROGAL em Sacavém, bem como para o gasoduto que servia as instalações da BP em Santa Iria da Azóia..

Frente Ribeirinha No início da década de 90 do século XX, a zona oriental de Lisboa estava de «costas viradas para o rio», dele afastado por instalações portuárias e industriais quase desactivadas. A degradação ambiental provocada pela decadência das infra-estruturas portuárias foi acompanhada por uma acentuada acumulação de lodos e pelo consequente assoreamento. Uma larga extensão da frente ribeirinha estava emparedada por contentores que emprestavam ao sítio a ilusória marca duma actividade portuária quase resumida à função de armazenamento. Subsistiam algumas actividades pouco relevantes centradas em pequenas unidades navais e de extracção de areias. Habitação Os núcleos habitacionais existentes na zona posteriormente intervencionada correspondiam a tipologias muito precárias instaladas num território de escassa acessibilidade e onde a mistura de uso de solos agravada pela existência de inúmeras fontes poluentes, nas quais prevaleciam a sucata e a deposição avulsa de lixo. Esta «cidade esquecida» caracterizava-se por acolher uma população excluída concentrada em pequenas áreas habitacionais situadas ente o Matadouro Industrial de Lisboa e a linha de Caminho de Ferro Norte correspondendo a habitações precárias e barracas, uma outra mais a sul que revelava um núcleo habitacional muito antigo e degradado, resquício dos tempos áureos desta área industrial, e uma última com característica idênticas à anterior que ficava encaixada entre os armazéns de J.B Fernandes e a Móbil. Matadouro Industrial de Lisboa Grande complexo industrial construído durante os anos de 1951 e 1953, abrangendo uma área de cerca de 194.000 m2. Era constituído por vários edifícios conforme as diversas actividades que nele tinham lugar (recepção e inspecção de gado, serviço de abate, congelação e refrigeração). Exemplo de um tipo de laboração que a cidade contemporânea afasta para longe, viria a ser reinstalado num território menos qualificado e mais distante das pessoas. Rio Trancão O rio Trancão era sinónimo de degradação ambiental e tido como o principal poluidor do estuário do Tejo. A gravidade da situação era agudizada pela dimensão da respectiva bacia que, abrangendo oito concelhos fortemente urbanizados, drenava, em caneiros a céu aberto, as águas residuais domésticas e industriais provenientes de várias actividades, com relevo para as da agropecuária, da química, madeiras e produtos metálicos. As frequentes cheias que assolavam o rio acentuavam a erosão das suas margens e aceleravam o respectivo assoreamento. Este conjunto de circunstâncias avolumava-se pesadamente na sua confluência com o Tejo, sendo aí a intensidade do fenómeno agravado pela proximidade das habitações informais existentes nas duas margens.